Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#211 Mensagem por gabriel219 » Ter Abr 12, 2016 11:13 pm

Ta me lembrando o CPOR daqui. Tinha um soldado lá que era segurado pelo fuzil.

Abs.




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cabeça de martelo
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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#212 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Abr 13, 2016 10:39 am

Clermont escreveu:
Uma coisa que me provoca as maiores desconfianças é esse sistema de CPOR/NPOR. Muitos sargentos desprezam profundamente os oficiais formados por esses centros. Outro dia, eu li como os japoneses, antes e durante a Segunda Guerra Mundial, formavam oficiais da reserva. Depois de alguns meses de treinamento, os soldados com certo nível de educação podiam prestar um exame. Aqueles aprovados depois de mais alguns meses prestavam um segundo exame. Os que conseguiam índices maiores eram enviados para escolas de formação de oficiais da reserva; os outros para escolas de formação de sargentos. A maioria dos oficiais combatentes de infantaria eram da reserva. Ou seja, dentro de um pelotão de fuzileiros japonês, o tenente podia muito bem ter começado a carreira junto com os sargentos de GC, todos tendo entrado no Exército como soldados. E os sargentos provavelmente teria grande respeito pelo tenente, pois teriam testemunhado que ele chegara ao comando do pelotão por puro mérito próprio.
No meu tempo para se chegar a Oficial no Exército só havia duas formas, ou entravas para a Academia e passado pelo menos uns 5 anos eras Oficial do Quadro Permanente, ou tinhas pelo menos o 12º ano e ias para o CFO e passado uns 6 meses eras Aspirante a Oficial RV ou RC e passado no máximo 10 anos não havia possibilidade de renovares contractos.

Actualmente para se chegar a Oficial no Exército Português há mais opções. Podes entrar para a Academia Militar e passado pelo menos uns 5 anos eras Oficial do Quadro Permanente. Ou então podes entrar tanto como Praça RC ou como Sargento RC e posteriormente mediante teres pelo menos uma Licenciatura podes tentar entrar para o CFO ou Academia, desde que tenhas menos de 27 anos para o primeiro caso ou 21 anos para o segundo caso.

No meu tempo na minha companhia só havia meia dúzia de militares com pelo menos o 11º ano, os restantes só tinha o 9.º/10.º ano de escolaridade, hoje em dia no CFP do Regimento de Paraquedistas a maior parte dos jovens recrutas tem o 12.º ano. Houve uma clara evolução e por isso há cada vez mais casos como uma certa Capitão de Artilharia Paraquedista que começou como Praça, depois fez o CFS e finalmente ingressou na Academia Militar. Ou seja, temos uma Oficial de carreira que passou por todas as classes e fez toda a sua carreira como Contractada no 1º BIParas (Arma de Infantaria) e actualmente é da Arma de Artilharia. No meu tempo havia umas excepções que vieram do tempo em que os Paraquedistas estavam na FAP, eram Oficiais QP que não tinham passado pela Academia Militar, mas como tinham mostrado valor e capacidade tinham feito um curso de Oficiais QP mais pequeno e por isso podiam chegar até ao posto de Major.




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#213 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Abr 13, 2016 12:06 pm

Curso de Formação de Oficiais

Condições gerais:

1. Ter nacionalidade portuguesa;

2. Ter, no mínimo, 18 anos de idade;

3. Ter aptidão psicofísica adequada;

4. Não estar inibido ou interditado do exercício de funções públicas;

5. Não ter sido condenado criminalmente em pena de prisão efetiva;

6. Possuir habilitações literárias adequadas.



Condições especiais:

• Idade igual ou inferior a 27 anos;

• Habilitações literárias mínimas: licenciatura ou mestrado;

• Altura mínima de:


1,60m para o sexo masculino;

1,56m para o sexo feminino.

• Satisfazer os padrões exigidos nas Provas de Classificação e Seleção.


O ingresso na categoria de Oficiais, em regime de contrato, efetua-se mediante candidatura ao concurso publicado no Diário da República. Depois do concurso ser publicado, os candidatos poderão consultar as condições necessárias para concorrer bem como o número de vagas disponíveis para as diferentes especialidades.
O concurso é geralmente publicado com 90 dias de antecedência à data de incorporação, sem prejuízo de pontuais alterações.

Curso de Formação de Oficiais / Curso de Especial Formação de Oficiais


O Curso de Formação de Oficiais (CFO)1 / Curso Especial de Formação de Oficiais (CEFO)2 visa habilitar os formandos com formação geral e técnica, adequada às competências e níveis de desempenho próprios da classe e posto.

O CFO/CEFO tem a duração total de dezasseis semanas, sendo dividido em 3 partes:

• Instrução Básica - (Cinco Semanas);

• Instrução Complementar 1.ª Parte - (Sete Semanas);

• Instrução Complementar 2.ª Parte - (Cinco Semanas).

A formação é complementada pela instrução da Especialidade cujo tempo de instrução varia consoante a especialidade atribuída.


1 O CFO destina-se aos Oficiais das áreas de Armas ou Serviços (Infantaria, Artilharia, Cavalaria, Transmissões, Transportes, Material, Administração e Pessoal e Secretariado) cujas especialidades requerem que o militar frequente, após a conclusão do CFO, a formação na especialidade para que possa desempenhar as suas funções.


2 O CEFO destina-se a Oficiais que irão desempenhar funções nas suas áreas de licenciatura ou mestrado como, por exemplo, nas áreas de Saúde, Engenharia, Arquitetura, Administração e Finanças, Educação Física, Psicologia, Direito, Marketing e Publicidade e restantes especialidades de Superior de Apoio. Após a conclusão do CEFO, os militares são imediatamente colocados nas suas Unidades/Estabelecimentos/Órgãos, não tendo de frequentar formação na especialidade.

Instrução Básica

Tem como objetivo fornecer as competências necessárias à integração dos formandos nos valores e nos princípios do Exército. Durante 25 dias úteis (5 semanas) de formação são lecionados os seguintes módulos:

• Armamento;
• Manobras de ordem unida e protocolo;
• Ética e deontologia profissionais;
• Informação e segurança;
• Proteção do ambiente;
• Socorrismo;
• Comunicações;
• Educação física militar.

No final da Instrução Básica tem lugar a cerimónia do Juramento de Bandeira, um dos momentos mais gratificantes para o militar.

Para este momento, são convidados os familiares e amigos para testemunhar o feito atingido.

O Juramento de Bandeira inclui uma parada e desfile militar, podendo também existir uma demonstração de atividades realizada pelos formandos.


Instrução Complementar 1

Tem como objetivo fornecer aos formandos as competências necessárias à sobrevivência no Campo de Batalha. Durante 35 dias úteis (7 semanas) de formação são lecionados os seguintes módulos:

• Armamento e tiro;
• Técnica individual de combate;
• Topografia;
• Nuclear, biológico, químico e radiológico;
• Educação física militar.

Instrução Complementar 2

Destina-se a complementar a Formação Geral Comum, de modo a habilitar o formando para o desempenho de cargos onde não é necessária formação específica adicional mas sim formação geral e técnica, adequadas às competências e níveis de desempenho próprios da classe e posto.
Durante 25 dias úteis (5 semanas) de formação são lecionados os seguintes módulos:

• Armamento e tiro;
• Serviço interno;
• Liderança;
• Moral Cívica e Militar;
• Educação física militar;
• Avaliação.

Avaliação

A avaliação da aprendizagem destina-se, prioritariamente, a ordenar os formandos para efeito de escolha de Armas e Serviços e Unidades de colocação, concorrentemente, para registo nos processos individuais, avaliação curricular e informação aos formadores e aos próprios formandos sobre o seu progresso e evolução e, eventualmente, para obtenção de certificação profissional.


A avaliação é contínua, desde a primeira à última semana, sendo efetuada através de circuitos de avaliação e testes teóricos.
Na avaliação dos formandos são considerados os seguintes parâmetros:

Mérito escolar,
Desembaraço físico (preparação física),
Mérito pessoal.

São motivo de eliminação do curso a reprovação na avaliação, motivos disciplinares e excesso de faltas.

Os formandos com melhor preparação física terão maior facilidade em concluir o curso, estando também menos sujeitos a lesões, pelo que é aconselhável uma preparação física prévia.

Especialidades

Exemplo:

INFANTARIA MECANIZADA/MOTORIZADA

028 - Armas Pesadas/Mort
031 - Atirador
033 - Rec Infantaria
035 - Armas Pes/A Car
062 - Sap Infantaria


INFANTARIA LIGEIRA

059 - Comando
061 - Op Especiais
094 - PQ Pára-quedista




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#214 Mensagem por Clermont » Qua Abr 13, 2016 12:57 pm

Obrigado pela gentileza de compartilhar estas informações tão instrutivas a respeito da organização do Exército português.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#215 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Abr 13, 2016 2:29 pm

De nada. Só mais uma questão se por exemplo um Praça Paraquedista conseguir entrar num CFS/CFO, apesar de ter já toda a formação como "atirador" graças ao Curso de Combate (que é bastante completo e inclui Sobrevivência e Prisioneiros de guerra entre outras disciplinas), vai ter que fazer a Instrução Complementar 2, a avaliação e tirar de novo a Especialidade de Atirador.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#216 Mensagem por Clermont » Qua Abr 20, 2016 4:38 pm

Amazônia é maior preocupação do Exército.

Amazônia é maior preocupação do Exército. "Guerra de guerrilha" é uma das principais estratégias para defesa do território contra possível invasor mais bem estruturado.

Rubens Valente - Folha de São Paulo, 14 de novembro de 2004.

Comandante da mais alta academia de formação do militar brasileiro, a ECEME (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército), o general Luiz Eduardo Rocha Paiva, 53, pega na sua mesa um exemplar do livro "O Vietnã Segundo Giap", numa edição de 1968 da editora Saga, que condensa ensinamentos do general vietnamita Vo Nguyen Giap, considerado um dos maiores estrategistas do século passado, artífice da derrota americana na década de 70.

Rocha Paiva abre o livro na página em que o autor explica a importância do apoio da população local para o sucesso de uma "guerra de resistência" ou "guerra de guerrilha". O parágrafo foi assinalado a caneta pelo general.

Longe de se tratar de mero interesse pessoal do general, a "guerra de resistência", contra um possível invasor na Amazônia, é hoje tema recorrente no Exército. Rocha Paiva, que comanda a escola do Rio freqüentada por 285 alunos graduados, revela que a guerra de guerrilha tornou-se parte fundamental da doutrina militar brasileira e passou a ser, como prioridade, ensinada e analisada nas escolas militares.

Cientes de que o possível exército invasor seria bem mais estruturado que o brasileiro, os militares têm estudado uma estratégia incomum para uma força regular.

"[A guerra de resistência] é de aplicação em qualquer parte do território nacional onde exista a presença de um poder político, militar, [contra o qual] você não tenha condições, com seus meios convencionais, de fazer face a ele. Não é só isso, mas, em síntese, é a guerra de guerrilha. O que nós estamos fazendo aqui [na ECEME] é estudando e vendo como ela pode ser adaptada para a nossa realidade", explicou Rocha Paiva.

A escola recorre às experiências do Afeganistão, durante a invasão da União Soviética (1978-1992), e do Vietnã. A doutrina trabalha com um cenário no qual a Amazônia é invadida por uma coalizão de países que declararia a região de "interesse internacional".

Essa hipótese catastrófica tem outra vertente: um ataque prévio da coalizão contra alvos no Sul e no Sudeste, com vistas a enfraquecer o Exército na Amazônia e facilitar a invasão pelo norte.

"Subterrânea".

A doutrinação dos novos militares é seguida de medidas muito concretas do Exército: o efetivo na região amazônica cresceu de 6.000 homens, nos anos 70, para 25 mil neste ano.

A preocupação chega aos alunos. Das 388 monografias aprovadas pela ECEME entre 2000 e 2002, pelo menos 41 trataram da Amazônia e temas correlatos, como o SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia) e o projeto Calha Norte. Muitas dessas teses foram declaradas "reservadas", e o acesso é negado aos civis - como a intitulada "A Aplicação da Estratégia de Resistência na Amazônia e seus Efeitos nos Campos Não Militares do Poder Nacional Brasileiro", de Ricardo Célio Chagas Bezerra.

Em sua tese de formatura em 2002, o coronel de infantaria Alei Salim Magluf elenca 23 ações que, para ele, o Exército deveria empregar já, como a criação de "baterias de artilharia antiaérea, uma por comando de brigada".

Outra medida seria "manter a ênfase no adestramento voltado para a Estratégia da Resistência, aprimorando o preparo para a guerra irregular" e "emprego de forças especiais e irregulares". O coronel propõe executar, permanentemente, "operações psicológicas visando atingir os seguintes públicos-alvo: organizações não-governamentais, comunidades indígenas, garimpeiros, organizações religiosas, contraventores em geral e a população como um todo, principalmente no interior da Amazônia".

Operações psicológicas, segundo o site oficial do Exército, são um "conjunto de ações de qualquer natureza (políticas, econômicas, psicossociais e militares) destinadas a influir nas emoções, nas atitudes e nas opiniões de um grupo (inimigo, hostil, neutro ou amigo), com a finalidade de obter comportamentos predeterminados e favoráveis ao objetivo que se pretende atingir".

Em sua monografia "Apoio ao Movimento na Amazônia: Estrutura, Missões e Emprego da Arma de Engenharia naquela Área", de novembro de 2002, o major de engenharia Marcelo Pagotti João explica que "esse assunto tem a relevância evidenciada à medida que o Exército brasileiro experimenta novas concepções estratégicas".

A tese do major de infantaria Marcelo Soneghet Pacheco detalha a atividade de uma "Força Marupiara" na Amazônia, que existe em cada batalhão de infantaria de selva e faz um exercício de terreno por mês. O trabalho dessa força consiste em "atuar na seleção e catalogação de elementos civis que poderão integrar uma Força de Sustentação ou Força Subterrânea" e de "planejar, conduzir e realizar operações de inteligência e de reconhecimento profundos e de longa duração".

O marupiara (pessoa feliz na caça ou na pesca) entrega à sua unidade militar uma "carta de situação da área", na qual indica "os eixos já reconhecidos, a catalogação dos recursos locais, o levantamento de recursos sensíveis e a catalogação de elementos civis".

O major acrescentou uma fotografia de um exercício dos marupiaras: dois soldados barbados, descalços e de bermuda, sem nada que os identifique como militares em ação.

"[A guerra de resistência] é de aplicação em qualquer parte do território nacional onde exista a presença de um poder político, militar, [contra o qual] você não tenha condições, com seus meios convencionais, de fazer face a ele. Não é só isso, mas, em síntese, é a guerra de guerrilha. O que nós estamos fazendo aqui [na ECEME] é estudando e vendo como ela pode ser adaptada para a nossa realidade".

General Luiz Eduardo Rocha Paiva, comandante da ECEME.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#217 Mensagem por Bolovo » Qua Abr 20, 2016 5:17 pm

Clermont escreveu:
Enfim, oportunidades é que não faltariam para prosseguir na carreira. E isto seria até bom, porque o próprio EB poderia dispor em seus quadros do material humano, desde a base, melhor qualificado e formado por ele mesmo. E experiência militar poderia ser contado como algo a anotar no currículo em um processo seletivo para as escolas militares.
Uma coisa que me provoca as maiores desconfianças é esse sistema de CPOR/NPOR. Muitos sargentos desprezam profundamente os oficiais formados por esses centros. Outro dia, eu li como os japoneses, antes e durante a Segunda Guerra Mundial, formavam oficiais da reserva. Depois de alguns meses de treinamento, os soldados com certo nível de educação podiam prestar um exame. Aqueles aprovados depois de mais alguns meses prestavam um segundo exame. Os que conseguiam índices maiores eram enviados para escolas de formação de oficiais da reserva; os outros para escolas de formação de sargentos. A maioria dos oficiais combatentes de infantaria eram da reserva. Ou seja, dentro de um pelotão de fuzileiros japonês, o tenente podia muito bem ter começado a carreira junto com os sargentos de GC, todos tendo entrado no Exército como soldados. E os sargentos provavelmente teria grande respeito pelo tenente, pois teriam testemunhado que ele chegara ao comando do pelotão por puro mérito próprio.
Que o CPOR/NPOR tem que passar por algumas mudanças, é óbvio, mas essa de sargento desprezar esses oficiais é não é bem assim não. Meu irmão é aspirante da artilharia e tem alguns amigos que continuaram no EB, fazendo o estágio operacional e efetivando a tropa. Pô, meu irmão só teve instrução com Capitão, Major (todos AMAN), sargentos experientes, alguns com curso de Selva, alguns Comandos e tal. Instrução de primeiro mundo. E aqui em São Paulo (2º RM) basicamente se serve ou na 11ª ou na 12ª Bda, a última em especial sendo uma tropa de elite, a Aeromóvel, da Força de Ação Rápida. Por não serem de Resende, ao chegar nessa unidade eles são ainda mais cobrados, porém cumprem a contento suas funções, no mesmo nível senão até melhor que os oficiais originados da AMAN. E esse tenente, cobrado e muito bom, sai após 8 anos de serviço, pois não é de carreira. A não ser que por algum milagre ele consiga antes disso chegar a capitão, aí podendo continuar na tropa até aposentar. É aí que eu vejo que exista algum erro, pois um bom oficial é jogado fora, sem mais nem menos. E quem perde nesse caso, na minha opinião, é o EB e não o contrário. Então o errado não é o oficial, mas talvez o sargento com essa visão.




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Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#218 Mensagem por Wingate » Qua Abr 20, 2016 7:53 pm

Clermont escreveu:Amazônia é maior preocupação do Exército.

Amazônia é maior preocupação do Exército. "Guerra de guerrilha" é uma das principais estratégias para defesa do território contra possível invasor mais bem estruturado.

Rubens Valente - Folha de São Paulo, 14 de novembro de 2004.

Comandante da mais alta academia de formação do militar brasileiro, a ECEME (Escola de Comando e Estado-Maior do Exército), o general Luiz Eduardo Rocha Paiva, 53, pega na sua mesa um exemplar do livro "O Vietnã Segundo Giap", numa edição de 1968 da editora Saga, que condensa ensinamentos do general vietnamita Vo Nguyen Giap, considerado um dos maiores estrategistas do século passado, artífice da derrota americana na década de 70.

Rocha Paiva abre o livro na página em que o autor explica a importância do apoio da população local para o sucesso de uma "guerra de resistência" ou "guerra de guerrilha". O parágrafo foi assinalado a caneta pelo general.

Longe de se tratar de mero interesse pessoal do general, a "guerra de resistência", contra um possível invasor na Amazônia, é hoje tema recorrente no Exército. Rocha Paiva, que comanda a escola do Rio freqüentada por 285 alunos graduados, revela que a guerra de guerrilha tornou-se parte fundamental da doutrina militar brasileira e passou a ser, como prioridade, ensinada e analisada nas escolas militares.

Cientes de que o possível exército invasor seria bem mais estruturado que o brasileiro, os militares têm estudado uma estratégia incomum para uma força regular.

"[A guerra de resistência] é de aplicação em qualquer parte do território nacional onde exista a presença de um poder político, militar, [contra o qual] você não tenha condições, com seus meios convencionais, de fazer face a ele. Não é só isso, mas, em síntese, é a guerra de guerrilha. O que nós estamos fazendo aqui [na ECEME] é estudando e vendo como ela pode ser adaptada para a nossa realidade", explicou Rocha Paiva.

A escola recorre às experiências do Afeganistão, durante a invasão da União Soviética (1978-1992), e do Vietnã. A doutrina trabalha com um cenário no qual a Amazônia é invadida por uma coalizão de países que declararia a região de "interesse internacional".

Essa hipótese catastrófica tem outra vertente: um ataque prévio da coalizão contra alvos no Sul e no Sudeste, com vistas a enfraquecer o Exército na Amazônia e facilitar a invasão pelo norte.

"Subterrânea".

A doutrinação dos novos militares é seguida de medidas muito concretas do Exército: o efetivo na região amazônica cresceu de 6.000 homens, nos anos 70, para 25 mil neste ano.

A preocupação chega aos alunos. Das 388 monografias aprovadas pela ECEME entre 2000 e 2002, pelo menos 41 trataram da Amazônia e temas correlatos, como o SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia) e o projeto Calha Norte. Muitas dessas teses foram declaradas "reservadas", e o acesso é negado aos civis - como a intitulada "A Aplicação da Estratégia de Resistência na Amazônia e seus Efeitos nos Campos Não Militares do Poder Nacional Brasileiro", de Ricardo Célio Chagas Bezerra.

Em sua tese de formatura em 2002, o coronel de infantaria Alei Salim Magluf elenca 23 ações que, para ele, o Exército deveria empregar já, como a criação de "baterias de artilharia antiaérea, uma por comando de brigada".

Outra medida seria "manter a ênfase no adestramento voltado para a Estratégia da Resistência, aprimorando o preparo para a guerra irregular" e "emprego de forças especiais e irregulares". O coronel propõe executar, permanentemente, "operações psicológicas visando atingir os seguintes públicos-alvo: organizações não-governamentais, comunidades indígenas, garimpeiros, organizações religiosas, contraventores em geral e a população como um todo, principalmente no interior da Amazônia".

Operações psicológicas, segundo o site oficial do Exército, são um "conjunto de ações de qualquer natureza (políticas, econômicas, psicossociais e militares) destinadas a influir nas emoções, nas atitudes e nas opiniões de um grupo (inimigo, hostil, neutro ou amigo), com a finalidade de obter comportamentos predeterminados e favoráveis ao objetivo que se pretende atingir".

Em sua monografia "Apoio ao Movimento na Amazônia: Estrutura, Missões e Emprego da Arma de Engenharia naquela Área", de novembro de 2002, o major de engenharia Marcelo Pagotti João explica que "esse assunto tem a relevância evidenciada à medida que o Exército brasileiro experimenta novas concepções estratégicas".

A tese do major de infantaria Marcelo Soneghet Pacheco detalha a atividade de uma "Força Marupiara" na Amazônia, que existe em cada batalhão de infantaria de selva e faz um exercício de terreno por mês. O trabalho dessa força consiste em "atuar na seleção e catalogação de elementos civis que poderão integrar uma Força de Sustentação ou Força Subterrânea" e de "planejar, conduzir e realizar operações de inteligência e de reconhecimento profundos e de longa duração".

O marupiara (pessoa feliz na caça ou na pesca) entrega à sua unidade militar uma "carta de situação da área", na qual indica "os eixos já reconhecidos, a catalogação dos recursos locais, o levantamento de recursos sensíveis e a catalogação de elementos civis".

O major acrescentou uma fotografia de um exercício dos marupiaras: dois soldados barbados, descalços e de bermuda, sem nada que os identifique como militares em ação.

"[A guerra de resistência] é de aplicação em qualquer parte do território nacional onde exista a presença de um poder político, militar, [contra o qual] você não tenha condições, com seus meios convencionais, de fazer face a ele. Não é só isso, mas, em síntese, é a guerra de guerrilha. O que nós estamos fazendo aqui [na ECEME] é estudando e vendo como ela pode ser adaptada para a nossa realidade".

General Luiz Eduardo Rocha Paiva, comandante da ECEME.
Sem entrar no aspecto ideológico, a guerrilha do Araguaia (e as táticas usadas na sua erradicação) foi uma lição importante para as
Forças Armadas, visto que militares lutaram de forma "irregular" para os padrões tradicionais para poderem enfrentar os guerrilheiros no seu próprio terreno.

Com certeza devem estar fazendo estudos na utilização das letais "IEDS" ("Improvised Explosive Device") no caso de terem que combater um inimigo mais poderoso e bem armado.

Que inovem suas táticas cada vez mais...

Wingate




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#219 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Abr 23, 2016 1:44 pm

Israel’s Edge: The Story of the IDF’s Most Elite Unit – Talpiot

here is a new book out that is a must-read for Israel fans and military buffs alike. Called Israel’s Edge: The Story of the IDF’s Most Elite Unit – Talpiot, it gives never-before revealed information on Israel Defense Forces’ most innovative thinkers. Instead of being trained only to fight, the few elite soldiers selected each year for Talpiot are taught how to think. Through dozens of interviews with graduates and early founders of the program, Israel’s Edge explains Talpiot’s highly successful recruiting methods and discloses many of the program’s military and intelligence victories. Included are profiles of Talpiot’s outstanding graduates who have created cutting-edge businesses including Check Point, Compugen, Anobit (bought by Apple) and XIV (bought by IBM). This is an inside look at the unsung heroes of the military unit that has likely had more of an impact on the State of Israel and its security than any other.

The author of Israel’s Edge is Jason Gewirtz, a brilliant executive producer for the business network CNBC. He is an experienced field producer who has covered the Middle East with a focus on Israel and Israeli business. He produced Beyond the Barrel: The Race to Fuel the Future, which detailed Israeli-born energy technologies. He currently produces POWER LUNCH, broadcast live every day jointly from CNBC’s global headquarters and the New York Stock Exchange. He is giving away all the book profits to help Israel’s wounded veterans.

Why is this story so important? This week the United States European Command and Israel held joint exercises. A big part of the mission was to test the reliably of Israel’s three tiered missile defense shield.

The Arrow is set up to stop long range missiles, like the type in Iran’s massive ballistic missile arsenal. Magic Wand is a newly operational system that will stop mid-range missiles, like the kind Hezbollah is pointing at Israel from Lebanon and probably Syria as well. Then there’s the famous Iron Dome which takes care of more than 95 percent of short term missiles fired by Hamas and its friends in Gaza.

It takes a lot of coordination, technology and smarts to link these systems and to attach them to radar that can now track any incoming projectile from 500 miles away.

That’s just one of the many complex accomplishments taken on by members of the very secretive IDF unit called Talpiot. Talpiot was created by two professors who were horrified, like many in Israel, by the Yom Kippur War. In 1973 Israel was attacked from the north by Syria and from the south by Egypt simultaneously. Israel made some grave errors in the years between the 1967 war and the Yom Kippur War in intelligence and in technology. Israel failed to innovate in those inter-war years and it failed to piece together many crucial pieces of intelligence. France, Israel’s main weapons supplier at the time suddenly cut Israel off while the Soviets poured new weapon technology into the Arab nations.

After the war was over Professors Felix Dothan and Shaul Yatziv proposed a new program designed to tap into Israel’s smartest and most creative young minds. Their idea was to create an army unit where students would learn to fight – but learn to think first.

In 1979 the first Talpiot class began with just 25 students. Cadets for this unit were told when they were drafted, three years was too short of a time for this program. They’d have to enlist for ten years.

In order to make it work, the army partnered with Hebrew University to teach the young cadets physics, mathematics and computer science. They were given three years to complete their degrees. It should be noted that the same amount of coursework takes four years for gifted students not in Talpiot to finish.


Members of this unit aren’t just taught to think – they’re taught to think and learn fast.

While studying members of Talpiot are also sent to train with each and every unit in the IDF from the artillery to tank units, to the infantry, to the navy and air force to learn how each unit does its job.

After a few years, Talpiot commanders started adding new requirements to their list for candidates. They didn’t just want the brightest students, they wanted soldiers who could learn together and work together as a team… and young men and women that could lead teams. Finding the right candidates for this unit is now seen as so important it is given top priority by IDF recruiters, even above finding the fighter pilots of the future.

At the end of their first three years the men and women in this unit would then be asked to take their combat and academic training and combine them to help invent and improve all of the weapons in the IDF’s arsenal. During their next seven years of service Talpiots become military research and development experts. Missile defense is high on their list of responsibilities. But they also work to develop new tools for cybersecurity. Talpiots have led the way on this new global battlefield. Talpiots have also been very active in space, developing new satellite systems and high altitude, high resolution cameras that can be used to shoot images that then go to Israel’s intelligence services to help them see what Israel’s enemies are up to.

These soldiers have had an impact on every weapon and communications system used by the IDF and every tool used by Israel’s intelligence community.

In many cases, after going into research and development, members of Talpiots hunger for the field and they are encouraged by the Ministry of Defense to do so. The thinking is nobody knows what a warrior needs more than a warrior himself.

Several have gone on to flight school, and then flew F16s in combat. Others have commanded naval ships. Others go on to lead elite ground troops. One member of Talpiot even took his computer science, mathematics and physics courses and designed a shoulder fired missile that can knock out enemy tanks. He then became the leader of an elite ground unit that is capable of infiltrating enemy lines, finding a hiding place and popping out at the exact right minute to use the missile he created to destroy enemy tanks before they even get into a battle. Pretty impressive.

After their ten years in the army, about a third of Talpiot graduates stay in the IDF, usually in research and development roles. A third go into the academic world to teach while the other third go into business. Talpiot graduates have created some of Israel’s most impressive companies including CheckPoint Software which keeps the internet as safe as possible for customers and Compugen which helps drug companies find innovative and individual cures for patients battling hundreds of diseases.

Talpiot has been tasked with keeping Israel a generation ahead of a rapidly strengthening and technologically capable Iran making this book extremely timely. The unit also has to help Israel stay ahead of the United States and other large countries with strong militaries as those countries often supply Israel’s enemies with advanced weapons and military technology.



This first of its kind book about this once secretive but prolific group truly sheds light on an army unit that has had more on an impact on Israel than any other. The list of accomplishments that Talpiot has under its belt is simply remarkable and the accomplishments of the men and women from this unit after leaving the army is the envy of every country in the world and Jason Gewirtz has been able to capture it all in his book.

There’s something in here for history buffs, military watchers, people interested in technology and education and of course anyone interested in Israel and the Middle East.

It’s also important to note that Jason voluntarily allowed the IDF’s Censorship Unit to read the book before it was published and he also had Israel’s Ministry of Defense do the same.


:arrow: http://blogs.timesofisrael.com/israels- ... talpiot-2/




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

O insulto é a arma dos fracos...

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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#220 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Jul 09, 2016 2:38 pm





"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#221 Mensagem por Túlio » Sáb Jul 09, 2016 3:05 pm

PUTZ, o texto é de 2004, POWS!!!

Naquele tempo ainda se acreditava que existia uma Doutrina chamada "todo mundo pro mato", que os únicos Militares capazes de sobreviver de modo saudável na selva eram os Brasileiros (ignorando outras escolas de Guerra na Selva mantidas por outros Países, como o In nº 1 da época, os EUA), que o FAL era o melhor Fz do mundo ("pittbull") & baboseiras afins...




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#222 Mensagem por Lirolfuti » Seg Out 03, 2016 12:32 pm

A Adoção do Leopard 2 pelo Exército Canadense e a Experiência no Afeganistão
Imagem



Daniel Longhi Canéppele – Maj Ch Seç Ens Op de Bld do CI Bld
Ádamo Luiz Colombo da Silveira – TC Comandante do CIBld


No final da década de 1990, o Exército Canadense (EC) iniciou um processo de transformação, mudando sua estrutura, baseada em tropas blindadas pesadas destinadas ao combate convencional para uma base primariamente média de rodas. O objetivo desta transformação era evoluir a doutrina advinda das ameaças da Guerra Fria para uma doutrina capaz de operar, com eficiência no ambiente operacional do futuro.

Em 1998, o EC expediu a “Orientação e Direção Estratégica da Força Terrestre” (Land Force Strategic Direction and Guidance), o primeiro documento versando sobre como se procederia esta transformação. O estudo dividiu o futuro em três períodos distintos: Exército de Hoje (Army of Today), para os primeiros 5 anos; Exército de Amanhã (Army of Tomorrow), para do 5º ao 10º ano; e o Exército do Futuro (Army of the Future), para do 10º ao 30º ano de transformação.

Em 4 anos, em 2002, a transformação do exército foi articulada na doutrina estratégica do Exército de 2002, chamada de “Avançando com Propósito: A Estratégia do Exército” (Advancing with Purpose: The Army Strategy). Este documento lançou as condições em que se procederiam as transformações e foi a primeira publicação fundamental após os atentados do 11 de setembro. Em seu conteúdo estava expresso que a estratégia seria: “O Exército gerará, empregará e sustentará forças médias relevantes e taticamente decisivas”.

Em 2004, o governo canadense anunciou que adquiriria a plataforma MGS (Main Gun System) da General Dynamics, uma viatura blindada (VB) sobre rodas com base no LAV III, dotada de canhão 105mm, a fim de substituir as viaturas blindadas de combate carro de combate (VBCCC) Leopard 1 C2, contudo, em abril de 2007, o EC decidiu adquirir 120 VBCCC Leopard 2, uma viatura pesada, contrariando os rumos estabelecidos da migração para tropas médias.

Quais motivos levaram a esta guinada estratégica? Se a espinha dorsal do EC passariam a ser tropas médias, por que adquirir uma quantidade considerável de carros de combate pesados? Os motivos que levaram a esta decisão se deram com base nas experiências vivenciadas em operações e outros, que serão explicados a seguir.

É importante notar que durante os anos de 2006- 2007, o EC lutava no Afeganistão com seus LAV III (20 tons), dotados de canhão Bushmaster 25mm e Mtr 7.62mm, contra os insurgentes talibãs. Esta VB possuía poder muito superior às forças insurgentes, porém, a partir de 2006, em Kandahar, os talibãs mudaram suas estratégias de combate, adotando táticas de defesa a partir de posições fortificadas e trincheiras, adotando emboscadas e posicionando obstáculos e artefatos explosivos improvisados (AEI).

Como consequência, a efetividade do poder de fogo e a mobilidade do LAV III foi reduzida e o número de baixas canadenses aumentou. A conclusão a que se chegou foi a de que “atacar com carros de combate liderando é a regra”. O carro de combate é capaz de prover apoio de fogo aproximado e preciso onde nem mesmo o fogo aéreo consegue chegar.

Decidiu-se enviar 15 Leopard 1 C2 ao Afeganistão, o que aumentou a proteção das tropas, proporcionou limpeza de rotas dos AEI e pode-se acessar posições no terreno que seriam impossíveis de se chegar com os LAV III. Esta VB, contudo, possuía tecnologia já obsoleta, falta de peças de reposição, não possuía arcondicionado, o que tornava sua operação muito difícil dado o extremo calor daquela região.

Os sistemas hidráulicos da torre aqueciam o que intensificava os efeitos da alta temperatura ainda mais, além de se tornarem um fator de risco, uma vez que os fluidos pressurizados e quentes poderiam ocasionar queimaduras fatais quando a VB fosse atingida pela explosão de um AEI.

A VBCCC Leopard 1 C2 não proporcionava proteção blindada suficiente e, embora possuísse poder de fogo para fazer frente ao Talibã, o mesmo não ocorreria caso fosse necessário combater uma VBC mais moderna. Este foi o primeiro argumento para a aquisição de 100 VBCCC Leopard 2 A4 (Holanda) e 20 VBCCC Leopard 2 A6 (Alemanha).

O segundo argumento diz respeito à mitigação dos riscos operacionais. As forças pesadas também possuem outras vantagens, quando comparadas com tropas leves ou médias. A tríade potência de fogo/proteção blindada/mobilidade é significantemente maior nas VBC pesadas, o que possibilita melhores capacidades para se operar em um ambiente operacional contemporâneo, onde as ameaças variam dentro do amplo espectro dos conflitos.

A mitigação dos riscos operacionais faz parte do processo de gerenciamento do risco, sendo que, dentro da doutrina canadense consiste no “aumento das capacidades operacionais e cumprimento de missões com o mínimo de baixas”. Esta mitigação é, então, a parte do processo onde os riscos são avaliados e comparados com os benefícios de sua assunção, sendo adotadas ações para minimizar aqueles que forem desnecessários.

Pode-se inferir, desta forma, que a tríade potência de fogo/proteção blindada/mobilidade das forças pesadas colabora substancialmente para a mitigação dos riscos, pela redução do número de baixas e pelo aumento das capacidades operativas no amplo espectro dos conflitos, incluindo operações de alta intensidade, contra inimigos com capacidades similares.

O terceiro argumento para a aquisição da frota de Leopard 2 foi a pressão política exercida pelo aumento do número de baixas em combate em 2006, em relação a 2005, o que levou a mídia e a sociedade canadense a exigir dos políticos providências.

A proliferação massiva do emprego de AEI pela insurgência foi a principal responsável por estas baixas e o aumento da proteção blindada mais eficiente se fazia necessária. Acredita-se que se o emprego das VBCCC Leopard 1 C2 tivesse estancado o aumento do número de baixas, o que não ocorreu, dificilmente se teria feito a opção pela aquisição de VBC pesadas.

A experiência e as lições aprendidas no combate vem normalmente ao custo de sangue dos soldados. Quando estas lições são internalizadas e provocam mudanças estruturais profundas no como organizar, como equipar e como combater, este custo não é em vão, pois no futuro, o mesmo sangue dos soldados será poupado.

A experiência canadense reforça a tese de que, por mais que a tecnologia militar evolua, os exércitos ainda depositarão em suas tropas blindadas, sobretudo nas mais pesadas, grande parcela de responsabilidade pelo sucesso das ações de combate. Potência de fogo, proteção blindada e mobilidade sempre serão fatores decisivos nos campos de batalha.
http://www.defesanet.com.br/tank/notici ... eganistao/




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#223 Mensagem por Clermont » Seg Out 03, 2016 1:18 pm

Lirolfuti escreveu:A Adoção do Leopard 2 pelo Exército Canadense e a Experiência no Afeganistão
Tem um longo texto sobre esse assunto, aqui no Fórum DB.

http://defesabrasil.com/forum/viewtopic ... 1&start=30




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#224 Mensagem por Clermont » Dom Jan 01, 2017 3:42 pm

INVASÃO, 1944.

Tenente-general Fritz Bayerlein

Meu primeiro encontro com o marechal-de-campo Rommel após a campanha africana foi no Quartel-General do Führer na Prússia Oriental em julho de 1943. Ele vivia na casa do antigo comandante-chefe. Ambos participáramos de uma das conferências do Führer. Isto foi uns poucos dias após o colapso da ofensiva Belgorod-Kursk, na qual nossas forças atacantes ficaram atoladas nas defesas e cortinas antitanque russas, e o grosso de nossos mais recentes tanques se perdeu. E com isso desapareceu toda esperança de uma nova ofensiva de verão na Rússia.

Após a conferência Rommel e eu sentamos em seu estúdio e conversamos sobre a situação militar geral. Ele tinha, neste interim, ajustado-se à situação estratégica completamente alterada e estava cheio de idéias para a futura conduta da guerra. Como esta conversação é a única evidência das visões de Rommel sobre a situação da guerra neste período, eu a citarei com o melhor de minha memória.

"Sabe, Bayerlein," disse ele, "perdemos a iniciativa, disto não pode haver dúvida. Acabamos de aprender na Rússia, pela primeira vez, que ousadia e excesso de otimismo não bastam. Precisamos ter uma abordagem completamente nova. Está fora de questão assumir a ofensiva por alguns anos, seja no Oeste ou no Leste, portanto devemos tentar extrair o máximo de vantagens que normalmente são inerentes à defensiva. A principal defesa contra o tanque é o canhão antitanque; no ar precisamos construir caças e ainda mais caças e desistir de toda idéia, no presente momento, e realizarmos quaisquer bombardeios. Não vejo mais as coisas tão pretas como via na África, mas a vitória total é agora, naturalmente, dificilmente uma possibilidade.

Perguntei-lhe como imaginava a defesa sendo levada à cabo na prática.

"Devemos lutar em linhas interiores," respondeu. "No Leste precisamos retirar-nos tão logo quanto possível para uma linha preparada, adequada. Mas nosso principal esforço precisa ser dirigido para rechaçar qualquer tentativa dos Aliados Ocidentais de criarem uma segunda frente, e é nisto que devemos concentrar nossa defesa. Se pudermos fazer seus esforços fracassarem uma vez, então as coisas ficarão radiantes para nós. Logo estaremos produzindo uma enorme quantidade de material de guerra. Uns poucos dias atrás o Führer contou-me que no início de 1944 poderemos esperar uma produção de 7 mil aviões e 2 mil tanques ao mês. Se apenas pudermos manter os americanos e britânicos de fora por mais dois anos, permitindo-nos construir novamente centros de gravidade no Leste, então nossa hora chegará; mais uma vez seremos capazes de sangrar os russos, até que permitam que a iniciativa mais e mais volte para nós. Então poderemos obter uma paz tolerável."

Rommel então passou a falar sobre as tática da defesa. Disse ele (de novo cito de memória):

"Lembre-se, Bayerlein, quão difícil achamos atacar as cortinas antitanque britânicas na África. Foram necessárias tropas de primeira-classe, altamente treinadas para conseguir qualquer coisa contra eles. Agora fiz um cuidadoso estudo de nossas experiências na Rússia. O russo é obstinado e inflexível. Ele nunca será capaz de desenvolver o método ardiloso, meticuloso com o qual o inglês trava suas batalhas. O russo ataca de frente, com enorme dispêndio de material, e tenta abrir caminho através do puro peso dos números.

"Se pudermos dotar as divisões de infantaria alemãs primeiro com cinqüenta, então uma centena, então duzentos canhões antitanque 75 mm, cada uma e instalá-los em posições cuidadosamente preparadas, cobertas por extensos campos minados, seremos capazes de deter os russos. Os canhões antitanque podem ser bem simples; tudo o que se precisa é que sejam capazes de penetrar qualquer tanque russo até um alcance razoável e ao mesmo tempo possam ser utilizados como canhão de infantaria.

"Não há a menor esperança em mantermos o passo com o inimigo na produção de tanques, mas podemos, com certeza, em canhões antitanque, se o inimigo tem de produzir tanques para seus ataques. Para cada tanque produzido, é possível entregar talvez dez canhões antitanque.

"Agora, suponhamos que os russos ataquem num setor fortemente minado onde nossos canhões antitanque estejam formando uma cortina, digamos de dez quilômetros [six miles] de profundidade, então - com toda sua massa de material - eles estão destinados a atolarem nos primeiros poucos dias e, daí por diante, terão de roer seu caminho lentamente. Enquanto isso estaremos instalando mais canhões antitanque por detrás de nossa cortina. Se o inimigo fizer um progresso de cinco quilômetros [three miles] por dia, nós construiremos dez quilômetros de profundidade de cortina antitanque e o deixaremos desgastar-se até um impasse. Nós estaremos lutando na cobertura de nossas posições, ele estará atacando no aberto. Nós perderemos canhões antitanque e ele perderá tanques. Para mover os canhões poderemos usar cavalos russos ou qualquer outro improviso no qual possamos botar as mãos. Isto é o que os russos fazem e precisamos adotar seus métodos. Uma vez que se torne claro para a tropa que ela pode manter seu terreno, o moral subirá de novo... Tanques, canhões antitanque de precisão e todo tipo de outras coisas terão de ser reduzidos. Nossa última chance no Leste repousa em equipar o exército meticulosamente para uma defesa inflexível.

"Mas o Oeste é o lugar que importa. Se conseguirmos uma vez atirar os britânicos e americanos de volta para o mar, levará um longo tempo antes que eles retornem..."


_________________________________

Extraído de "The Rommel Papers" (1953) editado por Sir Basil Liddel Hart.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#225 Mensagem por FCarvalho » Dom Jan 01, 2017 4:21 pm

Como dizem por aí, 'a história é um eterno fluir e repetir de coisas..."

abs.




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