Este já é um artigo que traz alguma contribuição mais útil, por falar em um ponto crucial que é a produtividade. Mas se perde por dar a entender que ela pode ser buscada sozinha (quase que de forma messiânica - "o governo tem um papel pedagógico a cumprir. A missão é quase educativa"), sem estar atrelada aos demais fatores que atrapalham o crescimento econômico do país.Penguin escreveu:Entrevista: Fabio Giambiagi
'Produtividade tem de virar obsessão nacional', diz economista
Para Fabio Giambiagi, governo tem um papel pedagógico a cumprir: explicar à população que o paternalismo estatal terá de dar espaço à competição
Naiara Infante Bertão
Economista Fabio Giambiagi é professor da UFRJ e da PUC-RJ
Diante da incapacidade da economia brasileira de se expandir num ritmo acelerado, os entraves que a sufocam tornam-se mais patentes — e a produtividade é o principal deles. Não bastasse o custo Brasil, formado pelo conjunto explosivo de alta carga tributária, burocracia e falta de infraestrutura, outro desafio se interpõe no caminho entre o Brasil e o amplo desenvolvimento: o esgotamento da contribuição ao PIB dada pela incorporação de novos trabalhadores ao mercado de trabalho. Isso significa que, para que o país avance, será preciso que cada trabalhador produza mais e gere mais riqueza. E isso, segundo o economista Fabio Giambiagi, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem de se tornar "uma obsessão nacional".
.
.
.
O PT minou a produtividade devido às suas políticas protecionistas?
A crítica que cabe é que eles não perceberam que o modelo baseado na utilização extensiva de mão-de-obra e da ociosidade inicialmente existente, por meio de injeções maciças de estímulos à demanda (como o aumento do crédito), tenderia a se esgotar — e que seria necessário preparar o país para os desafios da nova fase. É como se eles estivessem utilizando um software 1.0 quando deveriam usar o 2.0: o que servia antes não serve mais. Sei que a idiossincrasia nacional não é algo que se mude em uma semana, mas quem está no Executivo tem um papel enorme no sentido de apontar direções. Eu gosto de lembrar que o papel da liderança política é liderar. Quem faz aquilo que as pessoas querem não é líder, é seguidor de tendências.
É claro que sem um aumento contínuo da produtividade não é possível sequer pensar em crescimento econômico sustentável no longo prazo, e sem ele qualquer tentativa de inserção do país nas cadeias de produção mundial vai redundar em fracasso, seja pela dizimação em massa das empresas nacionais ou instaladas aqui, seja pelo esmagamento da renda e do padrão de vida dos trabalhadores de menor produtividade (a grande maioria) que seria necessária para que o primeiro caso não acontecesse.
O problema é que aumentar a produtividade depende de investimentos não apenas em pessoal mais qualificado (educação + experiência) mas também de decisões de investimento não só em meios produtivos mais modernos mas também em produtos novos e inovadores (não adianta ter a fábrica mais produtiva do mundo para fabricar produtos obsoletos que ninguém mais quer comprar). Mas as decisões de investimento são tomadas por empresários (nacionais e estrangeiros) que pensam sobretudo no seu potencial de ganhos, e não estão nem aí para um eventual "futuro melhor para o país via aumento da produtividade". Para que eles decidam fazer os investimentos necessários é preciso que vejam alguma chance de ganhar dinheiro, mais do que ganhariam se investissem os recursos em outro negócio ou em outro lugar qualquer.
Este é o desafio do Brasil hoje. Fazer com que produzir aqui tenha pelo menos a mesma possibilidade de lucro que em qualquer outro lugar do planeta, sem apelar ad-infinitum para o fechamento do mercado que sempre tivemos. Isso implica em facilidade de negócios e competitividade equivalentes ao que existe no resto do mundo, e qualquer conjunto de ações que não inclua especificamente a busca disso estará fadado ao fracasso mesmo antes de começar. Se queremos ter produtividade temos que ser competitivos (o que implica em moeda no valor adequado, simplicidade administrativa, juros mais baixos, financiamento abundante e a custos não exorbitantes, infraestrutura adequada e etc...), um fator é sinérgico com o outro. Não adiantará nada tentar conseguir apenas uma destas coisas (produtividade) e esperar que a outra (competitividade) venha depois sozinha, por consequência, mesmo com tudo o mais continuando a jogar contra.
Leandro G. Card