Eleições Presidenciais de 2012, EUA

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rodrigo
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA

#361 Mensagem por rodrigo » Qui Mai 16, 2013 2:16 pm

Sucessão de crises põe em xeque planos de Obama

PETER BAKER
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Bloqueado no Congresso, cerceado no Oriente Médio e agora prejudicado por escândalos, o presidente Barack Obama, apenas seis meses depois de uma entusiástica reeleição, chegou ao ponto em que o segundo mandato que esperava cumprir está colidindo com o segundo mandato que de fato está cumprindo.

Os desafios destacam um paradoxo quanto ao 44º presidente dos Estados Unidos. Ele comanda um governo que, aos olhos dos críticos, parece cada vez mais intrusivo, ditando escolhas de saúde, usando o Internal Revenue Service (IRS, o serviço federal de receita norte-americano) como ferramenta política, e xeretando registros telefônicos de jornalistas.

No entanto, há momentos em que Obama parece ser apenas um observador posicionado no mais poderoso escritório do planeta, sob o assédio da rivalidade partidária e de forças que parece incapaz de controlar.

Na quarta-feira (15), ao anunciar a demissão do diretor interino do IRS, Obama se descreveu como espectador de um escândalo, ainda que um observador dotado de poder para forçar mudanças. "Os norte-americanos têm o direito de se zangar quanto a isso, e eu mesmo estou zangado quanto a isso", ele declarou.

O presidente tampouco teve envolvimento com a apreensão de registros telefônicos de jornalistas da Associated Press por ordem do Departamento da Justiça, dizem seus assessores.

A disputa quanto a Benghazi, se queixa ele, é pura política, e a Casa Branca divulgou na quarta-feira e-mails cujo objetivo era demonstrar que os assessores mais próximos do presidente tiveram pouco envolvimento com o aspecto mais ferrenhamente disputado da controvérsia.

Ele não tem como forçar o Congresso a aprovar nem mesmo uma medida modesta de controle de armas, dizem os assessores, e a matança na Síria desafia a capacidade de intervenção dos Estados Unidos.

Tudo isso desperta a questão: como é que um presidente de ambições grandiosas mas horizontes cada vez mais restritos poderá usar seu posto? Obama talvez esteja certo quanto a algumas das coisas que não pode fazer, mas recentemente também vem encontrando dificuldades para apresentar uma visão quanto ao que pode fazer.

Na quarta-feira, o governo parecia ter assumido uma posição mais agressiva quanto aos três imbróglios atuais, forçando a demissão do diretor do IRS, divulgando os e-mails sobre Benghazi e anunciando que retomaria propostas para proteger os jornalistas contra ameaças judiciais.

A área em que progresso maior parece mais obviamente possível é a imigração, na qual os republicanos parecem querer um acordo a fim de melhorar a posição do partido junto ao eleitorado latino.

Assessores da presidência expressaram a esperança de que seja possível chegar a um acordo sobre o orçamento, retomar o esforço pelo controle de armas e usar os poderes do Executivo para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa.

E Obama pode promover as políticas de seu governo ao colocar em operação seu programa de saúde, apontar juízes federais e o novo chairman do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), e retirar mais tropas do Afeganistão.

"Ainda acredito que tenhamos a chance de realizar algo de significativo", disse David Plouffe, veterano assessor do presidente. "Se conseguirmos aprovar a imigração e algo quanto à economia e os deficit, seria um ano excelente, tendo em vista o Congresso dividido".

Ele rejeitou a sugestão de que Obama tenha sido passivo demais. "A ideia de que exista alguma jogada simples de liderança à qual ele ainda não recorreu e que resolveria o impasse não representa uma análise muito sofisticada", disse Plouffe.

PROBLEMAS

Os segundos mandatos há muito causam problemas para os presidentes norte-americanos, quer se trate do caso Irã-Contras, para Ronald Reagan, quer da tentativa de impeachment contra Bill Clinton.

Para Obama, a forte queda no deficit projetado anunciada na terça-feira pelo Serviço Orçamentário do Congresso serviu como lembrete de que, se ele concluir o mandato com uma economia mais forte, isso pode ser mais importante para seu legado do que os revezes desta semana.

Ainda assim, os mais recentes problemas podem solidificar a impressão de que a presidência de Obama expandiu os poderes do governo em escala maior do que muitos norte-americanos desejariam.

No entanto, Obama também expressa exasperação. Em particular, ele chegou a mencionar o forte desejo de "fazer um Bulworth", uma referência a um filme não muito famoso de 1998, no qual Warren Beatty interpreta um senador que decide arriscar tudo e dizer o que realmente pensa.

Embora o personagem de Beatty não tivesse nem o poder e nem a plataforma de um presidente, a metáfora ilumina o desejo de Obama de se libertar daquilo que vê como obstáculos à sua ação.

Esta semana, enquanto Obama enfrentava um frenesi de escândalos sem precedentes em seu governo, ele se permitiu um momento de franqueza em eventos de arrecadação de fundos de campanha, em Nova York. "Minha ideia, depois que os derrotamos em 2012, era que isso talvez servisse para baixar a febre", ele disse a doadores. "Bem, ela ainda não baixou".

Ainda assim, voando no helicóptero presidencial Marine One, segunda-feira, Obama reparou em reportagens que definiam a sexta-feira como um péssimo dia. "Sabe que dia foi realmente péssimo?", um assessor recorda que o presidente disse. "O dia em que aconteceu o ataque em Benghazi".




"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

João Guimarães Rosa
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