Social-Desenvolvimentismo e Novo-Desenvolvimentismo: Convergências e Divergências
Fonte:
http://fernandonogueiracosta.wordpress. ... ergencias/
Posted on 01/07/2013 by Fernando Nogueira da Costa
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Em princípio, há grande identificação dos social-desenvolvimentistas com a abordagem histórica e estratégica de Bresser-Pereira, pioneiro da corrente auto denominada Novo-Desenvolvimentismo. Eles enxergam o nacionalismo também com uma ótica territorial de integração regional socioeconômica. Atualizam o intervencionismo de outrora com a concepção de coordenação reguladora. Apoiam a volta da política industrial à agenda nacional, distinguindo prioridades entre a Indústria de Transformação, dada sua necessidade de incentivos para superar o obsoletismo tecnológico e concorrer com a China, e a Indústria Extrativa, elevando sua capacidade de atender ao mercado chinês. Concordam a respeito da importância estratégica de observar a ecologia, por exemplo, a preservação da biodiversidade da Amazônia como um potencial de desenvolvimento da indústria brasileira de fármacos.
Quanto à estratégia internacional, os social-desenvolvimentistas entendem que a política de internacionalização de empresas brasileiras não merece a crítica neoliberal de “política de seleção dos campeões nacionais”. Enxergam a formação do bloco regional, seja pelo Mercosul, seja pela Unasul, como fundamental tanto para a ampliação do “mercado interno”, quanto para a extensão das cadeias produtivas e de infraestrutura logística pela América do Sul. Os acordos comerciais bilaterais se impõem, agora, como uma alternativa capaz de abrir alguns mercados face ao protecionismo vigente mundialmente.
No entanto, os social-desenvolvimentistas e os novos-desenvolvimentistas não convergem em tudo. Antes, dizia-se da esquerda brasileira que ela se aliava na tática conjuntural (luta armada) e se dividia na estratégia futura (modelo de socialismo). Hoje, talvez se possa dizer que os economistas de esquerda divergem no curto prazo (política econômica) e convergem no longo prazo (estruturalismo).
Por exemplo, eu não concordo nem com o diagnóstico e nem com a terapia do Dr. José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da UnB e vice-presidente da Associação Keynesiana Brasileira, identificado como membro do Novo-Desenvolvimentismo. Em artigo intitulado “Desenvolvimentismo Sem Consistência” (Valor, 18/06/13), ele critica “a inconsistência do modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil no final do governo Lula e aprofundado nos dois primeiros anos da presidente Dilma. Esse modelo de desenvolvimento baseia-se na ideia do desarollo hacia dentro [sic]. Trata-se de um modelo no qual as políticas de redistribuição de renda e de aumento real do salário mínimo, em conjunto com uma forte expansão do crédito bancário, deveriam estimular um vigoroso crescimento dos gastos de consumo, o que levaria os empresários a aumentar os gastos de investimento, permitindo assim um aumento simultâneo da capacidade produtiva e da produtividade do trabalho. Nesse caso, seria possível obter um elevado crescimento do PIB e dos salários reais, ao mesmo tempo em que a inflação seria mantida sob controle. Esse modelo de desenvolvimento, no entanto, se mostrou inconsistente no caso brasileiro. O forte crescimento da demanda doméstica no período (2007-2012) levou o desemprego a níveis historicamente baixos, fazendo com que os salários reais crescessem acima da produtividade do trabalho, exacerbando a perda de competitividade decorrente da apreciação cambial acumulada desde 2005. Para reverter a perda de competitividade seria necessário uma forte desvalorização cambial, o que causaria uma forte elevação da taxa de inflação, a não ser que seu efeito fosse contrabalançado por uma política fiscal mais apertada. O problema é que, desde 2008, a política fiscal brasileira tem sido expansionista – além de ter um viés em consumo e custeio, em vez de investimento – tornando impossível um ajuste não inflacionário da taxa real de câmbio. Em suma, o modelo de desenvolvimento brasileiro não pode alcançar simultaneamente dois objetivos, a saber: inflação baixa e estável e câmbio competitivo. Faz-se necessário sacrificar um objetivo para (tentar) alcançar o outro.”
O novo-desenvolvimentismo propõe sacrificar os salários reais dos trabalhadores, base de apoio político do atual governo, em nome de beneficiar os preços em dólares dos produtos dos industriais, base de apoio político do neoliberalismo. O social-desenvolvimentismo prioriza o controle da inflação e o desenvolvimento sustentado pela ampliação do mercado interno, isto é, crescimento da renda real e do emprego com política social ativa. Isto quanto à prioridade em curto prazo: o combate à retomada da inflação.
Quanto ao modelo de desenvolvimento em longo prazo, na verdade, os social-desenvolvimentistas acham ultrapassada a dicotomia desarollo hacia adentro versus desarollo hacia afuera. A participação percentual das exportações no PIB do Brasil gira em torno de 10% e do fluxo corrente de comércio (exportação + importação) em torno de 20% do PIB, ou seja, o saldo líquido desse comércio exterior está muito distante de dar dinamismo e sustentar o crescimento da economia brasileira a la modelo exportador asiático.
Por todas essas razões econômicas, sociais e políticas, os social-desenvolvimentistas colocam a inclusão social no mercado interno como a prioridade estratégica brasileira. Soma-se aos investimentos em infraestrutura, logística e extração de petróleo em águas profundas, para o País se tornar superavitário no balanço de transações correntes e o Fundo Social de Riqueza Soberana transferir seus rendimentos para Educação, Ciência e Tecnologia.
Em suma, os desenvolvimentistas de todas as matizes concordam quanto à estratégia de desenvolvimento em longo prazo, mas discordam quanto à política econômica em curto prazo. Como o longo prazo é construído com uma sucessão de curtos prazos…