Editorial
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A compra de um novo caça para a Força Aérea Brasileira é uma decisão estratégica e não financeira. Não se trata portanto de uma resolução que envolva conjuntura, mas responsabilidade. Explico.
Pelo menos um dos concorrentes articulou um plano de pagamento tão atrativo que elimina qualquer risco de gasto excessivo pelo governo brasileiro num momento de crise econômica. Tal fabricante, se contemplado, promete entregar o primeiro dos 36 caças encomendados, quatro anos após a assinatura do contrato e o último quatro anos mais tarde, num prazo total de oito anos para o lote inteiro. E o pagamento do primeiro avião só se daria seis meses depois da entrega do último desses aviões! Como entre o anúncio e a assinatura do contrato estimamos ser necessário cerca de um ano para discussões de praxe até a assinatura do acordo final, o Brasil poderia encomendar seus aviões e contar com um financiamento total durante cerca de nove anos e pouco até começar a pagar por seus aviões!
É possível que os outros concorrentes também possuam propostas de pagamento atraentes. Esta, no entanto, já foi feita pública. E atrai.
A decisão pelo F-X2 não apenas resolve o problema de planejamento da FAB para um futuro de no mínimo 30 anos, mas permite que a Força maximize a seleção de armas e sensores para o novo vetor sem se preocupar com terríveis compras de ocasião nesse ínterim.
Aliás, compras de ocasião seriam agora a pior das opções para garantir a segurança de nossos céus. São soluções aventadas ou sugeridas por aqueles que não veem chance para seus produtos e preferem prejudicar o cliente – no caso a Força Aérea e mais precisamente o país – diminuindo a sua capacidade de combate, do que perder a chance de competir mais tarde em condições mais favoráveis. Sempre que se levanta a hipótese de “tampar o buraco”, imediatamente deve se inspecionar a quem esse tampão realmente interessa. No caso do Brasil, um país com condições financeiras de se adequar responsavelmente ao que existe na ponta da lança, todas as recentes compras de oportunidade só serviram para atrasar o avanço de nossas Forças Armadas.
Operar um vetor tecnológico avançado não significa apenas receber as máquinas e sair utilizando-as. Existe toda uma adequação de filosofia, doutrina, treinamento e logística por trás que demora anos para implantar. Assim, o modelo ideal para o Brasil (ou para qualquer país de porte que se respeita) é o de desenhar o sistema que suas Forças Armadas empregarão durante um número de décadas projetadas e partir para a sua implantação com início, meio e fim definidos. E de preferência já com a visão do que virá após a sua desativação. Pobres não somos. Um país que é capaz de injetar US$ 6 bilhões em um único dia para segurar o câmbio, como ocorreu recentemente, não pode se desmerecer.
Os vetores atualmente em funcionamento na aviação de caça servem para dar ao país o mínimo de proteção necessária, mas não nos garantem a segurança de fato que queremos ter. Tampouco permitem que os jovens pilotos hoje em formação para realizar a defesa aérea possam se preparar de forma a enfrentar as ameaças em sua forma atual, e que estão em constante evolução no resto do continente e do planeta. Opções desatualizadas num momento como este só servem para atrasar a didática no estado da arte que precisamos para garantir uma verdadeira capacidade de defesa.
Os Mirage 2000 que se despedem de Anápolis não garantem mais a segurança necessária ao país, e os F-5EM que estão sendo levados ao limite de suas vidas operacionais proveem uma segurança aceitável, mas não determinante. Aviões de combate são vetores dissuasórios. Precisam ser determinantes.
A Força Aérea não pode mais esperar. Precisa urgentemente de um vetor atual, com potencial de crescimento e capaz de trazer vantagens operacionais e industriais para o país. E se as empresas que fabricam essas aeronaves ainda são capazes de entregá-las sem que precisemos pagá-las por nove anos, o que não afeta em nada a situação econômica do país no momento, então o caminho é claro: é preciso pensar na decisão estratégica. Antes que percamos as enormes oportunidades hoje na mesa.