PT decidiu usar processo contra Dilma para tentar resgatar imagem
Sigla não aceitou barganha entre Planalto e Cunha
10 deputados estavam se preparando para deixar a legenda
Agora, entretanto, quem terá de se defender é Dilma
O Partido dos Trabalhadores decidiu usar Dilma Rousseff para resgatar um pouco de sua imagem ao desafiar nestas 3ª e 4ª feiras (1 e 2.dez.2015) o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Há várias semanas tentava-se um acordo tácito entre Planalto e Eduardo Cunha.
O governo se incumbiria de entregar votos no Conselho de Ética para enterrar o processo que pede a cassação de Cunha. Em troca, o presidente da Câmara engavetaria os pedidos de impeachment contra Dilma Rousseff.
Dilma Rousseff tinha interesse em terminar 2015 sem impeachment e aprovando o que fosse possível do ajuste fiscal. Cunha almejava ficar na cadeira para ter mais conforto na sua defesa por conta de sua citação na Operação Lava Jato.
Essa negociação vazou amplamente. Parte do PT viu aí uma nova humilhação pública para a legenda, que a cada dia tem de se explicar em público por causa de ex-dirigentes condenados por corrupção ou presos esperando julgamento.
Estava tudo mais ou menos encaminhado até ontem (1º.dez.2015). Aí o presidente nacional do PT, Rui Falcão, postou uma mensagem no seu perfil no microblog Twitter: “Confio em que nossos deputados, no Conselho de Ética, votem pela admissibilidade [do processo contra Eduardo Cunha]”.
Os petistas sentiram-se então liberados para articular o que se deu hoje: uma reunião da bancada na Câmara decidiu, por ampla maioria, que a sigla deveria votar pela continuação do processo contra Cunha.
Ato contínuo, Eduardo Cunha acolheu o pedido de impeachment mais apreciado pela oposição (assinado pelos advogados Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr.).
Sem obter uma decisão favorável no Supremo Tribunal Federal que possa interromper a tramitação do pedido de impeachment, a presidente Dilma enfrentará um rito muito sumário. Tem 10 sessões para se defender. Em outras 5 sessões, sai o parecer de uma comissão especial. E 48 horas depois o caso é votado pelo plenário da Câmara.
O rito está detalhado neste post.
O governo vai tentar uma saída judicial (talvez até por meio do PT), mas não está claro ainda como será a estratégia nem as chances de sucesso no STF.
O PT PREFERIU TENTAR SE SALVAR E RIFOU DILMA
Ontem (1º.dez.2015), enquanto ficava claro que o PT estava pronto para salvar Eduardo Cunha no Conselho de Ética, vários partidos já começavam a negociar a cooptação de congressistas petistas.
A Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, esperava receber a filiação de 8 a 10 deputados federais do PT. O senso comum no Congresso era o de que o PT iria desmilinguir após salvar Eduardo Cunha.
No Senado, 2 a 3 senadores do PT também estavam se preparando para deixar a sigla.
Diante desse possível cenário devastador, o PT não teve dúvidas. Em vez de barganhar mais um pouco com Eduardo Cunha e tentar manter a temperatura política controlada para proteger o mandato de Dilma Rousseff, o partido preferiu pensar na sua sobrevivência.
A lógica dos que foram a favor dessa estratégia do PT –a cúpula da legenda, a maioria dos congressistas e parte dos ministros de Estado– é que o o pedido de impeachment é inconsistente. Além disso, a oposição precisa arregimentar 342 votos na Câmara para aprovar o impedimento.
Os defensores de entrar em “guerra contra Eduardo Cunha'', como o Blog ouviu dentro do Palácio do Planalto de um ministro, concluíram que não seria mais sustentável para o governo continuar se submetendo à “chantagem'' de Eduardo Cunha.
Todos esses argumentos são respeitáveis, mas precisam se traduzir em apoio no Congresso, o que é impossível de saber se vai ocorrer nesta fase inicial do processo –sobretudo com uma presidente que tem apenas 10% de apoio popular ao seu mandato.