MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4591 Mensagem por Wingate » Sex Ago 22, 2014 1:42 pm

Túlio escreveu:
Wingate escreveu: E um advogado...ei, cadê o copo? :twisted:

Wingate

Vamos lá:

ADVOGADO - Vamos processar alguém que enchemos esse copo até transbordar.

POLÍTICO COM MANDATO - Quanto levo de comissão para encher o copo?

POLÍTICO EM CAMPANHA - Meus queridos amigos e amigas, meus amados irmãos e irmãs, prometo que vou encher esse copo se me honrarem com seu voto.

MOTORISTA DE BLINDADO DO EB - Sargento, acho que esmaguei um copo.

SARGENTO - Se estragou a lagarta, vai ter. PQP, é o copo do capitão, seu bisonho. Vou te escrever!

POLICIAL - Este copo devia estar cheio, alguém roubou metade. Cana nele! E vamos apreender o copo.

MÉDICO - O copo está exatamente como deveria estar, saudável. Vazio ou cheio estaria doente.

FILÓSOFO - O copo estar meio cheio ou meio vazio é de somenos importância, a questão central é o que isto representa na ordem natural das coisas bla bla bla...

PINGUÇO (tem em tudo que é profissão) - Se for cachaça, deixa que eu esvazio. Mas depois enche de novo!

GARI - Que sede. Vou aproveitar.

BORIS CASOY (Apresentador e dublê de Jornalista) - Vejam só, gari querendo tomar água em copo...hehe

PROFESSOR DE GEOGRAFIA DA USP - O cumpanhêro copo está sendo manipulado pela classe média fascista e a mídia entreguista!

DIRETOR DE NOVELA - Temos que botar outro copo ali, e do mesmo sexo. Pensem só, vamos ARRASAR, será o primeiro interlúdio de copos GAYS da tevê!

FORISTA DO DB QUE VOTA NO PT - O copo só está assim graças ao GF, antes estava sempre vazio.

FORISTA DO DB QUE VOTA CONTRA O PT - Já está quase vazio e continua esvaziando, culpa do governo do PT.

MODERADOR DO DB - Se o copo se comportar, qual o problema? Cheio, vazio ou pela metade, o colega Copo tem o direito de estar entre nós.
TROLL PENTELHO DO DB - Esse copo é uma CANECA!!!

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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4592 Mensagem por Túlio » Sex Ago 22, 2014 1:45 pm

:lol: :lol: :lol: :lol:




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4593 Mensagem por Bourne » Sex Ago 22, 2014 3:55 pm

Outra coisa interessante que percebi agora a pouco observando os situacionistas no facebook. Eles estão tão desesperados para se legitimar, justificar a política econômica atual e se manterem em um segundo mandato que começaram a apelar para terrorismo. Criam a tese da "bolsa banqueiro", mas fortaleceram a "bolsa BNDES", não sabem como fazer o investimento bombar e puxar o crescimento.

Sinto que com ou sem Dilma em 2015, verei de volta os choros emocionais da turma Unicamp e Puc-SP sobre os rumos da política econômica. É claro que eles sabem que estão com a espada na cabeça e se comprometeram muito com as ações, os discursos e as defesas atuais. Alguns realmente vivem no mundo paralelo, mas não espera certos argumento de gente séria e comedida. Do jeito que se comportam creio que sei quem eles temem que vá ser chamados para substituí-los e de quem eles querem a cabeça dos que ainda estão no governo.

Isso não é sobre economia. É sim gigantismo de ego.

Abaixo a entrevista de um dos nomes importantes da política econômica do Lula que teve a cabeça decepada. Leiam que vão ver que não é maluco.
Quarta, 16 de julho de 2014
A economia brasileira e um emaranhado de incertezas. Entrevista especial com Fernando Cardim de Carvalho

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/ ... e-carvalho

“Com o resto do mundo em crise, inclusive nossos vizinhos argentinos, manter-se em crescimento com câmbio sobrevalorizado tornou-se bem mais difícil, mesmo com o acúmulo de medidas mais ou menos ad hoc que o governo tem tomado”, pondera o economista.

A crise econômica dos países desenvolvidos, “só comparável ao ocorrido nos anos 30 do século passado”, ainda gera uma série de “incertezas” e afeta, inclusive, os países em desenvolvimento. No caso do Brasil, diz Fernando Cardim de Carvalho, “pairam dúvidas profundas” e perguntas sem respostas, como, “por quanto tempo o Brasil vai patinar, alcançando taxas tão irrisórias de crescimento? As taxas verificadas nos últimos anos certamente nos manteriam subdesenvolvidos por muito tempo, mas estamos condenados a viver dentro de limites tão medíocres?”.

Segundo a estimativa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, o Brasil não terá condições de alcançar o nível de renda dos países desenvolvidos até 2050. Mas antes de ser um mapa de previsões em relação aos rumos da economia brasileira nos próximos 30 anos, os dados da OCDE apontam para uma reflexão acerca “do que está acontecendo agora” no país, diz o economista. Para ele, “esse tipo de relatório convida à reflexão sobre o presente e o futuro imediato, não sobre o que acontecerá daqui a 30 ou 40 anos”.

Especialista em desenvolvimento e crescimento econômico, Carvalho afirma que os “problemas a serem superados são óbvios. No campo macroeconômico, os juros são altos demais, o câmbio é sobrevalorizado, os impostos são altos e um tanto irracionais, a inflação tem se mostrado renitente às políticas que buscam sua redução. Mas há problemas estruturais com relativamente pouca ênfase sendo dada à definição das frentes futuras de expansão, para orientar investimentos, em favor de medidas de impacto imediato, como o estímulo ao mercado de automóveis, a baixa qualidade da educação no país, que prejudica a elevação da produtividade, a falta de investimentos públicos, especialmente em infraestrutura. A lista é familiar, com certeza”.

Entre as políticas de enfrentamento da pobreza e superação das desigualdades adotadas nos últimos anos, o economista salienta que o “esforço de redistribuição de renda é meritório, ainda que pareça estranho que governos liderados por partidos social-democratas, como o PSDB e o PT, não tenham se preocupado em tornar progressivos os impostos sobre rendas pessoais”. Em relação à política de acesso a universidades, contudo, adverte: “Tenho sérias dúvidas de que subsidiar a entrada em escolas privadas de segunda categoria, em cursos cuja necessidade para o país é duvidosa, seja uma política de alguma eficácia”.

Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por e-mail, ele ainda comenta as políticas econômicas adotadas no Brasil e em outros países, e suas influências no desenvolvimento. Entre os economistas que veem com bons olhos as políticas keynesianas, ele é categórico: “O estado de bem-estar não falhou por razões econômicas, ele perdeu sua base de sustentação política quando do movimento Reagan/Thatcher. As políticas de pleno emprego e de administração de demanda agregada para defender níveis elevados de emprego não foram abandonadas porque não tiveram resultados, mas porque políticos conservadores, apoiados por economistas também conservadores, como Milton Friedman e seus herdeiros, convenceram o público de que fábulas como a da cigarra e a formiga tinham base factual. O próprio ex-presidente Lula gostava de repetir frases do tipo ‘o governo é como uma família’, que são totalmente desprovidas de sentido efetivo, mas parecem muito convincentes para eleitores”.

Fernando Cardim de Carvalho é mestre em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp e doutor em Economia pela Rutgers, State University of New Jersey. Atualmente é professor titular aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Economia da mesma universidade.

---------

IHU On-Line - Como o senhor interpreta o dado da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, de que o Brasil não conseguirá atingir o nível de renda média dos países desenvolvidos até 2050?

Fernando Cardim de Carvalho - Projeções para prazos longos como esse não têm muito valor como projeção, porque o número de supostos incertos que se tem de aceitar é quase infinito. O valor desse tipo de análise não é o que diz do que vai acontecer daqui a 50 anos, mas o que diz do que está acontecendo agora.

Ou seja, o que ela propõe é que, a manterem-se certas tendências verificadas no presente, com alguns ajustes definidos a gosto do analista, a convergência levaria tanto ou tanto tempo para ser conseguida. Mas mesmo sobre o presente, há grande incerteza. Os países desenvolvidos passam por uma crise de grandes proporções, só comparável ao ocorrido nos anos 30 do século passado.

Crises como essa não contraem apenas a economia, elas mudam seus parâmetros. Algum dia a União Europeia vai voltar a crescer, provavelmente, mas a que taxas? Até mesmo sua sobrevivência está em dúvida. A China tenta reorientar seu padrão de crescimento, será que vai conseguir? Como? E a economia americana, vai manter sua posição de liderança? O dólar vai se manter como a moeda internacional? Tudo isso afeta as projeções para os países desenvolvidos. Mas também aqui para nós pairam dúvidas profundas. Por quanto tempo o Brasil vai patinar, alcançando taxas tão irrisórias de crescimento? As taxas verificadas nos últimos anos certamente nos manteriam subdesenvolvidos por muito tempo, mas estamos condenados a viver dentro de limites tão medíocres? Esse tipo de relatório convida à reflexão sobre o presente e o futuro imediato, não sobre o que acontecerá daqui a 30 ou 40 anos.

IHU On-Line - Muitos economistas apontam o Brasil como um país promissor econômica e socialmente no futuro, por conta dos seus “potenciais” e porque cresce minimamente, enquanto países desenvolvidos enfrentam algumas situações de crise. Contudo, apesar dessa expectativa, quais são as razões e as políticas econômicas adotadas hoje que possibilitam vislumbrar o resultado apontado pela pesquisa a longo prazo?




“A pobreza pode ser combatida sem que as desigualdades sejam efetivamente combatidas, elevando o piso de renda, mas sem tocar nos picos”

Fernando Cardim de Carvalho - Não basta que existam recursos naturais, isso não é condição necessária (veja-se a Inglaterra ou o Japão), nem suficiente, como mostram os países africanos. Nós nos enredamos em dificuldades em parte herdadas do contexto de globalização, em que uma dose significativa de autonomia nacional é perdida, em parte em dificuldades criadas por nós mesmos, na definição da política macroeconômica, por exemplo, ou em políticas setoriais. Nossas possibilidades concretas de desenvolvimento e de superação das taxas de crescimento reduzidas que temos vivido dependem de nossa capacidade de aprendizado, especialmente dos que ocupam posições de responsabilidade como autoridades econômicas.
IHU On-Line - À época do governo Lula, os economistas divergiam acerca do crescimento brasileiro, quando o PIB chegou a 7%. Uns diziam que o crescimento estava relacionado com o bom desempenho da economia brasileira, enquanto outros alegavam que o alto crescimento era consequência da boa fase da economia internacional. Hoje, relaciona-se o baixo crescimento à situação econômica internacional. Considerando o cenário atual, quais são os impactos externos que interferem na economia brasileira e quais são os problemas internos que dificultam o crescimento brasileiro?

Fernando Cardim de Carvalho - Os famosos 7% de 2010 têm de ser tomados com muito cuidado. Eles não representavam uma tendência que de alguma forma não se conseguiu manter, eles representavam uma reação à política anticíclica adotada a partir do final de 2008 e à própria contração anterior. Ela não indicava uma nova estratégia de crescimento, apenas a eficácia de uma política de saída de uma contração. As dificuldades mais estruturais, como a tendência à participação declinante da indústria na economia, a sobrevalorização cambial, etc., se mantiveram. O impulso foi mantido graças à eficácia de políticas como a expansão do crédito, principalmente a consumidores, através de modalidades como o crédito consignado, e a manutenção de uma demanda elevada por importações por parte da China. O endividamento das famílias parece ter atingido seus limites, especialmente numa situação de juros mais altos, e a China mudou seu padrão de crescimento. Com o resto do mundo em crise, inclusive nossos vizinhos argentinos, manter-se em crescimento com câmbio sobrevalorizado tornou-se bem mais difícil, mesmo com o acúmulo de medidas mais ou menos ad hoc que o governo tem tomado.

IHU On-Line – Que medidas o Brasil precisa para equiparar a renda a dos países desenvolvidos?

Fernando Cardim de Carvalho - Essa é uma questão muito ampla, que precisaria de muito espaço para ser adequadamente discutida. Mas os problemas a serem superados são óbvios. No campo macroeconômico, os juros são altos demais, o câmbio é sobrevalorizado, os impostos são altos e um tanto irracionais, a inflação tem se mostrado renitente às políticas que buscam sua redução. Mas há problemas estruturais com relativamente pouca ênfase sendo dada à definição das frentes futuras de expansão, para orientar investimentos, em favor de medidas de impacto imediato, como o estímulo ao mercado de automóveis, a baixa qualidade da educação no país, que prejudica a elevação da produtividade, a falta de investimentos públicos, especialmente em infraestrutura. A lista é familiar, com certeza.

IHU On-Line - Considerando o quadro industrial brasileiro e as medidas sociais dos últimos governos (aumento do salário mínimo, acesso a crédito, acesso à universidade e programas de distribuição de renda), que análise é possível fazer acerca do desenvolvimento do país? Em termos de desenvolvimento, é possível perceber um avanço no Brasil?


“Nós nos enredamos em dificuldades”



Fernando Cardim de Carvalho - O esforço de redistribuição de renda é meritório, ainda que me pareça estranho que governos liderados por partidos social-democratas, como o PSDB e o PT, não tenham se preocupado em tornar progressivos os impostos sobre rendas pessoais. Com relação à política de acesso a universidades, eu tenho sérias dúvidas de que subsidiar a entrada em escolas privadas de segunda categoria, em cursos cuja necessidade para o país é duvidosa, seja uma política de alguma eficácia. Mas não há dúvida que houve uma melhora em muitos aspectos, como a aposentadoria rural, por exemplo.

IHU On-Line - Segundo pesquisa recente do IBGE, referente a 2011, 82% dos empregados brasileiros recebem até três salários mínimos, sendo que 30% desses recebem até um salário mínimo. Como o senhor avalia, nesse sentido, o aumento progressivo do salário mínimo, mas o nivelamento por baixo da média salarial e o índice crescente de empregos no setor de serviços? Que modelo de desenvolvimento está se desenhando no país em relação ao trabalho?

Fernando Cardim de Carvalho - Esta é uma política que deve ser analisada com muito cuidado, para que aumentos de salários nominais não se esfumacem em altas de preços. Eu tenho a impressão de que essa política exige, para se tornar sustentável e eficaz, a adoção paralela de políticas de melhoria da produtividade, qualificação da mão de obra, abertura de novos mercados, etc.

IHU On-Line - Em que medida a diminuição da pobreza implica superação das desigualdades sociais? No Brasil, o foco de superação ainda está muito relacionado à pobreza?

Fernando Cardim de Carvalho - São dois problemas conectados, mas diferentes. A pobreza pode ser combatida sem que as desigualdades sejam efetivamente combatidas, elevando o piso de renda, mas sem tocar nos picos. Esquemas realmente redistributivos, de subsídios às rendas mais baixas, financiados por impostos sobre as rendas pessoais mais altas, foram eficazes de forma mais duradoura nos países escandinavos, por exemplo.

IHU On-Line - O livro do economista Thomas Piketty, Capital no século XXI, recolocou o debate acerca das desigualdades em cena. A partir de uma perspectiva econômica, como a questão das desigualdades deve ser abordada?



“Os famosos 7% de 2010 têm de ser tomados com muito cuidado”



Fernando Cardim de Carvalho - Por enquanto, eu conheço o livro apenas por terceiras pessoas, pelos palpites dados por outros. Eu não costumo emitir opinião sobre a opinião de outros sobre a obra de outros. O livro está na minha estante, mas ainda espera que chegue sua vez.

IHU On-Line - Tem sentido relacionar as desigualdades e o atual quadro de desigualdades mundial com o desenvolvimento do capitalismo?

Fernando Cardim de Carvalho - Claro. A partir das revoluções neoliberais dos anos 70 e 80 do século passado, com Reagan e Thatcher à frente, firmou-se a ideia de que era preciso liberar as energias criativas dos mais ricos. Isso teve o resultado que se viu, com a crise de 2007/2008.

IHU On-Line - Políticas econômicas com base numa concepção keynesiana de economia ainda são eficientes para resolver os problemas de desigualdades de uma nação, considerando que o estado de bem-estar social Europeu falhou e que o Estado avança devagar na área social?

Fernando Cardim de Carvalho - O estado de bem-estar não falhou por razões econômicas, ele perdeu sua base de sustentação política quando do movimento Reagan/Thatcher. As políticas de pleno emprego e de administração de demanda agregada para defender níveis elevados de emprego não foram abandonadas porque não tiveram resultados, mas porque políticos conservadores, apoiados por economistas também conservadores, como Milton Friedman e seus herdeiros, convenceram o público de que fábulas como a da cigarra e a formiga tinham base factual. O próprio ex-presidente Lula gostava de repetir frases do tipo “o governo é como uma família”, que são totalmente desprovidas de sentido efetivo, mas parecem muito convincentes para eleitores.

IHU On-Line - Com a financeirização da economia e com as crises financeiras recentes, que políticas econômicas são urgentes para os dias de hoje? Ainda nesse sentido, que teoria econômica melhor se enquadra para explicar o mundo hoje?

Fernando Cardim de Carvalho - Isso seria assunto para outra conversa, também, mas a globalização financeira do presente e a liberalização de mercados que se desenvolveu em paralelo não são forças naturais, sua aceitação se deve a decisões políticas e podem ser limitadas por decisão política também.




Editado pela última vez por Bourne em Sex Ago 22, 2014 4:12 pm, em um total de 1 vez.
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4594 Mensagem por nveras » Sex Ago 22, 2014 4:04 pm

Bourne escreveu:Outra coisa interessante que percebi agora a pouco observando os situacionistas no facebook. Eles estão tão desesperados para se legitimar, justificar a política econômica atual e se manterem em um segundo mandato que começaram a apelar para terrorismo. Criam a tese da "bolsa banqueiro", mas fortaleceram a "bolsa BNDES", não sabem como fazer o investimento bombar e puxar o crescimento.

Sinto que com ou sem Dilma em 2015, verei de volta os choros emocionais da turma Unicamp e Puc-SP sobre os rumos da política econômica. É claro que eles sabem que estão com a espada na cabeça e se comprometeram muito com as ações, os discursos e as defesas atuais. Alguns realmente vivem no mundo paralelo, mas não espera certos argumento de gente séria e comedida. Do jeito que se comportam creio que sei quem eles temem que vá ser chamados para substituí-los e de quem eles querem a cabeça dos que ainda estão no governo.

Isso não é sobre economia. É sim gigantismo de ego.
Maior que o da Presidanta?




Não é nada meu. Não é nada meu. Excelência eu não tenho nada, isso é tudo de amigos meus.
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4595 Mensagem por Bourne » Sex Ago 22, 2014 4:32 pm

nveras escreveu:Maior que o da Presidanta?
É claro.

Veja que puxa briga com todo mundo e criar elevado mal-estar? Não é a Dona Dilma.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4596 Mensagem por LeandroGCard » Sex Ago 22, 2014 4:45 pm

Bourne escreveu: Abaixo a entrevista de um dos nomes importantes da política econômica do Lula que teve a cabeça decepada. Leiam que vão ver que não é maluco.
Quarta, 16 de julho de 2014
A economia brasileira e um emaranhado de incertezas. Entrevista especial com Fernando Cardim de Carvalho
.
.
.

Isso seria assunto para outra conversa, também, mas a globalização financeira do presente e a liberalização de mercados que se desenvolveu em paralelo não são forças naturais, sua aceitação se deve a decisões políticas e podem ser limitadas por decisão política também.
Artigo excelente, que coloca em perspectiva muitas coisas que em geral são dadas como verdades incontestáveis (a falência do estado social, a naturalidade da concentração de renda, a inevitabilidade da financeirização e etc...) mas que na realidade foram consequência de decisões políticas tomadas no embalo do final da guerra fria e da pretensa "vitória do capitalismo".


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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4597 Mensagem por Bourne » Sáb Ago 23, 2014 11:48 pm

Exemplo de como a cúpula da equipe econômica colocada pela Dona Dilma se enrola com declarações desnecessárias que acirram a desconfiança e instabilidade.
Ascensão social ajuda a explicar pressão inflacionária, diz Tombini
DE SÃO PAULO
Fonte: http://tools.folha.com.br/print?site=em ... bini.shtml

23/08/2014 18h48

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, culpou as "mudanças estruturais" ocorridas no mercado de trabalho na última década pela pressão atual dos preços. Mas reforçou que a inflação está sob controle.

"A política monetária foi capaz de conter a inflação", disse Tombini neste sábado (23) durante o simpósio do Federal Reserve Bank of Kansas City -o mais importante encontro de presidentes de bancos centrais, em Jackson Hole (EUA).

Em seu discurso no evento, Tombini disse que a pressão inflacionária ocorre no setor de serviços. Segundo ele, a ascensão de 40 milhões de brasileiros à classe média criou uma demanda por serviços que fez aumentar os salários entre os que têm menos anos de estudo.

"O peso dos preços dos serviços no índice de preços ao consumidor aumentou consideravelmente na última década", disse.

Apesar disso, Tombini insistiu em que o país continua mantendo a inflação dentro do intervalo de tolerância da meta, que é de 4,5%, podendo chegar a 6,5% ao ano.

Nesta semana, foi divulgada a prévia da inflação de agosto. O IPCA-15 mostrou que a inflação acumulada nos últimos 12 meses foi de 6,49%.

Críticos da política do governo da presidente Dilma Rousseff consideram que o teto da meta só não foi rompido porque o governo está adiando reajustes de preços da gasolina e da energia elétrica -forçando a Petrobras e as concessionárias de energia a arcar com essas perdas de receitas.

CENÁRIO GLOBAL

O simpósio de Jackson Hole ocorre em um momento em que os países se recuperam da crise financeira de 2008/2009 e discutem os novos rumos da economia.

Para o Brasil, o cenário não é dos melhores. O país, que surfou atraindo investidores no momento em que EUA e Europa estavam em baixa, agora terá de enfrentar a virada norte-americana.

Durante o encontro, ficou claro que a política de estímulos monetários dos EUA está perto do fim. Isso significa que as taxas de juros de longo prazo devem subir, atraindo mais investidores.

Com isso, o dólar tende a se valorizar, tornando ainda mais complicado o cenário para a economia brasileira.
Se o Tombini atribui a inflação á ascensão dos 40 milhões que elevou salários quer dizer o problema é demanda de curto prazo. Portanto, a estratégia de enfrentamento é elevação de taxa de juros e corte de estímulos ao consumo. O governo faz timidamente o primeiro. O segundo faz ao contrário elevando estimulo de consumo. Além de passar a impressão que a elevação de preços públicos são postergados para manter a inflação na meta e realmente são.

O resultado da instabilidade e desconfiança é acirrar o conflito distributivo. As grandes empresas que tem informações e planejam o longo prazo, aproveitam para elevar preços e ganhar o que puderam agora, reduzindo investimento e prevendo que vem ajuste recessivo no futuro. Enquanto os preços são repassados passam à impactar em toda a economia e incentivar outras empresas fazerem o mesmo. Não é inflação de demanda. Nesse ambiente, não adianta colocar dinheiro subsidiado para investimento e as reformas institucionais pontuais parecem que não funcionam por que estão no meio das flutuações.

Ou seja, os caras se dizem pós-keynesianos e citam mynsky, mas são incapazes de entender o animal Spirit e o drama das expectativas. Não duvidem que se mudarem os nomes e atitudes, mesmo em um segundo governo Dilma, em alguns meses as coisas voltem ao normal.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4598 Mensagem por Túlio » Dom Ago 24, 2014 12:19 am

Tão falando faz tempo que a casa vai cair mas meu bolso ainda não acusou isso...




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4599 Mensagem por Bourne » Dom Ago 24, 2014 1:14 am

Por que a casa cairia?

O pessoal que deveria criar um ambiente de confiança e estabilidade no curto prazo conseguem fazer besteiras atrás de besteiras, mas longe do suficiente para implodir tudo. A demérito deles é criar instabilidade que dificulta tudo.

Os fundamentos são bons e reformas de longo prazo para que permitam acumulação de capital estão acontecendo lentamente. As grandes empresas, nacionais e estrangeiras, sabem disso tanto que querem se manter no brasil e bem posicionadas no mercado. Se mudar o ambiente de curto prazo e sentirem que podem ganhar mais produzindo e investindo mais intensamente. Enquanto isso, as empresas se aproveitam para elevar preço e ganhar o que puder antes do ajuste. O exemplo maior é a industria automobilística que está em crise, choram pelas bondades e elevam preço para continuar ganhando no momento.

Existe um consenso nos dois candidatos (Marina e Aécio) e por muita gente dentro do governo Dilma que o problema é a instabilidade de curto prazo, criada pelos alucinados que não sabem se comunicar, incoerentes e brigam o tempo todo. Gente sugere trazer o Henrique Meirelles de volta e por no Ministério da fazenda no lugar do Mantega e colocar gente comportada nos cargos chaves. O problema aí que se mexe com ego de gente com poder dentro do PT que acha que está certo e vai morrer se defendendo no cargo.

A "crise" atual é mais trapalhada do que realidade, tanto que o Gianetti da Fonseca (o cara da marina e que protagonizou o último quebra pau com governo) fala aos quatro ventos que em três trimestres de ajuste a economia volta a crescer. O ajuste é basicamente adotar um discurso coerente e simples para o mercado. Gente do PT fala a mesma coisa e defende descaradamente cortar a asa desse pessoal de frente.

Não era para crescer quase zero com inflação acima da meta como agora. Na pior das hipóteses seriam uns 2-3% com inflação dentro da meta, podendo chegar até quatro sem problemas como indicam os estudos de crescimento potencial. Por que não ocorre? A crise externa não dá para engolir por que a interligação do brasil com mundo é mínima. Dizer que os empresários não investem e mantem a lucratividade em cima de maiores preços por não simpatizar com a Dilma também é forçar a barra. Isso não é matemática em que os incentivos ao consumo e investimento fazem milagres com resultados exatos.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4600 Mensagem por Bourne » Dom Ago 24, 2014 4:46 pm

Entrevista do José Luis Oreiro, acadêmico e respeitado post-keynesiano, e, o outro, um picareta de consultoria. O importante são as declarações do Oreiro. Não concordo com muita coisa que ele diz, mas aí parece que acertou e reflete uma opinião comum do problema central na falta de confiança e instabilidade oriundo da incapacidade da equipe econômica dizer o que quer e vai fazer.

Quando falo que a equipe econômica tende a mudar com ou sem Dilma é por que não estão funcionando e cumprindo uma função básica de dar estabilidade e confiança de curto prazo. Existe a percepção crescente dentro do governo que o problema está na equipe econômica e a sua substituição seria interessante para mostrar uma quebra estrutural. Um sinal de que o debate interno é intenso são os chiliques dos principais membros e o mantra de que não são culpados. Boatos de sondagens de nomes estão circulando nos meios e papos de boteco como do Octaviano Canuto e Henrique Meirelles.

O pior já passou, avaliam economistas (Zero Hora, 23-8-2014)
24 domingo ago 2014

Fonte: http://jlcoreiro.wordpress.com/2014/08/ ... 23-8-2014/

Crítica ao governo Dilma Rouseff, Semi-estagnação da economia brasileira

Dois especialistas falam da crise de confiança, a desaceleração da atividade e a tendência para os próximos meses
23/08/2014 | 15h01

Vivemos uma crise de confiança?

Fernando Sampaio, diretor de macroeconomia da LCA Consultores
Existe um problema de confiança e isso atrapalha. Para investir e comprar, o empresário e o consumidor precisam de confiança. Em 2012 e 2013, o governo tentou soprar a brasa da atividade incentivando o consumo. Na indústria, a confiança acompanha o uso da capacidade instalada. Agora houve um descolamento. A queda recente da confiança é muito mais pronunciada do que a do uso da capacidade.

José Luis Oreiro, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Associação Keynesiana do Brasil (AKB)

Uma crise de confiança dos empresários no governo, que suspenderam planos de investimento pela incerteza quanto à política econômica. Não há um norte claro. Uma hora o governo tentou reduzir juros e desvalorizar o câmbio. Na outra, focou a inflação. Além dessa incerteza, houve desconforto no setor privado quando baixou as tarifas de energia. A percepção era de que seria um governo estatizante.

Que sinalizações seriam necessárias para melhorar o humor na economia?

Fernando Sampaio
O consumidor teve piora na confiança, mas foi menos pronunciada. Começou a cair nas manifestações de junho, mas fatores que tradicionalmente têm ligação não ocorreram, como queda no emprego e na renda. A eleição pesa mais para a confiança empresarial e indiretamente sobre a do consumidor, na medida que a incerteza é um ingrediente que enfraquece a economia.

José Luis Oreiro
A sinalização de uma política macroeconômica consistente. Acabar com artifícios contábeis para ter superávit primário, que nem precisaria ser muito alto, mas exequível. Depois, regras claras para o câmbio. São dois tipos de sinalização. Dependendo de quem ganhar a eleição pode haver um ciclo de otimismo. Se Dilma for reeleita, o pessimismo só seria revertido com a substituição da equipe econômica.

Qual é a tendência da economia para o segundo semestre?

Fernando Sampaio
Uma melhora tímida. Parte tem a ver com a quantidade de dias úteis a mais. Mas não é uma melhora substancial. Poderemos ter o PIB do segundo trimestre ligeiramente negativo. Pode ser positivo, próximo de zero. Existe ainda a possibilidade de recálculo do primeiro trimestre, com chance de retração. O terceiro e o quarto trimestres serão positivos, mas com crescimento muito pequeno. Estamos revisando nossa projeção de PIB para 2014, hoje em 1%.

José Luis Oreiro
Haverá uma recuperação marginal. O juro parou de subir, então dá para ter alguma recuperação. Mas certamente nada expressivo. No segundo trimestre, poderemos ter um PIB negativo, queda entre 0,4% e 0,6%. Mas a depender da magnitude dessa queda, por razões estatísticas, pode comprometer o primeiro trimestre (com uma revisão de resultado positivo para negativo). Assim, teríamos uma recessão técnica. Para todo o ano, devemos crescer entre 0,7% e 0,8%.

E para 2015?

Fernando Sampaio
Em boa medida o que está tolhendo a atividade é a incerteza sobre a eleição e a falta de confiança. Há a chance de esses fatores serem diluídos em 2015. Outro elemento é que a protelação de compras em 2014 pode ajudar 2015. Mas não será um ano de forte crescimento (a projeção da LCA é 2,1%). O eleito terá inflação e câmbio pressionados e ameaça de rebaixamento da nota de crédito do Brasil. Se a inflação der uma folga, combustíveis podem subir ainda em 2014 e não contaminar 2015.

José Luis Oreiro
Muito ruim no primeiro semestre porque serão necessários ajustes. Se a oposição vencer, o ajuste fiscal será forte, seguido de alta do juro. Poderemos ter recessão. Com Dilma, se ela fizer esse ajuste, também. Será preciso rever desonerações e conter o crescimento do gasto público com custeio. Talvez até aumento de impostos para conseguir superávit. Se esse ajuste for visto como algo que colocará as contas públicas no lugar, pode ter um impacto na confiança dos empresários, e os investimentos retornariam.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4601 Mensagem por Wingate » Seg Ago 25, 2014 8:21 pm

Prezado Bourne e demais colegas,

Como sou antigo, lembro ainda do tempo (década de 70) em que a poupança era altamente incentivada, sendo que o governo aproveitava esses recursos para executar suas obras (junto com os impostos) de infraestrutura, planos de moradia para o povo (BNH), educação, etc...etc...

Hoje quase não se incentiva mais a poupança mas sim o consumo, através de diversos artifícios.

Pergunta: Isto é correto? Não deveria o governo, nesses tempos bicudos da economia mundial, incentivar justamente a poupança, dando ao cidadão a opção de escolher entre gastar e poupar, ao mesmo tempo tendo uma fonte de recursos à disposição para projetos?

Desde já, agradeço antecipadamente um possível esclarecimento.

Cordiais saudações,

Wingate




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4602 Mensagem por akivrx78 » Ter Ago 26, 2014 8:24 am

26.08.2014 | 00h30 - Atualizado em 25.08.2014 | 17h46
'O pessimismo tem efeito dominó', diz o presidente da Anfavea, Luiz Moan
O economista defende a necessidade de reverter o clima ruim que se estabeleceu no país

Luiz Moan

DO BRASIL ECONÔMICO

Economista de formação, Luiz Moan destoa do discurso adotado por boa parte de seus colegas quando o tema é o modelo de crescimento para o Brasil. Na contramão do pensamento corrente, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e diretor institucional da General Motors no Brasil defende que as políticas de incentivo ao consumo são, sim, a principal via de desenvolvimento do país. Após registrar recordes nos últimos dois anos — justamente sob o impulso de medidas como a redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) —, o setor automotivo vive um ano desafiador. O segmento registrou retrações de 8,6% e 17,4%, respectivamente, nos licenciamentos e na produção, no acumulado dos primeiros sete meses do ano. Em entrevista ao Brasil Econômico, Moan prevê a retomada no segundo semestre e critica o pessimismo do mercado. Para ele, essa visão — baseada em indicadores desatualizados — cria um efeito extremamente prejudicial à economia brasileira.

No primeiro semestre, a mudança nas alíquotas do IPI foi um dos fatores que mais contribuíram para a queda nas vendas de automóveis. O sr. acredita que foi um momento inoportuno para alterações na alíquota?

Todo aumento de imposto é extremamente prejudicial para a economia brasileira, que escolheu como suporte do seu desempenho o seu mercado interno. Logo, temos mesmo que incentivar o consumo. Só assim vamos conseguir uma performance melhor. Claramente, as mudanças nos impactaram. Teríamos tido um semestre muito melhor se não houvesse a alteração do IPI em janeiro. Veja, as pessoas falam que quando o governo reduz o IPI é um incentivo ao setor. Eu diria o seguinte, hoje nós temos a maior carga tributária do mundo incidente sobre veículos. Se pegarmos um veículo médio, um flex, o imposto direto está na casa de 28%. E quando falamos em gasolina, quase 30%. Então, mesmo que o IPI fosse zerado, ainda assim nós teríamos a maior carga tributária do mundo, com um percentual de cerca de 22%. Nos Estados Unidos, estamos falando em 7%; no Japão, 10%. A média da Europa Ocidental é de 16%. Então, eu discordo que é um incentivo, porque é um ajuste da carga tributária, e é por isso que nós defendemos a redução permanente dessa carga tributária.

Mas o sr. considera que hoje o setor é extremamente dependente dessa redução do IPI? Essa fórmula já se esgotou?

É justamente o contrário. Nós temos um mercado hoje artificialmente baixo, por causa do tamanho dessa carga tributária. Então, qualquer redução traz um impacto positivo. No mês de julho, contra junho, crescemos as vendas em 11,8%. E tenho certeza que se o IPI não tivesse sido mantido, nós teríamos uma redução do mercado. Um outro dado importante: a alíquota reduzida — enquanto vigorou, de maio de 2012 a dezembro de 2013 — possibilitou uma perda da arrecadação do IPI em torno de R$ 4,9 bilhões, mas tivemos arrecadação adicional de PIS e Cofins de R$ 5,1 bilhões. Aí tivemos a arrecadação em ICMS e IPVA. No líquido, os entes da Federação arrecadaram R$ 8,1 bilhões a mais. É a prova de que, se tivéssemos uma carga tributária menor, teríamos um mercado e uma arrecadação maiores.

O sr. disse que defenderia a redução como permanente. Há alguma conversa com o governo nesse sentido?

Não neste momento. Porque nós temos que entender também a difícil situação fiscal do governo neste momento. Então, eu não vejo nenhuma chance de nós conseguirmos a manutenção da redução do IPI além de dezembro.

Qual seria a alternativa a essa redução e quanto tempo isso demandaria para ter um impacto positivo para o setor?

Em primeiro lugar, precisamos reverter esse clima de pessimismo corrente na economia brasileira. Isso virou um efeito dominó. Porque a economia — não só brasileira, mas mundial — depende muito da percepção, que hoje é de uma situação extremamente negativa. Essa é a primeira reversão que nós teríamos que fazer. Vou dar um exemplo de como às vezes os indicadores antigos atrapalham. No começo de agosto, nós divulgamos que, de junho para julho, crescemos 11,8%. Na última sexta-feira, saiu o indicador de atividade do Banco Central, referente ainda ao mês de junho. Então, o que eu vejo é o seguinte: as pessoas têm que entender que o nosso indicador é muito mais atualizado do que qualquer outro. O PIB do mês de junho pelo IBGE só deve sair no fim de agosto. Então, de novo deve vir notícia ruim, mas com certeza nós já estaremos apresentando número positivo. E em segundo lugar, precisamos ganhar competitividade.

Uma das contrapartidas da redução do IPI é a questão das demissões. O sr. acredita que haverá mais demissões?

O compromisso setorial com o governo, de manter o nível de emprego existente no fim de maio de 2012, ressalvadas algumas condicionantes, permanece. Primeiro é o pedido de demissão. Segundo, a aposentadoria do funcionário. Terceiro, o programa de demissão voluntária. E, quarto, o contrato temporário de trabalho. Mesmo sem descontar essas quatro condições, fechamos o mês de julho com um nível de emprego superior ao mês de maio de 2012. Contrariamente ao que às vezes lemos na mídia, na nossa visão, o layoff é um mecanismo de preservação de emprego. Ninguém admitiria ter um funcionário cinco meses sem trabalhar se não tivesse a expectativa de uma melhoria do mercado. Então, acho que é um instrumento legítimo a realização do layoff ou de férias coletivas, ou a compensação de banco de horas. Instrumentos que a indústria utiliza justamente para preservar os empregos.

Mas neste semestre, o sr. vê a manutenção dessa tendência?

Em julho, nós já tivemos um crescimento em relação à média do primeiro semestre, de 6,5%. As nossas exportações já cresceram também, nessa mesma base de comparação. O que precisamos fazer ainda é usar a variável produção como ajuste de estoque. E, para isso, estamos usando todos os mecanismos possíveis para preservar o emprego. Enquanto não ajustarmos os estoques, esses recursos continuarão.

É possível fazer uma previsão de quando a situação irá se normalizar?

Nós já tivemos uma redução de 45 dias no estoque, no fim de junho, para 39 dias no fim de julho. Nesse ritmo, daqui a pouco estaremos em torno de 30 dias ou até menos.

A restrição na oferta do crédito é uma questão que o setor vem debatendo há tempos. O que existe de concreto nessa frente?

O importante é o seguinte: ninguém realiza críticas ao sistema bancário brasileiro em função dessa seletividade. Até porque, nós chegamos a ter um índice de inadimplência de 7,5%, que é extremamente alto. O que nós estamos colocando é que hoje esse nível de inadimplência já está em 4,9%. Ou seja, nosso posicionamento é que, assim como nós entendemos que o sistema bancário elevou a seletividade em função da alta de inadimplência, agora eu já acho que estamos no nível de inadimplência em que uma análise diferente pode ser feita.

Mas o sr. já percebe reflexos positivos da redução desses índices?

Existem alguns bancos já procedendo a uma nova metodologia de seletividade. Recentemente o Banco Central tomou uma medida de aumentar a liquidez na economia brasileira, não diretamente dirigida ao setor, mas podemos ser impactados diretamente, e também indiretamente. Porque esse aumento de liquidez em torno de R$ 30 bilhões via depósito compulsório, mais R$ 15 bilhões via redução do fator de provisão, geram um recurso de R$ 45 bilhões para a economia brasileira. Então, o sistema bancário está realizando as suas análises, mas eu acho que daqui a pouco a economia começa a... não digo destravar, porque o volume de crédito continua. Mas os bancos passarão a ter uma régua menor no critério de seletividade.

Qual é a perspectiva para a indústria automotiva no segundo semestre?

No total do ano de 2014, em relação a 2013, vamos cair na produção em torno de 10% no mercado interno; em vendas, 5,4%; e em exportação, 29%. Mas para termos essa queda no ano, significa que o segundo semestre será melhor que o primeiro em dois dígitos. Diria que em 2014 não haverá um desempenho igual ou melhor que em 2013, mas que o segundo semestre será muito melhor que o primeiro, o que nos aponta uma retomada já em 2015.

Quais os reflexos que as eleições podem trazer para o setor?

De forma tradicional e histórica, em nenhuma eleição houve um prejuízo para o setor automotivo. As vendas continuam no seu ritmo normal. Do ponto de vista de quem vai ganhar a eleição, o peso do setor automotivo é muito grande. Somos quase um quarto do PIB industrial na cadeia inteira. Temos cerca de 5% a 6% do PIB total. E somos responsáveis também na cadeia produtiva e pós-venda por cerca de 12% da arrecadação total do país. Então, esse nosso peso faz com que os governos — seja qual for o partido ou a ideologia — tenham uma preocupação muito grande com o nosso desempenho.

Há um diálogo com os principais candidatos?

Nós fazemos sempre o diálogo via instituições como CNI e CNA.

Seja qual for o governo que assumir, quais seriam as principais reivindicações do setor?

Acho que a primeiro delas é a simplificação e, num segundo momento, a redução da carga tributária. Isso é fundamental, porque hoje o sistema é tão complexo, que é impossível acertar. Nós temos 27 estados e 27 regulamentos diferentes do ICMS. Temos mais de 5 mil municípios com legislações diferentes de ISS. O IPVA não é harmônico no Brasil inteiro. E a cada dia tem uma instrução nova para as normas dos impostos federais. A simplificação é um primeiro caminho e, num segundo momento, a redução da carga tributária. Ainda falando em tributos, a primeira providência seria que na exportação houvesse a compensação dos impostos incidentes na cadeia produtiva.

Como o sr. encarou a frase do ministro Guido Mantega, que afirmou recentemente que a indústria automotiva tem que caminhar com as próprias pernas?

Podemos caminhar, sim, com as nossas próprias pernas — ou rodas. O fato é que nós queremos isso. Só que, para isso, queremos que a carga tributária seja internacional, equivalente aos grandes mercados. E que a gente possa exportar produtos sem impostos não compensáveis, que são em torno de 9%.

O Brasil caiu para a posição de quinto mercado consumidor e é o sétimo país produtor. Quais são os principais desafios para essa indústria ganhar competitividade?

O primeiro aspecto são os impostos embutidos. Nós temos cerca de 9% de impostos não compensáveis no custo de produção. Então, isso gera um impacto de custo, um diferencial de custo negativo muito grande. Segundo, a nossa economia de escala deveria crescer também, por isso trabalhamos na redução dos impostos diretos. Nossa cadeia automotiva é muito dependente de uma série de matérias-primas que — para todo mundo, não só na nossa indústria — estão nesse momento acima do preço internacional. Então, tudo isso vem encarecendo muito a produção no Brasil, que ainda tem custo total da mão de obra muito alto.

O novo acordo estabelecido com a Argentina é suficiente para minimizar os efeitos negativos das exportações?

O que aconteceu no primeiro semestre foi que, além da queda de mercado na Argentina, o governo local tomou uma série de restrições às importações de caráter administrativo. Com isso, o mercado caiu 20%, 24%, e as nossas exportações retraíram 30%, 34%. Se no segundo semestre nós não tivermos as restrições administrativas — e não teremos —, vamos trabalhar no limite do mercado, ou seja, uma queda acentuada, mas muito menor, porque não existirão essas restrições. Com isso, acreditamos que as nossas exportações no segundo semestre vão crescer em torno de dois dígitos em relação ao primeiro. O acordo que fizemos no fim de junho é fundamental para que eu possa dizer que o intercâmbio comercial Brasil-Argentina não vai sofrer restrições adicionais. Primeiro, nós aprofundamos o que nós chamamos de integração produtiva. A Argentina depende das peças brasileiras e dos veículos brasileiros. Assim como nós dependemos das peças e veículos argentinos. No primeiro semestre, o Brasil exportou no setor automotivo US$ 3,7 bilhões e importou US$ 3,6 bilhões. Portanto, há uma balança equilibrada. Se nós mantivemos esse equilíbrio — e manteremos —, significa que não há saída de divisas adicionais por parte da Argentina, e ainda manteremos o nível de produção industrial no setor automotivo.

O que poderia ser feito para aumentar as exportações?

Nós vamos, juntos com o governo brasileiro, renegociar vários acordos de comércio que já existem, mas que necessitam ser aprofundados. E vamos também negociar, juntos, novos acordos. Temos viagens programadas para Colômbia, Equador, Peru, Uruguai e Paraguai. Em seguida, pretendemos trabalhar no continente africano, onde já iniciamos conversas com alguns países, na área de máquinas agrícolas. E vamos conversar com o governo mexicano. E, provavelmente, para 2015, o acordo do Mercosul com a Europa.

Montadoras como JAC, Cherry e BMW, entre outras, anunciaram investimentos no país. Há como comportar esse adicional de produção?

O índice de motorização no Brasil é um dos mais baixos do mundo — cerca de seis habitantes por veículo. Na Argentina é de 3,5. Na Europa Ocidental, 2, e nos Estados Unidos, 1,2. Para o Brasil se igualar à Europa, é preciso triplicar a frota atual, ou seja, adicionar 60 milhões de veículos. Com exceção de São Paulo, que já tem um índice hoje muito parecido com a Europa Ocidental, de 2 habitantes por veículo. Portanto, a venda em São Paulo é quase que de substituição.

Em relação aos recursos tecnológicos, em que estágio o Brasil está?

Em termos de veículos, especificamente nos veículos de média gama pra cima, já oferecemos toda a conectividade que existe no mundo. Nos veículos mais populares, um pouco menos, porque o impacto de preço é muito alto. Por isso, estamos trabalhando junto com o setor de autopeças para que isso possa ser oferecido com o máximo possível de produção brasileira. Hoje, quando falamos em conectividade, em controle eletrônico, somos obrigados a importar esses componentes. Então, gostaríamos que o setor de autopeças pudesse realizar investimentos para a produção aqui no Brasil.

E como está essa conversa?

O próprio Inovar Auto traz uma questão da rastreabilidade do produto importado. Com isso, qual é o grande objetivo das montadoras e da Anfavea? Que o governo saiba exatamente que tipo de peça é importada; qual é o volume importado; qual é a tendência de escala. Para ver se vale a pena produzir no Brasil, ou não. Aí vem o papel importante de uma política industrial voltada ao setor de autopeças. Para isso, a gente precisa fechar o diagnóstico.

Quais são as perspectivas para os segmentos de caminhões, ônibus e máquinas agrícolas?

Em caminhões vamos ter agora no segundo semestre performance melhor do que no primeiro semestre. Nós tivemos esse clima de pessimismo muito grande — e o comprador de caminhões e ônibus é comprador profissional, portanto, atento a qualquer tendência da economia. Com isso, vamos fechar 2014 com uma certa redução do mercado, porém, com um crescimento também em torno de dois dígitos sobre o primeiro trimestre.

O setor apresentou recentemente um programa para o governo para renovar a frota de caminhões com mais de 30 anos de uso. Em que estágio está essa conversa?

Está em análise final pelo governo, mas ainda não aprovada. Nós acreditamos que ainda este ano saia pelo menos uma legislação para testar o mercado, um projeto piloto. E o desempenho de caminhões foi muito prejudicado no início deste ano com o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES, que praticamente ficou patinando. A mesma coisa aconteceu com máquinas agrícolas.

O sr. falou sobre o pessimismo que assola o mercado. O sr. é um otimista sobre as perspectivas do Brasil?

Eu prefiro dizer que sou realista. Porque eu tenho indicadores muitas vezes à frente dos índices que são divulgados. Por exemplo, há dez dias divulgamos os dados de julho, de crescimento. E só na sexta saíram dados de indicadores de atividade relativos a junho. Ainda não saiu o PIB do IBGE. Provavelmente, quando for lançado o PIB referente ao segundo trimestre, nós já vamos estar com dados de vendas de agosto completo. Então, temos sinais bastante diferentes desses indicadores que estão sendo divulgados, o que nos permite ter uma visão mais realista do mercado.

Diante desses indicadores, quais são as perspectivas para 2015? É possível falar em uma retomada ou as estimativas são mais conservadoras?

Não sabemos ainda qual o tamanho, mas teremos um 2015 melhor do que 2014. Os indicadores desse segundo semestre já sinalizam claramente essa tendência.

Com todo esse cenário de desafios em 2014, qual é o fôlego que as montadoras têm para fazer campanhas mais agressivas junto aos consumidores?

As margens do setor vêm caindo drasticamente. Estamos concluindo um estudo ainda, mas, entre 2004 e 2011, nossa média de lucratividade, de lucro líquido, aquilo que realmente interessa, foi menor do que a média mundial. Estamos esperando os dados do IBGE para poder fechar, mas, com certeza, eles mostrarão números ainda piores de 2013. Então, se você olhar os últimos balanços, as últimas notícias, mesmo das matrizes que reportam a América do Sul, as margens são extremamente negativas, com algumas empresas chegando a perder dinheiro. Agora, nosso negócio é de longo prazo. Então, essa massa de investimentos que está sendo colocada — entre 2012 e 2018, temos R$ 75,8 bilhões de investimentos das montadoras — demonstra a confiança que temos no crescimento da economia. Digo o seguinte: essa crise é pontual e é conjuntural essa percepção, esse mau humor macroeconômico. Este ano o Brasil está recebendo US$ 60 bilhões de investimentos produtivos. O que aconteceu é que o setor produtivo em geral passou — e eu sou economista — a ouvir muito meus colegas. Lembro que em 2013, em abril, eu disse que o PIB ficaria em torno de 2,5%. E fiquei falando sozinho até o fim do ano. E aí, o que aconteceu? O IBGE lançou 2,3%. Aí fez a revisão e bateu em 2,5%. O que eu acho hoje é o seguinte, você tem consultores que já estão prevendo 0,6% de crescimento do PIB. Tenho certeza que está muito mais perto de 1,2%, 1,4%, do que desses 0,6%. O que não esperávamos foi o baque que tivemos no mês de junho. A Copa do Mundo para a produção industrial e para o consumo foi muito impactante, em função dos feriados. Nós tivemos em junho 12 dias diretos de jogos. E o país parou.

Muito se critica as políticas de incentivo ao consumo. O sr. acredita que realmente essa é a alternativa para o Brasil e que essa fórmula ainda tem fôlego para impulsionar o país?

Acho que o consumo tem que ser incentivado, sim, aqui no Brasil. É a base da nossa economia. Nós não somos um país exportador, o que conseguimos exportar são as commodities. Então, acho que, primeiro, temos que continuar a incentivar o consumo, incentivar na parte de produção industrial a exportação das commodities, mas com maior valor agregado. Por exemplo, nós exportamos os lingotes de aço e importamos a chapa. Por que não desenvolvemos uma política de exportação da própria chapa? Nós exportamos a soja in natura. Mas cadê a produção industrial em cima da soja? Alguns países pequenos como Japão, Coreia do Sul, o próprio México, escolheram exportação para sustentar a sua economia. Com subsídios altíssimos a essa atividade. Então, acho que o Brasil tem que continuar incentivando o consumo. Obviamente, para incentivar o consumo, um ponto é chave: empregabilidade. Para a pessoa consumir, ela tem que se sentir segura no emprego. E o que essas análises fazem, essas percepções, jogam justamente para o lado contrário. Por isso que eu digo que hoje nós sofremos de um efeito dominó. Uma análise negativa leva a outra, que leva a outra... o que são indicadores de confiança? Percepção quanto ao futuro. E isso está travando a economia brasileira. Não estou dizendo que está tudo perfeito. Tem um fundo de verdade, mas diria que não bate com os indicadores que nós temos hoje para o segundo semestre. Para o setor automotivo, por exemplo, o ano está começando agora.

http://www.midianews.com.br/conteudo.ph ... cid=207998




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4603 Mensagem por Bourne » Ter Ago 26, 2014 12:49 pm

A mística das expectativas e a retomada do investimento privado

No Brasil, assim como no resto do mundo, o investimento privado parece, sim, responder a expectativas – a expectativas de demanda. Que não podem ser atendidas, como defendem candidatos de oposição, apenas com uma melhor gestão das contas públicas combinada a uma política monetária focada no controle da inflação

Para os candidatos da oposição e alguns analistas do mercado financeiro, o baixo crescimento do investimento e do PIB nos últimos anos podem ser atribuídos a uma crise de expectativas do setor privado, que estaria vivendo uma era de fortes incertezas quanto à política econômica do governo e suas repercussões sobre a economia.

Exemplificando, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em 26/01/14, Aécio Neves argumentou que o governo “perdeu a capacidade de gerar expectativas positivas” no mercado. Poucos dias antes de sua trágica morte, em declaração ao Estado de S. Paulo, em 05/08/14, o candidato Eduardo Campos havia afirmado que “a economia não é ciência exata, tem a ver com expectativas [que] só têm piorado pela má governança e falta de confiança dos agentes econômicos no futuro do país”.

A fala de Campos é representativa de uma parcela importante da oposição, assim como a de Aécio. A partir de tal diagnóstico, seus partidos e aliados vêm defendendo que uma melhor gestão das contas públicas, quando combinada a uma política monetária orientada exclusivamente para o controle da inflação, seria suficiente para restaurar a confiança dos investidores e o crescimento econômico.

Em bom português, uma política de contração fiscal seria expansionista em última instância, já que ativaria as tais expectativas do setor privado, permitindo, assim, uma volta ao tão desejado cenário de baixa inflação e alto crescimento.

O discurso da “contração fiscal expansionista” pela restauração da confiança dos investidores não é original do Brasil e dos presidenciáveis. Este raciocínio foi promovido, por exemplo, pelo ministro da Fazenda alemão Wolfgang Schäuble, quando da defesa da austeridade como solução para a crise europeia.

Ao contrário do que previu ele, no entanto, as políticas de contração de gastos públicos nesses países apenas acentuaram o problema de falta de demanda, minando qualquer perspectiva de retomada do investimento privado.

O fraco nível de atividade econômica, por sua vez, explica a baixa arrecadação tributária verificada nos períodos seguintes, o que tornou ainda mais difícil o controle das contas públicas e completou o ciclo vicioso que ainda paira sobre a maior parte dos países europeus.

A lição que deve ser tirada de tais evidências é de que no Brasil, assim como no resto do mundo, o investimento privado parece sim responder a expectativas – a expectativas de demanda. Como indicam as frequentes declarações dos empresários da indústria nacional, não há razão para investir e aumentar a capacidade produtiva quando as plantas industriais já existentes estão subutilizadas e os estoques se acumulam.

De fato, os dados brasileiros mostram que mesmo com a alta penetração das importações que caracterizou a última década, que era fruto sobretudo do câmbio sobrevalorizado, o investimento cresceu sempre que o mercado interno se expandiu.

No acumulado entre 2005 e 2013, o investimento cresceu 89% em termos reais, período este em que consumo cresceu 61%. Por outro lado, os anos em que o investimento parou ou retrocedeu foram os mesmos em que o consumo desacelerou, já que este último e a consequente piora no desempenho do varejo sinalizam para os empresários um enfraquecimento da demanda.

Nesse contexto, a inflação mais alta prejudica sim a retomada do investimento, mas não pela existência do que Paul Krugman apelidou da “fadinha da confiança”, ou confidence fairy em inglês, e sim por contribuir para uma piora do poder de compra dos trabalhadores e, assim, para uma desaceleração do consumo e da expansão do mercado interno.

Uma política de contração fiscal e repressão dos salários, por outro lado, poderia nos levar, na melhor das hipóteses, para um cenário de baixa inflação e baixo crescimento. Isto porque o benefício para a demanda de se controlar a inflação seria eliminado, nesse caso, pelo baixo crescimento dos salários nominais e a redução dos investimentos e demais gastos públicos.

Na pior das hipóteses, no entanto, esta opção nos levaria de volta para o baixo crescimento e a inflação ainda mais alta que caracterizaram a segunda metade da década de 1990.

A via para a volta ao equilíbrio da baixa inflação e do alto crescimento felizmente não requer toques de mágica. Passada a pressão – de caráter temporário – que as desvalorizações cambiais desde 2012 exerceram sobre os custos dos importados e que vem sendo repassada aos preços em geral, a retomada do investimento privado passa a depender da volta do dinamismo da demanda nos mercados interno e externo.

No âmbito externo, ao mesmo tempo em que a crise argentina tende a prejudicar no curto prazo as exportações de alguns de nossos produtos industriais, em especial da indústria automobilística, a economia norte-americana apresenta sinais cada vez mais fortes de recuperação.

No âmbito interno, além da inflação mais baixa já mencionada, a volta do dinamismo da demanda exige basicamente: (1) a manutenção das políticas de transferência de renda e da regra que garante o crescimento real do salário mínimo, ambas essenciais para o crescimento do consumo, e (2) a ampliação dos programas de investimento público e de concessões na área de infraestrutura.

Tais melhorias na infraestrutura, além de garantir injeções diretas de demanda, também contribuem para reduzir os custos de produção e restaurar a produtividade da indústria, contornando assim o conflito entre elevar salários e ganhar competitividade.

Por fim, tanto o dinamismo do mercado interno, quanto a recuperação do mercado externo, poderão ser melhor aproveitados pela indústria nacional ao nível atual de taxa de câmbio real, que já está em patamar mais competitivo do que o que vigorou durante a segunda metade da década de 2000.

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Postei por que não concordo com o texto, mas tenho medo dela. Já a vi fazendo um homem chorar com o sotaque carioca tenebroso.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4604 Mensagem por LeandroGCard » Ter Ago 26, 2014 1:33 pm

Bourne escreveu:
A mística das expectativas e a retomada do investimento privado

No Brasil, assim como no resto do mundo, o investimento privado parece, sim, responder a expectativas – a expectativas de demanda. Que não podem ser atendidas, como defendem candidatos de oposição, apenas com uma melhor gestão das contas públicas combinada a uma política monetária focada no controle da inflação
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Por fim, tanto o dinamismo do mercado interno, quanto a recuperação do mercado externo, poderão ser melhor aproveitados pela indústria nacional ao nível atual de taxa de câmbio real, que já está em patamar mais competitivo do que o que vigorou durante a segunda metade da década de 2000.
Postei por que não concordo com o texto, mas tenho medo dela. Já a vi fazendo um homem chorar com o sotaque carioca tenebroso.
O diagnóstico de que "apenasmente" o ajuste das contas públicas e uma política mais austera de combate à inflação não trariam de volta o crescimento econômico, muito pelo contrário, me parece correto. O problema é continuar achando que somente o aquecimento da demanda interna mais o arrefecimento da crise mundial, sem um aumento da nossa competitividade (via correção dos problemas e das distorções internas do país, de um ajuste mais forte do valor da moeda ou de ambos), seriam suficientes para trazer o crescimento de volta (e que se dane o aumento da inflação, já que não menciona este ponto em detalhes).

As únicas mudanças apontadas com relação ao que se tenta fazer desde o início do governo Dilma são o aumento das concessões públicas para infra-estrutura (o investimento público possível já está sendo feito, e se mostra claramente insuficiente), o que no mínimo levaria alguns anos para causar efeito, e um aumento da demanda internacional (principalmente americana), que além de não ser absolutamente certo também não se garante que poderá ser aproveitado por um Brasil cada vez menos competitivo.

A receita me parece bem pobre, muito aquém do necessário para fazer alguma diferença.


Leandro G. Card




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Bourne
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4605 Mensagem por Bourne » Ter Ago 26, 2014 2:13 pm

A questão não é inflação e contas públicas. O foco central de uma política fiscal mais responsável e se mostrar comprometido com a inflação são formas de dar estabilidade e sinalização ao mercado. Quando digo mercado me refiro à economia real e investimento. não as flutuações financeiras que não sabem o que fazem.

A mulher aí em cima, a laura, não acredita em expectativas e o investimentos vai bombar a economia. Ela lança uma visão de identidade matemática ao afirmar que as expectativas não interferem á ponto de explicar o quadro atual. A formação dela é estruturalista e o que interesse são coisas reais. É uma visão que agrada politicamente par aos mais apaixonados pela Dilma, mas rejeitada pela maioria dos economistas no brasil, mundo e no próprio governo.

A partir dessa estabilidade fornecer o ambiente de confiança para as empresas voltarem à investir. Os problemas para favorecer investimento com juros e prazos camaradas, programas de desenvolvimento tecnológico, exportação, etc... estão cheios e funcionando. Além disso, deixar claro que não existem pressões do governo ou tolerância com elevação de preços para ganhos de curto prazo. O resultado é que a única forma de crescer é com investimento e abastecer mercado interno e externo. Lembrem que o determinante do crescimento de longo prazo é o investimento, seja qual for a abordagem.

No fundo, o ajuste fiscal e monetário proposto por Aécio e, principalmente, marina, também discutido dentro do PT por gente importante é recuperar a confiança e estabilidade de curto prazo. O próprio governo culpa o "pessimismo generalizado", mas não admite que a equipe econômica foi responsável por criar o ambiente. Pelos menos, não publicamente. Percebam como as declarações e posicionamento do pessoal chave do governo (Mantega, Tombini e outros) é errática, não dão uma direção, posicionamento e resposta simples e coerente. Eles conseguiram corroer uma reputação construída ao longo do governo Lula. Agora se tem uma situação incoerente em que se criou as condições de investimento, mas não aproveitadas por que as empresas preferem congelar projetos e ganhar em cima do preço.

Em cima do ambiente atual, criado artificialmente pela cúpula econômica, quando tenta reformas ou dá a impressão de maquiar os dados de inflação, política fiscal, perseguir analises contrárias e bate-boca com empresariado como mantega piora mais a situação. É mais efetivo dizer "estamos fora da meta, mas vamos corrigir nos próximos semestres, os ajustes estão em curso e devem ser completados em XXXX".

E qualquer reforma institucional necessária são sempre colocadas em dúvida e/ou abandonadas por falta de apoio. Por exemplo, há tempos era para mudar a estrutura institucional do BC para suporte uma diretoria que represente a sociedade e não o mercado financeira, que ajudaria a manter a inflação baixa por ter um direcionamento claro no que vão fazer. O que até hoje não tem e, pelo jeito, não muda tão cedo.

Não é problema a inflação estar a cima da meta que é 4,5% o problema, mas sim não admitir que está, vender a ideia que voltará à meta naturalmente, considerar 6% normal e segurar preços públicos pela numerologia. Atitudes assim acabam com a base de funcionamento do BC e da metas de inflação, pois complemente o fundamento da confiança. Como também o problema não é a política monetária, mas não admitir que está gastando demais e ainda mudar a contabilidade quando vai divulgar os números.




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