Sobre o futuro Reg de Cavalaria Blindado em Roraima

[gitanoba]

Prezados, no ano passado, no Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, já discutíamos, eu e outros pesquisadores, em presença de coronéis e majores do EB, a criação de um Regimento de Cavalaria Blindado em Roraima. Pelo que sei até hoje esta discussão não chegou aos círculos mais internos de pensamento organizacional (ECEME) ou doutrinário (CDoutEx)do EB. Porém o tempo urge o desenvolvimento desta discussão. Cada vez mais o Brasil assume importância no cenário internacional (os tropeços da economia neste 2012-2013 são temporários, assim como os não são de instabilização os movimentos reivindicatórios). Então o gigante continua acordando... a defesa territorial, a dissuasão, e o preparo são essenciais para antecipar o futuro. A presença de um Reg C Bda em Roraima é parte da dissuasão na fronteira norte. Então para o Reg C Bda (Boa Vista - RR): 2 Esq CC (24 M-60 modernizados), 2 Com Inf Bda (26 Guarani), com a visão de transformar a 1a Bda Inf Sl em 1a Bda C Sl, com possível subunidades subordinadas:

1a Brigada de Cavalaria de Selva:
- Com comando 1a Bda C Sl,
- 1º Batalhão de Infantaria de Selva (Aeromóvel) - Manaus
- Comando de Fronteira Roraima e 7º Batalhão de Infantaria de Selva - Boa Vista
- Regimento de Cavalaria Blindado - Boa Vista [PROPOSTO]
- 10º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva - Boa Vista
- 18º Regimento de Cavalaria Mecanizado - Normandia [PROPOSTO]
- 1º Pelotão de Comunicações de Selva - Boa Vista
- 32º Pelotão de Polícia do Exército - Boa Vista
-1º Batalhão Logístico e Base Logística - Boa Vista

[douglas]

Você poderia expandir melhor seu pensamento, por favor.

[Reginaldo Bacchi]

A presença de um Reg C Bda em Roraima é parte da dissuasão na fronteira norte. Então para o Reg C Bda (Boa Vista - RR): 2 Esq CC (24 M-60 modernizados), 2 Com Inf Bda (26 Guarani),

gitanoba, você poderia me explicar porque ter numa mesma unidade veiculos blindados sobre lagartas atuando em combinação com veiculos blindados sobre rodas? Porque não M113 como todos os regimentos de cavalaria blindada (RCB)?

Uma das coisas que eu aprendi (e não muitas veses seguida) é a da igualdade de mobilidade/traficabilidade. Veiculos blindados sobre rodas em combinação com veiculos blindados sobres rodas e lagartas com lagartas.

Outrossim, o que é um M60 modernisado? Compensa um trabalho de modernisação para um total de 28 carros!!!

Bacchi

[gitanoba]

Prezado Bacchi, que ótima oportunidade pr levarmos (os atentos ao tema defesa nacional) à frente esse debate.
Há algumas idéias embutidas neste post.
(1a idéia) Os atuais Reg C Bda, RCB, têm em suas dotações somente veículos sobre lagartas. Porém a atual combinação de M-60 ou Leopard 1A5 com os M-113 é absolutamente inadequada. Quanto à trafecabilidade é preciso avaliar as velocidades de deslocamento e a acessibilidade a terrenos. Concorda ? Com relação ás velocidades temos:
(a) M-60A3 TTS, 91 unidade em serviço no Exercito Brasileiro: 48 km/h (estrada), e 30 km/h (terreno irregular, i.e, em terra);
(b) Leopard 1A5, 240 unidades no EB: 65 km/h(estrada), e 30 km/h (em terreno irregular),
(c) M-113, 584 em serviço, prevendo 376 repotenciados: 66 km/h (estrada), e 40 km/h (em terra),
(d) Guarani, 2.044 previstos para o EB, 16 entregues (2012) + 102 contratados (2013): 90 km/h (estrada), 40 km/h (em terra,previsto).

Hoje o EB não tem uma previsão de substituição dos M-113 por outro VBTP sobre lagartas. Assim, o Guarani é atualmente a nossa única opção de curto prazo, e tem velocidade de deslocamento compatível com os M-60 e 1A5. Como há superação das velocidades destes pelo Guarani, há a possibilidade de que estes possam efetuar manobras envolventes de dispositivos anti-tanques ou de artilharia inimigos em apoio aos tanques, sob cobertura destes. Saldo: 1o ponto pr o Guarani.

O M-113 tem uma blindagem fraca, não resistindo a 7,62 mm perfurante, e não aceitando blindagem adicional sem perda de performance, o que vulnerabiliza os fuzileiros a bordo, além de ser desgastante o deslocamento por longas distâncias (sem ar condicionado, assentos pouco ergonométricos, ausência de proteção NBQ). Já o Guarani apresenta todas estas vantagens e permite o combate embarcado,impossível no M-113. Saldo: 2o ponto a favor do Guarani.

A única vantagem que favoreceria o M-113 é a liberdade de trafegar em terreno aberto sem necessitar de estradas asfaltadas ou preparadas, porém o Guarani foi projetado desde o início pr permitir deslocamento em terreno aberto, com previsão de perda de somente 10 % de veículos por danos mecânicos a cada 360 km. Os pneus tem pressurização ajustável o que permite esta mobilidade versátil. Assim, temos um 3o ponto favorável a substituir os M-113 pelos Guarani, pelo menos em combate (ou na "linda de frente").

(2a idéia) Vários exércitos já têm empregado há décadas o mix de veículos sobre lagartas com veículos sobre rodas,sem perda de desempenho, combatibilidade, mobilidade ou proteção mútua. Foi o caso mais recente da França no Mali, era usado pela URSS e continua o sendo pela Rússia, e é comum no exército Chinês, o PLA ou ELP. Pq só o Brasil evitaria isso em prejuízo de continuar usando os M-113, com todas as suas desvantagens ?

Uma alternativa para utilizar os M-60 seria desenvolver a partir destes um VBTP sobre lagartas, com a retirada da torre, a semelhança do que Israel, também há décadas, faz muito bem: reformar os tanques mais antigos como VBTP, o que permite fornecer aos fuzileiros maior proteção e compatibilidade mecânica com os carros de combate a que se destinam a apoiar e operar em combate.

(3a idéia) Transformar os atuais RCB em unidades efetivamente mistas de carros de combate e VBTP, evitando as atuais dificuldades de uso dos M-113 nesta função, prejudicando um possível (e provável) futuro emprego do EB em combate real. É melhor prever essa possibilidade e se preparar para ela agora, do que constatar, mesmo à luz de tantas evidências, que a atual combinação de CCs e VBTPs irá levar ao fracasso operações futuras (operações reais, o que leva à derrota e mortes desnecessárias). Sugestão: levar os M-113 pr emprego operacional em áreas de retaguarda, e com certeza de estarem expostos a riscos menores. Uma última ponderação: pq o EB não usou M-113 na retomada do Morro do Alemão (RJ) ?

[gitanoba]

Você poderia expandir melhor seu pensamento, por favor.

Oi Douglas, a fronteira norte do Brasil, na região nordeste e leste de Roraima, RR, apresenta-se como uma área de campos abertos,cerrados e a vegetação denominada campinarama. A sudoeste de RR, até a região da calha do Rio Negroa, há também campinarama, e ao sul de Boa Vista, ao longo da BR-174 (Boa Vista - Manaus) passando por Caracaraí e Novo Paraíso, a vegetação de selva está bastante desmatada (antropizada) com amplas áreas de campos abertos [veja o Google Earth, p.expo. pr uma visualização rápida desta situação]. Toda esta região encontra-se, assim, vulnerável a operações de carros de combate e blindados. Mas quais seriam os possíveis oponentes a operar nesta região, já que o Brasil é um "país pacífico, sem inimigos" ? A Venezuela é uma possível interessada, já q tem uma questão de fronteiras em aberto com a Guiana, reivindica como sua a região do Essequibo (sudoeste da Guiana), tem se armado significativamente, e apesar do discurso anti-americano é um de seus maiores parceiros comerciais (e portanto aliada econômica). Em RR está uma grande jazida de nióbio, e a outra grande jazida está na região de São Gabriel da Cachoeira, na "cabeça do cachorro". O nióbio é um metal estratégico pr a indústria espacial, pr futuros submarinos de exploração de nódulos de manganês no leito oceânico (mineração já autorizada pela ONU), e pr elevar a resistência mecânica de ligas metálicas a grandes temperaturas e pressões, como em futuras usinas de fusão nuclear, e em usinas de energia de correntes marinhas... já que o Brasil possui 98 % das jazidas mundiais de nióbio, é um potencial alvo pr a obtenção do controle destas jazidas. Então nada mais adequado que procurar dissuadir aventuras como estas com o pré-posicionamento avançado, de Brigadas com elevado poder de combate, como a dotação deste Reg C Bda à 1a Bda Inf Sl, na própria região, atualmente vulnerável da fronteira norte do Brasil.

A associação de carros de combate (tanques), CC, sobre lagartas, com os blindados Guarani, VBTP-MR, sobre rodas no Reg C Bda, visa permitir a operação também nas áreas de alagamento, charcos, e permitir a travessia anfíbia de rios da região, elevando a combatibilidade deste regimento (proposto). Veja o outro post, detalhando a questão de associar os CC com VBTP-MR. Há outros esclarecimentos nele.

[Reginaldo Bacchi]

gitanoba, obrigado por sua resposta.

Bacchi

[gitanoba]

De nada Bacchi,

Sempre alerta.

[Túlio]

Também não consigo compreender a presença do M-60 (modernizado, ainda por cima!) neste contexto. É um CC velho e completamente obsoleto, senão vejamos:

Torre de aço fundido.

Paupérrima relação potência-peso, o que o torna lento em mobilidade.

É um alvo enorme, com seus mais de 3 m de altura.

Velocidade de giro da torre e elevação/rebaixamento da peça principal sequer comparável às de CCs modernos, ou seja, lento em ação/reação contra sistemas inimigos.

Apenas estes poucos itens já desaconselham uma modernização pela parca relação custo-benefício. Não duvido até que, com o que se gastaria para reforçar a blindagem da torre e substituir seus sistemas de mobilidade e sensores, além de trocar motor e transmissão do CC, se pudesse até comprar Leopards 2A4 - no mínimo! - de segunda mão e muitíssimo superiores em mobilidade, blindagem, poder de fogo e capacidade de detecção. E tudo isso para apenas duas dúzias de unidades...

Mas tudo bem. Vale o debate.

Outra coisa que me chama a atenção é esse - para mim, ao menos - estranho coquetel entre rodas e lagartas: se tiver que ser M-60, mesmo sem a modernização - que está em andamento, aliás - o M-113 poderia acompanhar o M-60 sem problemas. Com ela, então, é o M-60 que passa a ter problemas para acompanhar/escoltar o M-113...

PS.: o CFN usou M-113 nas favelas do Rio; nenhum teve sua blindagem de alumínio perfurada (transfixada) pelos projéteis da vagabagem...

[delmar]

Os turcos modernizaram parte de seus M-60 em um contrato com Israel. Saiu uma nota preta, entre dois a tres milhões de dólares cada. Não vejo qualquer possibilidade de algum carro brasileiro ser modernizado.

[Paisano]

[Túlio]

Os turcos modernizaram parte de seus M-60 em um contrato com Israel. Saiu uma nota preta, entre dois a tres milhões de dólares cada. Não vejo qualquer possibilidade de algum carro brasileiro ser modernizado.

Na verdade era em torno de USD 4 milhões a unidade, e em dólares de 2002, conterrâneo encarangado. Dá para comprar um Leo2A6 de segunda mão com treinamento, simulador, um monte de sobressalentes e sobra troco...

[Bolovo]

Os turcos modernizaram parte de seus M-60 em um contrato com Israel. Saiu uma nota preta, entre dois a tres milhões de dólares cada. Não vejo qualquer possibilidade de algum carro brasileiro ser modernizado.

Isso porque eles modernizaram 170 dos mais de 700 M-60 deles. A maioria será substituída pelo novo Altay. Não vejo o menor futuro para os M-60 no Brasil, pois são muitos poucos e não compensa prolongar a vida útil deles. Aqui é continuar de Leopard 1, comprar algum CC estrangeiro novo ou desenvolver um CC nacional. E mais nada.

[RobsonBCruz]

Tempos atrás (acho que a dois ou três anos) discutimos em algum tópico nesse fórum a questão de uma brigada de cavalaria mecanizada em Roraíma.

Se não me falha a memória, na época predominou opiniões contrárias, com o argumento de que não há ameaças, porque superada a área em Roraíma propícia ao emprego de blindados, em seguida tem a floresta densa, que impediria a progressão de um hipotético avanço de uma força blindada inimiga.

Outro ponto contra é que seria um grande fardo para a logistica, que na Amazônia já é naturalmente complicada para forças leves, seria muito mais complexa e custosa para forças blindadas.

Eu mantenho o meu pesamento favorável a criação de uma brigada mecanizada em Roraíma, porque além de desmonstração de força, seria um bom exercício para o desenvolvimento de doutrina e da logistica.

[gabriel219]

Se for para substituir um M113, creio que o melhor a ser feito é por um blindado da mesma categoria, mas com maior poder de fogo, blindagem e poder trafegar em rios.
Gosto muito do BVP-2M da SKCZ, a modernização do BVP-2, que é uma versão Tcheca do BMP-2, fabricado sob-licença.

Não sei se "de fábrica" ele possui capacidade de trafegar em rios, mas poderíamos trocar o motor.
Fora o M113, AAV-7A1, IFV'S Russos, existe outros IFV's do tipo (blindados, muito bem armados e modernos) que são anfíbios, capaz de fazer translado em rios?
Um abraço.

[gabriel219]

Em minha opinião compraríamos os 86 Leopard 2A6 no estoque Holandês e compraríamos outros de fábrica.
Isso com pouco recurso.
Com um belo recurso, 352 Leopard 2A7 seria ideal, acompanhados pelos 86 Leopard 2A6 que deveriam ser modernizados - apesar de serem muito modernos - para o padrão 2A7.