Se for radar, ele vai atrás!
Por Leonardo Jones Müller 5 hours 12 minutes ago
Por dentro do MAR-1
Do Rio de Janeiro
Seu emprego é específico, porém de grande valor estratégico. Sua complexidade é notória, e por isso mesmo a capacidade de projetar uma arma dessas garante um espaço de destaque no prestígio internacional dos fabricantes de armas modernas. Estamos falando de mísseis Anti-Radiação, ou Anti-Radar se preferir, e o Brasil é um dos pouquíssimos (menos de 10) países capazes de projetar e produzir tal arma.
O primeiro Míssil Anti-Radar brasileiro, essa é a origem do nome MAR-1, a arma produzida pela Mectron, empresa desde 2011 controlada pela gigante Odebrecht, mas que realizou este ambicioso projeto muito antes disso, desde 1998 em conjunto com o DCTA.
A origem é controversa, o consenso é de que a arma nasceu do interesse da FAB, porém se parte do Know-How veio de um único e famoso míssil AGM-45 Shrike, “apreendido” pela FAB em 1982 durante a Guerra das Malvinas, quando um Avro Vulcan foi forçado por uma falha mecânica a pousar no Aeroporto do Galeão, é ponto de discussão.
Avro Vulcan armado com um míssil AGM-45 Shrike durante a guerra das Malvinas
Até hoje é um mistério o que foi feito com o míssil enquanto estava em poder da FAB, ou até mesmo se foi ou não devolvido. Não se sabe também até onde este míssil poderia ter contribuído no desenvolvimento do MAR-1, já que o Shrike é um míssil Anti-Radar de primeira geração, e por isso bastante limitado em seu alcance e capacidades de engajamento.
E “limitado” não é um termo compatível com o MAR-1, uma arma sofisticada revestida em material composto com o objetivo de diminuir sua assinatura radar e seu peso, com alcance máximo não confirmado, porém estimado que gire em torno de 100km, e capaz de detectar radares diretores de tiro, conhecidos geralmente por sua pouca potência, a mais de 50km.
Guiagem
Outras características impressionantes do MAR-1 dizem respeito a sua guiagem. O míssil possui capacidades múltiplas de engajamento. Ele pode ser travado em um alvo determinado pela aeronave lançadora, seja pelo radar, pelo RWR(Radar Warning Reciever) ou até mesmo por coordenadas, já que possui um sistema de GPS integrado com INS(Inercial), de modo a garantir sua trajetória em se tratando de um alvo estacionário caso a fonte de emissão seja desligada.
O MAR-1 também tem capacidade de adquirir alvos sozinho seja ainda na aeronave lançadora ou já em voo, caso surja um alvo de oportunidade. A arma também possui uma boa capacidade de manobra, graças as suas relativamente longas aletas traseiras, sendo capaz de corrigir sua trajetória caso a fonte de emissão seja móvel. Esta característica lhe confere a habilidade de atacar navios por exemplo.
Mísseis Anti-Radar possuem cabeça de busca passiva, ou seja, apenas recebem os sinais dos radares da região, e isso os torna naturalmente muito resistentes a Contra-Medidas Eletrônicas, porém proteções contra esse tipo de medida também estão incorporadas ao MAR-1, impedindo que ele siga em direção a um “Decoy” ou a uma emissão falsa criada por um jammer. Aliais uma tentativa de enganar o míssil pode na verdade gerar efeito contrário, uma vez que possui também capacidade Home-On-Jam, que o faz enxergar como alvo fontes de emissão de Contra-Medidas Eletrônicas.
Propulsão
Sua propulsão se da em dois estágios. Primeiro entra em cena o motor “boost”, com exaustão por dois bocais e que vai acelerar o míssil até cerca de 1.200km/h, alcançando a velocidade do som, logo depois entra o motor que vai sustentar esta velocidade, chamado motor de cruzeiro.
Utilizando um combustível que emite quase nenhuma fumaça, este motor está localizado no meio do corpo do míssil, possui apenas um bocal de exaustão e é encapsulado em material composto não inflamável, a fim de reduzir seu peso.
Ogiva
Carregando 90kg de explosivo HE (High Explosive) de fragmentação e espoletas de aproximação a laser, a intenção dos projetistas não foi promover o impacto direto do míssil contra o alvo, mas sim que ele exploda em cima ou o mais próximo possível, para que uma chuva de fragmentos e o deslocamento de ar destruam todo o equipamento emissor.
Dificuldades
Esta arma, tão sofisticada e específica, é de tamanha eficácia e importância em um arsenal, que as principais dificuldades em seu desenvolvimento se deram pela impossibilidade do Brasil em adquirir componentes necessários devido seu valor estratégico.
Dois episódios relacionados a essa limitação estratégica ocorreram durante o desenvolvimento do MAR-1, ambos relativos a cabeça de busca do míssil. Foi identificada a impossibilidade de importação de uma plataforma giroscópica e de antenas espirais, forçando o DCTA a desenvolver tais equipamentos, a fim de não abandonar o projeto.
O desenvolvimento do sistema de propulsão do MAR-1 também enfrentou alguns contratempos, principalmente no que diz respeito ao rastro de fumaça, que denunciava a posição do míssil, e também a resistência do conjunto que chegou a derreter durante alguns testes, todos os contratempos foram superados pelas equipes do DCTA e Mectron.
Fase Atual
Atualmente o míssil está passando por ensaios finais de voo após uma atualização de software a fim de garantir maior precisão na medição da distância entre a arma e o alvo emissor. Estes últimos testes estão para ser encerrados entre o final de 2013 e início de 2014.
Após estes testes a produção em série do MAR-1 deve ter início, e as unidades começarão a serem entregues à Força Aérea Brasileira e ao Paquistão, primeiro cliente de exportação da arma e que assinou contrato para a aquisição de 100 mísseis em 2008, já possuindo a arma integrada em suas aeronaves JF-17, Mirage III e Mirage V, operando por enquanto com mísseis inertes de treinamento.
Informações não confirmadas dão conta do interesse dos Emirados Árabes Unidos no míssil.
Portal Defesa
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