NOTÍCIAS POLÍTICAS
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
"Ordem Negra"?
Vão recriar as SS, aqui no Brasil?
O Sol Negro, um dos símbolos místicos das SS.
Vão recriar as SS, aqui no Brasil?
O Sol Negro, um dos símbolos místicos das SS.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
O ESTADO DE S. PAULO - 21/01/2014
“MST é autoritário e profundamente antidemocrático”
O Movimento dos Sem-Terra (MST), que acaba de chegar aos trinta anos, surgiu como um braço da Igreja Católica, vinculado à Teologia da Libertação, e estruturou-se como um partido leninista, profundamente autoritário. Quem faz essa análise é o ex-ministro Raul Jungmann. Para ele, uma prova do caráter antidemocrático do MST seria o fato de ter à sua frente, há quase trinta anos, os mesmos líderes, entre eles João Pedro Stédile. “O movimento segue o exemplo dos antigos partidos comunistas”, afirma.
Jungmann é filiado ao PPS. Foi o articulador e principal responsável por questões fundiárias no País durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na Presidência da República. Entre 1996 e 2002 chefiou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Ministério Extraordinário de Política Fundiária e, depois, o recém-criado Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Foi durante sua gestão que o MST chegou ao auge de suas ações. Na mesma época também aconteceu o maior número de assentamentos da reforma agrária. Na entrevista abaixo, ele conta que Fernando Henrique não tinha intenção de realizar a quantidade de assentamentos que acabou acontecendo. A inflexão na política teria ocorrido com o Massacre de Eldorado de Carajás, em 1977, quando 19 sem-terra foram mortos em um trecho da rodovia que liga Marabá a Eldorado, no Pará.
Para o ex-ministro, o movimento vem perdendo força desde que o PT chegou ao poder.
O MST está completando trinta anos de existência. Como o senhor avalia esse movimento?
Para compreender o MST é preciso falar de três características que o acompanham desde que nasceu, na década de 1980, na Encruzilhada Natalino (RS). A primeira é que se trata de uma costela da Teologia da Libertação, com a sua leitura marxista da história.
Seria um braço da Igreja Católica?
Uma coisa fundamental para entender o MST – e da qual as pessoas não se dão conta – é o seguinte: a expansão capitalista no campo, com a mudança nas relações de produção, desestruturou a agricultura familiar, que abrigava o estoque da Igreja para a produção de padres e freiras. A única pesquisa já feita no Brasil sobre o local de origem dos padres mostra que o seu recrutamento é rural. Está concentrado na agricultura familiar e, sobretudo, na Região Sul, exatamente onde nasce o MST. O seu parto tem, portanto, de um lado a expansão da Teologia da Libertação; e, do outro, a expansão do hoje chamado agrobusiness, que desarticula a agricultura familiar e o estoque de recrutamento de padres.
Quais seriam as outras duas características às quais o senhor se referiu?
A segunda é que o MST surge ainda durante a ditadura militar, num momento de profunda desconfiança e rejeição das instituições. A institucionalidade política vigente na época era a da Arena e do MDB. O que o movimento apresenta, como contrapartida, é a ação direta, fora da instituições. A terceira característica é o afastamento de movimentos tradicionais do campo, como o sindicalismo, as cooperativas, associações. O MST nasce procurando um novo formato, o que resulta num movimento de esquerda camponês, quase um partido, com características da Igreja Católica. Enquanto anarquistas, comunistas, socialistas, socialdemocratas e outros sempre se autodenominaram laicos, o MST é um movimento de fundo confessional. Quem forma, informa e dá apoio logístico ao movimento, até hoje, é a Igreja.
E o Partido dos Trabalhadores?
Logo que surge, o PT passa a hegemonizar os movimentos sociais, entre eles o MST – que alcança seu apogeu com o crescimento do partido. Os dois crescem sobretudo no governo de José Sarney. Ainda sobre a organização interna do MST, é preciso dizer que ela ocorre em bases profundamente autoritárias. Até pouco tempo atrás, uma parte da direção do MST era mantida na clandestinidade. Segue o exemplo dos partidos comunistas, que, como forma de defesa, mantinham uma parte do comitê central na clandestinidade. No fundo, trata-se de uma organização profundamente antidemocrática.
Poderia explicar melhor?
O grupo que fundou o movimento, trinta anos atrás, permanece na direção até hoje. Ocorreram poucas variações. Você nunca viu, em jornal nenhum, qualquer notícia sobre congresso, votação, eleição, qualquer processo democrático interno do MST.
Nunca viu e nunca vai ver, porque eles se organizam praticamente como um partido leninista e essa é uma de suas principais características. As centrais sindicais, como a CUT, quando fazem um congresso e trocam de diretoria fazem um carnaval, divulgam, mas nada disso ocorre com o MST. Permanecem fechados, autoritários e avessos a processos democráticos internos. Entendem, a exemplo dos antigos partidos comunistas, que estamos numa ditadura da burguesia e que não se pode fazer concessões em período de guerra.
Foi no governo de Fernando Henrique que as invasões de terra atingiram o seu auge. Como explica?
É o período também de ascenso do PT, quando se elege o governo de Fernando Henrique como principal adversário. É preciso lembrar também o simbolismo da tragédia, o martirológio alcançado com Eldorado dos Carajás, em 1997 – um episódio de violência extraordinária e, obviamente, inaceitável. Em seguida tudo foi emblematizado e glamourizado com aquela novela, O Rei do Gado, que tinha o Antonio Fagundes e a Patrícia Pilar entre os principais atores.
Nos movimentos populares é a época da bandeira contra o neoliberalismo, contra as privatizações.
É um momento de mudança, de inflexão no governo Fernando Henrique, com o enterro da grande ideologia nacional, o nacional-desenvolvimentismo, com as privatizações e tudo o mais. Tem um caldo, uma cultura fértil para o ascenso desses movimentos.
A Igreja, os movimentos sociais, o PT passam por um período de ascenso ao confrontar o governo.
Para vários analistas o episódio mais decisivo foi Eldorado.
O episódio deu maior projeção nacional e internacional ao MST, que apareceu como a novidade no combate à desigualdades sociais. Depois que se resolveu o conflito distributivo da inflação no Brasil, o centro da arena política tem sido a questão da desigualdade social.
Concorda que o massacre deu força à bandeira da reforma agrária?
Fernando Henrique dizia que a reforma agrária não gera impasse – e que tudo aquilo que não gera impasse não é prioritário em termos de agenda. Mas o tema foi recolocado na agenda, com o MST tendo apoio logístico da Igreja.
O que muda com a chegada do PT ao poder?
Abre-se um período de crise na história do MST. Em primeiro lugar porque desaparece o grande inimigo, aquele que aglutina, que causa coesão, emblematiza todos os problemas, o grande Satã, até mesmo dentro de uma visão religiosa, demonológica, que era o governo neoliberal. E agora? O que o movimento vai fazer? Pressionar o seu próprio poder? O MST não sabe como enfrentar essa crise. O segundo problema que surge com a ascensão do PT é a expansão das bolsas, como as do Programa Bolsa Família.
Por que?
Ela representam uma alternativa à ação do MST e o esvaziamento dos seus estoques, de sua capacidade de arregimentação. Há um terceiro problema com a chegada do PT ao poder, que é o processo de cooptação que vai se dando, com dinheiro e o aparelhamento do movimento social. Isso amortece o MST. Ele perde o seu húmus e o sentido. O que se vê hoje é o seu esgotamento. Ele não pode atacar o PT, porque isso beneficiaria o outro lado, que ele detesta. Prefere ficar com o PT, que abre o
Estado para ele, num grande processo de cooptação. Há que se notar também que a Igreja passou por um processo de redirecionamento, de diferenciação com o MST. Aquela simbiose com o movimento não desapareceu, mas diminuiu muito.
Acha que a questão da reforma agrária, que era uma das principais bandeiras sociais na década de 1960, faz sentido na atual conjuntura?
Na década de 1960 não se podia organizar um projeto para o Brasil sem passar pela reforma agrária, sem romper com o latifúndio e liberar mão de obra para reduzir o custo da mão de obra no processo da industrialização. Também era preciso reduzir o latifúndio para liberar terras para a produção de alimentos e baixar os seus preços. Não é a situação de agora. O Brasil se transformou numa potência mundial, não tem crise de alimentação, a industrialização está dada, o agrobusiness, com a revolução verde, está aí. A questão que fica é: para quê reforma agrária?
O MST enfatiza a questão da produção de alimentos e afirma que o agronegócio só se preocupa com a produção de grãos.
Todos sabemos que a agricultura familiar é fundamental para a produção de alimentos. Mas esse segmento passou a ser coadjutor em relação ao grande capital. Isso significa que vamos comer grãos? Não, idiota. A questão é que a produção de grãos representa a possibilidade de divisas para o País.
Acompanhe o blog pelo Twitter – @Roarruda
(Leia mais sobre os 30 anos do MST e entrevista com João Pedro Stédile.)
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Wingate
“MST é autoritário e profundamente antidemocrático”
O Movimento dos Sem-Terra (MST), que acaba de chegar aos trinta anos, surgiu como um braço da Igreja Católica, vinculado à Teologia da Libertação, e estruturou-se como um partido leninista, profundamente autoritário. Quem faz essa análise é o ex-ministro Raul Jungmann. Para ele, uma prova do caráter antidemocrático do MST seria o fato de ter à sua frente, há quase trinta anos, os mesmos líderes, entre eles João Pedro Stédile. “O movimento segue o exemplo dos antigos partidos comunistas”, afirma.
Jungmann é filiado ao PPS. Foi o articulador e principal responsável por questões fundiárias no País durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na Presidência da República. Entre 1996 e 2002 chefiou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Ministério Extraordinário de Política Fundiária e, depois, o recém-criado Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Foi durante sua gestão que o MST chegou ao auge de suas ações. Na mesma época também aconteceu o maior número de assentamentos da reforma agrária. Na entrevista abaixo, ele conta que Fernando Henrique não tinha intenção de realizar a quantidade de assentamentos que acabou acontecendo. A inflexão na política teria ocorrido com o Massacre de Eldorado de Carajás, em 1977, quando 19 sem-terra foram mortos em um trecho da rodovia que liga Marabá a Eldorado, no Pará.
Para o ex-ministro, o movimento vem perdendo força desde que o PT chegou ao poder.
O MST está completando trinta anos de existência. Como o senhor avalia esse movimento?
Para compreender o MST é preciso falar de três características que o acompanham desde que nasceu, na década de 1980, na Encruzilhada Natalino (RS). A primeira é que se trata de uma costela da Teologia da Libertação, com a sua leitura marxista da história.
Seria um braço da Igreja Católica?
Uma coisa fundamental para entender o MST – e da qual as pessoas não se dão conta – é o seguinte: a expansão capitalista no campo, com a mudança nas relações de produção, desestruturou a agricultura familiar, que abrigava o estoque da Igreja para a produção de padres e freiras. A única pesquisa já feita no Brasil sobre o local de origem dos padres mostra que o seu recrutamento é rural. Está concentrado na agricultura familiar e, sobretudo, na Região Sul, exatamente onde nasce o MST. O seu parto tem, portanto, de um lado a expansão da Teologia da Libertação; e, do outro, a expansão do hoje chamado agrobusiness, que desarticula a agricultura familiar e o estoque de recrutamento de padres.
Quais seriam as outras duas características às quais o senhor se referiu?
A segunda é que o MST surge ainda durante a ditadura militar, num momento de profunda desconfiança e rejeição das instituições. A institucionalidade política vigente na época era a da Arena e do MDB. O que o movimento apresenta, como contrapartida, é a ação direta, fora da instituições. A terceira característica é o afastamento de movimentos tradicionais do campo, como o sindicalismo, as cooperativas, associações. O MST nasce procurando um novo formato, o que resulta num movimento de esquerda camponês, quase um partido, com características da Igreja Católica. Enquanto anarquistas, comunistas, socialistas, socialdemocratas e outros sempre se autodenominaram laicos, o MST é um movimento de fundo confessional. Quem forma, informa e dá apoio logístico ao movimento, até hoje, é a Igreja.
E o Partido dos Trabalhadores?
Logo que surge, o PT passa a hegemonizar os movimentos sociais, entre eles o MST – que alcança seu apogeu com o crescimento do partido. Os dois crescem sobretudo no governo de José Sarney. Ainda sobre a organização interna do MST, é preciso dizer que ela ocorre em bases profundamente autoritárias. Até pouco tempo atrás, uma parte da direção do MST era mantida na clandestinidade. Segue o exemplo dos partidos comunistas, que, como forma de defesa, mantinham uma parte do comitê central na clandestinidade. No fundo, trata-se de uma organização profundamente antidemocrática.
Poderia explicar melhor?
O grupo que fundou o movimento, trinta anos atrás, permanece na direção até hoje. Ocorreram poucas variações. Você nunca viu, em jornal nenhum, qualquer notícia sobre congresso, votação, eleição, qualquer processo democrático interno do MST.
Nunca viu e nunca vai ver, porque eles se organizam praticamente como um partido leninista e essa é uma de suas principais características. As centrais sindicais, como a CUT, quando fazem um congresso e trocam de diretoria fazem um carnaval, divulgam, mas nada disso ocorre com o MST. Permanecem fechados, autoritários e avessos a processos democráticos internos. Entendem, a exemplo dos antigos partidos comunistas, que estamos numa ditadura da burguesia e que não se pode fazer concessões em período de guerra.
Foi no governo de Fernando Henrique que as invasões de terra atingiram o seu auge. Como explica?
É o período também de ascenso do PT, quando se elege o governo de Fernando Henrique como principal adversário. É preciso lembrar também o simbolismo da tragédia, o martirológio alcançado com Eldorado dos Carajás, em 1997 – um episódio de violência extraordinária e, obviamente, inaceitável. Em seguida tudo foi emblematizado e glamourizado com aquela novela, O Rei do Gado, que tinha o Antonio Fagundes e a Patrícia Pilar entre os principais atores.
Nos movimentos populares é a época da bandeira contra o neoliberalismo, contra as privatizações.
É um momento de mudança, de inflexão no governo Fernando Henrique, com o enterro da grande ideologia nacional, o nacional-desenvolvimentismo, com as privatizações e tudo o mais. Tem um caldo, uma cultura fértil para o ascenso desses movimentos.
A Igreja, os movimentos sociais, o PT passam por um período de ascenso ao confrontar o governo.
Para vários analistas o episódio mais decisivo foi Eldorado.
O episódio deu maior projeção nacional e internacional ao MST, que apareceu como a novidade no combate à desigualdades sociais. Depois que se resolveu o conflito distributivo da inflação no Brasil, o centro da arena política tem sido a questão da desigualdade social.
Concorda que o massacre deu força à bandeira da reforma agrária?
Fernando Henrique dizia que a reforma agrária não gera impasse – e que tudo aquilo que não gera impasse não é prioritário em termos de agenda. Mas o tema foi recolocado na agenda, com o MST tendo apoio logístico da Igreja.
O que muda com a chegada do PT ao poder?
Abre-se um período de crise na história do MST. Em primeiro lugar porque desaparece o grande inimigo, aquele que aglutina, que causa coesão, emblematiza todos os problemas, o grande Satã, até mesmo dentro de uma visão religiosa, demonológica, que era o governo neoliberal. E agora? O que o movimento vai fazer? Pressionar o seu próprio poder? O MST não sabe como enfrentar essa crise. O segundo problema que surge com a ascensão do PT é a expansão das bolsas, como as do Programa Bolsa Família.
Por que?
Ela representam uma alternativa à ação do MST e o esvaziamento dos seus estoques, de sua capacidade de arregimentação. Há um terceiro problema com a chegada do PT ao poder, que é o processo de cooptação que vai se dando, com dinheiro e o aparelhamento do movimento social. Isso amortece o MST. Ele perde o seu húmus e o sentido. O que se vê hoje é o seu esgotamento. Ele não pode atacar o PT, porque isso beneficiaria o outro lado, que ele detesta. Prefere ficar com o PT, que abre o
Estado para ele, num grande processo de cooptação. Há que se notar também que a Igreja passou por um processo de redirecionamento, de diferenciação com o MST. Aquela simbiose com o movimento não desapareceu, mas diminuiu muito.
Acha que a questão da reforma agrária, que era uma das principais bandeiras sociais na década de 1960, faz sentido na atual conjuntura?
Na década de 1960 não se podia organizar um projeto para o Brasil sem passar pela reforma agrária, sem romper com o latifúndio e liberar mão de obra para reduzir o custo da mão de obra no processo da industrialização. Também era preciso reduzir o latifúndio para liberar terras para a produção de alimentos e baixar os seus preços. Não é a situação de agora. O Brasil se transformou numa potência mundial, não tem crise de alimentação, a industrialização está dada, o agrobusiness, com a revolução verde, está aí. A questão que fica é: para quê reforma agrária?
O MST enfatiza a questão da produção de alimentos e afirma que o agronegócio só se preocupa com a produção de grãos.
Todos sabemos que a agricultura familiar é fundamental para a produção de alimentos. Mas esse segmento passou a ser coadjutor em relação ao grande capital. Isso significa que vamos comer grãos? Não, idiota. A questão é que a produção de grãos representa a possibilidade de divisas para o País.
Acompanhe o blog pelo Twitter – @Roarruda
(Leia mais sobre os 30 anos do MST e entrevista com João Pedro Stédile.)
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
O ESTADO DE S. PAULO - 21/01/2014
“O Brasil não será democrático se não democratizar a terra”
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, completa trinta anos neste mês de janeiro. Sua criação foi formalizada durante um encontro realizado em Cascavel, no Paraná, entre 20 e 23 de janeiro de 1984, com a presença de quase oitenta pessoas, de diversas partes do País. Entre elas encontrava-se João Pedro Stédile, que havia começado a participar de ações em defesa da reforma agrária por meio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Teologia da Libertação.
Na entrevista abaixo, Stédile, que faz parte da coordenação nacional do MST, analisa algumas das principais mudanças ocorridas em três décadas e as perspectivas do movimento. Ele afirma que defensores da reforma agrária são minoria no governo da presidente Dilma Rousseff, que estaria privilegiando cada vez mais o agronegócio. Na avaliação dele, é uma política errada, uma vez que o agronegócio promove a concentração de terras e “dá lucro para alguns, mas condena milhões à pobreza”.
O MST surgiu numa conjuntura muita diferente. O Brasil era mais rural, o agronegócio estava menos estruturado, a produção de alimentos era precária, os índices de pobreza rural e urbana eram mais altos. De lá para cá, o agronegócio se tornou altamente competitivo, a produção de alimentos cresceu e o Brasil é apontado como uma potência mundial. Faz sentido continuar insistindo na bandeira da reforma agrária?
A reforma agrária está na ordem do dia como necessidade para construirmos uma sociedade democrática e ter o desenvolvimento social. A terra é um bem da natureza e todos os brasileiros que quiserem trabalhar na terra tem esse direito. Não é justo nem democrático que a propriedade da terra esteja cada vez mais concentrada. Em torno de 1% dos proprietários controlam metade de todas as terras. E agora, pior, estão entregando a propriedade para empresas estrangeiras em detrimento das necessidades do povo. O Brasil nunca será democrático se não democratizar o acesso à terra, para que as pessoas tenham trabalho, renda e dignidade.
Na sua avaliação, o agronegócio não contribui para o desenvolvimento do País?
O agronegócio é uma falácia. É um modelo de produção que interessa aos grandes fazendeiros e às empresas transnacionais que controlam o comércio mundial. Nos último dez anos tivemos uma enorme concentração da propriedade da terra e da produção agrícola. Cerca de 80% das terras são utilizadas apenas para soja, milho, cana, pasto e eucalipto. Tudo para exportação. É um modelo que dá lucro para alguns, mas condena à pobreza milhões. Veja o caso do Mato Grosso, tido como modelo: mais de 80% dos alimentos consumidos pelo povo dali têm que vir de outros Estados. Nós temos 40 milhões de brasileiros que dependem do Bolsa Família para comer e 18 milhões de trabalhadores adultos que não sabem ler. Foram fechadas 20 mil escolas no meio rural e os índices de pobreza não diminuíram. Essa é a consequência do agronegócio.
A maioria da população tem uma imagem favorável do agronegócio.
Ela pode até apoiar, enganada pela propaganda permanente. As consequências perversas do agronegócio atingem a toda população, quando destrói o meio ambiente e altera o clima até nas cidades, quando só produz usando venenos. Esses venenos destroem a biodiversidade, contaminam as águas e os alimentos.
A capacidade do MST para mobilizar pessoas e organizar ocupações de terras diminuiu. O Programa Bolsa Família é apontado como uma das principais causa dessa mudança. Outra causa seria o mercado de trabalho, que se tornou mais favorável à mão de obra menos qualificada, especialmente no setor da construção civil. Concorda com essa avaliação?
A diminuição das ocupações se deve a uma conjugação de diversos fatores. Do lado do latifúndio, houve uma avalanche de capital que foi para agricultura atraído pelos preços das commodities – que dão elevados lucros, aumentam o preço das terras e, com isso, bloqueiam a reforma agrária. Do lado dos trabalhadores, os salários aumentaram nas cidades, o que reforçou o êxodo rural. Há um bloqueio da reforma também no Judiciário e no Congresso, que não consegue nem regulamentar a lei que proíbe trabalho escravo. E tem a inoperância do governo, que abandonou as desapropriações. Os trabalhadores, percebendo que as desapropriações estão paradas, acabam desanimando, pois vêem seus parentes ficarem durante cinco, oito anos debaixo da lona preta, esperando por terra, sem solução. Mas tudo isso é conjuntural.
Acha que essa situação é passageira?
Sim. O problema da pobreza do campo e do número de trabalhadores rurais sem terra não foi resolvido. A retomada da luta, com mais força, é apenas uma questão de tempo.
A presidente Dilma Rousseff deixou claro desde a campanha eleitoral que não está preocupada com a criação de novos assentamentos, como quer o MST. O objetivo dela é reduzir a pobreza, com a elevação dos índices de produção das famílias já assentadas. Como vê isso?
O governo Dilma é hegemonizado pelos interesses do agronegócio. Os setores do governo que ainda defendem a reforma agraria são minoritários. O Estado brasileiro, por meio do Judiciário, do Congresso, das leis e a mídia, é controlado pela burguesia, que usa esses instrumentos para impedir a reforma. Nesse governo, a incompetência e a má vontade política são impressionantes. Há dois anos, durante uma reunião do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, a presidenta nos prometeu que iria priorizar assentamento de famílias sem terra nos projetos de irrigação do Nordeste, que é onde vivem os mais pobres. Pois bem, há 86 mil lotes vagos nos projetos há existentes, nos quais o governo poderia assentar 86 mil famílias. Mas ninguém toma providências.
Por que?
Porque, no botim dos partidos, o Ministério da Integração foi gerido a serviço das oligarquias nordestinas.
Como vê a situação dos assentamentos já existentes?
Enfrentam muitos problemas. Um deles é o da moradia. Temos um déficit de mais de 150 mil casas. Também é preciso ampliar os programas de compra direta de alimentos e da merenda escolar, uma conquista obtida durante o governo Lula. Ainda há falta de escolas no meio rural, porque o MEC continua incentivando as prefeituras a levarem as crianças para cidade, com o oferecimento de vans.
A presidente Dilma assinou um decreto determinando que os recursos destinados aos assentamentos sejam transferidos diretamente para as famílias beneficiadas, em vez de passarem antes por cooperativas, como acontecia. Isso não vai enfraquecer as cooperativas e a organização dos assentados? Acha que a medida está relacionada às afirmações de que o MST sobrevivia com o dinheiro repassado às cooperativas?
Isso é irrelevante. Os recursos de crédito nunca passaram por cooperativas e associações. O assentado precisa sempre fazer o contrato direto no banco. A não ser, em raros casos, de existência de cooperativa de crédito rural.
Ao mesmo tempo que se verifica o refluxo das ações na zona rural, aumentam as manifestações urbanas e surgem novas organizações. Como vê isso? O que achou das manifestações ocorridas em junho?
Toda mobilização social na política é muito positiva. E o lugar natural do povo participar ativamente da política é a rua. É o lugar para se manifestar, lutar e defender seus direitos e interesses. Vimos as mobilizações com bons olhos e, na maioria das cidades, nossa militância também participou. Elas deram um sinal de que precisamos de mudanças.
Que tipo de mudanças?
Nas áreas de moradia, transporte público, educação, saúde para todos, reforma agrária. Para fazer as mudanças, porém, precisamos de uma reforma política, que garanta a representatividade do povo na administração do Estado. A política foi sequestrada pelo financiamento privado das campanhas, que deixa todos os eleitos reféns de seus financiadores. Por isso, nós, dos movimentos sociais, estamos pautando a necessidade de lutarmos por uma reforma politica, que democratize a forma de eleger os representantes.
É possível fazer a reforma com esse Congresso?
Claro que não. Diante disso, estamos articulados numa grande plenária nacional de movimentos populares e entidades da sociedade para lutarmos por uma constituinte soberana e exclusiva, convocada para promover a reforma política. Durante todo esse ano vamos fazer um mutirão de debates e na semana do 7 de Setembro faremos um plebiscito popular, para que o povo vote e diga se quer ou não uma assembleia constituinte.
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Wingate
“O Brasil não será democrático se não democratizar a terra”
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, completa trinta anos neste mês de janeiro. Sua criação foi formalizada durante um encontro realizado em Cascavel, no Paraná, entre 20 e 23 de janeiro de 1984, com a presença de quase oitenta pessoas, de diversas partes do País. Entre elas encontrava-se João Pedro Stédile, que havia começado a participar de ações em defesa da reforma agrária por meio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Teologia da Libertação.
Na entrevista abaixo, Stédile, que faz parte da coordenação nacional do MST, analisa algumas das principais mudanças ocorridas em três décadas e as perspectivas do movimento. Ele afirma que defensores da reforma agrária são minoria no governo da presidente Dilma Rousseff, que estaria privilegiando cada vez mais o agronegócio. Na avaliação dele, é uma política errada, uma vez que o agronegócio promove a concentração de terras e “dá lucro para alguns, mas condena milhões à pobreza”.
O MST surgiu numa conjuntura muita diferente. O Brasil era mais rural, o agronegócio estava menos estruturado, a produção de alimentos era precária, os índices de pobreza rural e urbana eram mais altos. De lá para cá, o agronegócio se tornou altamente competitivo, a produção de alimentos cresceu e o Brasil é apontado como uma potência mundial. Faz sentido continuar insistindo na bandeira da reforma agrária?
A reforma agrária está na ordem do dia como necessidade para construirmos uma sociedade democrática e ter o desenvolvimento social. A terra é um bem da natureza e todos os brasileiros que quiserem trabalhar na terra tem esse direito. Não é justo nem democrático que a propriedade da terra esteja cada vez mais concentrada. Em torno de 1% dos proprietários controlam metade de todas as terras. E agora, pior, estão entregando a propriedade para empresas estrangeiras em detrimento das necessidades do povo. O Brasil nunca será democrático se não democratizar o acesso à terra, para que as pessoas tenham trabalho, renda e dignidade.
Na sua avaliação, o agronegócio não contribui para o desenvolvimento do País?
O agronegócio é uma falácia. É um modelo de produção que interessa aos grandes fazendeiros e às empresas transnacionais que controlam o comércio mundial. Nos último dez anos tivemos uma enorme concentração da propriedade da terra e da produção agrícola. Cerca de 80% das terras são utilizadas apenas para soja, milho, cana, pasto e eucalipto. Tudo para exportação. É um modelo que dá lucro para alguns, mas condena à pobreza milhões. Veja o caso do Mato Grosso, tido como modelo: mais de 80% dos alimentos consumidos pelo povo dali têm que vir de outros Estados. Nós temos 40 milhões de brasileiros que dependem do Bolsa Família para comer e 18 milhões de trabalhadores adultos que não sabem ler. Foram fechadas 20 mil escolas no meio rural e os índices de pobreza não diminuíram. Essa é a consequência do agronegócio.
A maioria da população tem uma imagem favorável do agronegócio.
Ela pode até apoiar, enganada pela propaganda permanente. As consequências perversas do agronegócio atingem a toda população, quando destrói o meio ambiente e altera o clima até nas cidades, quando só produz usando venenos. Esses venenos destroem a biodiversidade, contaminam as águas e os alimentos.
A capacidade do MST para mobilizar pessoas e organizar ocupações de terras diminuiu. O Programa Bolsa Família é apontado como uma das principais causa dessa mudança. Outra causa seria o mercado de trabalho, que se tornou mais favorável à mão de obra menos qualificada, especialmente no setor da construção civil. Concorda com essa avaliação?
A diminuição das ocupações se deve a uma conjugação de diversos fatores. Do lado do latifúndio, houve uma avalanche de capital que foi para agricultura atraído pelos preços das commodities – que dão elevados lucros, aumentam o preço das terras e, com isso, bloqueiam a reforma agrária. Do lado dos trabalhadores, os salários aumentaram nas cidades, o que reforçou o êxodo rural. Há um bloqueio da reforma também no Judiciário e no Congresso, que não consegue nem regulamentar a lei que proíbe trabalho escravo. E tem a inoperância do governo, que abandonou as desapropriações. Os trabalhadores, percebendo que as desapropriações estão paradas, acabam desanimando, pois vêem seus parentes ficarem durante cinco, oito anos debaixo da lona preta, esperando por terra, sem solução. Mas tudo isso é conjuntural.
Acha que essa situação é passageira?
Sim. O problema da pobreza do campo e do número de trabalhadores rurais sem terra não foi resolvido. A retomada da luta, com mais força, é apenas uma questão de tempo.
A presidente Dilma Rousseff deixou claro desde a campanha eleitoral que não está preocupada com a criação de novos assentamentos, como quer o MST. O objetivo dela é reduzir a pobreza, com a elevação dos índices de produção das famílias já assentadas. Como vê isso?
O governo Dilma é hegemonizado pelos interesses do agronegócio. Os setores do governo que ainda defendem a reforma agraria são minoritários. O Estado brasileiro, por meio do Judiciário, do Congresso, das leis e a mídia, é controlado pela burguesia, que usa esses instrumentos para impedir a reforma. Nesse governo, a incompetência e a má vontade política são impressionantes. Há dois anos, durante uma reunião do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, a presidenta nos prometeu que iria priorizar assentamento de famílias sem terra nos projetos de irrigação do Nordeste, que é onde vivem os mais pobres. Pois bem, há 86 mil lotes vagos nos projetos há existentes, nos quais o governo poderia assentar 86 mil famílias. Mas ninguém toma providências.
Por que?
Porque, no botim dos partidos, o Ministério da Integração foi gerido a serviço das oligarquias nordestinas.
Como vê a situação dos assentamentos já existentes?
Enfrentam muitos problemas. Um deles é o da moradia. Temos um déficit de mais de 150 mil casas. Também é preciso ampliar os programas de compra direta de alimentos e da merenda escolar, uma conquista obtida durante o governo Lula. Ainda há falta de escolas no meio rural, porque o MEC continua incentivando as prefeituras a levarem as crianças para cidade, com o oferecimento de vans.
A presidente Dilma assinou um decreto determinando que os recursos destinados aos assentamentos sejam transferidos diretamente para as famílias beneficiadas, em vez de passarem antes por cooperativas, como acontecia. Isso não vai enfraquecer as cooperativas e a organização dos assentados? Acha que a medida está relacionada às afirmações de que o MST sobrevivia com o dinheiro repassado às cooperativas?
Isso é irrelevante. Os recursos de crédito nunca passaram por cooperativas e associações. O assentado precisa sempre fazer o contrato direto no banco. A não ser, em raros casos, de existência de cooperativa de crédito rural.
Ao mesmo tempo que se verifica o refluxo das ações na zona rural, aumentam as manifestações urbanas e surgem novas organizações. Como vê isso? O que achou das manifestações ocorridas em junho?
Toda mobilização social na política é muito positiva. E o lugar natural do povo participar ativamente da política é a rua. É o lugar para se manifestar, lutar e defender seus direitos e interesses. Vimos as mobilizações com bons olhos e, na maioria das cidades, nossa militância também participou. Elas deram um sinal de que precisamos de mudanças.
Que tipo de mudanças?
Nas áreas de moradia, transporte público, educação, saúde para todos, reforma agrária. Para fazer as mudanças, porém, precisamos de uma reforma política, que garanta a representatividade do povo na administração do Estado. A política foi sequestrada pelo financiamento privado das campanhas, que deixa todos os eleitos reféns de seus financiadores. Por isso, nós, dos movimentos sociais, estamos pautando a necessidade de lutarmos por uma reforma politica, que democratize a forma de eleger os representantes.
É possível fazer a reforma com esse Congresso?
Claro que não. Diante disso, estamos articulados numa grande plenária nacional de movimentos populares e entidades da sociedade para lutarmos por uma constituinte soberana e exclusiva, convocada para promover a reforma política. Durante todo esse ano vamos fazer um mutirão de debates e na semana do 7 de Setembro faremos um plebiscito popular, para que o povo vote e diga se quer ou não uma assembleia constituinte.
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Wingate
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Publicado em 22/01/2014 às 22:11:57
TJ de Goiás aceita denúncia contra ex-senador Demóstenes Torres
O ex-senador será julgado por oito crimes de corrupção passiva, já que recebeu mais R$ 5 milhões de Carlinhos Cachoeira. O bicheiro, por sua vez, será julgado por corrupção ativa, assim como Cláudio Abreu.
(...)
Fonte: Jornal da Record/R7
http://noticias.r7.com/jornal-da-record ... 6155df2d2b
TJ de Goiás aceita denúncia contra ex-senador Demóstenes Torres
O ex-senador será julgado por oito crimes de corrupção passiva, já que recebeu mais R$ 5 milhões de Carlinhos Cachoeira. O bicheiro, por sua vez, será julgado por corrupção ativa, assim como Cláudio Abreu.
(...)
Fonte: Jornal da Record/R7
http://noticias.r7.com/jornal-da-record ... 6155df2d2b
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
24/1/2014 às 15h00
Advogado acusa Demóstenes de ameaçar degolá-lo
Boletim de ocorrência registra desentendimento sobre escritório de advocacia
Agência Estado
(...)
Fonte: R7/Estadão
http://noticias.r7.com/brasil/advogado- ... o-24012014
Advogado acusa Demóstenes de ameaçar degolá-lo
Boletim de ocorrência registra desentendimento sobre escritório de advocacia
Agência Estado
(...)
Fonte: R7/Estadão
http://noticias.r7.com/brasil/advogado- ... o-24012014
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Elementar, minha cara Watson.
Sandro Vaia - Blog do Noblat, 24.01.14.
A secretária dos Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, é uma personagem bastante peculiar. Como aquele neurótico Sherlock Holmes contemporâneo da série de TV “Elementary”, chega sempre alguns quilômetros antes dos fatos, deduz e decreta suas verdades antes que as provas as confirmem.
Com uma diferença: esse Sherlock moderno, antipático e arrogante, acerta quase sempre as suas deduções, por mais rocambolescas que sejam, e a ministra dificilmente dá uma dentro.
A primeira vez foi quando houve uma corrida a bancos no interior do Nordeste num final de semana porque alguém teria espalhado o boato de que o Bolsa Família ia acabar, e as pessoas tentaram se precaver fazendo saques em massa.
Antes de saber o que tinha acontecido, a ministra Sherlock sacou de sua lupa, examinou e, através do Twitter, deixou de lado o bom senso e as boas regras da concordância, e decretou: "Boatos sobre o fim do bolsa família deve (sic) ser coisa da central de notícias da oposição".
Quando a Caixa Econômica Federal informou que tudo havia sido provocado por um erro de seu próprio sistema operacional, a ministra Sherlock saiu de fininho e não reconheceu nem ao seu caro Watson -- no caso da série moderna, a sua cara Watson, já que o sábio doutor virou mulher -- que tinha cometido uma gafe elementar.
Agora a ministra saiu correndo na frente dos fatos novamente.
Todo mundo conhece a história: um jovem chamado Kaíque Augusto, homossexual de 17 anos, foi encontrado morto nos baixos de um viaduto no centro de São Paulo, e alguém viu no caso, antes que a polícia se manifestasse oficialmente, um bárbaro crime de ódio homofóbico.
Que militantes de uma causa saíram a clamar vingança antes de certificar-se do que de fato aconteceu, é até compreensível. Afinal, são militantes. Alguns deles vivem para isso e outros tiram disso seu sustento político-eleitoral.
Que uma autoridade pública de nível ministerial se dispa de sua responsabilidade moral e da liturgia do cargo para vestir a camisa de seu time, como se o governo fosse uma arquibancada pessoal, é simplesmente inconcebível.
Ao saber das primeiras suspeitas da família, que falava em assassinato, e das primeiras manifestações indignadas da militância, Maria do Rosário não se deu ao luxo de usar a prudência e assinou, sem nenhuma cautela, uma nota manifestando solidariedade à família de Kaíque, "assassinado brutalmente no último sábado".
Nenhuma dúvida, nenhuma vacilação, nem sequer o benefício da suspeita: a certeza absoluta do crime hediondo. E para espicaçar um pouco o governo de um adversário político, a informação de que a Secretaria "está acompanhando o caso junto às autoridades estaduais, no intuito de garantir a apuração rigorosa do caso e evitar a impunidade".
Uns dias depois a família reconheceu que, como suspeitava a polícia, Kaíque havia cometido suicídio.
Desculpas da secretária Sherlock? Nem pensar. Jogo político. Elementar, minha cara Watson.
Sandro Vaia - Blog do Noblat, 24.01.14.
A secretária dos Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, é uma personagem bastante peculiar. Como aquele neurótico Sherlock Holmes contemporâneo da série de TV “Elementary”, chega sempre alguns quilômetros antes dos fatos, deduz e decreta suas verdades antes que as provas as confirmem.
Com uma diferença: esse Sherlock moderno, antipático e arrogante, acerta quase sempre as suas deduções, por mais rocambolescas que sejam, e a ministra dificilmente dá uma dentro.
A primeira vez foi quando houve uma corrida a bancos no interior do Nordeste num final de semana porque alguém teria espalhado o boato de que o Bolsa Família ia acabar, e as pessoas tentaram se precaver fazendo saques em massa.
Antes de saber o que tinha acontecido, a ministra Sherlock sacou de sua lupa, examinou e, através do Twitter, deixou de lado o bom senso e as boas regras da concordância, e decretou: "Boatos sobre o fim do bolsa família deve (sic) ser coisa da central de notícias da oposição".
Quando a Caixa Econômica Federal informou que tudo havia sido provocado por um erro de seu próprio sistema operacional, a ministra Sherlock saiu de fininho e não reconheceu nem ao seu caro Watson -- no caso da série moderna, a sua cara Watson, já que o sábio doutor virou mulher -- que tinha cometido uma gafe elementar.
Agora a ministra saiu correndo na frente dos fatos novamente.
Todo mundo conhece a história: um jovem chamado Kaíque Augusto, homossexual de 17 anos, foi encontrado morto nos baixos de um viaduto no centro de São Paulo, e alguém viu no caso, antes que a polícia se manifestasse oficialmente, um bárbaro crime de ódio homofóbico.
Que militantes de uma causa saíram a clamar vingança antes de certificar-se do que de fato aconteceu, é até compreensível. Afinal, são militantes. Alguns deles vivem para isso e outros tiram disso seu sustento político-eleitoral.
Que uma autoridade pública de nível ministerial se dispa de sua responsabilidade moral e da liturgia do cargo para vestir a camisa de seu time, como se o governo fosse uma arquibancada pessoal, é simplesmente inconcebível.
Ao saber das primeiras suspeitas da família, que falava em assassinato, e das primeiras manifestações indignadas da militância, Maria do Rosário não se deu ao luxo de usar a prudência e assinou, sem nenhuma cautela, uma nota manifestando solidariedade à família de Kaíque, "assassinado brutalmente no último sábado".
Nenhuma dúvida, nenhuma vacilação, nem sequer o benefício da suspeita: a certeza absoluta do crime hediondo. E para espicaçar um pouco o governo de um adversário político, a informação de que a Secretaria "está acompanhando o caso junto às autoridades estaduais, no intuito de garantir a apuração rigorosa do caso e evitar a impunidade".
Uns dias depois a família reconheceu que, como suspeitava a polícia, Kaíque havia cometido suicídio.
Desculpas da secretária Sherlock? Nem pensar. Jogo político. Elementar, minha cara Watson.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Ela cometeu um crime, mas vai ficar por isso mesmo...
Agora o negócio do MP é investigar ação de policial civil quando prende traficante na Cracolândia. Virou abuso de força jogar bomba de gás em multidão de drogados que taca pedra e dá paulada em agente público de segurança.
Agora o negócio do MP é investigar ação de policial civil quando prende traficante na Cracolândia. Virou abuso de força jogar bomba de gás em multidão de drogados que taca pedra e dá paulada em agente público de segurança.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Policiais civis de SP são suspeitos de comandar tráfico na cracolândiareagan escreveu:Ela cometeu um crime, mas vai ficar por isso mesmo...
Agora o negócio do MP é investigar ação de policial civil quando prende traficante na Cracolândia. Virou abuso de força jogar bomba de gás em multidão de drogados que taca pedra e dá paulada em agente público de segurança.
DE SÃO PAULO
24/01/2014 03h45
A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo investiga se parte do tráfico na região da cracolândia é comandada por dois policiais civis, um deles do departamento criado unicamente para combater esse tipo de crime: o Denarc.
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/ ... ndia.shtml
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Como o PT ajudou o PSDB a virar à direita
O PT se mudou para o centro, distendeu-o, e tornou praticamente inviável a existência de uma coalizão de centro-esquerda
por Wanderley Guilherme dos Santos — publicado 28/01/2014 06:16
http://www.cartacapital.com.br/revista/ ... m-462.html
O PSDB não chegou à direita pelas próprias pernas. Teve a ajuda do Partido dos Trabalhadores (PT), que se mudou para o centro, distendeu-o, e tornou praticamente inviável a existência de uma coalizão de centro-esquerda. Aécio Neves nunca foi reformista, mas julgá-lo um direitista genético é exercício de ativista dogmático. O centro distendido sob hegemonia do PT empurrou a oposição para a vizinhança da extrema-direita, precipitando a derrota intestina de José Serra, agarrado a um reacionarismo impensável em quem discursou no comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964.
À oposição restam bandeiras pragmaticamente vazias, tais como a encenada indignação moral e acenos genéricos de eficiência. Sem falar no reacionarismo religioso e na defesa de um livre-mercadismo de fachada. Como é notório, só com brutal intervenção do Estado um governo de centro-direita será capaz de subverter a legislação petrolífera, os programas Mais Médicos e Minha Casa Minha Vida. Mesmo para fazê-los definhar, um governo de centro-direita precisará de boa dose de coação sobre uma burocracia estatal comprometida com o progresso, ademais de extrair enorme boa vontade do Congresso Nacional.
Esse mesmo Congresso, aviltado pela imprensa conservadora e pela esquerda caolha, foi a instituição que aprovou o regime de partilha do pré-sal, ainda no governo Lula, e tem apoiado as principais políticas sociais do governo Dilma Rousseff. Uma política de liberalismo desenfreado só será possível com a transformação do Estado brasileiro em variante do bismarckismo alemão. O avesso do que o eleitorado conservador deseja.
O centro estendido do PT também trouxe dificuldades para o campo progressista. A mais óbvia transparece na acusação de reacionarismo a qualquer opinião divergente, autônoma em relação à cadeia de comando dos líderes do centro-baleia, a começar pelas palavras de ordem do Partido dos Trabalhadores. Embutida na interdição esconde-se menor probabilidade de que deficiências reais de governança sejam proclamadas por aliados. Avanços sociais estão conectados a manifestações de inconformismo, sem automática identificação com a oposição do momento. Durante os governos Vargas e JK sucederam-se greves e passeatas a favor de políticas nacionalistas e de críticas a medidas específicas. As manifestações não atendiam a nenhuma convocação da direita, do tipo “Vem pra rua você também”, que atualmente apavora a esquerda e o governo. O governo opera com déficit de crítica consistente.
Reflexo do ambiente intoxicado, o sindicalismo operário emudeceu. Limitado a manifestos plenos de estereótipos, copia a genérica pauta direitista – ensino público de qualidade (nunca haverá suficiente, o conhecimento progride), saúde pública, transporte, moradia, segurança. Elegibilidade para os analfabetos, que é bom, nada; participação dos trabalhadores na administração das grandes corporações, nem pensar. Não mais do que dois exemplos de uma pauta latente, ausente da cogitação sindical. Os sindicatos não se recuperaram do choque de haver perdido o controle das ruas. Reescrever ideologicamente a história de junho de 2013 não garante a recuperação de iniciativa crível, seja por decreto, seja por currículo de glórias passadas.
Outra consequência da consolidação do centro expandido foi a instauração de um vazio institucional à esquerda, vicariamente ocupada por aglomerado de grupos heterogêneos. A coalizão parlamentar do governo tornou irrelevante o apoio da centro-esquerda. Sem considerar o PMDB, cuja análise não é simples, a coalizão do PT tem como coligados numéricos o PP/PROS, o PSD, o PR/PTdoB/PRP, seguidos, até recentemente, pelo PSB, em parte pelo PDT e pelo PCdoB. O total de cadeiras desse último grupo (PSB, PDT e PCdoB) não passava de 56. Só o PP, o PR e o PROS detêm um conjunto de 89 cadeiras na Câmara dos Deputados. A cooperação costurada entre os partidos deixou o PT a vários passos de distância de seu parceiro ideológico adjacente, o PSB (24 cadeiras). O rumo do governo é vigiado pelo núcleo duro da centro-direita.
Independente dos motivos do governador Eduardo Campos, cujas alianças provocam resistências entre os socialistas, a saída do PSB do governo só surpreende pelo tempo que demorou a acontecer. Para um partido que busca crescer nas eleições proporcionais pela via ideológica da centro-esquerda, talvez a oportunidade tenha sido perdida. A tentativa de enfiar uma cunha entre o centro expandido do PT e o PSDB sofre das dificuldades diante da coalizão no poder e da incoerência ao aceitar o direitismo do Rede como segundo em comando (e há quem duvide que o Rede seja mesmo o segundo em comando) além das oscilações na conduta do candidato Eduardo Campos.
O vazio à esquerda tem sido ocupado por grupos inconformados com o estado do mundo, em geral. Desde logo, esse burburinho nada tem a ver com os “precariados” de Guy Standing (The Precariat – London, Bloomsbury, 2011), tese recém-importada. Ao contrário de desempregados, trabalhadores temporários, classe média empobrecida e com miséria à vista, os manifestantes de junho de 2013 eram na maioria jovens de classe média ou empregados com salários acima de dois salários mínimos (30,3% deles em 20 de junho de 2013, no Rio de Janeiro, segundo a Plus Marketing consultoria) e segmentos em processo de ascensão social. Outras pesquisas registraram o nível superior de estudos de expressivo número de participantes. Economicamente, o elevado custo do meio utilizado para a mobilização – as redes sociais eletrônicas – exclui os presumidos “precariados” da frequência a participações. Vale registrar que, ao contrário da Europa, à intensidade das manifestações seguiu-se a rapidez de sua dissolução em números de manifestações, de participantes e de cidades contagiadas.
Além do equívoco da classificação de “precariados”, é simplismo considerar que uma convocação fascista obteria tamanho sucesso. Houve a infiltração fascistoide posterior, que terminou por se apropriar da liderança dos acontecimentos. A fragilidade estratégica desses aglomerados, contudo, revelou-se na velocidade com que os grupos de professores, enfermeiras, a maioria de funcionários públicos, foram abandonando as marchas. Reconhecer as diferenças entre os movimentos de 2013 e os movimentos europeus permite supor que as manifestações não aderiram, aqui, ao precipitado diagnóstico de fracasso da social democracia brasileira.
A rejeição atingia todas as formas de participação institucionalizada. O que havia e há é um vácuo desde que a marcha para o centro levou o governo a esconder sob inegáveis vitórias econômicas a pauta de modernização do pluralismo social brasileiro: aborto assistido, relações homoafetivas, regulamentação do uso de drogas recreativas, pesquisas com seres vivos, temas, entre outros, eliminados por imposição da direita do centro. A Presidência tornou-se forte parlamentarmente ao preço de se enfraquecer perante a sociedade em mudança.
Algo de novo existe. Trata-se de inédito tipo de intervenção política. Grosso modo, a análise do capitalismo toma por base as classes, as corporações profissionais e cristalizados grupos de interesse. Entendo que os movimentos recentes são constituídos pelo ajuntamento de atores menos abrangentes do que as classificações preponderantes. Eles proliferam como pequenas coletividades de exígua tolerância e com exigentes critérios de pertencimento. Denomino-os, sem ofensa, de “micróbios” (pequena vida), primeiro em razão de seu tamanho, e pelo fato de que não possuem denominador comum. Nem todos são patogênicos ou letais, que os há benéficos ao exercício da democracia.
Nessa ecologia há lugar para microlegendas, como o PSTU e o PSOL, que encontram em tal cenário a rara oportunidade de serem notados. Comparecem também os grupos nanicos reivindicando direitos (moradores do bairro tal ou qual) ou só comemorando a própria existência, avessos a partidos, sindicatos ou corporações de ofício. São erupções intensas de vida política, mas de curta duração. Eficazes no curto prazo, sem influência em período mais extenso. Eleições são fenômenos de curto prazo, mas o fenômeno dos “micróbios” não é só eleitoralmente relevante. É uma criação da sociedade contemporânea e, portanto, compatível com a convocatória: “Vem pra rua você também”. Os democratas deviam adotá-la e voltar às ruas para conquistá-las.
*Artigo publicado originalmente com o título Vem pra rua você também, na edição 783 de CartaCapital
- rodrigo
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Imagina quantos radicais de aluguel nós nos deparamos diariamente...
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Tuminha faz papel de bobo na "Roda Morta"
Tuma Jr só não assassina reputação porque não tem credibilidade
Por Paulo Nogueira, no Diario do Centro do Mundo
Romeu Tuma Jr, como era previsível, foi ao Roda Viva, hoje o programa mais reacionário da televisão brasileira.
Se você quer aparecer no Roda Viva fale mal do PT. Suas chances imediatamente aparecerão.
Tuma Jr estava claramente desconfortável. Arfava, suava, vagava, se perdia em frases longas frequentemente sem nexo.
O peso excessivo do entrevistado e o calor deste verão contribuíram para dar um ar opressivo à entrevista.
Tuma Jr carrega um peso morto, seu “livro bomba”, aspas. Como era esperado por todo mundo, excetuada a direita mais petrificada, o livro não deu em nada.
Ontem, o que se viu foi o triunfo da esperança: a tentativa de salvar a obra de seu destino inevitável, o lixo.
O coveiro do livro foi, curiosamente, FHC. Coube a ele liquidar a maior “denúncia” de Tuma Jr: a de que Lula foi “informante” da polícia na ditadura.
Num programa de tevê, FHC descartou essa acusação enfaticamente – e com um certo desprezo pela natureza dela e de seu formulador.
É uma acusação, de fato, desprezível. Tuma Jr invoca seu pai morto para dizer que Lula era informante. Repito: a testemunha de Tuma Jr é um cadáver.
O livro só não foi inteiramente ignorado por causa do brutal esforço da Veja, a olavete da mídia brasileira, em fazer dele uma coisa séria.
Mas a Veja, se pôde muito na era Collor, hoje pode pouco, muito pouco. Mesmo dando um espaço descomunal para Tuma Jr, nada aconteceu.
A bomba não explodiu.
Explodiria, sim, no colo do autor, se a justiça brasileira funcionasse. Mas não funciona. Você processa alguém por calúnia e a ação vai terminar em mãos amigas.
O próprio Nunes, processado por Collor há algum tempo, foi inocentado depois de chamá-lo de “chefe de bando”.
Collor ponderou que o STF o tinha absolvido de todas acusações, razão pela qual ele está em liberdade e retomou sua carreira política. Mas a juíza que avaliou o caso achou que “chefe de bando” não era ofensa. Assim funciona a justiça brasileira.
Falei algumas vezes que a sorte de diretores da Petrobras caluniados por Paulo Francis foi poder processá-lo na justiça americana, uma vez que as acusações tinham sido feitas em Nova York, no programa Manhattan Connection.
FHC, então presidente, tentou convencer os executivas a desistir da ação, mas sem sucesso. Serra, ministro, também interveio, mas como FHC fracassou.
Como a justiça americana é diferente da brasileira, Paulo Francis se viu na iminência de pagar uma indenização brutal. Atormentado, morreu do coração.
Tuma Jr, no programa, se gabou de que ninguém citado em seu livro o processou. Claro. Estamos no Brasil. Você processa, se desgasta, é acusado de censor e, como no caso Collor X Nunes, não acontece nada.
Você ainda é perseguido, depois. Francis teria com certeza aumentado o volume de suas infâmias se o processo fosse no Brasil, absolutamente confiante na impunidade.
Tuma Jr, como Francis, não tem provas. Isso lhe foi cobrado ontem por alguns entrevistadores. Ele, pitorescamente, disse que tinha escrito um livro, e não montado um inquérito, o que o deixaria sem a obrigação de provar acusações.
Imagino-o dando esta explicação num tribunal americano, e faço uma pausa para rir.
Foi igualmente pitoresca a observação de Augusto Nunes a respeito das provas. Ele disse ter visto, e as definiu como “muito contundentes”.
Bem, quem acredita em Nunes acredita em tudo.
A coisa mais próxima de evidência dada por Tuma Jr foi uma foto na qual Lula, preso, aparece fumando num carro da polícia, há coisa de 30 anos.
A foto, de extraordinária banalidade, seria a prova de “privilégios” dados a Lula em troca de informações.
Tuma Jr fala no livro em “assassinato de reputações”. Mas o que ele fez foi exatamente uma tentativa de assassinar reputação. Só não foi bem sucedido porque, fora não ter credibilidade em dose mínima, cadáveres não são muito aceitos como testemunhas, principalmente quando invocados para apoiar uma acusação que, vivos, jamais fizeram.
Ainda no campo da comédia, foi engraçado ver a expectativa – simplesmente lunática – de irmãos de causa de Tuma Jr e Augusto Nunes.
No Twitter, Lobão e Claudio Tognolli (que escreveu o livro de Tuma Jr) publicaram vaticínios apocalípticos.
O Brasil jamais seria o mesmo depois do programa, segundo eles.
Eles estavam apostando na idiotice da sociedade. Mas já faz tempo que a pessoa que faz este tipo de aposta acaba perdendo – e fica, ela sim, no papel de idiota.
Lula e seus amigos, muito preocupados com as calúnias de Tuminha
http://www.ocafezinho.com/2014/02/04/tu ... Ainw5.dpuf
Tuma Jr só não assassina reputação porque não tem credibilidade
Por Paulo Nogueira, no Diario do Centro do Mundo
Romeu Tuma Jr, como era previsível, foi ao Roda Viva, hoje o programa mais reacionário da televisão brasileira.
Se você quer aparecer no Roda Viva fale mal do PT. Suas chances imediatamente aparecerão.
Tuma Jr estava claramente desconfortável. Arfava, suava, vagava, se perdia em frases longas frequentemente sem nexo.
O peso excessivo do entrevistado e o calor deste verão contribuíram para dar um ar opressivo à entrevista.
Tuma Jr carrega um peso morto, seu “livro bomba”, aspas. Como era esperado por todo mundo, excetuada a direita mais petrificada, o livro não deu em nada.
Ontem, o que se viu foi o triunfo da esperança: a tentativa de salvar a obra de seu destino inevitável, o lixo.
O coveiro do livro foi, curiosamente, FHC. Coube a ele liquidar a maior “denúncia” de Tuma Jr: a de que Lula foi “informante” da polícia na ditadura.
Num programa de tevê, FHC descartou essa acusação enfaticamente – e com um certo desprezo pela natureza dela e de seu formulador.
É uma acusação, de fato, desprezível. Tuma Jr invoca seu pai morto para dizer que Lula era informante. Repito: a testemunha de Tuma Jr é um cadáver.
O livro só não foi inteiramente ignorado por causa do brutal esforço da Veja, a olavete da mídia brasileira, em fazer dele uma coisa séria.
Mas a Veja, se pôde muito na era Collor, hoje pode pouco, muito pouco. Mesmo dando um espaço descomunal para Tuma Jr, nada aconteceu.
A bomba não explodiu.
Explodiria, sim, no colo do autor, se a justiça brasileira funcionasse. Mas não funciona. Você processa alguém por calúnia e a ação vai terminar em mãos amigas.
O próprio Nunes, processado por Collor há algum tempo, foi inocentado depois de chamá-lo de “chefe de bando”.
Collor ponderou que o STF o tinha absolvido de todas acusações, razão pela qual ele está em liberdade e retomou sua carreira política. Mas a juíza que avaliou o caso achou que “chefe de bando” não era ofensa. Assim funciona a justiça brasileira.
Falei algumas vezes que a sorte de diretores da Petrobras caluniados por Paulo Francis foi poder processá-lo na justiça americana, uma vez que as acusações tinham sido feitas em Nova York, no programa Manhattan Connection.
FHC, então presidente, tentou convencer os executivas a desistir da ação, mas sem sucesso. Serra, ministro, também interveio, mas como FHC fracassou.
Como a justiça americana é diferente da brasileira, Paulo Francis se viu na iminência de pagar uma indenização brutal. Atormentado, morreu do coração.
Tuma Jr, no programa, se gabou de que ninguém citado em seu livro o processou. Claro. Estamos no Brasil. Você processa, se desgasta, é acusado de censor e, como no caso Collor X Nunes, não acontece nada.
Você ainda é perseguido, depois. Francis teria com certeza aumentado o volume de suas infâmias se o processo fosse no Brasil, absolutamente confiante na impunidade.
Tuma Jr, como Francis, não tem provas. Isso lhe foi cobrado ontem por alguns entrevistadores. Ele, pitorescamente, disse que tinha escrito um livro, e não montado um inquérito, o que o deixaria sem a obrigação de provar acusações.
Imagino-o dando esta explicação num tribunal americano, e faço uma pausa para rir.
Foi igualmente pitoresca a observação de Augusto Nunes a respeito das provas. Ele disse ter visto, e as definiu como “muito contundentes”.
Bem, quem acredita em Nunes acredita em tudo.
A coisa mais próxima de evidência dada por Tuma Jr foi uma foto na qual Lula, preso, aparece fumando num carro da polícia, há coisa de 30 anos.
A foto, de extraordinária banalidade, seria a prova de “privilégios” dados a Lula em troca de informações.
Tuma Jr fala no livro em “assassinato de reputações”. Mas o que ele fez foi exatamente uma tentativa de assassinar reputação. Só não foi bem sucedido porque, fora não ter credibilidade em dose mínima, cadáveres não são muito aceitos como testemunhas, principalmente quando invocados para apoiar uma acusação que, vivos, jamais fizeram.
Ainda no campo da comédia, foi engraçado ver a expectativa – simplesmente lunática – de irmãos de causa de Tuma Jr e Augusto Nunes.
No Twitter, Lobão e Claudio Tognolli (que escreveu o livro de Tuma Jr) publicaram vaticínios apocalípticos.
O Brasil jamais seria o mesmo depois do programa, segundo eles.
Eles estavam apostando na idiotice da sociedade. Mas já faz tempo que a pessoa que faz este tipo de aposta acaba perdendo – e fica, ela sim, no papel de idiota.
Lula e seus amigos, muito preocupados com as calúnias de Tuminha
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Bob Fernandes - Avacalhação e desrespeito alimentam clima de violência
Terra Magazine
05 de Fevereiro de 2014 às 20h56
http://terramagazine.terra.com.br/video ... 15827.html
Terra Magazine
05 de Fevereiro de 2014 às 20h56
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Corram, os comunistas estão chegando
As cinco explicações para o fato de, na segunda década do século XXI, muitos ainda temerem o comunismo
por José Antonio Lima — publicado 06/02/2014 11:18, última modificação 06/02/2014 14:09
http://www.cartacapital.com.br/politica ... -8968.html
Memorial às vítimas do comunismo
O memorial às vítimas ao comunismo em Praga, na República Tcheca. Uma placa dedica à obra "não apenas aos que foram mortos ou executados, mas a todos cujas vidas foram arruinadas pelo despotismo totalitário"
Quando eu tinha sete anos, um tio costumava visitar a minha casa com um alerta para o meu pai. "Zé, se este homem ganhar, duas, três famílias vão dividir este apartamento com vocês". O ano era 1989, o homem era Luiz Inácio Lula da Silva. Desde então, o muro de Berlim caiu, a Alemanha se reunificou, a Tchecoslováquia se separou, a União Soviética se dissolveu em 15 Estados diferentes e os últimos países nomeadamente comunistas nem mais conseguem sustentar sua ideologia, apesar de ostentarem o lado mais horrendo de sua prática, o autoritarismo. Não sei que fim levou aquele tio, mas o temor saliente dos comunistas ainda persiste no Brasil. O que explica isso? A resposta para tal pergunta, no contexto brasileiro, está na interação de pelo menos cinco fatores.
1 - O primeiro deles é o submundo da internet. Como todas as outras pessoas, os teóricos da conspiração encontraram na rede um ambiente perfeito para dialogar com seus pares. Em fóruns e sites específicos, podem expor seus pensamentos e "desenvolve-los" em contato com ideólogos de quinta categoria e dublês de cientistas políticos. Nas redes sociais e caixas de comentários, duelam com seus opositores, os quais enfrentam com suas "verdades", geralmente não corroboradas por provas. A internet, assim, funciona como incubadora e providencia as ferramentas para aglutinar os teóricos da conspiração de diversas vertentes.
2 - O conteúdo da teoria do “golpe comunista” vem do mundo não virtual. Até hoje, o Brasil não fez um amplo reexame do que foi a ditadura, sua origem, realidade e consequências. A culpa por esta situação reside no Planalto – Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva carregarão em suas biografias o apoio tácito à política do esquecimento, que nunca enfrentaram. Sob a administração Dilma Rousseff foram criadas as Comissões da Verdade, mas elas enfrentam grandes obstáculos. Nada é mais representativo da ânsia em manter intocados os pecados da ditadura do que a Lei da Anistia. Em 2010, o STF referendou a lei sob o argumento de que a anistia foi fruto de um “acordo político” entre governo e oposição. Na realidade, o acordo previa anistia apenas para os perseguidos políticos, não para agentes do Estado que cometeram crimes de lesa humanidade.
Essa política do esquecimento manteve intocadas diversas outras farsas daquele período, entre elas a de que João Goulart planejava um golpe comunista. Esta lenda, decisiva na aglutinação da oposição a Jango, era considerada verdadeira pelos líderes do golpe, mas, como escreveu o historiador Rodrigo Patto Sá Motta, eles tinham uma “avaliação imprecisa da extensão” dela e, mesmo assim, “se esforçaram para convencer o público de que os bárbaros estavam à porta”. Sem o amplo reexame da ditadura, o que o Brasil experimentou foi a extensão desta mentira deslavada até os dias de hoje. A farsa sobre o complô comunista, assim, não é vista como o fato que é, mas como uma “opinião”.
3 - A terceira questão na base do medo comunista é a resiliência da retórica anti-petista. Como outros partidos em diversos países no pós-guerra Guerra Fria, o PT representa (ou representou?) a chegada de forças populares ao poder. Símbolo da esquerda latino-americana, o Partido dos Trabalhadores ainda instiga em alguns o medo de 1989, apesar de haver um enorme fosso entre as realizações boas e ruins das administrações petistas e o comunismo. Os lucros de montadoras, bancos e empreiteiras nos últimos anos, além da nova classe consumidora inserida ao sistema capitalista são apenas alguns dos exemplos disso.
Por trás desta falsa conexão entre o PT e o comunismo está uma visão de mundo reducionista, fruto de um raciocínio primitivo, que atrela qualquer grupo ou ato da esquerda política ao bolchevismo. O messias dessa ideia é Olavo de Carvalho. Em coluna publicada no Valor Econômico em 31 de janeiro, Joel Pinheiro explicou de forma didática a teoria olavista:
De acordo com Olavo de Carvalho, o esquerdismo vai muito além da política. Toda a cultura está tomada pelo marxismo cultural e a inversão de valores por ele efetuada. O pensamento e os slogans da esquerda são hegemônicos e constituem, assim como o PT, parte de um processo para implantar o comunismo na América Latina via o Foro de São Paulo, organização que reúne os principais partidos e movimentos de esquerda no continente.
Neste contexto, a proximidade do PT com outros governos sul-americanos de origem popular, como era o de Hugo Chávez na Venezuela e é o de Evo Morales na Bolívia, é vista como “prova” da conspiração comunista.
4 - O quarto fator a estimular o medo do comunismo é a incapacidade de determinados setores da esquerda brasileira de se distanciarem desse tipo de regime. Há uma estranha simpatia a regimes comunistas, notadamente o de Cuba, talvez derivada da impressão de que o princípio do comunismo, “no fundo, no fundo”, é moralmente superior ao de outros sistemas. Ainda que fosse este o caso, poucos comportamentos são mais moralmente condenáveis do que defender regimes que destruíram as vidas de milhões de pessoas, como foi o caso da União Soviética de Joseph Stálin. Conversar com alguém que viveu sob esse tipo de regime ou simplesmente visitar um país de passado comunista mostra o tamanho da falta de respeito, para dizer o mínimo, em que se consiste a prática de defender o comunismo, mas lá no país dos outros.
5- O quinto fator é a grande imprensa brasileira, na qual vigora uma versão “disfarçada” do olavismo (com as exceções de Paulo Eduardo Martins e Rachel Sheherazade, apresentadores do SBT, que não economizam na verborragia). Apenas em 2014, muitos exemplos se acumularam. Demétrio Magnoli afirmou que a reeleição de Dilma configuraria a formação de um “regime” no Brasil; Arnaldo Jabor alertou sobre um “perigo vermelho”. Não faltaram referências, ainda, ao “bolivarianismo” e a uma suposta influência no Brasil do governo de Cristina Kirchner, sobre a qual não se tem qualquer indício real. O item revelador do “alto olavismo” da imprensa é, entretanto, o regime cubano. Seja a presença de Yoani Sanchez por aqui ou a inauguração do Porto de Mariel, Cuba é capaz de transformar o Brasil numa réplica do condado de Miami Dade, pedacinho da Flórida em que o anticastrismo é a identidade coletiva e a Lei Helms-Burton (a que mantém o boicote a Cuba), a constituição. Negociar com a Arábia Saudita, a China e ditaduras africanas é bom. E com Cuba? Aí não pode. É um caso bizarro de moralismo seletivo.
Quando este tipo de comentário escapa dos editoriais e páginas de opinião e atinge o noticiário a situação piora. Não é difícil identificar um golpe de Estado, mas a grande imprensa brasileira tem pesos e medidas diferentes para fazer isso. Em julho, todos os grandes veículos usaram o termo golpe para identificar a derrubada do presidente do Egito. Em 2009, em Honduras, e 2012, no Paraguai, quando caíram, respectivamente, Manuel Zelaya e Fernando Lugo, o termo golpe foi suprimido deliberadamente. Em comum entre Zelaya e Lugo, o fato de serem ligados à esquerda política. Para grande parte dos grandes veículos brasileiros, entretanto, aqueles movimentos não se tratavam de golpes, exatamente como o que apoiaram em 1º de abril de 1964 e que derrubou João Goulart.
Talvez outros fatores influenciem o medo do "perigo vermelho", como as experiências pessoais de quem sofre desta fobia. O mais lamentável de tudo isso é o tempo e a energia gastos numa discussão inócua. É impossível que de uma discussão sobre um sistema político-ideológico fracassado e superado surja algo minimamente útil para resolver os inúmeros problemas do Brasil.
- irlan
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Capaz de vir mais do mesmo...
Estava vendo uns slides do Terra,a economia brasileira contraiu agora nos primeiros anos dessa nova década?
Estava vendo uns slides do Terra,a economia brasileira contraiu agora nos primeiros anos dessa nova década?
Na União Soviética, o político é roubado por VOCÊ!!