‘The Economist’: Por que o Brasil precisa mudar
THE ECONOMIST
17 Outubro 2014 | 11h 09
Leia a íntegra do editorial da publicação britânica, que sugere que o Brasil deveria livrar-se de Dilma e eleger Aécio Neves
Reprodução/Economist.com
Ilustração na capa da The Economist sobre eleições no Brasil
Em 2010, quando os brasileiros elegeram como presidente Dilma Rousseff, seu país parecia finalmente estar vivendo à altura do seu imenso potencial. A economia cresceu 7,5% naquele ano, selando um período de oito anos de crescimento mais rápido e acentuada queda na pobreza sob o mandato de Luis Inácio Lula da Silva, mentor político de Dilma e líder do Partido dos Trabalhadores (PT), de centro-esquerda. Mas, quatro anos mais tarde, essa promessa desapareceu. Sob o mandato de Dilma a economia perdeu força e o progresso social desacelerou. Excluída a Rússia, afetada por sanções, o Brasil é de longe o país de desempenho mais fraco entre as economias emergentes dos BRICs. Em junho de 2013, mais de um milhão de brasileiros foram às ruas para protestar contra a baixa qualidade dos serviços públicos e a corrupção na política.
Desde as manifestações, as pesquisas têm mostrado que dois terços dos participantes desejam que o próximo presidente seja diferente. Assim, seria de se esperar que eles tivessem se voltado contra Dilma no primeiro turno das eleições presidenciais no dia 5 de outubro. Na data, ela obteve 41,6% dos votos e continua como favorita para vencer no segundo turno em 26 de outubro, por uma pequena margem. Isso ocorre principalmente porque a maioria dos brasileiros ainda não sentiu na pele os efeitos da economia estagnada - mas logo sentirão. E em parte porque o oponente dela, Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), de centro-direita, que obteve 33,6% dos votos, tem dificuldades para convencer os brasileiros mais pobres que as reformas defendidas por ele - muito necessárias ao país - irão beneficiá-los em vez de prejudicá-los. Se o Brasil quiser evitar quatro anos de derrapagem, é vital que ele tenha sucesso em sua missão.
Uma campanha alterada pelo destino
A tarefa de Aécio se tornou mais difícil com uma campanha marcada pela tragédia e alterada pelo destino, tão dramática quanto uma telenovela brasileira. Dois meses atrás, o candidato que ocupava o terceiro lugar nas pesquisas, Eduardo Campos, morreu num acidente de avião a caminho de um comício. Sua ex-colega de chapa e substituta, Marina Silva, aumentou rapidamente sua popularidade para liderar nas pesquisas. Ambientalista, Marina é a queridinha dos manifestantes, o símbolo da "nova política". Mas, por mais atraente que a ausência de maquinário político ao lado dela possa ter parecido, este foi também um ponto fraco. Diante dos ataques às vezes baixos de Dilma, Marina vacilou. Não ajudou o fato de ela ser evangélica num país de maioria católica. No fim, sua parcela de 21% dos votos ficou pouco acima do resultado obtido por ela em 2010. Em lugar da "nova política", o segundo turno vai repetir a batalha entre PT e PSDB que definiu as eleições presidenciais no Brasil desde 1994.
Nessa disputa, o principal trunfo de Dilma é a gratidão popular pelo pleno emprego, salários mais altos e um conjunto de programas sociais eficazes - não apenas as remessas de dinheiro do Bolsa Família, mas habitação de baixo custo, bolsas para estudantes e programas de fornecimento de eletricidade e saneamento para o Nordeste empobrecido. São feitos concretos. Mas esses são acompanhados por fracassos maiores e menos palpáveis, tanto na economia quanto na política.
Os problemas da economia mundial ao fim do grande boom das commodities prejudicaram o Brasil. Mas o país teve desempenho inferior ao de seus vizinhos latino-americanos. A constante interferência de Dilma nas políticas macroeconômicas e as tentativas de microgerenciar o setor privado levaram a uma queda nos investimentos. Ela fez poucos esforços para remediar problemas estruturais do Brasil: a infraestrutura de péssima qualidade, o alto custo, um sistema fiscal punitivo, burocracia interminável e um rígido código do trabalho copiado de Mussolini.
Em vez disso, ela deu vida nova ao estado corporativo no Brasil, distribuindo favores aos mais próximos, como isenções fiscais e empréstimos subsidiados de bancos estatais inchados. Ela prejudicou tanto a Petrobrás, empresa estatal do petróleo, como a indústria do etanol, ao manter baixo o preço da gasolina para aliviar o impacto inflacionário de sua política fiscal relaxada. Um escândalo de suborno na Petrobrás sublinha que é o PT (e não seus adversários, como Dilma afirma) que não pode receber confiança à frente daquela que já foi uma das joias do país.
O estado corporativo de vorazes aliados é simbolizado pelo tamanho absurdo da coalizão de Dilma e seu gabinete de 39 membros. Isso custa aos brasileiros cerca de 36% do Produto Interno Bruto (PIB) em impostos - muito mais do que o observado em países com estágio comparável de desenvolvimento. Não surpreende que o governo dela tenha sido incapaz de encontrar dinheiro adicional para o sistema de saúde e transporte como exigido pelos manifestantes. E o pior: desprovida do toque político de Lula, Dilma não mostra sinais de ter aprendido com seus erros.
Mais do mesmo não será suficiente
Dilma se fortalece com as fraquezas de Aécio como candidato. A insinuação descabida divulgada pela esquerda segundo a qual ele acabaria com o Bolsa Família teve impacto porque ele é membro do establishment político brasileiro - seu avô morreu na véspera de se tornar presidente em 1985 - e ele traz consigo o ranço da velha política: como governador de Minas Gerais, ele gastou dinheiro público na construção de um pequeno aeroporto próximo à sua fazenda. Nos 12 anos mais recentes, Lula, que ainda goza de influência entre os pobres, descreveu o PSDB como um partido de ricaços insensíveis.
Mas as políticas de Aécio beneficiariam os brasileiros pobres e também os mais prósperos. Ele prometeu colocar o país no rumo do crescimento econômico. Seu histórico pessoal e também o do partido dão credibilidade às suas propostas. Nas presidências de Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990, o PSDB eliminou a inflação e criou os alicerces para o recente progresso do Brasil; e, em seus dois mandatos como governador, Aécio transformou Minas Gerais, o segundo estado mais populoso do Brasil e conhecido pela má administração, num exemplo de bom governo, com algumas das melhores escolas do país. Ele o fez principalmente com a redução da burocracia. O candidato conta com uma impressionante equipe de conselheiros liderada por Armínio Fraga, ex-diretor do Banco Central, que conta com o respeito dos investidores. Além de um retorno a políticas macroeconômicas mais sensatas, sua equipe promete cortar o número de ministérios, tornar o congresso mais responsável perante os eleitores, simplificar o sistema tributário e incentivar o investimento privado em infraestrutura.
Aécio merece vencer. Ele travou uma campanha determinada e provou que pode fazer suas políticas econômicas funcionarem. A maior ameaça aos programas sociais é a má administração econômica do PT. Com sorte, a declaração de apoio de Marina, que já integrou o PT e nasceu na pobreza, poderá dar a ele mais força. O Brasil precisa de crescimento e de um governo melhor. É mais provável que isso venha com Aécio em lugar de Dilma./ TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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