O problema desta fórmula de existir um MCTI é que seus quadros acabam sendo inadequados, até pela forma de seleção de pessoal. Os melhores são acadêmicos e tendem a apoiar a pesquisa pura, que gera papers e palestras mas muito pouca aplicação prática direta (e quando gera é geralmente fora do país ). E os piores são simples burocratas que só atrapalham.Bourne escreveu:"Aqui tem o MCTI, que é responsável pelos investimentos em C&T. Nos EUA, não há um ministério horizontal para C&T", afirma Fernanda. "O gasto é feito pelos ministério da Defesa, da Saúde, da Energia e pela Nasa. Só aí estão mais de 90% do investimento em P&D".
Segundo ela, ao fazer dessa forma os investimentos, os Estados Unidos têm objetivos orientados a missões específicas, como resolver problemas de energia e da defesa dos americanos. Enquanto no Brasil, por outro lado, os incentivos em C&T são muito pulverizados em vários setores e áreas geográficas diferentes, que impedem resultados mais concretos para o enfrentamento de grandes problemas do país.
Distribuindo os recursos pelos ministérios a coisa tende a melhorar, não só pela redução da burocracia (se existe um problema da alçada de um ministério específico ele mesmo pode buscar a solução, não tem que envolver um outro) como pelo fato de que os responsáveis querem ver a solução dos seus problemas específicos e não ficar elucubrando sobre "ciências" e "tecnologias" em geral, sem ter nenhum problema prático nas mãos.
Outro ponto que poderia ser visto é a criação de um mecanismo de incentivo à pesquisa aplicada. Cada pesquisador de universidade que desenvolver alguma nova tecnologia patenteável deveria receber uma parcela dos eventuais lucros desta tecnologia. Pelo que sei hoje os ganhos são todos da universidade, e os pesquisadores em si não necessariamente recebem alguma coisa. Mas talvez o mais importante seria a criação de centros de pesquisa dedicados a setores específicos da tecnologia, onde os pesquisadores receberiam um salário inicial relativamente menor que nas universidades, mas teriam que dar aulas apenas para um reduzido grupo de trainees (talvez a nível de pós-graduação, mas não necessariamente) e receberiam uma parcela substancial dos royalties sobre produtos e serviços que a instituição desenvolvesse para a indústria. Algo parecido com a Embrapa, mas para outras áreas além da agro-pecuária (eletrônica, mecânica fina, química, etc...). E estes centros de tecnologia precisariam incluir departamentos de vendas (de tecnologia e serviços) com vendedores comissionados, além de incubadoras de empresas.
Leandro G. Card