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Mensagem
por FCarvalho » Seg Mai 25, 2015 11:09 am
Falando em artilharia de campanha, revendo uma das minhas ‘Revista Operacional’, de 2013, em uma matéria sobre o tema na América do Sul, nota-se que esse mercado tanto para os obuseiros de calibre 155mm, como os calibre de 105mm, é bastante expressivo, considerando que apenas Chile, Colômbia e, em partes, a Venezuela dispõe de peças realmente novas, e/ou mais recentes, em seus inventários. Mesmo assim, a necessidade de substituição e/ou modernização da artilharia de campanha na região oferece oportunidade impar para projetos de desenvolvimento conjunto e/ou parcerias comerciais deles advindas para estes países.
No caso da artilharia AP, a questão é mais problemática por se tratar de peças bem mais caras de se operar e manter, além de, obviamente, existirem poucos modelos novos disponíveis no mercado, e principalmente, com preços acessíveis para a maioria dos orçamentos militares da região. O modelo básico de obuseiro AP usado na região é o já bem conhecido americano M-109, em várias versões, e que oferece uma boa solução tanto em termos de modernização, como financiamento via FMS para a compra de “novas” undes pelos exércitos que decidirem-se pela manutenção, e/ou adoção do mesmo, em suas baterias.
Uma opção que se avizinha, e talvez tão possível quanto acessível para a substituição deste modelo é o conceito do obuseiro de campanha de 155mm Caesar, francês, sobre rodas, com tração 6x6 e até 8x8, dependendo das necessidades e particularidades do cliente. Neste campo existem hoje diversos países oferecendo soluções homólogas, e com diferentes níveis tecnológicos e de desempenho, com opções européias, israelenses, sul-africanas e chinesas. Há variedade e oportunidade de oferta no mercado internacional para quem resolver se aventurar a testar a eficácia e eficiência deste conceito.
Para os obuseiros AR de 155mm existem várias opções também no mercado, desde as usadas, principalmente vindas dos USA e Rússia, assim como chinesas, no caso destes últimos para aqueles países acostumados a material de origem soviética, bem como material novo, que encontra hoje na África do Sul e Israel dois dos principais fornecedores, e desenvolvedores, de obuseiros pesados, e que concorrem ombro a ombro com material europeu de diversas origens, e americanos. Estes últimos na verdade tem apenas o M-777 fabricado sob licença como material novo para oferecer, já bastante testado/provado em TO’s operacionais, além do M-198, que ainda resiste em muitas unidades de artilharia americanas, mas que vem pouco a pouco cedendo espaço para aquele obuseiro inglês.
De qualquer forma, hoje em dia, novas opções de obuseiros 155 AR são, via de regra, caras de se obter, e manter, tendo em vista a modernidade e complexidade de seus sistemas de mira e visada que os acompanha. Poucos seriam os países sul-americanos em condições de dispor de recursos financeiros suficientes para a sua aquisição e operação.
Quanto aos obuseiros de campanha de 105mm, a coisa se reveste de dois aspectos, no que concerne ao Brasil, e à sua base industria de defesa. Hoje, segundo dados informados na matéria, descontando-se o material deste calibre em operação no EB, existem entre 194 e 270 obuseiros italianos M-56 em operação e/ou em estoque nos exércitos sul-americanos. Da mesma forma, também neste calibre, existe entre 430 e 452 obuseiros M-101 americanos, em diversas condições e estado. E todos eles, em algum grau de necessidade, deverão/precisarão ser substituídos nos próximos 10/15 anos.
Se juntarmos os números, temos um mercado potencial para um obuseiro leve de campanha de 105mm com 624 a 722 undes comercializáveis. Isto apenas para os exércitos sul-americanos. Podemos também acrescer a este número, em todo caso, cerca de 70 a 72 obuseiros Yugoimport M-56 de105mm do exército peruano, que deverão ser também substituídos no curto/médio prazo, obtendo-se assim um mercado potencial de 694 a 794 undes.
Ou seja, temos uma base de possível exportação para quase 800 obuseiros AR de 105mm que pode ser explorada por, como dissemos acima, parcerias industrias e comerciais entre países da própria região, ou por nós e algum país extra-região que disponha de material de emprego nesta categoria. Para enxergarmos melhor o potencial econômico da questão, vamos aos números brasileiros.
O EB possui hoje, e possuirá no médio/longo prazo, cerca de 3 GACLev, cerca de 8 GACSlv e em torno de 5/6 GAC para as futuras BgdaInfLv. Não se considera aqui os GAC das futuras Bgdas de Inf e Cav Mecanizada, que deverão, como hoje se observa a tendência entre os artilheiros do EB, e do próprio EME, optar talvez, pela adoção de um produto no conceito do Caesar, tendo o calibre 155 como quase certo para estas OM’s. Assim, em termos genéricos, podemos apontar uma demanda para cerca de 16/17 GAC’s-105 que devem dispor de 288 a 306 undes de obuseiros leves. Neste caso, acrescidos as possíveis exportações para a região, podemos chegar a uma demanda potencial para o mercado sul-americano de cerca de 982 a 1.100 obuseiros de campanha leve de 105mm.
Se o mercado sul-americano apresenta tais números, não podemos esquecer, e nem deixar de considerar também, a África como um mercado potencial para este tipo de material, além de outros países da América Latina, ainda que com menor grau de necessidade neste campo, mas com certeza, não menos importante enquanto mercado de exportação para nós. A Ásia e Oriente Médio concorrem também como mercados óbvios para este tipo de obuseiro de campanha, com os diversos países da região dispondo de diferentes níveis de necessidade/oportunidade para a substituição/modernização de sua arma de artilharia, mas com certeza, também. sendo um mercado mais que considerável.
Se estes números genéricos são de conhecimento da nossa BID, ou de empresas que possuem produtos desta categoria, caberia nos perguntar: será que seria não somente interessante, mas importante, e quiçá, talvez, até mesmo necessário, que desenvolvêssemos um produto próprio, com qualidades suficientes para abastecer o mercado interno, e ser exportável, ou ainda, entendendo que as alianças políticas no âmbito da Unasul poderiam nos render dividendos neste campo, por exemplo, na cooperação para o desenvolvimento e apronto final do projeto CALIV 105 argentino, e tornar este obuseiro leve portenho material padrão sul-americano neste calibre, ou ainda, por proximidade de interesses e condições político-econômicas, angariarmos o desenvolvimento da versão leve do G-7 da Denel, que está ainda em projeto?
As opções que beneficiem objetivamente a BID neste campo realmente não são muitas, mas as que se apresentam, se feitas as conexões tecnológicas, industriais, comerciais e políticas necessárias, e precisas, poderiam nos assegurar, no mínimo, os aportes necessários para a manutenção de uma linha logística própria suficientemente longeva, e tão ou mais importante quanto, a modernização da nossa artilharia de campanha com material novo, e tecnologicamente provado com suporte nacional.
A outra opção que nos cabe seria a de sempre: importar pouco, depender muito e operar quase nada.
Com a palavra o MD.
Abs.
Carpe Diem