História do Brasil (para concursos)

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gingerfish
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História do Brasil (para concursos)

#1 Mensagem por gingerfish » Qua Fev 26, 2014 10:19 pm

Olá, amigos.
Bom, dentro daquela teoria de que "o melhor estudante é o professor de si", eu mesmo preparei um pedaço de material da História do Brasil, mas para concursos, e, se alguém quiser dar uma olhada, aproveitar alguma coisa, quiser salientar qualquer coisa, acrescentar, diminuir etc. ... bom, ei-lo. É apenas uma parte...
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Brevemente, você estará lidando com o pior que existe na nossa espécie. Gente ruim, traficantes, bandidos, assassinos, assaltantes, estupradores, políticos – o lixo da humanidade. Mas, se por um lado, essa escória toda nos faz, às vezes, até sentir vergonha por pertencer à raça humana, no outro lado da balança estão os que nos fazem sentir orgulho da nossa condição - gênios, artistas, pintores, escultores, escritores, filósofos, cientistas, tantos e tantos que, para dar apenas um exemplo, Isaac Newton. “Sir Isaac Newton”, um dos maiores nomes da ciência em todos os tempos, pai da física moderna. Sir Isaac Newton, imortalizado na tela de William Blake, aparece como um “homem universal”, atemporal, não preso ao seu século XVII, às suas roupas ou trajes da Grã-Bretanha, não... um homem no universo, no mundo, a pesquisar, a calcular, a entender, sob o peso do seu raciocínio.
“Raciocínio”, “razão”, com o costume da razão, Sir Isaac Newton protagonizava uma das maiores revoluções intelectuais da história da humanidade, o momento em que o homem descobria coisas absurdas, abissais. Sir Isaac Newton, certa feita, depois de muito pesquisar, analisar, ele concluiu que, se um objeto está parado, e ninguém mexer nesse objeto, este objeto vai continuar parado. Não satisfeito com essa brilhante descoberta, Sir Isaac Newton foi além e concluiu que, se um objeto está em movimento, e nada interromper esse movimento, o movimento continua!!! Ah!, você não se empolgou? Você achou muito simples o “princípio da inércia”? Pois, então, vamos a uma melhor... Sir Isaac Newton, o qual você desprezou, conseguiu responder a uma das maiores dúvidas da humanidade em todos os tempos – “por que as coisas caem...?” Por que os objetos lançados ao ar sempre e sempre insistem em cair? Não flutuam? Não voam pelo espaço? Ora, a resposta é tão simples quanto ao “princípio da inércia” e não se resume a uma palavra – gravidade –, e, sim, a um fato – “matéria atrai matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias”. Humilde o pensamento, não é...?
Pois bem, foi com essa humildade toda e com a complexa utilização da razão, da dedução, da observação do universo, da intuição, que Sir Isaac Newton respondeu a perguntas que nos levam a compreender o universo como uma máquina, um mecanismo, como se fosse um relógio, projetado por uma mente superior, uma grande inteligência – chame você de “Deus”, “Grande Arquiteto”, “Alá”, o que for. Enfim, o fato é que, Quem projetou esse universo concedeu-o com “leis de funcionamento” imutáveis e indispensáveis para o funcionamento do mesmo. Já pensou o que seria de um universo sem a inércia? Sem a gravidade? As coisas flutuando pela Terra... a vida não seria possível. A vida só é possível sobre a face da Terra porque está regida por leis naturais, leis físicas. Do grego antigo, a física é igual à “natureza”. A física nada mais é do que a compreensão dos fenômenos da natureza.
Legal, mas... o que isso tem a ver com História...? Ora, isto é história! O desenvolvimento da física não apenas fez parte da história da ciência, mas da própria evolução da civilização ocidental. Sim, os inspirados em Isaac Newton, os filósofos franceses do século XVIII, os protagonistas do reconhecido “Iluminismo” (movimento filosófico que marcou o início da Idade Contemporânea). Os filósofos iluministas, inspirados por Isaac Newton, chegaram à conclusão de que, se o universo é como um mecanismo que tem leis imutáveis de funcionamento, e essas leis, além de necessárias, podem ser compreendidas pelo uso da “razão”. Ora, nesse universo de leis naturais, que podem ser compreendidas pela razão, vive o ser humano... vive o ser humano em sociedade. Portanto, a sociedade humana faz parte do universo natural, e, fazendo parte desse universo, também deve ter as suas leis naturais, as suas leis de funcionamento, as leis sem as quais a vida humana não seria possível.
E, questionando-se acerca das leis naturais da vida em sociedade, os filósofos do Iluminismo chegaram ao básico, ao fundamental, ao indispensável... quais são as leis naturais da vida em sociedade? Quais são os direitos naturais do homem? Para começar, o mais necessário de todos, sem o qual nenhum dos outros direitos humanos pode ser exercido, ou seja, o direito à vida. Parece óbvio... “nasceu, tem direito à vida.” Será? Será que foi sempre assim? Na Esparta antiga, na Grécia, nos “tempos heroicos”, na Esparta grega e antiga, o sujeito que nascesse deficiente, defeituoso, e que não prestasse para a guerra era “dispensado”, era jogado do alto de um morro para a morte certa. Se ele não tivesse condição de ser soldado, para servir, ele não tinha direito à vida. Portanto, pergunto: nasceu... tem direito à vida? Depende da época, depende do lugar. Depende do lugar, também, pois, nos tempos de Nazismo da Alemanha, o judeu, o homossexual, o comunista, tinham direito à vida? Não...
Portanto, a concepção de que “nasceu, tem direito à vida” é algo não apenas recente, moderno, como, ainda, uma busca, uma luta do ser humano, para garantir tal direito. Este é só o primeiro dos direitos naturais. Após o episódio do direito à vida, há outros, como o direito à liberdade, fundamental para que o ser humano se realize. A liberdade de escolha, a liberdade de pensamento. 300 anos atrás o sujeito não era livre para escolher nem o casamento, nem a profissão, muito menos a religião, e, sequer, o governante. Hoje em dia nós desfrutamos, ou deveríamos desfrutar, de todos esses direitos, isto é, de escolher a profissão, de escolher com quem casar, de escolher o governante, de escolher a religião, de falar o que pensa, de ir e de vir, mas esses direitos não são naturais só porque nasceram com o homem... são naturais porque devem fazer parte da natureza humana vivendo em sociedade. Quando esses direitos não são respeitados, é, portanto, lícito, legítimo, lutar pelos mesmos. É legítimo lutar por tais direitos.
Para acrescentar um detalhe, diz a abertura da Constituição dos Estados Unidos da América, o primeiro documento da história a ser inspirado em idéias “revolucionárias” do Iluminismo, no final do século XVIII, e os norte-americanos botaram no preâmbulo de sua Constituição assim: “Entendemos que todos os seres humanos nascem iguais e dotados de certos direitos inalienáveis, como o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade.” Além da liberdade, da igualdade perante a lei, do direito à vida, você, ou o norte-americano, tem o direito de ser feliz. Desfrute desse direito. Não se esqueça dele. E não se esqueça também de que uma coisa foi propor direitos e liberdades na teoria, na filosofia, no Iluminismo, e outra coisa, bem diferente, é conquistar esses direitos na prática, É um abismo entre “propor um direito” e “obtê-lo”. Este abismo é transposto pela ponte da “revolução”, da luta. Seria somente a revolução que permite acabar com o privilégio, com a desigualdade, com a exploração que impedem o exercício dos direitos naturais do homem.
E é sobre revolução que vai ser falado agora, sobre as nossas primeiras lutas pela “independência”, pela liberdade, pelos direitos do Brasil e do povo brasileiro.
Vamos acompanhar as lutas pela nossa independência que marcam o contexto da crise do sistema colonial, na segunda metade do século XVIII. A partir de 1750, esse é o momento em que o Brasil amadureceu, em que o Brasil deixou de ser adolescente e começou a brigar com o pai Portugal de maneira mais consciente, para sair de casa, para ser livre, independente.
À medida que vinha sendo questionado o sistema colonial, obviamente que o mesmo entrava em crise. À medida que ele vinha sendo combatido pelos próprios colonos, ele entrava em crise. Da segunda metade adiante do século XVIII, a crise torna-se cada vez mais acentuada, até se tornar irreversível. É aí que chegaremos, finalmente, à Independência do Brasil. É um longo trajeto, por isso vamos lembrar a influência das idéias Iluministas, idéia que vieram da Europa ao Brasil, trazendo conceitos e ideais de liberdade que inspiraram os nossos movimentos pela independência.
Há exemplos de movimentos, de lutas, de conspirações anti-coloniais; há duas que são clássicas que você não pode se sonegar a conhecer – a “Inconfidência Mineira”, que foi a primeira da história do Brasil, em 1789, a primeira luta pela independência; e a nobre “Conjuração Baiana” ou “Inconfidência Baiana”, um movimento de 1798 ocorrido em Salvador, capital da Baía de Todos os Santos.
“Conjuração Baiana” e “Inconfidência Mineira” são indispensáveis para a felicidade de qualquer estudante num concurso. Houve outras conspirações menores que podem vir a serem citadas, mas não se prenda a nomes e a datas; apenas tenha noção de que, em vários pontos do Brasil, como Olinda e Pernambuco, a capital da colônia ou capital do vice-reino do Brasil (Rio de Janeiro), nesses lugares também havia “focos de conspiração”.
Focos de colonos que, às escondidas, uniam-se para debater as idéia do Iluminismo, para difundir os conceitos de liberdade e igualdade. Estes ideais vêm lado a lado com o pensamento republicano.
A idéia era a de que somente no regime republicano seria possível exercer essas liberdades e direitos. Num contraponto a isso, numa Monarquia, o outro regime, alternativo à República, sendo o rei de direito hereditário, de poder hereditário, ele não tem como ser escolhido, como ser contestado, questionado, e, portanto, o poder torna-se arbitrário. Em detrimento da Monarquia, na República, arquiteta-se a idéia de que o povo é livre para escolher os seus governantes e, assim, assegurar os seus direitos.
Para ser objetivo, tanto a Inconfidência Mineira quanto a Conjuração Baiana, todos os movimentos pela independência do Brasil, na verdade, tinham essa característica... a idéia de República. A proposta era a de que, após a independência, o Brasil deveria ser uma República. Não foi o que aconteceu. Veio a independência, mas não a República. Porém, isso é uma outra história.
Vendo os exemplos que estimularam mineiros e baianos a lutarem pela independência do Brasil, eis aqui dois movimentos clássicos, inspirados pelo Iluminismo, dois movimentos fortemente influenciados pelo ideal Republicano, dois movimentos que se tornaram exemplos para lutas por liberdades, por direitos no mundo afora, inclusive aqui na América Latina, no Brasil, em especial.
A Independência dos Estados Unidos foi a primeira luta anti-colonial, a primeira luta por independência de uma colônia a ser bem sucedida, a vencer a metrópole européia – no caso, a poderosa Inglaterra – e garantir a dependência de uma ex-colônia, na verdade, um grupo de ex-colônias que formaram os Estados Unidos da América.
Se os norte-americanos conseguiram vencer a Inglaterra, por que os brasileiros não poderiam vencer os portugueses?, pensaram por essas plagas...
Isso foi um exemplo, tornou-se ainda mais intenso depois da Revolução Francesa. Um exemplo de que era possível lutar contra a opressão, contra a tirania, e vencer. Foi isso que a Revolução Francesa inspirou no mundo afora. Soprou com seus ventos revolucionários ideais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, que fizeram as pessoas acreditar que era possível unir o povo na luta contra a iniqüidade, contra a opressão. Exemplos de que era possível combater o sistema colonial e vencer. E, se era possível combatê-lo e vencê-lo, obviamente ele estava em crise. E esta crise tem um momento agudo, um momento mais grave ainda, à medida que se espalha pela Europa a Revolução Industrial. Era apenas seu começo... ela ainda estava restrita à Inglaterra, mas já era um grande passo para a mudança do sistema econômico, até então baseado em monopólios, privilégios, restrições, proibições. Mas, com o advento da Revolução Industrial, a idéia do livre comércio, a idéia do livre mercado começa a ganhar corpo. Até porque a Inglaterra, a partir da Revolução Industrial, tinha cada vez mais mercadorias para vender. Portanto, precisava cada vez mais de mercados consumidores, mercados que não estavam abertos, o que era o caso do Brasil, da América Latina, onde estavam colônias sob o monopólio de Portugal e Espanha – as “metrópoles” européias.
Concluindo, à medida que avançava a Revolução Industrial, a Inglaterra tornava-se uma adversária do “Pacto Colonial”, do sistema colonial, do monopólio, e lutava pelo livre comércio. Foi justamente isso que inspirou, também, o apoio inglês aos movimentos de independência da América Latina a partir do século XIX.
As duas principais lutas pela independência do Brasil... a começar há o julgamento do célebre Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, que estava sendo julgado, interrogado, após o fracasso e a descoberta do movimento que ele liderou – a Inconfidência Mineira, primeira luta pela independência do Brasil.
Os versos de Cecília Meireles, em “Romanceira da Inconfidência” (Inconfidência Mineira), que dizem que “atrás de portas fechadas, à luz de velas acesas, entre sussurros e murmúrios, acontece a Inconfidência”... de repente, alguém pede: “Ei, escreva a letra daquele versinho de Virgílio”... e diz: “O poeta ao Vigário com dramática prudência: tenha meus dedos cortados, antes que tal verso escrevam...” ... Liberdade, ainda que tarde! Ouve-se em redor da mesa. E a bandeira já está alta, e sobe na noite imensa. E os seus tristes inventores já são réus, pois atreveram-se a falar em “liberdade”. Liberdade... essa palavra que o sonho humano alimenta, e não há quem explique e ninguém que não entenda (Cecília Meireles, em “Romanceira da Inconfidência).
Com essas palavras, ela refere-se aos personagens do movimento da Inconfidência Mineira. À bandeira do movimento, à inspiração do movimento, inclusive aos versos clássicos que apareceram na bandeira da Inconfidência Mineira. A bandeira cujo lema é “Libertas Quae Sera Tamen” significa “liberdade, ainda que tardia”, um verso do poeta Virgílio, aludido pela poetisa Cecília Meireles. No texto citado, a palavra-chave é “liberdade, ainda que tardia”. Mas a busca por liberdade custou caro, custou a vida dos que se envolveram e atreveram-se a falar em “liberdade”, na Vila Rica de 1789. Na mesma Vila Rica onde 70 anos antes fora executado Felipe dos Santos por lutar contra as casas de fundição. Mas, agora, a situação era mais grave, pois as minas de ouro estavam em decadência. O ouro esgotava-se e aumentava-se a pressão portuguesa sobre os mineradores, e a pressão das autoridades portuguesas fazia-se através da ameaça de uma “derrama”, isto é, a cobrança violenta e forçada dos impostos atrasados. Portugal ameaçava invadir a casa dos colonos, dos mineradores, que tivessem dívidas, e tomar seus bens à força – isso era a “derrama” – para cumprir suas dívidas, para cumprir suas metas de arrecadação.
Diante da ameaça de uma derrama, de uma cobrança violenta e forçada de impostos, a elite das minas gerais – grandes proprietários, mineradores, donos de escravos, autoridades locais, autoridades militares, gente que tinha dinheiro, mas que também tinha dívidas com Portugal viu-se ameaçada por essa derrama. Esta elite começou a conspirar, começou a reunir-se às escondidas, atrás de portas fechadas, luzes de velas acesas, confabulando, e logo vinham as idéias do Iluminismo – as idéias trazidas pelos filhos dessa própria elite que foi estudar na Europa, e, em bagagens, traziam livros, jornais (materiais que eram proibidos no Brasil colônia). Clandestinamente, traziam idéias do Iluminismo que inspiravam um ideal de liberdade. Era a luta por autonomia, por um regime republicano, representativo, por uma constituição assegurando direitos e liberdades; a liberdade política, mas, também, o fim do “Pacto Colonial”, o fim do monopólio. Queriam a liberdade de comércio, a liberdade de indústria, a liberdade de desenvolvimento, a liberdade econômica para o Brasil. Falava-se muito nessas reuniões em “liberdade”, ... liberdade pra cá, liberdade pra lá, liberdade no verso, liberdade na bandeira, mas... shiiii, fala baixo... fique falando aí em “liberdade”, e, daqui a pouco, escravos vão escutar esse papo aí e vão pensar que é com eles, ou vão se apaixonar pela idéia... mas não era com os escravos; estes continuariam presos.
A liberdade a que se refere a Inconfidência Minera não incluía os escravos. Falam em “libertar o Brasil de Portugal”... mas não em libertar os escravos do cativeiro. Até porque a maioria dos envolvidos eram donos de escravos! Para eles, bastava a sua liberdade. A do povo, a da nação, não. Até porque essa turma estava inspirada na Independência dos Estados Unidos, e isso é importante de se saber também, pois a Independência dos Estados Unidos acabou com o domínio inglês, com a dominação colonial inglesa, proclamou a República, mas não acabou com a escravidão na América do Norte.
Então nos Estados Unidos foi feita, sim, uma independência, mas não foi feito o fim da escravidão. Isso também era um propósito, um ideal dos líderes da Inconfidência Mineira.
Joaquim José da Silva Xavier, o popular Tiradentes, chegavam a debater e a defender a idéia de liberdade social, de fim da escravidão, mas essa nunca chegou a ser uma proposta palpável e objetiva da Inconfidência Mineira.
Os inconfidentes, na trama de sua luta, na forma para alcançar a liberdade, e na independência proposta pelo movimento, aí o bicho começa a pegar. A Inconfidência Mineira era muito limitada, em termos de participação popular, não chegou a setores humildes, a setores excluídos. Portanto, não contava com um contingente de gente para fazer uma revolução armada. Tampouco dispunha de armas para isso. Então o plano era um pouco mais tosco... a ideia deles era, no dia em que fosse decretada a derrama, a cobrança violenta e forçada de impostos, os inconfidentes aproveitariam-se da confusão instaladas nas ruas pelo corre-corre, com invasão de casas, soldados pra lá, soldados pra cá, aproveitariam os inconfidentes dessa confusão para assassinar o governador das minas gerais – supostamente, o responsável pelo assassinato seria o famoso Tiradentes, o Joaquim José da Silva Xavier.
Tiradentes era alferes da companhia dos dragões (Companhia dos Dragões era o destacamento militar português na região das minas), e “alferes” era um oficial de baixa patente.
Por assim dizer, Tiradentes era um sargentão da PM. Com esta prerrogativa, ele teria acesso ao governador das minas gerais, quem ele procuraria no momento da “derrama”, da confusão, como quem leva uma notícia, ou algo parecido. Aí, uma vez na presença do governador, ele cortaria a gargante do governador e tomaria o poder em nome da “revolução”.
O plano era este, então, matar o governador das minas gerais no dia da derrama e tomar o poder. Isso jamais aconteceu... Portugal sabia que a derrama daria confusão. Adiava seguidas vezes a mesma. E, enquanto a derrama não vinha, o movimento também não vinha, nem a revolução. E, antes que esse movimento viesse, todos foram “descobertos”, ou, melhor, delatados... dedurados por um dos seus próprios companheiros! Um dos próprios inconfidentes, um minerador chamado Joaquim Silvério dos Reis devia uma nota preta para Portugal, e, para livrar-se das suas dívidas, entregou os colegas em troca do perdão... é mole? Dedurou todo mundo, e, assim, os inconfidentes foram presos antes de despararem um único tiro sequer. Isso, inclusive, justifica o nome “Inconfidência”, porque esse nome quer dizer “traição” – é o ponto de vista de Portugal sobre o movimento, uma traição.
A traição foi investigada, foi interrogada à devassa. O inquérito português que investigou os envolvidos nessa traição. O movimento é chamado também de conjuração, a Conjuração Mineira, em que “conjuração” quer dizer “conspiração”. E não passou mesmo de uma conspiração, de um plano que jamais foi colocado em prática.
Depois de quase três anos de investigação, de devassa, três anos em que a vida dos inconfidentes foi devassada, investigada de cabeça para baixo, de cabo a rabo, depois de quase três anos de processo, saiu a sentença... a maior parte dos inconfidentes foi condenada à morte na forca. Porém, na hora do vamos ver, só Tiradentes pagou com a vida, o que não era o mais rico, o que não tinha nenhuma família importante que pudesse convencer às autoridades portuguesas a mudar o destino do seu filho, o que assumiu toda a culpa do movimento sozinho, o que era responsável por matar o governador das minas gerais. Há quem diga que ele jamais existiu, há quem diga que o papel a ele é exagerado, isto é, a história dele é meio nublada, mas é inegável que ele foi executado e virou símbolo da Inconfidência Mineira e da luta pela Independência do Brasil. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi enforcado, esquartejado, pendurado, exposto “para servir de exemplo”.
Ressaltando um fato que vai além da curiosidade é que, quando Tiradentes foi executado, ele não tinha nem barba e nem cabelo; ele estava carequinha. E ele ficou imortalizado naquelas imagens em que ele aparece cabeludo e barbudo porque, quando ele foi executado, ninguém o representou. Naquele momento ele era um bandido, um criminoso, não havia um pintor para dizer “calma, Tiradentes, não morra ainda porque eu ainda não terminei... Ah!, agora eu vou avacalhar, vou fazer bem feio!”. Não, não havia ninguém desenhando o Tiradentes naquele momento. Ele só foi retratado quase 100 anos após sua morte. E aí ninguém se lembrava mais do rosto dele. E era preciso criar uma figura que trouxesse, além do heroísmo, um lado “místico”, para esse povo católico, religioso.
O artista Pedro Américo assumiu que a inspiração para a imagem de Tiradentes vem do próprio Cristo. Assim como Tiradentes deu a vida para livrar o Brasil de Portugal, Cristo deu a vida para nos livrar do pecado. Sacou?
E falando dos baianos... nos quadros de época mostra-se a Praça da Piedade, em Salvador, onde, no final do século XVIII, em meio a tanta movimentação, começaram a aparecer misteriosamente panfletos. Panfletos manuscritos à mão, grosseiramente, com palavras revolucionárias do tipo “Animai-vos, povo baiense! Está para chegar a hora em que todos seremos livres, em que todos seremos iguais, todo seremos irmãos!”
“Livres?” “Iguais?” “Irmãos?” Isso, mesmo... liberdade, igualdade e fraternidade! Inspirados pela Revolução Francesa, revolucionários baianos distribuíram panfletos manuscritos convocando o povo à luta pela independência do Brasil em Salvador do final do século XVIII. Era um lugar assolado pela pobreza, assolado pela decadência da atividade açucareira, onde as ideias da Revolução Francesa se espalhavam e inspiravam inclusive nos setores mais humildes e populares da sociedade.
Essas camadas populares representadas por mestiços, mulatos, alfaiates, pobres, soldados, deram seus recados através de manuscritos, de panfletos radicais.
A bandeira proposta pelos revolucionários para o Brasil independente era uma bandeira inspirada, natruralmente, na bandeira da Revolução Francesa, onde havia azul, branco, mais um pouco de azul em vez de vermelho, mas o vermelho aparece nas estrelinhas que simbolizavam os “pontos” propostos pelos inconfidentes baianos.
Os inconfidentes baianos, sim, propunham o fim da escravidão, a igualdade social, a república, a diminuição de impostos, a abertura dos postos, o aumento dos salários – tudo isso resumido ao ideal maior chamado de “igualdade social”.
Para as camadas populares baianas, para mestiços pobres, mulatos, alfaiates, que se envolveram nessa luta, que distribuíram os panfletos, que propuseram a bandeira, que trouxeram o ideal da Revolução Francesa para os sujeitos baianos.
A “igualdade social” era o principal objetivo. Não bastava libertar o Brasil de Portugal, não bastava proclamar a República, não bastava acabar com a escravidão, era preciso que todos – brancos, negros, pardos, índios, mamelucos, mestiços, cafuzos, caboclos, brancos ricos, brancos pobres, negros, não importa!!!, todos fossem iguais e tivessem as mesmas oportunidades, igualzinho “no papel” de hoje em dia, claro.
Perceba a atualidade desse movimento. 200 anos atrás ele já defendia coisas que hoje há apenas num papel, numa teoria.
E o fim dessa história... bom, os panfletos convocavam o povo à revolução, eram distribuídos na calada da noite, eram espalhados pelas ruas, mas as autoridades portuguesas obviamente não deixaram isso passar batido. Investigaram e descobriram a autoria dos panfletos, e todos os envolvidos foram presos. Entre eles, além dos pobres e dos humildes, gente bem... gente bem posicionada, gente da Maçonaria!!!, gente como Cipriano Barata, médico, jornalista, tinha posição social privilegiada e estava envolvido no movimento da “Conjuração Baiana”.
Depois de todos os descobertos, foram condenados às suas respectivas penas. E, é claro, quem pagou com a vida, quem foi parar na forca, foram os pobres e os alfaiates humildes? Ou os ricos, maçons, médicos?
Exatamente... todos os pobres, alfaiates, mestiços, soldados, pagaram com a vida... eram 4 os principais líderes, os demais, brancos e ricos, livraram o seu da reta. Qualquer semelhança com o Brasil de hoje não é mera coincidência...


[]'s, Ginger.




A vida do homem na Terra é uma guerra.
Jó 7:1
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