MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4456 Mensagem por Bourne » Sex Jul 11, 2014 5:32 am

Lá no começo dos anos 1980s, o Brasil fez uma viagem no espaço-tempo para um universo paralelo, retornou em 1994. Ainda assim, setores, políticos e intelectuais não conseguiram voltar ao mundo real. Tenho uma teoria que foi tão marcante quanto as privações pós-guerra na Europa dos anos 1940 e 1950 :shock:

Abaixo um dos exemplos em relação ao setor automobilístico enfatizando a relação entre consumidor, carros e investimento. É uma coisa de outro mundo e até hoje não voltou as relações civilizadas que existiam até meados dos anos 1970. Explica elementos como por que os carros não desvalorizam no brasil como no mundo desenvolvido, por que os carros tem preço elevado, por que os vendedores sempre falam "é valorizado na revenda" ou "cuidado é importado e a montadora pode sair do país à qualquer momento", por que a VW, FIAT e Chevrolet são líderes, marcas normais como Toyota, Hyundai e Honda são consideradas premium com carros comuns. Esses valores atualizados procedem, diria até que estão subestimados.

Nos próximos capítulos, trago evidencias de outras industrias e setor financeiro. O importante era a noção que eramos todos fudi@#s. Se reclama hoje, por que não lembra do ano de 1994, quando ficaram evidentes as aberrações e distorções da economia brasileira, revelados pelo desacreditado Plano Real.
Os 20 anos do Plano Real: quanto custavam os carros mais vendidos em julho de 1994 no Brasil?

Fonte: http://www.flatout.com.br/os-20-anos-pl ... o-de-1994/

LEONARDO CONTESINI 10 JULHO, 2014 16 COMENTÁRIOS

Os 20 anos do Plano Real: quanto custavam os carros mais vendidos em julho de 1994 no Brasil?

Neste mês de julho o Plano Real comemora 20 anos de existência. Instituído em 1º de julho de 1994, a nova moeda foi responsável pela volta da estabilidade econômica brasileira e pelo fim dos tempos de hiperinflação (que passou de 2.700% em 1993).

Nessa época, os carros usados eram mais caros que os zero-quilômetro, e era praticamente impossível qualquer possibilidade de financiamento ou compra a longo prazo, e os carros eram vistos como uma forma de investimento.

A nova moeda ajudou também a impulsionar a venda de automóveis e a modernizar a frota brasileira, além de finalmente atrair novos fabricantes ao país. Eles primeiro chegaram como importados para conhecer o mercado, e no fim da década decidiram que valia a pena se instalar por aqui.

Naturalmente, muita coisa mudou nesses 20 anos — o valor do próprio real, inclusive. Por isso, vamos lembrar como era o mercado brasileiro naquele distante julho de 1994, ver os modelos mais vendidos, quanto eles custavam na época e quanto eles custam em reais de 2014.

Os mais vendidos

Antes de falarmos dos mais vendidos, vamos relembrar o mercado nacional da época. Havia apenas quatro grandes fabricantes produzindo no Brasil — Fiat, Ford, GM e Volkswagen — e a opção de modelos não era tão variada como hoje. Eram basicamente duas famílias de modelos e uma linha de utilitários. Por isso, a lista dos 20 mais vendidos incluía praticamente todos os modelos produzidos no Brasil. Do popular VW Gol 1000 ao luxuoso Chevrolet Omega CD.

Gol1000Scan

Mas naquele mês de julho de 1994, as versões populares dominaram o topo da tabela, ajudando a engrossar o número de vendas de seus modelos. Isso por que em 1993 o presidente Itamar Franco havia criado um programa especial para carros populares, que pagavam apenas 0,1 % de IPI e deveriam custar, no máximo, US$ 7.200 (US$ 11.600 em valores atualizados).

Assim, o carro mais vendido no primeiro mês do real foi o Volkswagen Gol, com 18.318 unidades, sendo 11.727 apenas da versão 1000, que custava R$ 7.243 (R$ 34.159).

18mcw4jivszmkjpg

O Fusca custava exatamente o mesmo, e apesar do projeto antiquado ele emplacou 1.709 unidades que o colocaram na 11ª posição do ranking geral e em quinto entre os populares. Apenas como comparação, o Voyage, que havia ganhado a versão quatro portas e a cultuada Sport, vendeu 841 unidades — menos da metade do Fusca.

Fiat Uno Mille ELX (1)

O segundo carro mais vendido naquele mês foi o Fiat Uno, com 17.169 unidades das quais 15.822 eram as versões populares Electronic, de R$ 7.253 e ELX, de R$ 7.938. Quanto vale isso hoje em dia? R$ 34.206 e R$ 37.436.

Logo atrás veio o Ford Escort, equivalente ao Focus hoje em dia, certo? Mais ou menos. Na linha de sucessão, isso é verdade, mas na época a Ford decidiu usar a geração anterior do modelo para fazer uma versão popular, o Escort Hobby. A versão correspondia a mais da metade das vendas do hatch médio da Ford: das 8.679 unidades vendidas, 4.399 eram Hobby, que custava R$ 7.386 com motor 1.0 e R$ 12.067 com motor 1.6 a gasolina. Em dinheiro de hoje, são R$ 34.850 e R$ 56.900, respectivamente.

9245

O Chevrolet Omega Suprema CD era o mais caro dos nacionais com seu motor 3.0 e acabamento de importado. Sem opcionais ele custava R$ 48.076, mas podia chegar aos R$ 54.000. Isso significa que era preciso desembolsar o equivalente a R$ 226.750 para colocar o modelo básico na garagem, ou R$ 254.700 com o pacote de opcionais completo.

Chevrolet-Omega-1998-02

O sedã era um pouco mais barato — ou menos caro — e partia de R$ 26.712 (R$ 126.000 atualizado) na versão GL 2.0 a álcool, e podia chegar a R$ 46.739 (R$ 220.430) na versão CD 3.0.



Os importados

Os primeiros anos do Plano Real foram marcados pela valorização da moeda em relação ao dólar, resultado do câmbio controlado. No primeiro mês do real, a cotação do dólar ficou a R$ 0,93, em média. Com o nosso dinheiro valendo mais que o dólar — e uma pequena ajuda da redução do imposto de importação nos anos anteriores — os produtos importados inundaram o mercado brasileiro. Os carros, é claro, não ficaram de fora.

Fiat Tipo i.e (2)

Em julho de 1994 o importado mais vendido foi o Fiat Tipo (ele só se tornaria nacional em 1996), oferecido inicialmente no Brasil somente com motor 1.6 injetado e nas versões de duas e quatro portas. Em julho de 1994 foram vendidas 2.736 unidades do Fiat, e ele não era exatamente barato: o modelo de duas portas custava R$ 17.000 e o de quatro portas saía por R$ 18.000 — mais que o dobro de um modelo popular. Em valores atualizados, são R$ 80.200 e R$ 84.900, respectivamente.

1991-volkswagen-golf-gti-mkiii-european-spec-photo-351527-s-1280x782

Outro importado que ficou com cara de nacional de tanto que vendeu foi o Golf GTI. Ele começou a ser trazido em 1993, ainda na época do cruzeiro real e da hiperinflação que chegou a mais de 2.700% naquele ano. Mas em 1994, custando R$ 27.900 (ou R$ 131.600 em valores de julho de 2014) ele se tornou o terceiro importado mais vendido, com 352 unidades vendidas.

Mas o importado que talvez melhor simboliza aquela época é o BMW Série 3 E36. Ele apareceu no Brasil nos primeiros anos após a abertura das importações pelo presidente Collor, mas foi a partir de 1994 que ele se tornou um sucesso de vendas — como qualquer busca em sites de usados pode confirmar.

1998_BMW_328i

Naquele primeiro mês da nova moeda, ele vendeu 202 unidades, o que pode parecer pouco hoje, mas lembre-se que estamos falando de um Brasil de 20 anos atrás. O modelo mais barato era o 318i Compact, que saía por R$ 47.770 (R$ 225.000 em 2014) e chegava aos R$ 87.400 (R$ 412.200) do 325i coupê automático. E se você tivesse grana de verdade, por R$ 117.000 (R$ 551.800) era possível levar para casa o M3.

Uma curiosidade: o mais caro dos importados oferecidos por aqui era o Rolls-Royce Corniche conversível, que custava nada menos que R$ 438.625, um número expressivo mesmo hoje em dia. Corrigido pelo IPCA-E, o valor equivale a R$ 2.070.000 em dinheiro de 2014.



Os esportivos

Em 1994 houve uma certa transição no mercado de esportivos. Os modelos consagrados como Gol GTi, Escort XR3 e Kadett GSi estavam na reta final de suas carreiras, e o mercado nacional começava a receber os importados por preços semelhantes, além de modelos com novas tecnologias como o Fiat Tempra Turbo de R$ 32.692 (R$ 154.180 em 2014) e o Fiat Uno Turbo de R$ 22.500 (R$ 106.110 em 2014), e o Vectra GSi, com seu motor 16v, de R$ 37.334 (R$ 176.073).

Mesmo assim, o Gol GTi saía por R$ 23.117 (R$ 109.023) — você podia levar o GTS por R$ 19.556 (R$ 92.250), mas não teria injeção eletrônica. O XR3 custava R$ 28.148 (R$ 132.750), ou R$ 39.474 (R$ 186.150) na versão conversível e era o rival direto do Kadett GSi.

O esportivo da GM era mais caro que o Ford na versão fechada — R$ 29.505 (R$ 139.150) —, porém mais barato na versão conversível, que tinha carroceria Bertone e custava R$ 38.614 (R$ 182.110).

[ Fotos: Fiat/Divulgação, Reginaldo De Campinas ]




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4457 Mensagem por LeandroGCard » Dom Jul 13, 2014 1:41 pm

O pessoal até consegue perceber que os programas de incentivo à inovação, apesar de necessários, não estão funcionando como precisariam. Mas falham no diagnóstico das causas, e propõem soluções que só iriam dar margem a falcatruas e fraudes. Tá difícil, muito difícil, e só vai piorar daqui para a frente :( .

http://economia.estadao.com.br/noticias ... p-,1527941

O trecho abaixo é emblemático:
Outro ponto importante é que as linhas de subvenção são ferramentas de política de desenvolvimento. Elas permitem incentivar setores econômicos estratégicos, com mais chance de competir pelo mercado mundial
Na verdade quase nada que se produza no Brasil hoje consegue ser competitivo a nível mundial (nem mesmo o futebol :wink: ) devido a uma série enorme de problemas, independentemente do quão inovador seja. Portanto, para que servem incentivos de quaisquer tipos? Esta é a realidade, e por isso nenhum dos programas lançados nos últimos anos teve resultados que justificassem sequer o esforço de montá-los :roll: .


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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4458 Mensagem por LeandroGCard » Dom Jul 13, 2014 2:08 pm

Reiterando o que tenho dito:
Emprego industrial: resistência no limite

Estadao - José Paulo Kupfer - sábado 12/07/14

O desempenho da indústria vem esfriando mês a mês. Assim, mesmo com suas peculiaridades, o emprego no setor só pode mesmo apontar uma tendência de baixa. Foi exatamente isso que mostrou a PIMES de maio, pesquisa mensal do IBGE que mede a situação do emprego e dos salários no segmento industrial.

Em maio, o emprego industrial recuou 0,7%, na comparação com abril, e de 2,6%, em relação a maio de 2013. Nessa comparação interanual, o emprego na indústria recua mês a mês desde outubro de 2011. A queda, em maio de 2014, foi a maior desde novembro de 2009 – o ano do auge da crise global instalada no último trimestre de 2008.

A resistência a demitir é uma das características específicas do setor industrial. Nele, a retenção de mão de obra costuma ser maior do que em outros segmentos pelo fato de que o empregado industrial tende a ser mais qualificado e bem treinado do que os demais. Costuma ser mais alta, portanto, o custo de admissão – há mais disputa por mão de obra no mercado – e também o de demissão. Além de os salários mais elevados levarem a custos de demissão também mais altos, ainda é preciso computar nos custos os gastos com treinamento de pessoal na fábrica e em cursos bancados pela empresa.

É nesse contexto que deve ser analisada a redução do volume de horas de trabalho pagas pela indústria. Em maio, como ocorre desde junho de 2011, com exceção dois meses de julho de 2011 e abril de 2013, elas continuaram recuando e caíram 0,8% sobre abril. Sinal de que as indústrias, de fato, antes de demitir, reduzem os turnos, suspendem contratos temporariamente e dão férias coletivas. Todas essas manobras, com vistas a reter trabalhadores até o limite, se reflete em redução do número de horas pagas.

Nessa mesma direção, a folha de pagamento real continua em alta, mostrando que, apesar da redução do ritmo de atividade no setor, a oferta de mão de obra mantém-se inferior à demanda. No mês de maio, a folha avançou 1,9% sobre abril e, em termos interanuais, cresceu 1,7%, quase dobrando o ritmo de alta em relação a abril.

Diversos indicadores sinalizam queda do emprego e da remuneração na indústria em junho. A combinação de recuo no pessoal ocupado e no volume de horas pagas sustentam as expectativas de um ano ainda mais fraco do que o anterior para o setor industrial, com encolhimento da produção e do emprego.
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4459 Mensagem por Bourne » Dom Jul 13, 2014 10:04 pm

Será que funciona ou vai virar ser marcado por ações anticompetitivas para quebrar os concorrentes mais fracos? [005]

Ponho fé não que vai funcionar no longo prazo sem uma regulação e limitação das operadoras. Veremos.
Linhas de ônibus interestaduais vão deixar de ser leiloadas
Empresas interessadas vão receber autorização do governo para operar

Fonte: http://estadao.br.msn.com/economia/linh ... -leiloadas

O governo vai mudar totalmente a forma de escolha das empresas que operarão as linhas de ônibus interestaduais e internacionais. Em vez de leiloar as linhas, como vem tentando fazer sem sucesso desde 2008, o governo vai agora simplesmente autorizar todas as empresas interessadas numa determinada rota a operá-la. Desde, é claro, que atendam a requisitos de segurança e qualidade.

"Se tiver 30 ou 40 empresas querendo fazer Rio-São Paulo, e elas se habilitarem, vamos autorizá-las", disse ao Estado a diretora da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) Ana Patrizia Gonçalves Lira. "Depois, o mercado se ajusta."

É uma mudança radical em relação ao cenário de até um mês atrás. Até então, o governo vinha tentando escolher empresas para operar um conjunto de rotas por meio de licitação. A tentativa mais recente, iniciada em agosto de 2013 para ser concluída em janeiro de 2014, estava paralisada por liminares judiciais. O edital dessa concorrência foi revogado ontem.

No mês passado, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.996, que mudou todo o modelo. Em vez de uma permissão, como vinha sendo tentado até então, as empresas de ônibus de longa distância vão operar mediante autorização. A mudança só não vale para as linhas semiurbanas, como as que ligam o Distrito Federal às cidades-satélite em Goiás. Para essas, a Constituição determina o sistema de permissões.

Liberdade. A autorização, explicou Ana Patrizia, pressupõe mercado livre. Assim, além de permitir que todas as interessadas habilitadas operem as linhas, o governo também deixará de determinar os itinerários. "Cada empresa monta sua rede", disse a diretora. E, daqui cinco anos, as tarifas serão liberadas. A ANTT apenas fiscalizará e punirá abusos.

Essa liberalização do mercado de transporte rodoviário de passageiros vai começar a tomar corpo no segundo semestre de 2015.

Nos primeiros cinco anos após a lei, a ANTT seguirá fixando tarifas máximas para as rotas. Nesse período, espera concluir estudos sobre demanda e custo que permitirão verificar se há abusos, depois da liberação dos preços. A agência reguladora também vai fixar requisitos mínimos para os terminais de ônibus. "Não queremos que a infraestrutura seja um limitador da concorrência, a exemplo do que ocorre no setor aéreo", comentou. "Poderemos ter terminais públicos e privados."

Cerca de 60 milhões de pessoas são transportadas todos os anos por ônibus de longo curso, segundo estimativas da ANTT. Existem perto de de 2.000 linhas em operação.

É também um mercado bilionário. Quando estavam em estudo as permissões, a previsão é que elas movimentariam R$ 4 bilhões nos 15 anos de duração dos contratos./L.A.O.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4460 Mensagem por LeandroGCard » Seg Jul 14, 2014 9:15 am

Trabalho atendendo a indústria, e devo dizer que de fato jamais em meus quase 25 anos de carreira vi a paradeira que percebo nas empresas hoje, não apensas na produção mas principalmente nos investimentos. Portanto, para mim notícias como a de baixo já são totalmente esperadas, e recordes negativos deste tipo devem se tornar a regra daqui para a frente.

Até quando eu não sei, mas se não houverem mudanças rápidas e profundas receio que para sempre.
Indústria tem déficit recorde na balança

Renata Veríssimo - O Estado de S.Paulo - 13 Julho 2014

Venda de produtos industrializados tem saldo negativo de US$ 106,44 bilhões em 12 meses e participação nas exportações cai para 34,4%.

BRASÍLIA - A crise na Argentina e a perda de competitividade dos produtos brasileiros deve levar a indústria brasileira ao maior déficit comercial da história. No primeiro semestre deste ano, o saldo da balança de manufaturados foi negativo em US$ 56 bilhões, maior que os US$ 54,72 bilhões de janeiro a junho de 2013. Nos últimos 12 meses até junho, o déficit atingiu US$ 106,44 bilhões, superando o recorde negativo de 2013, quando as importações de bens industrializados superaram as exportações desses itens em US$ 105 bilhões.

Os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que as vendas externas de manufaturados somaram US$ 38,08 bilhões no primeiro semestre, uma queda de 11% ante o mesmo período do ano passado. Uma retração bem mais forte que nas importações, que somaram US$ 94,06 bilhões e recuaram apenas 3,5% no período, apesar do baixo crescimento da economia brasileira.

Parte da queda das vendas externas pode ser explicada pela exportação fictícia de duas plataformas de petróleo, no valor de US$ 2,43 bilhões, nos primeiros seis meses do 2013. Com isso, a base de comparação ficou desfavorável pois ainda não houve registro de plataformas neste ano. Ainda assim, analistas de comércio exterior afirmam que a situação é crítica e não há solução de curto prazo.

Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que os itens com maiores quedas nas exportações são automóveis de passageiro, partes e peças para veículos e tratores, motores e veículos de carga, reflexo direto da redução do comércio entre Brasil e Argentina. Esses produtos tiveram uma queda de US$ 1,58 bilhão em relação ao primeiro semestre do ano passado.

"O maior mercado para os nossos manufaturados é a Argentina. O problema é a grande concentração das vendas de automóveis para a Argentina", afirmou o diretor de desenvolvimento industrial da CNI, Carlos Abijaodi. As vendas brasileiras ao parceiro do Mercosul tiveram um recuo de 19,8% no primeiro semestre deste ano.

'Ano perdido'. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita numa queda entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões nas exportações do Brasil para Argentina este ano. Segundo os cálculos da AEB, também haverá redução em torno de US$ 5 bilhões nas vendas externas de plataformas de petróleo. Em 2013, sete plataformas somaram US$ 7,7 bilhões. A AEB espera apenas duas em 2014. "Este ano em termos de manufaturados está perdido."

Castro destacou que as exportações de manufaturados estão no mesmo patamar de 2008. Lembrou também que aparelhos celulares já figuraram no topo da lista dos mais exportados e perderam destaque. "É muito caro produzir aqui. Grande parte da produção foi transferida para o México."

O presidente da AEB também não vê motivos para comemorar o aumento de 11,4% nas vendas aos EUA no primeiro semestre. "Se tirar avião e petróleo, volta à estaca zero." Lis Valls, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que o déficit da balança comercial da indústria de transformação é bem maior que o registrado pelo governo.

Para Lia, o resultado da balança de manufaturados reflete a falta de competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional e a baixa produtividade do setor.

Em um cenário de queda dos preços de commodities, a balança comercial brasileira está mais dependente dos produtos básicos. Pela primeira vez desde 1980, esses itens responderam por mais da metade das vendas ao exterior. No primeiro semestre deste ano, essa categoria de produtos com menor valor agregado atingiu 50,8% do total exportado. Por outro lado, a participação das vendas externas de manufaturados caiu para 34,4%. É a menor participação na pauta exportadora para os primeiros seis meses do ano desde 1980, quando tem início a série histórica do governo.

O setor externo brasileiro tem encolhido por causa da lenta recuperação da economia mundial e do baixo ritmo de atividade econômica no Brasil. A corrente de comércio caiu 2,8% de janeiro a junho ante o mesmo período do ano passado. Para os analistas de comércio exterior, o governo brasileiro precisa apostar em acordos bilaterais de comércio, investir em infraestrutura e na redução dos custos da produção. Uma agenda antiga, mas o Brasil ainda não conseguiu fazer o dever de casa.
Ainda me lembro do Prick dizendo que as reclamações dos empresários do setor industrial era pura choradeira e lenga-lenga, que estava tudo muito bem e que eles só queriam mais benesses. E ia além, dizendo que o Brasil não precisaria de indústria, que nosso petróleo e o setor da agropecuária seriam suficientes para nos garantir a posição de potência mundial. Queria saber qual a opinião dele agora.


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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4461 Mensagem por Bourne » Seg Jul 14, 2014 10:41 am

Simples, mais o menos assim

"Esses cabeças de planilha não sabem nada. É tudo culpa da mídia golpista e de FHC. Seus traidores neoliberais!!! Se mudem para Miami americanófilos. A Índia e China precisam comer e de petróleo. O Brasil é o único que tem condições de fazê-lo. Temos mais de US$ 400 bilhões de reserva e banco central pode segurar o câmbio. Lembra de como era no governo FHC com aqueles economistas que não servem para nada. Vou comprar meu apartamento em Botafogo por 30 mil o metro quadrado. Um valor justo pelo imóvel."

Pelo que conheço, nem os mais insanos da equipe de governo pensam assim. Falo daqueles perdidos em um mundo paralelo em uma viagem muito louca. Por exemplo, o Octávio Cano que é tão louco e vive nos anos 1970s, quem nem do governo deixam participar, mas muitos dos pupilos mais comportados estão lá Enfim, deixa para lá. :mrgreen:

--------

Voltemos ao mundo real

O modelo emergido após as medidas de contenção da crise 2007-08 estão sendo traduzidos nesses resultados. O pessoal campineiros (da Unicamp) vendeu a ideia para Lula e Dilma, aproveitando a crise e a fragilidade política, de redistribuição, mercado interno e incetivo permanente a demanda fariam o milagre do crescimento. Em compensação se fechar, postergar ad infinitum as reformas estruturais que façam o estado funcionar sem interferência política ou bondades, cortar relações com exterior e voltar com a ideia "temos que produzir aqui".

O resultado é isso aí. Não vai crescer mais e nem investir. Pela visão dominante no Brasil é por que não tem demanda ou perspectiva de desovar o estoque. Sem isso, não investem e, sem melhorar a oferta, o país não cresce no longo prazo. Digamos que os limites do distributivismo foram atingidos. O efeito colateral do modelo é ter déficit na balança de pagamentos, com o crescimento interno piorando a situação, pois se baseia em consumo e abastecida por importações. A solução deles é mais protecionismo. No fim cria um circulo vicioso de crescimento, gera déficit, demanda mais protecionismo, eleva os mark-ups e fecha acesso ou possibilidade de integração com a economia mundial. Dá impressão que eles pensam que dá para repetir a trajetória norte-americana no século XIX hoje.

Eles tem uma leitura bem particular de Kaldor que dizia que incentivo para demanda gera alterações na estrutura produtiva através de mais investimento e inovação técnica. Só que os campineiro do governo querem fazer pelo mercado interno e redistribuição de renda. Deixando de lado problemas de instabilidade, oligopólios, conflitos distributivos e inflação, fechamento de mercado com protecionismo ao ponto de tornar inócua incentivos da demanda para economia crescer.

Na visão convencional e mais difundida das contribuições de Kaldor que vem desde os anos 1960, que a integração produtiva e exportações industriais são essenciais para dar escala para o processo ocorrer e evitar crises na balança de pagamentos. Depois foi trabalhados por outros aprimoraram com novos avanços, incorporação de teorias do comércio internacional, estruturas micro e inovação, etc... Basicamente, o resultado é que tem que se integrar a estrutura produtiva mundial, sem isso está condenado a falta de investimento, crescimento, distorção de preços e crônicos problemas externos. As commodities e não são capazes de mudar o quadro e nem garantem por si a estabilidade e crescimento de longo prazo. E as políticas protecionistas são pontuais e passageiras como parte de uma política industrial, pois podem criar oligopólios que impõem preços acima do mercado internacional, comprometendo a economia e a sociedade pelo peso dos maiores e preços e não serem incentivados em investir.

Os exemplos de políticas industriais fracassadas tem dois casos terríveis. Uma que a inovar-auto que serviu para proteger o oligopólio das montadoras, fechou o mercado e planos de integração externa, devido as medidas protecionistas para defender as montaras multinacionais delas mesmas, ainda pagar para elas produzirem aqui. Outra no setor sucroalcooleiro que o governo protege os usineiros e não impõem regulação para reduzir e estabilizar preços, mata a viabilidade do etanol como combustível, mesmo sendo um insumo básico e que pesa na infração e custos da economia. A política para a base industrial do pré-sal é meio equivocada por que o Brasil não tem condições de ser exportador de petróleo, com a prioridade sendo ter plantas produtivas de multinacionais no país e não empresas nacionais com capacidade no setor.

Agora tem que prosseguir as reformas, fazer políticas setoriais que funcionem, construir a integração produtiva mundial e mandar ver na infraestrutura. O objetivo é criar condições para voltar a crescer em 2020. Seja quem for o próximo governo está condenado ao baixo crescimento. É isso rapazes. Não tem o que fazer e é o que o modelo campineiro permite. É voltar a fazer o que era feito no primeiro governo Lula, mas com uns cinco anos de atraso. Talvez um boom de commodities ajude, mas não muda o quadro.

Isso não é diagnóstico da equipe econômica do Campo, mas também de gente muito próxima da Dona Dilma e cúpula do PT. A janela de mudança é o segundo mandato da Dona Dilma. O grupo dos campineiros recebe pancada diariamente e não sabe dar resposta. Dependendo do nome do ministro da fazenda anunciado em novembro, teremos noção quais serão as prioridades.




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4462 Mensagem por LeandroGCard » Seg Jul 14, 2014 12:09 pm

Bourne escreveu:Dá impressão que eles pensam que dá para repetir a trajetória norte-americana no século XIX hoje.
Do jeito que estão implementando parece mais que querem seguir a trajetória da Coréia do Norte... :roll: .
Isso não é diagnóstico da equipe econômica do Campo, mas também de gente muito próxima da Dona Dilma e cúpula do PT. A janela de mudança é o segundo mandato da Dona Dilma. O grupo dos campineiros recebe pancada diariamente e não sabe dar resposta. Dependendo do nome do ministro da fazenda anunciado em novembro, teremos noção quais serão as prioridades.
Bourne, e sobre o pessoal do PSDB ligado ao Aécio, você tem alguma informação? Até onde sei o programa deles é voltar ao consenso de Washington como no governo FHC, o que só pioraria tudo ainda muito mais. Mas não tenho informações mais consistentes do que uma ou outra declaração que vejo na mídia, então posso estar redondamente enganado.


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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4463 Mensagem por Duka » Seg Jul 14, 2014 12:41 pm

Gostaria de parabenizar a Bourne e ao Leandro. Esses posts de vocês são verdadeiras aulas de economia. Iluminam um pouco meu cérebro de engenheiro :lol:




Abraços
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4464 Mensagem por Sterrius » Seg Jul 14, 2014 4:19 pm

Concordo com o Duka. Eu mesmo aprendi economia com vcs 2 :p :lol:




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Wingate
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4465 Mensagem por Wingate » Seg Jul 14, 2014 6:26 pm

LeandroGCard escreveu:Reiterando o que tenho dito:
Emprego industrial: resistência no limite

Estadao - José Paulo Kupfer - sábado 12/07/14

O desempenho da indústria vem esfriando mês a mês. Assim, mesmo com suas peculiaridades, o emprego no setor só pode mesmo apontar uma tendência de baixa. Foi exatamente isso que mostrou a PIMES de maio, pesquisa mensal do IBGE que mede a situação do emprego e dos salários no segmento industrial.

Em maio, o emprego industrial recuou 0,7%, na comparação com abril, e de 2,6%, em relação a maio de 2013. Nessa comparação interanual, o emprego na indústria recua mês a mês desde outubro de 2011. A queda, em maio de 2014, foi a maior desde novembro de 2009 – o ano do auge da crise global instalada no último trimestre de 2008.

A resistência a demitir é uma das características específicas do setor industrial. Nele, a retenção de mão de obra costuma ser maior do que em outros segmentos pelo fato de que o empregado industrial tende a ser mais qualificado e bem treinado do que os demais. Costuma ser mais alta, portanto, o custo de admissão – há mais disputa por mão de obra no mercado – e também o de demissão. Além de os salários mais elevados levarem a custos de demissão também mais altos, ainda é preciso computar nos custos os gastos com treinamento de pessoal na fábrica e em cursos bancados pela empresa.

É nesse contexto que deve ser analisada a redução do volume de horas de trabalho pagas pela indústria. Em maio, como ocorre desde junho de 2011, com exceção dois meses de julho de 2011 e abril de 2013, elas continuaram recuando e caíram 0,8% sobre abril. Sinal de que as indústrias, de fato, antes de demitir, reduzem os turnos, suspendem contratos temporariamente e dão férias coletivas. Todas essas manobras, com vistas a reter trabalhadores até o limite, se reflete em redução do número de horas pagas.

Nessa mesma direção, a folha de pagamento real continua em alta, mostrando que, apesar da redução do ritmo de atividade no setor, a oferta de mão de obra mantém-se inferior à demanda. No mês de maio, a folha avançou 1,9% sobre abril e, em termos interanuais, cresceu 1,7%, quase dobrando o ritmo de alta em relação a abril.

Diversos indicadores sinalizam queda do emprego e da remuneração na indústria em junho. A combinação de recuo no pessoal ocupado e no volume de horas pagas sustentam as expectativas de um ano ainda mais fraco do que o anterior para o setor industrial, com encolhimento da produção e do emprego.
Leandro G. Card
Em futuro próximo o termo "chão-de-fábrica", tão empregado em manuais de administração, se tornará uma total abstração nesse país, se estratégicas providências não forem tomadas, como já muito bem discutido pelos colegas. Eu hoje (que iniciei minhas atividades profissionais na indústria nos anos 70) tenho dificuldades em explicar para os jovens a estrutura administrativa de uma fábrica. Eles não têm a mínima idéia do que estou falando.

Wingate :|




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4466 Mensagem por cassiosemasas » Seg Jul 14, 2014 9:25 pm

Duka escreveu:Gostaria de parabenizar a Bourne e ao Leandro. Esses posts de vocês são verdadeiras aulas de economia. Iluminam um pouco meu cérebro de engenheiro :lol:
x1.000




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4467 Mensagem por Bourne » Ter Jul 15, 2014 12:02 am

LeandroGCard escreveu:Bourne, e sobre o pessoal do PSDB ligado ao Aécio, você tem alguma informação? Até onde sei o programa deles é voltar ao consenso de Washington como no governo FHC, o que só pioraria tudo ainda muito mais. Mas não tenho informações mais consistentes do que uma ou outra declaração que vejo na mídia, então posso estar redondamente enganado.

Leandro G. Card
Primeiro que fique claro que esquerda e direta na política e economia são coisa muito, mais muito diferentes.

Na verdade gravitam em universos paralelos. Por exemplo, não encontra discordâncias em relação ao efeito positivo das políticas distributivas, necessidade de regulação setorial, necessidade de ser produtivo e melhorar o bem estar da sociedade.

Por exemplo, tinha professor de mestrado especializado na regulação de infraestrutura, envolve fazer contratos, criar incentivos, remuneração e tal. Foi chamado esse ano para trabalhar em Brasilia e assessorar os processos de concessão e remuneração de investimentos privados em infraestrutura. Não tem viés político. É aquela história de ter um problema e necessitar de investimento, não temos dinheiro e dê um jeito de atrair a iniciativa privada para fazer as obras. A mão esquerda do Haddad, Leda Paulani, está comandando o projeto de concessão para refazer a iluminação pública de são paulo com led.

Em relação a equipe do Aécia e PSDB é muito fraca. Enquanto tu vejo muito gente boa no PT, herdado pela Dona Dilma, e brigando para ter voz e, com Campos e PSB, ter atraido uma puta equipe que achava que não tinha espaço no governo atual. Minha impressão é que a tucanada distorce teorias e contribuições para encaixar no projeto político que é para ser a antítese do PT. Alguns pontos me chamam à atenção:

:arrow: Tentar vender a teoria do mainstream como de direita conservadora. Errado!.
:arrow: Afirmar que as políticas distributivas são um peso e evitam que o país cresça. Segundo alguns modelos estilizados de crescimento, sim. Porém, os mesmos autores como Dani Rodrik, escreveram mais coisas complementando e afirmando que em uma democracia tem que pesar na população como um todo.
:arrow: Privatização da universidade não é um modelo que tenha dado certo quem fez esse tipo de reforma como Chile. Ainda olha a universidade paulista e percebe que está abandonado, apesar de ter dinheiro e não pode ser usado.
:arrow: Conceder estradas e obras de infraestrutura, tudo bem. Essa é a estratégia base de investimento no mundo todo. Porém, o que é feito em são paulo e Paraná, com os pedágios mais caros do país é uma aberração. O problema é desenhar os mecanismos contratuais que beneficiem a sociedade, não está em privatizar ou não.
:arrow: Abertura comercial e integração produtiva é esperado, mas não dizem como. Não é abrir, mas como se integrar.
:arrow: História de choque de gestão e controle da inflação. Se isso é o ponto central tucano por que Paraná, São Paulo e Minas Gerias estão quebrados.

Vejo muitas áreas negras nesse modelo tucano.




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Boss
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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4468 Mensagem por Boss » Ter Jul 15, 2014 3:03 am

Com sede na China e presidência brasileira, banco dos Brics deverá funcionar em 2016
AGÊNCIA ESTADO
14 Julho 2014 | 11h 12

Na reunião de cúpulas dos presidentes dos Brics, em Fortaleza, está prevista a assinatura do acordo para criação do banco e de um fundo de reservas dos países emergentes
Fernando Bizerra/EFE

Imagem
Presidente russo, Vladimir Putin, e a presidente brasileira, Dilma Rousseff

A previsão mais otimista é que o Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), esteja funcionando só em 2016. O acordo histórico para a criação do banco e de um fundo virtual de reservas, que será assinado na reunião de cúpula de presidentes, que começa nesta segunda-feira, 14, em Fortaleza, terá ainda que ser ratificado pelos países, processo que, de acordo com a diplomacia brasileira, deverá levar um ano na melhor das hipóteses. A sede será, possivelmente, em Xangai, na China, e a presidência da instituição ficará com o Brasil.

Em entrevista à rede de televisão Al Jazeera, a presidente Dilma Rousseff defendeu a criação do banco dos Brics. "O que fica claro é a necessidade de empoderar institucionalmente essa que foi uma das grandes iniciativas desse mundo multipolar, junto com o G20, e ter diferentes estruturas financeiras, interpaíses, de políticas regionais", afirmou.

Depois de ratificado, os países terão ainda seis meses para fazer os procedimentos orçamentários e transferir o aporte inicial de recursos para o banco. Igualdade na distribuição do capital do banco do Brics, para um equilíbrio de forças entre os países no comando da instituição financeira, é ponto considerado fundamental pelo governo do Brasil nas negociações finais que ocorrem hoje à tarde na reunião de ministros da Fazenda e presidentes de Bancos Centrais dos países que integram o grupo.

Os US$ 50 bilhões de capital inicial do banco - previstos nas negociações - deverão ser bancados igualmente pelos países - US$ 10 bilhões cada um. Desse total, US$ 8 bilhões serão em garantias e US$ 2 bilhões em dinheiro. O aporte total levará sete anos para ser concluído integralmente. "O fato de tudo estar caminhando para ser uma distribuição por igual já atinge um objetivo importante nesse negociação", disse um negociador brasileiro.

Enquanto o ato para a criação do fundo virtual anticrise, que recebeu o nome de Acordo Contingente de Reservas, está praticamente fechado, ainda estão pendentes detalhes mais políticos do banco, como a definição e o local da sede. O Brasil deverá ser escolhido o primeiro presidente e a cidade chinesa de Xangai, a sede do banco. A presidência será rotativa. O presidente terá mandato de cinco anos, não renováveis. O país que for escolhido como sede será o último da sequência para a indicação da presidência.
O Brasil quer a presidência, porque considera estratégica essa posição para a definição do seu modelo de atuação. Como regra geral, o banco vai aprovar empréstimos para países membros do grupo, abrindo a possibilidade do conselho de administração aprovar financiamentos para não membros. Segundo fontes envolvidas nas negociações, a nova instituição terá um mandato bastante aberto para usar diversos instrumentos de financiamento. Os objetivos, no entanto, serão restritos, porque será um banco de projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável. O banco poderá tanto fornecer empréstimos, quanto garantias e participação no equity (capital) dos empreendimentos.

Estrutura. Ao contrário do Banco Mundial (Bird) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a ideia é que o banco do Brics tenha uma estrutura enxuta com "cara" de empresa. Um conselho de governadores, que será formado pelos ministros, dará as diretrizes estratégicas e tomará as decisões principais. O Conselho de Administração, num nível abaixo dos ministros, fará a supervisão da implementação das diretrizes.

A criação do fundo de reservas e do banco tem importância estratégica para os países como instrumento adicional para a rede de proteção dos países, formada pelos organismos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional e o Bird. O fundo virtual receberá US$ 100 bilhões - 41% pela China, 18% pelo Brasil, Índia e Rússia e 5% pela África do Sul. Não é um fundo propriamente dito, porque nenhum país repassará o dinheiro diretamente. Os Bancos Centrais apenas se comprometem a fazer o aporte, caso algum dos países envolvidos tenham um problema de balanço de pagamentos. Nesse caso, será feito um empréstimo de curto prazo. Será uma aplicação de reservas internacionais.

http://economia.estadao.com.br/noticias ... 16,1528444




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4469 Mensagem por Wingate » Ter Jul 15, 2014 9:15 am

Colegas,

Em princípios dos anos 80 faziam um enorme sucesso entre os universitários (mas não entre os professores 8-] ) os livros de Alvin Toffler ("A Terceira Onda" e "Choque do Futuro"). Nesses livros o autor previa, entre outras coisas, o advento da "cabana eletrônica" (o uso pessoal do computador e o trabalho à distância, internet, etc...) mas o que chamou a atenção na época foi o fato dele afirmar que no futuro (isto é, hoje) as nações altamente industrializadas e criadoras de tecnologia (EUA, França, Alemanha, etc...) iriam passar o "serviço pesado" para nações periféricas (China, Índia...) sendo que as primeiras ficariam mais dedicadas à criação de tecnologia e produtos altamente sofisticados.

Minha pergunta aos colegas seria: Se, porventura, nossos dirigentes um dia fizerem mesmo a lição de casa, que posicionamento deveríamos tomar, qual seria a nossa vocação hoje?

-Adotar o exemplo chinês e tentar fabricar e exportar de tudo?
-Tornar-se um Israel, desenvolvendo somente tecnologia de ponta e montando produtos sofisticados e investir na agricultura?
-Tornar-se essencialmente agrícola (e exportador de "commodities") e focar nesse rumo e esquecer a indústria?
-Qualquer outra alternativa...

Antecipadamente grato pelos comentários dos colegas,

SDS,

Wingate




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Re: MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

#4470 Mensagem por Bourne » Ter Jul 15, 2014 10:11 am

Esse livro e ideia ainda são lembrados e defendidos por aí.

:arrow: O modelo chinês (export-led)

O grande mérito do modelo chinês, coreano, japonês e outros baseados na exportação foi se integrar a estruturas produtiva mundial. Hoje eles endogenizaram a produção e desenvolvimento de equipamentos sofisticados, alteraram a estrutura da sociedade e economia. O diferencial é como fizeram e os impactos internos que cada um teve. Hoje em dia, desde os anos 1990s, criaram o mercado interno e integração produtiva de igual para igual com mercado internacional.

Um país que fez um modelo semelhante na América Latina foi o México, beneficiado pela posição estratégica e acordo de libre comércio com os Estados Unidos. O problema é que viraram um entreposto usados por multinacionais para montar e exportar para os norte-americanos e europeus. Eles não construíram firmas nacionais, os benefícios não foram para toda a sociedade e economia. Hoje chama a atenção a existência de dois México. Um moderno e integrado ao mundo através do comércio internacional e, outro, atrasado, violento em que maior parte da população está.

A construção da integração comercial, baseada em produtos industriais com tecnologia e firmas nacionais é fundamental para qualquer país que queria se desenvolver. A questão é como desenhar a integração e beneficiar a sociedade.

:arrow: israel

É uma país nanico, tal como Cingapura, Taiwan, Vietnam, Monaco. As opções são limitadas que tende a virar grandes exportador de commodities se as tem (Chile e Noruega), centro de especulação financeira e paraíso fiscal (Mônaco, as ilhas da América central e ásia), e fazer produzir coisas especificas e virar centro cultural e financeiro. No fim das contas mistura tudo e ser pequeno facilita qualquer política.

:arrow: exportador de commodities

Se tem a commoditie e uma grande vantagens na produção de alimento não existe motivo para não usá-la. A primeira onda de industrialização norte-americana durante o século XIX foi assim, depois virou o grande exportador de bens primários e continua até hoje, com grande parte da população muito bem empregada no setor. No brasil, também no fim do século XIX, hoje a região beneficiada pela exportação de café se chama São Paulo, até hoje centro do país.

O problema é que para um país grande e médio não se mantém na esfera internacional só com exportação de bens primário. Cedo ou tarde entra em crise com a variação do preço das commodities e ter uma grande parte da economia não relacionada ao setor. A pior desvantagem é não tocar a integração produtiva. Essa é a fragilidade dos russos em depender do petróleo e gás.

Hoje tem outro problema é que atividade moderna e produtiva depende da produção de insumos industriais. As tecnologias e estruturas conversam e interagem. Esse é um dos motivos do Canadá, Brasil e EUA serem grandes produtores agrícolas. É tecnologia pesada em alimentos e processos produtivos. Enquanto outros apanham na produção de alimento ou produzem muito caro.

:arrow: Outra alternativa

Uma composição de todas acima :mrgreen:

Para um país do tamanho do Brasil, as regiões e os setores se integram e interagem de forma particular, não existe uma política única. De qualquer forma, passa necessariamente, integração produtiva mundial para forçar produtividade, preços nível mundial e desenvolvimento. O que não pode se transformar é em um México com país segregado.

O Brasil de hoje é fruto do universo paralelo dos anos 1980s, oriunda da crise de endividamento externos e hiperinflação que distorceu tudo. Até idos dos anos 1970s, o Brasil era semelhante à outros países em desenvolvimento, tinha incorporado a necessidade de ser potencia em exportação de commodities, integrar a estrutura produtiva mundial, incentivo a exportação de bens industriais e de maior tecnologia.

Tanto que o segundo PND previa criar a industria de base para dar vantagens na abertura gradativa do mercado nas décadas seguintes, mas veio a crise e virou um ambiente que economia internacional não existia. E, realmente, não existia por que não se comprava nada, seja bem de consumo ou capital, devido ao calote externa e falta de dólares para pagar as contas. O Brasil ficou fora da revolução da eletrônica, telecomunicações e todo avanço de outros países que impactam na produtividade e competitividade.

Vamos ao exemplo da industria automotiva.

Até idos dos anos 1970s, o Brasil tinha multinacionais automotivas de todo lugar, era um mercado atrativo e em crescimento. Chegou a ter projetos de modelos nacionais e empresas nacionais, equivalentes aos estrangeiros. Os produtos não eram tão diferentes dos vendidos na Europa e EUA, seja em qualidade ou preço. Era comum comprar carros e caminhões novos como opção primária. Em outras áreas menos evidentes também. Era fácil crescer e construir uma grande empresa.

Porém, nos anos 1980s, a crise levou as companhias abandonares o país, sobraram VW, Chevrolet, FIAT e Ford no fundão. As tecnologias e qualidade dos produtos eram cortadas e atrasadas para Brasil, devido ao custo e terem dificuldade de ganhar dinheiro. Finalmente, chegaram as carroças até idos anos 1990s, o carro brasileiro dos anos 1980 é vergonhoso. Além disso, os preços dispararam e as distorções e gap com a industria mundial dispararam. O carro passou a ser encarado como investimento, o veículo usado muito valorizado por ser um ativo que garante proteção contra inflação.

Na família, Vovô, só comprava caminhão e carro novo, trocava a cada três-quatro anos até idos dos anos 1970s. Na crise dos anos 1980s foi forçado à mudar de hábitos. Ficou 15 anos sem comprar carro novo. Só em 1994 e que voltou a comprar algo zero com VW Gol 1000. A geração de papai e titios, todos os veículos que tiveram até anos 1990s eram usados, a principal preocupação era o valor e a facilidade de revenda, mesmo hoje seguem a tradição. Até poucos anos tinham medo de comprar carro que importado e marca que não fosse VW. A minha geração de 2000s para cá tem a tendência de encarar carro como bem de consumo descartável, não investimento (acho :roll: ). Se bem que quase apanho quando cheguei com um Peugeot em casa.

Passados duas décadas do plano real, o mundo paralelo dos anos 1980 continuam vivos. Os carros continuam caros em relação aos semelhantes dos países desenvolvidos, qualidade e tecnologia ruim, os usados desvalorizam muito pouco, os vendedores ainda jogam a cascata "é fácil revender e perde pouco valor". mais de duas décadas e as distorções continuam vivas, mas alterando aos poucos a realidade. O plano inovar auto do governo tenta voltar aos anos 1970 e não percebeu que tem promover a integração. Não importa se vai perder algumas linhas, desde que sejam compensadas com exportação de modelos e peças de tantas outras. Se for protecionista, precisa lembrar que os outros países reagem fechando mercados nacionais, enquanto o oligopólio se protege e eleva preços para manter a lucratividade.

A vantagem do Brasil em relação ao México é ainda ter uma estrutura social, de estado e econômica nacional e forte. Coisa que o México não tem. Assim, pode seguir uma estratégia de integração parecida, mas capaz de levar os benefícios para a sociedade como um todo.




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