OK Túlio, vamos lá então:
Túlio escreveu:Pois o que aqui está em debate é envelope, precisão e capacidade sensorial de PGMs x as mesmas capacidades da AAAe. Mas em algo tive sucesso, consegui trazer para o debate a necessidade da DA como item no go without. Desconheço exemplo na terra de quem tenha vencido uma só guerra - em que se tenha empregado Aviação de Combate - exclusivamente com AAAe como defesa contra agressores aéreos. Isto restou sobejamente comprovado em uma das maiores operações SEAD de todos os tempos, a Operação Mole Cricket 19, que ficou também conhecida como "Tiro ao Pato (ou peru, ou pavão; usei "pato" porque os alvos eram verdadeiros sitting ducks) no Vale do Bekaa". Claro, isso envolveu combates aéreos também mas não invalida o FATO de que o alvo primário era a AAAe, primeiro forçada a ligar os radares com uso de drones-isca, jammeada com pods embarcados nos caças atacantes e depois atacada e quase que totalmente destruída. Menciono esta batalha em particular (e me proponho a debatê-la mais profundamente, se requerido, mas em outro tópico, ou este será desvirtuado) porque, notem na imagem acima, a disposição era muito semelhante: AAAe na frente e DA na retaguarda, lançando apenas umas poucas PACs (e necas de AEW/AWACS) para prevenir a AAAe da aproximação de inimigos: exatamente o inverso de como deve ser!
Túlio, para começo de conversa não se prenda muito à campanha israelense no vale de Bekaa para avaliar a defesa AAe em geral, pois aquele não foi nem de longe um caso típico. Seria como avaliar a defesa em uma guerra de trincheiras tomando como modelo o desempenho das unidades portuguesas durante a Ofensiva Ludendorff em 1914 (sem ofensas aos nossos amigos lusos). Todos os analistas são unânimes em afirmar que a atuação dos sírios naquele caso foi um perfeito exemplo de tudo o que a defesa AAe NÂO DEVE fazer (não acompanhar o desenvolvimento tecnológico, ficar estática, seguir sempre os mesmos procedimentos previsíveis, mostrar descaso com as ações preparatórias israelenses e por aí vai, a lista é enorme). E no final, na verdade o que os israelenses conseguiram foi apenas eliminar por um certo tempo a ameaça aos seus aviões advinda dos sistemas AAe sírios. Nem um palmo de terreno sequer mudou de mãos ao terminar da campanha, e pouco depois as defesas sírias estavam de volta, renovadas
.
No Iraque a coisa também não foi muito diferente, com os iraquianos empregando equipamentos e conceitos já ultrapassados contra uma aliança das maiores potências do planeta equipada com o que havia de mais moderno no mundo no que tange à sistemas aéreos ofensivos.
Muito mais significativas foram as ações entre americanos e vietnamitas ao longo da década de 1960, ou a campanha da Sérvia, embora em ambos os casos se tratasse de conflitos com elevado grau de assimetria (uma grande potência ou a OTAN inteira contra países pequenos e de poucos recursos, dependentes do auxílio de terceiras nações que evitavam o envolvimento direto). Outro exemplo interessante, o único em que forças grosso-modo equivalentes estavam em ação, foi o da guerra de 1973 entre Israel, Egito e Síria, principalmente nos primeiros dias. E vale aí contar não só a ação já bem conhecida das defesas árabes, mas também a das israelenses que embora geralmente pouco mencionadas foram também bastante interessantes, abatendo 43 aviões egípcios e 7 sírios nos dezenove dias de combate (a AAe egípcia derrubou pouco mais de 100 aviões israelenses no mesmo período - cerca de 1/4 de toda a força aérea de Israel à época
). Tal nível de perdas teria por exemplo significado o fim da força de combate da FAB, se fosse este o caso.
Notemos que, de fato, AS BASES AÉREAS, de onde partem os caças e aviões-radar (no nosso caso), devem mesmo ficar na retaguarda, protegidas pela AAAe contra PGMs lançadas à distância; já a área de atuação dos ditos caças deve estar é à frente da AAAe; BEM à frente, ou seja, se eu fosse redesenhar a imagem em apreço, inverteria as posições, desdobrando a AAAe bem mais à retaguarda - próxima das Bases e demais pontos críticos a serem defendidos, bem como seus arredores, pois desconheço lei que obrigue o inimigo a atacar pela frente, pode muito bem dar a volta - enquanto os caças ficariam parte em prontidão (supondo-se que se esteja à beira de um conflito ou mesmo que ele já esteja em andamento) nas bases e mesmo trechos rodoviários pré-preparados para operá-los (e aí uma das grandes vantagens em operar Gripen) e parte em PAC, para dar o alerta e primeiro combate a invasores. Então sim, quem disparasse PGM o estaria fazendo sob ameaça direta de ser abatido (se for meio aéreo), destruído (se terrestre) ou afundado (se naval). E novas levas de aeronaves de combate estariam vindo da bem protegida retaguarda.
Túlio, conforme eu mencionei, os detalhes do cenário que coloquei na imagem não são importantes, foi apenas algo que montei em CINCO MINUTOS, sem pensar muito. Eu apenas queria exemplificar que a posição das defesas AAe de médio e longo alcance não necessariamente estará no entorno imediato dos alvos, mas sim distribuída de forma a aproveitar as características de cada equipamento e de cada cenário para maximizar sua chance de causar perdas ao inimigo.
No cenário imaginado, a FAB contra uma força aérea extra-continental, a sua ideia de levar a força de caças à frente da AAe de médio e longo alcance para enfrentar o inimigo seria absurda, um verdadeiro suicídio. Operando longe de suas bases, sobre a floresta mais isolada, ao alcance dos radares e sistemas AWACS do inimigo e eventualmente até de seus sistemas AAe, nossos caças estariam enfrentando os piores desafios imagináveis. E para proteger o quê, as árvores amazônicas? Qual a justificativa para isso? Apenas porque os caças podem chegar até lá na frente, junto a fronteira, isso não significa que é o que devam fazer, as considerações táticas é que devem definir sua área de atuação. Isso, avançar os caças, pode parecer muito arrojado e elegante, mas não tem nenhuma justificativa prática que eu consiga imaginar.
O correto seria deixar que o inimigo enfrentasse a AAe ou longas rotas de aproximação ao redor dela, se afastasse de suas aeronaves de alerta antecipado e reabastecimento, ficasse sobre território hostil a ele e então forçá-lo a enfrentar a defesa de caças com um olho no céu e outro no mostrador de combustível. Perceba que só o fato de ter que fazer enormes voltas para evitar a AAe já reduziria significativamente o número de sortidas que os atacantes poderiam efetuar por período (horas, dias, etc...), o que na prática representaria uma redução da própria intensidade e consequentemente eficácia da guerra aérea.
Contra um inimigo continental, como a Venezuela, a Colômbia ou o Chile poderia-se pensar em avançar os caças, principalmente para ataques aos aeródromos e outros pontos importantes inimigos. Mas na defesa de nossas próprias cidades, radares e outras posições importantes também seria mais inteligente deixar os aviões inimigos se arriscarem vindo até nós ao invés de ir até eles só para impedir que ultrapassem uma fronteira onde não existe nada o que atacar ou defender. Aproveitar a defesa em profundidade sempre que possível seria uma das principais preocupações dos comandantes da AAe, que desdobrariam seus sistemas de detecção e interceptação buscando criar armadilhas para surpreender os atacantes e tornar sua vida a mais difícil possível. Recuar e deixar o terreno livre para os caças deles enfrentarem os nossos livremente não só arriscaria desnecessariamente nossas próprias aeronaves como limitaria as possibilidades das unidades da AAe de surpreender o inimigo.
Um ponto muito importante a manter em mente é que as unidades de longo e principalmente as de médio alcance devem possuir a mais alta mobilidade possível e trocar de posição com a máxima frequência, justamente para não dar ao inimigo a chance de mapear as áreas onde haveria ameaças e aquelas que poderiam estar livres. Principalmente os sistemas de médio alcance, que poderiam (e deveriam) estar disponíveis em maiores quantidades, precisariam ter garantida a máxima mobilidade e autonomia de operação, de forma a poder mudar continuamente o cenário da defesa e manter o inimigo todo o tempo sob pressão. Imagine, para ilustrar, o pesadelo que seria para os planejadores da força de ataque se os círculos verdes mostrados no mapa, principalmente os colocados em posições mais avançadas, fossem em maiores quantidades e estivessem o tempo todo mudando de lugar, iniciando cada dia em uma posição dezenas ou centenas de km daquela que foi conhecida no dia anterior.
Notemos ainda que a imagem que exemplifica a linha de raciocínio do Leandro véio pressupõe um ataque vindo da Colômbia. Como eles têm ainda menor capacidade aérea do que nós (e a Venezuela ali do lado, doidinha para arranjar um inimigo externo para galvanizar a vontade popular em prol do governo contra algo assim), devo supor que a premissa é um ataque da OTAN/EUA partindo de lá. Bueno, a OTAN estaria muito melhor posicionada no que já tem de seu e que fica a leste, ou seja, a Guiana Francesa. Lá conhecem bem o terreno, não teriam problemas com guerrilheiros/insurgentes e má vontade popular geral e não teriam de obter permissão (leia-se fazer conce$$õe$) em relação a qualquer País.
Túlio, mais uma vez, não se prenda aos detalhes.
Poderia por exemplo ser uma ação isolada dos americanos sem apoio algum da OTAN (eles nunca se importaram com isso, não é mesmo
), tendo eles pressionado ou simplesmente "comprado" o governo da Colômbia para aceitar que seu território fosse utilizado como base e não tendo conseguido o mesmo com relação à França. Ou poderia ser o oposto, uma ação da Otan sem o apoio de nenhum país sul americano, e neste caso os ataques partiriam apenas da Guiana Francesa e não da Colômbia (e aí o cenário seria similar ao mostrado, apenas invertido com relação a um eixo vertical). Ou poderia ainda ser um ataque total de ambas as direções, e aí o cenário se estenderia aos dois lados mas ainda teria as mesmas características, apenas mais unidades AAe seriam necessárias para completar a defesa. Na verdade para os fins deste debate tanto faz, o importante é perceber como a disposição da defesa AAe de médio e longo alcance não estaria de forma alguma “amarrada” à dos alvos a serem protegidos, apenas os sistemas de curto alcance dedicados justamente a interceptar as PGM´s é que ficariam próximos destes, por suas inerentes limitações de alcance.
Desejo ainda agregar meu apreço a uma das idéias bem legais que este debate suscitou: pequenos e baratos sensores acústicos, dispostos em grande quantidade em todas as possíveis rotas de aproximação. Vejo-os como caixas leves de plástico/polímero completamente vedadas contra a umidade e capazes de proteger ao menos até certa intensidade seu conteúdo contra EMP, UV, etc. O dito conteúdo seria apenas um ou mais microfones de alta sensibilidade, ligado(s) a um processador de áudio programado para filtrar (descartar) todas as frequências não associadas a aeronaves e similares (mísseis e outras PGMs) em voo e um transmissor direcional (microondas, laser, etc, reduzindo sua detectabilidade). Como já foi dito, os sinais captados chegariam ao sensor à velocidade do som mas partiriam para a recepção final à velocidade da luz. Aliás, aí estaria algo que já poderia, talvez em versão mais simples, ser logo integrado ao SISFRON, dando o alerta antecipado sobre voos ilegais sobre nosso território.
É como imagino o sistema mesmo. Algo como um SOSUS instalado em terra para uso contra aeronaves. Que seria combinado com o uso dos diversos sistemas de radar e IIR, desde os fixos de longo alcance aos menores, de alcance apenas local, não deixando ao inimigo espaços onde poderia relaxar e se organizar com calma.
Um grande abraço,
Leandro G. Card