Agora, tem o outro lado também... Longe de afirmar qualquer coisa, até porque, sobre aspectos técnicos da aviação militar, sabemos alguma ou outra coisa, sejamos honestos; e, na FAB, Copac especificamente, há gente que estudou a vida inteira para estar lá; enfim, na condição de leigo (perante o qualificado pessoal técnico da FAB/Copac, não perante a grande mídia), eu me permito sim a levantar algumas dúvidas, externar alguns receios, pontuar algumas questões, sobre o projeto Gripen.Galina escreveu:
Bom... eu havia até criado uma historinha... da tia que, municiada de conhecimentos dos experts do programa da Sonia Abraão, e sem se dar conta do ridículo, julga-se apta a discutir tecnicamente seu problema com o médico da família...
Agora, falando sério, não acho correto dizer que se trata de pura e simples trollagem. Temos sempre que partir do pressuposto que as pessoas se portam de boa fé.
No começo.. no começo era o Verbo. Vou me permitir voltar um pouco no tempo, para contextualizar essa suposta inferioridade de um "caça leve" como o Gripen (tomei emprestado um texto escrito há um tempo atrás).
O caça full, totalmente eficiente em qualquer altitude e velocidade, chamava-se F-15. Como opção mais barata (o desenvolvimento não era tão rigoroso. Não havia exigências para desempenhos perfeitos em alta altitude por exemplo), temos o F-16. Na Navy, tínhamos full (apesar que para requisitos diferentes, interceptação de grandes bombardeiros era o foco principal) o F-14, e como leve o F-18. Resposta (tardia) dos russos: Su-27 Flanker ao F-15; Mig-29 ao F-16 e ao F-18. Tivemos desenvolvimentos, mas um estranho foi do F-18, que apesar do DNA de leve, ganhou peso e persistência, mas não desempenho.
Resposta dos europeus: eurocanards. O Typhoon foi feito, desde o princípio, para derrotar o Flanker. É da classe desse e do F-15, portanto. Aliás, é o único avião convencional (fora o F-22) que consegue operar (efetivamente) a 65.000 ft e em supercruise. O Typhoon é "o cara" para o BVR.
O Rafale, por sua vez, teve que sacrificar parâmetros de alto desempenho BVR pelo fato de que tinha que substituir a todos os aviões franceses. E o Gripen foi o mais leve e barato (e mais manobrável - giro sustentado) dos três. Os três Eurocanards, em razão da sua configuração, conseguem ter um desempenho bem equilibrado em todas as altitudes e velocidades, o que F-16 e Mig-29 não tem. Esse é o quadro.
Quanto ao Gripen, um caça leve com desempenho de caça grande de superioridade aérea, ganhou peso e persistência de combate, como sabemos. Por outro lado, a evolução das turbinas fez com que essas sejam muito mais eficientes, com menos consumo, o que somado a uma grande eficiência aerodinâmica, fez com que tenha capacidade supercruise com configuração mínima de combate aéreo.
Enfim, os eurocanards representam um misto entre as duas classes iniciais (F-15 e F-16, F-14 e F-18).
O máximo que vou ouvir seria um "bem, já vimos isso", ou "isso foi a primeira coisa que nos preocupamos", ou coisas do tipo.
Então, dentro das minhas limitações, eu apontaria:
a) a questão do peso, apontada pelo Knigh7, inclusive em artigo em blog do Luis Nassif; se subir demais, obviamente a coisa complica;
b) a eficiência aerodinâmica, proporcionada principalmente pelo harmônico conjunto delta canard, é uma marca do Gripen (como um todo). Porém, não valeria a pena desde já planejarmos a adição de uma turbina melhorada (a F414 EPE), melhorando assim a relação empuxo/peso ?? Será que isso não nos habilitaria a ter um desempenho ainda melhor, sobretudo em grandes altitudes ??
c) manobrabilidade, a melhor taxa de giro sustentada do mundo, conforme assim ressaltou a propaganda da FAB. Aliás, o documento da Carnegie (sobre o MMRCA), também nisso, bate com a informação da FAB. Porém... não seria isso dourar um pouco a pílula ?? Com HMD/mísseis IR atuais, todos evitam o dogfight, pois há grandes chances de kill mútuo. Aliás, essa foi a explicação dada por órgãos técnicos ingleses depois do pau que tomaram dos SU-30 indianos... Onde, provavelmente as ROE exigiam uma maior aproximação para o disparo VWR, o que fez com que a melhor maior manobrabilidade horizontal do Sukhoi prevalecesse. Os ingleses, além de dizerem que o Typhoon tinha melhor manobrabilidade vertical, disseram que no mundo real, os disparos teriam ocorrido muito antes, dizendo que dificilmente os dois aviões sobreviveriam a um merge... Em suma, mantidas essas premissas, não vejo razão para a FAB propagandear isso, smj.
Sem esgotar o assunto, acredito que são questionamentos válidos.