Senta que lá vem a estória...
O tesouro direto nasceu como parte do plano de reestruturação da dívida interna lá no primeiro mandato do Lula. O plano foi organizado, executado e liderado por um tal de Joaquim Levy que ano passado foi ministro da fazendo. Os objetivos eram:
acabar com a dívida indexada ao câmbio e forçar os investidores estrangeiros assimilarem o risco cambial. Eles continuariam muito bem vindos, mas teria que transformar seus dólares em reais para comprar títulos públicos brasileiros. Lembrem que vinhamos da crise 1999-2001 e a argentina estava quebrada por dever quase tudo em moeda estrangeira, encurtando a margem de manobra da política econômica.
incentivar o alargamento do prazo da dívida pública que era de menos de 12 meses para alguns anos. O objetivo foi cumprido. Até a pouco tempo os títulos públicos passaram a ter maturação de 45 meses em 2013, depois caíram para 38 em média. Ainda sim bem mais confortável do que durante toda a segunda metade de século XX.
Substituir paulatinamente os títulos indexados pela selic para uma maior proporção indexados ao IPCA. A lógica é que se os títulos são indexados pela inflação e, a arrecadação também é indexada a inflação, haveria maior estabilidade nos custos da dívida pública. Ao mesmo tempo, as alterações dos juros teriam menor efeito sobre dívida pública, reforçando o compromisso do bc com a inflação dentro da meta. Aliás, boa parte do déficit nominal é culpa da inflação e é fantasiosa por que é paga pelo imposto inflacionário. Não é um problema grave para as finanças do governo e pode ser um dos motivos dele não resolver.
Tesouro direto é a forma de democratizar a dívida pública. No sentido de que qualquer cidadão brasileiro possa utilizá-la como um investimento de longo prazo. Assim dado a mesma possibilidade que cidadãos de outros países tem e acabar com os intermediários que embolsam a diferença. Isso é bom para o governo por que alarga a quantidade de credores e, para o cidadão, que encontra uma opção de baixo risco e bem remunerada.
O mercado financeiro brasileiro é tão imperfeito que os bancos e grandes empresas viviam (e vivem) como agiotas que ganhos absurdos em qualquer lugar civilizado do mundo. Um dos motivos é que remuneram os clientes com uma taxa e emprestam para o governo uma taxa muito maior. No meio da caminham sangram o clientes com altas taxas de administração, clausuras de contrato e rentabilidade ridícula. O exemplo básico é previdência privada. Um produto pior em rentabilidade que a poupança. O seu gerente dizer que é um bom produto tem a mesma credibilidade que o vendedor de carro dizer que tem que troar de carro todo o ano.
O tesouro direto como investimento de médio ou longo prazo seria desejável pelo simples fato de cobrir o IPCA. A gente parte do principio que o IPCA é uma medida de preço imperfeita que considera os consumidores. Só que a dinâmica de elevação de preços da economia tende a ser menor e afetar assimetricamente cada setor ou região da economia. Se der uma remuneração real de 2-3% continuaria sendo extremamente interessante.
O mercado acionário pode ser ótimo, mas o problema é cheio de frescura para funcionar, os operadores de tiram o couro e o país é muito instável. Quando mudar o cenário pode voltar a ser interessante. Ainda assim vai arriscar uns 10-20% das economias. O resto continua no tesouro direto que te protege da inflação e dá uma remuneração real.
E, repito, financiar casa e carro é acabar com a renda presente e futura. Não estamos nos eua/canadá que as condições são diferentes.
Se for financiar casa/apartamento pelo sonho da casa própria lembre que o mercado flutua, os juros são subsidiados e mas altos, e vai se agarrar naquilo por 20/30 anos. Poupa milão por 10 anos no tesouro direto e deixar crescer por mais uns cinco que vai comprar um apartamento a vista, mais ainda se chegar com o dinheiro em um momento que como este que está tudo encalhado. Mesmo pagando aluguel é uma estratégia interessante. No fim sai muito mais em conta do que quem financiou.
Por exemplo, tu tem 100 mil na mão para comprar um imóvel de 300 em valores de hoje. Pode fazer duas coisa: financiar pela caixa e pagar a prestação de mil e poucos; guardar no tesouro direto com algum título indexado pelo IPCA e esquecer até 2030. Lá em 2030 quem financiou vai estar pagando o imóvel e começando os mil e poucos da renda mensal e, possivelmente, vai levar mais uns 10 paga pagar. Já quem poupou pode comprar o imóvel a vista, mesmo tendo pago alguém de mil e poucos. E quem estará em melhor situação em 2030?
E para carro é pior. Faz as simulações que tu chorar se lembrar que financiou o carro um dia. Mais ainda se acreditou na lorota de vendedor de trocar carro todo ano ou fazer consórcio. Por que perde dinheiro na aquisição e muito e perde muito mais no financiamento. Enquanto pode fazer um planejamento de troca a cada 36-60 meses através do que pouca no tesouro e pagar a diferença entre o valor que vendeu o carro e o preço do novo. Isso guardando milão por mês que é o valor de um prestação de carro popular.
O problema é a disciplina para por milão por mês e não ter a tentação de gastar.
Se bem que professor de federal no departamento de economia, especializado em projetos empresariais, chega aos 50 anos sem casa, sem investimento e toda renda comida por besteira e reclamando do governo que ganha pouco, imagina o resto que não faz essas simulações.
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O governo tem uns 35% da dívida indexada a selic e outros 35 % indexada ao IPCA. O indexado pela selic virou uma fria.
http://www.tesouro.gov.br/documents/101 ... 9a6ee89c07