“Primeiro orçamento da Arena foi um chute”
Fonte:
http://www.bemparana.com.br/noticia/302 ... i-um-chute
Coordenador culpa demora na liberação de financiamento do BNDES por atraso na Arena
03/02/14 às 00:00 - Atualizado às 12:09 | Ivan Santos
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Mário Celso Cunha: “Tudo sobe, os operários, a mão de obra, o ferro, o material” (foto: Valquir Aureliano)
O primeiro orçamento de R$ 134 milhões, para as obras da Arena do Atlético para a Copa do Mundo, feito ainda durante do governo Orlando Pessuti foi “um chute”, feito para garantir a atração do evento para Curitiba. Quem afirma é o coordenador geral da Copa para o Paraná, Mário Celso Cunha. Ele culpa ainda a demora na liberação do financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) pelos problemas na obra do que seria o estádio “mais pronto”, e hoje mais atrasado entre as sedes do torneio, levando inclusive a Fifa a ameaçar tirar os jogos da capital paranaense.
Apesar disso, Mário Celso diz estar confiante que a nova engenharia feita para acelerar o processo, com a formação de um comitê gestor com a participação de representantes do governo do Estado e da prefeitura, vá garantir a realização da Copa na cidade. Em entrevista ao Bem Paraná, o coordenador fala sobre isso, comenta quem pagaria o prejuízo em caso de não realização do evento aqui, e justifica o aumento do custo da obra.
Bem Paraná - Vai ter copa em Curitiba?
Mário Celso Cunha – A esperança é que sim, pelo planejamento que está sendo executado a partir de agora com a participação de um comitê gestor junto ao Clube Atlético Paranaense, que através da CAP S/A está administrando essa modelagem para a execução da obra e que já tem praticamente 90% de área construída, o que significa que nós estamos trabalhando em cima desses 10% final. Esse comitê gestor é apenas a colaboração do governo, prefeitura e COL (Comitê Organizador Local) aos organizadores e responsáveis pela execução da obra. Que são pessoas altamente qualificadas, mas que dependeram muito do fluxo financeiro.
BP – De zero a dez, qual o risco de Curitiba ficar de fora?
Mário Celso – A gente não pode avaliar porque aí tem os itens que estão na cabeça dos técnicos da Fifa. Mas eu diria que dentro do que o Jêrome Valcke projetou, que seria entrega do gramado, a cobertura, mas de dez mil cadeiras, eu acho que isso é fundamental para a visibilidade do estádio. Com isso nós poderíamos realizar a Copa. É claro que aí entra também iluminação, TI (Tecnologia da Informação), sistema de placar, as catracas, bilheteria e tudo isso que precisa estar preparado para que o estádio possa receber os torcedores.
BP - Noticiou-se que a Fifa consultou a construtora OAS sobre a possibilidade de uso da arena do Grêmio, em Porto Alegre.
Mário Celso – Eu vejo como uma falsa notícia. Acredito que isso não é verdadeiro, mesmo porque o próprio Jêrome Valcke declarou que no caso de Curitiba não ser contemplada, ele distribuiria esses jogos pelas outras sedes já existentes. Ele não colocaria uma nova sede. Então ele já descartou esse tipo de processo. Mesmo porque não dá tempo. A própria Arena do Grêmio que o presidente diz que tem padrão Fifa, tem várias deficiências. Já esteve interdição recentemente. E não teríamos como ter duas sedes na mesma sede. É muito complicado para segurança, uma série de fatores. Não acredito nessa possibilidade. Não houve consulta, mas uma manifestação de alguém que quer tumultuar.
BP - O que precisa acontecer até 18 de fevereiro para que Curitiba não perca a copa?
Mário Celso – Eu diria que esses fatores, gramado, cadeiras colocadas, vestiários, cobertura, mas fundamentalmente definir o fluxo de caixa. Quanto o Atlético vai gastar até o final da obra. Isso é muito importante. A Price está fazendo esta avaliação. Já andaram divulgando números que não são oficialmente reais ainda. E nós precisamos ter isso em mãos para ver de que forma será conduzido.
Risco
Cancelamento “seria catástrofe”
Bem Paraná - O Centro de Midia onde ficarão os jornalistas e equipes para as transmissões de tv e rádio ainda está em suas fundações. Ele ficará pronto em tempo?
Mário Celso Cunha – Há possibilidade, de acordo com a Fifa, de talvez não realizar ele nos seis andares que estão programados. Talvez dois, três andares. Na reunião do COL (na última terça-feira, 28), um dos assuntos foi esse. Porque é importante, é a imagem do Brasil lá fora. Esses jornalistas que vão levar a imagem, se a Copa é boa, se não é boa, tudo isso será jogado na mídia internacional por esses jornalistas. Então é importante atendê-los bem. A Fifa falou que ‘se vocês fizerem um prédio menor, não tem problema, desde que façam um prédio com todas as condições de atendimento à Fifa’.
BP - Se não houver copa, como fica o dinheiro investido? Quem paga o prejuízo?
Mário Celso – Claro que a gente não pode falar sobre suposição. Até o dia 18 nós temos essa expectativa. Mas eu diria que seria uma catástrofe. Porque o investimento é muito grande, nós temos várias preocupações que repassamos ao Jerome Valcke. Uma delas é que Curitiba é a terceira (sede) mais solicitada para ingressos. Primeiro ficou São Paulo com a abertura, segundo o Rio, com o encerramento, terceiro Curitiba. Então isso o que representa nas operadoras de turismo que já venderam pacotes envolvendo hospedagem, gastronomia, ingressos. Nessa possibilidade remota dessa catástrofe nós teremos problemas com o Procon, que vai para cima da Fifa, pelo direito do consumidor que já comprou ingresso, já tem vôo marcado. Nós já temos treze mil leitos reservados. Tudo isso é consequência desastrosa. Por isso eu acredito que ele vai repensar e definir pela realização.
BP – Em relação ao financiamento público oferecido para a Arena do Atlético, como ficaria?
Mário Celso – O financiamento é um problema da Agência de Fomento e do BNDES. Eu acho que perde a condição de juros baixos, prazo. Aí é uma negociação dessas entidades com a CAP.
BP - Porque só agora uma comissão com governo e prefeitura acompanhando as obras? Isso não deveria ter sido feito desde o começo?
Mário Celso – Eu entendo que sim. Acho que até poderíamos ter feito isso antes. Mas acontece que no acordo tripartite foi feito apenas para viabilizar essa parte financeira. Que nasceu o potencial construtivo, a possibilidade do BNDES fazer o repasse através da Agência de Fomento. Não se pensou em um acompanhamento direto das obras em termos de cronograma. O que nós fizemos foi confiar na CAP S/A, que estabeleceu o cronograma, vem cumprindo esse cronograma. E nós fazemos apenas a fiscalização. Nós temos na secretaria duas comissões de acompanhamento. A gente tem na Fomento, eles contrataram a Price, que faz os levantamentos diários. E a prefeitura também vem acompanhando através de uma comissão e da Price. Agora como surgiu esse impasse da visita do Jerome Valcke, não se sabia direito as prioridades, formou-se essa comissão tripartite com a presença do COL, e agora a gente faz o levantamento das prioridades e o que vai custar isso.
Peso de Curitiba“População está insatisfeita”
BP –
Porque nós passamos de um orçamento inicial de R$ 134 milhões para R$ 319 milhões?
Mário Celso – O primeiro orçamento, de R$ 134 milhões, foi um chute. Feito na época pelo (ex-governador Orlando) Pessuti e por aquele grupo que estava tocando a Copa. Para poder acertar os financiamentos, a participação de Curitiba na Copa. Na matriz de responsabilidade foram feitos vários entendimentos de artigos e cláusulas que tivemos que alterar depois. Nós mudamos esses artigos, com o Tribunal de Contas, fizemos aditivos, que tinha que corrigir isso. Então de R$ 134 milhões passou para R$ 185 milhões, que era o número real, que a gente está trabalhando. Agora depois disso apresentaram valores de R$ 219 milhões. Tudo sobe, os operários, a mão de obra, o ferro, todo o material. Por exemplo, eles estavam pintando uma parte da Arena, choveu, acabou com tudo. Tem que refazer e não é sem custo, a construtora vai cobrar.“População está insatisfeita”
Atraso
“Dinheiro só saiu em janeiro de 2013”
Bem Paraná - Quando Curitiba foi escolhida, falava-se que o estádio do Atlético era o que estava mais pronto. Porque acabou sendo o mais atrasado?
Mário Celso Cunha – Nós tínhamos ali 40% de área construída, mas entrou algumas interferências. Por exemplo, a Fifa não aceita vestiários atrás do gol, tem que ser nas laterais. O Atlético teve que destruir três vestiários modernos, com toda a infraestrutura, de visitante, do Atlético e da arbitragem. Teve que desmontar tudo e fazer novos. Eles não permitem ponto cego. Tiraram as seis torres que já existiam, com elevadores. Tira fosso, alambrado, mudou o visual. Eu diria que ficou 20% dos 40% que tínhamos. Era o mais adiantado. Porque ficou mais atrasado? Porque desde 2010 tentou-se o financiamento junto ao BNDES e ele só saiu em janeiro de 2013. Isso comprometeu toda a estrutura. Quando saiu o financiamento o BNDES fez uma exigência que não fez para ninguém. Eles exigiram que o Atlético apresentasse as notas dos gastos, e só depois libera o valor. Isso gera mais prejuízo para o clube porque demora mais para receber. Esse fluxo de caixa é fundamental. Isso que provocou maior atraso.
BP - Falou-se muito em legado, mas boa parte, se não a maioria das obras de mobilidade em Curitiba para a copa não estão prontas, e outras foram retiradas do plano inicial. Isso não corrobora as críticas ao evento?
Mário Celso – Hoje eu diria que o Paraná já conseguiu mais de R$ 2 bilhões de recursos que eu considero legado. Mais de R$ 400 milhões só no aeroporto Afonso Pena, dinheiro da Infraero. R$ 30 milhões em Londrina, R$ 60 milhões em Foz, também da Infraero. Equipamentos para a área de segurança, recebemos quatro caminhões de alta tecnologia para fazer o controle da segurança em áreas específicas. Cada caminhão desse custa R$ 5 milhões, foram doados pelo Ministério da Justiça.
BP - Como está a parte estadual do corredor aeroporto-rodoviária? O senhor acha que ficará pronto até a Copa?
Mário Celso – Com atraso, mas fica pronto. A projeção é que no máximo em maio tudo esteja entregue. Estamos retirando a alça da Salgado Filho, colocando no PAC da Mobilidade para não perder o orçamento.
Responsabilidades
“Governo do Estado fez a sua parte”
Bem Paraná - O presidente do Atlético culpou o governo do Estado e a prefeitura pelos problemas, alegando que o dinheiro não saiu no tempo certo?
Mário Celso – Eu não entro na polêmica com o presidente, que tem lá suas razões, sua ótica de ver a situação. O que eu diria em termos de governo do Estado é que graças ao governo foi liberado o financiamento do BNDES. O BNDES não empresta dinheiro para clube, para terceiros, só para construtoras e governos. Então nós abrimos essa possibilidade da Fomento receber esse dinheiro e repassar ao Atlético com as garantias legais, a primeira do Centro de Treinamento do Caju e o potencial construtivo. E o segundo financiamento que foi feito agora, a garantia é a verba de transmissão da TV. Nós fizemos a nossa parte. Nós tentamos fazer o naming rights, consultamos quatro empresas. Agora se não há entendimento financeiro com o clube, é outra questão.
BP – Afinal de contas, o que há de dinheiro público nas obras da Arena do Atlético?
Mário Celso – O Tribunal de Contas considerou o potencial construtivo, que é uma moeda virtual, dinheiro público. E é reescalonado, e segundo o Atlético, não está resolvendo o problema deles. Porque não entrou muita coisa. Você tem que colocar no mercado. E se as construtoras não compram. Tem que ter um mercado muito aquecido para poder valorizar. E é a única coisa. Não tem dinheiro em espécie. O governo do Estado não repassou um centavo de dinheiro em espécie para a Arena. E a prefeitura também. Porque legalmente não pode. É um estádio privado. Agora porque essas manifestações estão acontecendo, as pessoas estão contra. A população não é contra a Copa. O brasileiro é apaixonado por futebol. É uma paixão. O brasileiro quer a Copa. O que o brasileiro não quer é roubalheira. E nós estamos vendo que são doze estádios, dos quais nove são públicos. Quando você vê um estádio aqui da Arena, digamos que é privado, está fazendo um estádio de R$ 300 milhões, porque o Maracanã, que foi reformado, está custando R$ 1,4 bilhão. Porque um Mané Garrincha está custando R$ 1,3 bilhão. Salvador R$ 1 bilhão. Porque está custando tanto? Algo está errado. O que o povo reclama é isso. Por isonomia você dá a impressão que o Brasil inteiro está nesse processo. Quando você tem três estádios privados e os demais são públicos, não têm limite de gastos.