Angela Merkel: a nova "dama de ferro"?

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Frederico Vitor
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Angela Merkel: a nova "dama de ferro"?

#1 Mensagem por Frederico Vitor » Ter Abr 09, 2013 6:22 pm

Por que Angela Merkel?
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Edgar Welzel
De Stuttgart, Alemanha

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Os 11 dias entre 15 e 25 de março de 2013 tal­vez tenham sido os mais agitados em Bru­xe­las desde a introdução do euro em 2002. Em pauta estavam as discussões em torno do auxílio financeiro do Chipre solicitado à União Europeia (UE) já no início de 2012. A Troika, a equipe formada por técnicos da UE, do Banco Central Eu­ro­peu (BCE) e do Fundo Mo­ne­tá­rio Internacional (FMI), já no ano passado esteve, durante oito meses, no Chipre a fim de fazer levantamentos acerca da situação econômica e financeira do país que serviriam de base para eventuais decisões em Bruxelas.

Técnicos da UE já há muito cri­ti­cavam o sistema bancário do Chi­pre, que achavam demasiadamente dimensionado ao que a mídia passou a tratá-lo de “superinflado”. De fa­to revelou-se que 40% da economia do país, com um PIB de apenas US$ 23,6 bilhões, cor­res­ponden­tes a magros 0,2% do PIB da UE, e­ra auferida através do sistema ban­cário. Paralelamente começou-se a fa­lar do “Sistema Cipriota” que en­glo­bava várias outras ofertas vantajosas (das quais voltaremos a falar mais adiante) inexistentes em ne­nhum outro país europeu. Não de­morou e a Troika concluiu: “O Sistema Cipriota não tem chances para sobreviver”.

Os primeiros sinais de estreme­ci­­mento do “Sistema Cipriota” co­meçaram a manifestar-se com as medidas de austeridade impostas pela Troika à Grécia cuja já enfra­que­cida economia debilitou ainda mais com graves repercussões no Chipre tendo em vista o intrínseco entrelaçamento econômico e financeiro entre os dois países. Apesar do forte decréscimo de exportação recíproca de produtos mesmo assim os bancos do Chipre tiveram vantagem com a crise grega. Milhares de gregos, desiludidos, que já não mais acreditam em seu próprio país, passaram a abrir contas correntes no Chipre. E não eram apenas pe­que­nos correntistas, preocupados com suas parcas economias.

As ofertas vantajosas do governo cipriota, impostos baixos e juros altos em depósitos, tornaram-se altamente atrativos para investidores: Enquanto nos 17 países da Eurozona a média dos juros em depósitos bancários anda num patamar baixíssimo de1,5% ao ano, a banca cipriota oferecia entre 6 e 7%. Astronômica dinheirama, boa parte de fontes duvidosas, começaram a ser depositadas no Chipre, proveniente de todos os quadrantes mas principalmente da oligarquia russa que também dominava o turismo. Segundo o BND (Serviço Secreto Alemão) oligarcas, magnatas, em­presas e demais cidadãos particulares russos armazenaram cerca de US$ 26 bilhões em bancos cipriotas, uma soma superior ao PIB do próprio país. Revelou-se ainda que nesse pequeno país com uma área de apenas 9.251 km² (o menor Estado do Brasil, Sergipe, tem 21.862,6 km²) existem mais de 4 mil firmas “fantasmas” cuja área construída não é maior do que uma caixa postal. Para registrar uma firma tipo caixa postal, os serviços de agências especializadas facilitavam tudo: mediante o pagamento de apenas 375 euros (cerca de 968 reais) foi possível registrar uma firma, de qualquer parte do mundo, via internet e o processo todo era realizado, isento de qualquer burocracia, em apenas três dias. Essas agências até forneciam uma lista com nomes (pomposos) entre os quais escolhia-se um para designação de tais construções empresariais fantasmagóricas através das quais jorrava a grana, não raro, lim­pidamente lavada. Em suma um paraíso fiscal, no qual muitos ga­nharam dinheiro, o que há tempos não era visto com bons olhos pelas autoridades em Bruxelas.

Outro detalhe alarmante refere-se a altíssima soma em créditos concedidos pelos bancos do Chipre. A média dos créditos concedidos na Eurozona, por país, não é superior a três vezes o valor de seu PIB. No Chipre esse valor é oito e meia vezes superior ao PIB.

Jornalistas do semanário alemão “Der Spiegel” tiveram acesso às listas do movimento aéreo do aeroporto de Larnaka. Os profissionais de imprensa deram especial atenção às decolagens de voos não comerciais (sem táxis aéros) e os dados são re­veladores tanto pela intensidade quanto pelos destinos dos voos dos jatinhos particulares que decolaram do aeroporto cipriota nos meses de janeiro e fevereiro de 2013. De­co­la­gens de Larnaka em direção à: Rús­sia 375, Ucrânia 108, Grã-Bretanha 245, Alemanha 170, França 209, Itália 150, Grécia 382, Líbano 222, Israel 344, Emirados Árabes 121. No ano de 2012 foram registrados mais de 3 mil decolagens de aeronaves não comerciais em Larnaka. Em um país com uma uma população de 1,2 milhão de habitantes dos quais 400 mil laboralmente ativos, tudo isso soa demasiadamente estranho, “inflado” como o sistema bancário.

Sexta-feira, 15 de março passado, reuniram-se em Bruxelas os minis­tros de finança dos 17 países da Eurozona para tratar do “Sistema Chipre”. Do lado cipriota compareceu Nikos Anastasiades, há pouco empossado como presidente do Estado. Era o seu 16° dia de traba­lho à frente do governo. Em sua companhia estava Michael Sarris, seu ministro da Fazenda e um grupo de técnicos da área financeira e bancária. A delegação cipriota veio tra­zendo em sua bagagem duas coi­sas: primeiro um pedido de auxílio de 10 bilhões de euros e, segundo, uma sugestão de como conseguir mais 7 bilhões de euros, como parti­cipação própria, para completar a so­ma total de 17 bilhões necessários para superar a crise. O espanto entre os experientes ministros de finança reunidos em Bruxelas foi grande pois nunca havia chegado um grupo de pedintes com proposta de autoflagelação.

Em reunião que, como sempre em Bruxelas adentrou a noite até altas horas da madrugada, chegou-se a um acordo que incluíu as suges­tões da delegação cipriota: Aos correntistas com depósito até 100 mil euros, seriam descontados 6,99% e, aos com créditos acima de 100 mil euros seriam descontados 9,99%. O presidente Nikos Anastasiades, antes de dar o seu consentimento, ligou à Nikosia a fim de garantir o apoio da bancada de seu partido, majoritário no parlamento. Tanto o seu partido como a oposição concordaram em apoiar a sugestão. Só então o presidente Nikos Anasta­sia­des e o seu ministro da Fazenda de­ram o seu “sim”. Testemunhas que viram Anastasiades meia hora depois declararam que ficaram preocupados com o seu aspecto; estava pálido e receavam que ia ter um desmaio. À jornalistas Anastasiades dasabafou: “Com esse resultado não posso nem regressar a meu país”.

Em verdade os protestos no Chipre começaram no fim da semana e segunda-feira, 18 de março, o parlamento em Nikosia reuniu-se para aprovar as decisões da sexta-feira anterior em Bruxelas. Diante da pressão popular, os 58 deputados do parlamento, tanto os aliados do presidente como os da oposição, inesperadamente votaram contra as decisões em Bruxelas, as mesmas decisões que todos tinham apoiado na sexta anterior. A situação tornou-se dra­má­tica não apenas para Anas­ta­siades. Também em Bruxelas o inesperado veto do parlamento do Chipre deixou as sirenes em sinal de alarme. Nunca ministros responsáveis em Bruxelas tinham-se confrontado com uma situação parecida.

Paralelamante a esses acontecimentos a população do Chipre foi às ruas e logo foi encontrado um culpado para esses desenvolvimentos: era Ângela Merkel, a chanceler da Alemanha, culpada por tudo e vista em cartazes em trajes típicos do III Reich. Re­petiram-se aqui, mais uma vez, as cenas já anteriormente vistas na Gré­cia, na Espanha, em Portugal, na Irlanda e na Itália. O arlequim político Sílvio Berlus­co­ni até chegou a faturar votos, nesta última eleição na Itália, com suas agressões verbais contra Ângela Merkel, a quem descaradamente res­ponsabilizava pela situação crítica em seu país.

Michalis Sarris, ministro de Finanças do Chipre, deve ser um homem muito lúcido pois declarou: “O Chipre encontra-se nesta situação em virtude de uma política errada que vinha sendo mantida durante muitos anos. Teremos que corrigir essas distorções e para isso levaremos muitos anos. Teremos que passar por um longo processo de muito sofrimento”. Com isso, o Chipre não mais será o Chipre. Mu­dar-se-à tudo e o povo pagará. Eis aí mais outro exemplo de ganância financeira e de incompetência política que em nada diverge da Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália e eventualmente a França.

Em Bruxelas o holandês Jeroen Dijsselbloem, novo presidente da Eu­rozona, há poucas semanas no poder e sucessor de Jean-Claude Jun­cker, também declarou: “Fize­mos muitos erros em relação ao Chi­pre em nossa decisão de 15 de março”.

Enquanto isso novas decisões foram tomadas em Nikosia. Cor­rentistas com depósitos até 100 mil euros não terão que contribuir para a recuperação do país. Cor­rentistas com depósitos acima desse valor, terão que contribuir com 40% do valor de suas contas. Com isso, o “Sis­tema Chipre” de nenhuma ma­nei­­­ra es­­tá resolvido e ainda será mo­tivo para muitas discussões na Europa.

Com apenas 0,2% do PIB da UE o Chipre, segundo concluíram os ministros de finanças da Eu­ro­zona, não é relevante à UE. Mas, e isso foi olvidado pelos ministros europeus, o Chipre é relevante à Rússia em virtude dos bilhões de dólares russos armazenados naquela belíssima ilha. É certo que Vladimir Putin e Alexander Med­ve­dev vol­tarão ao assunto. Mas é certo também que a Europa não demonstra nenhum interesse em proteger a dinheirama de fontes obscuras da oligarquia russa. O Chipre não é apenas Chipre. En­vol­ve muitas outros interesses.

A culpabilidade que atinge Ân­ge­la Merkel, chanceler da Ale­ma­nha, é um descalabro político ir­ra­cional. Ela não merece isso.
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Fonte: http://www.jornalopcao.com.br/colunas/c ... ela-merkel




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Re: Angela Merkel: a nova "dama de ferro"?

#2 Mensagem por Bourne » Ter Abr 09, 2013 7:48 pm

Sim. É Merkel é a nova Dama de Ferro. :mrgreen:

Não é no sentido de encontrar semelhanças nas visões de Merkel e Thatcher. A questão central é que ambas incorporam mudanças radicais de como se posicionar no mundo e filosofias de ação. De forma parecida na comparação entre Reagan e Obama.

Nos anos 1980s, Reagan e Thatcher representaram interesses e incorporaram de que os distúrbios das décadas precedentes eram oriundas da excessiva regulamentação, intervenção social e econômica do estado e, na época, o ocidente se tornou frouxo em enfrentar o inimigo soviético. Este último utilizado para justificar e manter a coesão em torno do objetivo das reforma. A partir de então eles começaram as políticas neoliberais com as reformas pro mercado nos próprios países, depois exportados para os países desenvolvimento (França, Alemanha e Japão, por exemplo), em desenvolvimento e ex-socialistas como parte do receituário para se integrar ao mundo.

As reformas neoliberais tiveram tanta popularidade que os sucessores continuaram avançando e propagando ao redor do globo. A gestão Clinton foi a mais agressiva para impor aos países ex-socialistas e em desenvolvimento para abraçar as reformas utilizando o poder norte-americano e influência no FMI e Banco Mundial. Na Europa, a construção do euro foram nas bases neoliberais.

O ponto de virada começou na década de 2000s com a descrença nas políticas de liberalização e desregulamentação sem devidos cuidados, mas mascarados pelo ambiente de prosperidade internacional e ausências de crises. Sem avançar para lugar nenhum. Neste ambiente que foi gestada a crise econômica internacional com liberdade dos agentes construir as melhores operações para ter retorno, independente do risco e consequências sociais de uma crise.

Precipitação da Crise em 2007 com a eleição de Obama trouxe uma nova Era. Devido a catalisar os questionamentos precedentes e criar um consenso da necessidade de maior rede de proteção social, foco no incentivo ao setor real com a reindustrialização, não se pode confiar na lucidez e honestidade das instituições financeiras com maior regulação prudencial e estratégias ativas de estabilização. Em si não possui nada de novo apensar da imprensa golpista dizer ao contrário. A maioria (ou todas) as visões teóricas, estudos e políticas de ação existiam e foram ignoradas.

O resultado foi aprovação da Lei Dodd-Frank de reestruturação financeira entre 2008 e 2010 sob consenso de republicanos e democratas. Os opositores a reforma foram limitados a um pequeno grupo de republicanos. No cenário internacional, começou a discutir como criar um acordo internacional para governança monetária global, o G20 foi criado e os emergentes ganharam espaço e peso. Hoje é um mundo diferente o Obama aceitou se transformar junto com ele.

Na Europa, a Merkel ser a mulher que fortalece a Alemanha e busca afirmar o país como potência econômica, política e líder da europa. Para discursos externos prega austeridade a qualquer custo e intervem descaradamente nas decisões políticas dos demais países europeus. Como forma de apoiar os lados políticos que são favoráveis ao interesse alemão. Abominável para qualquer chefe de estado de um país soberano fazer isso com outro. Lembra uma dinâmica política interna de um país como Brasil em que o Presidente da Republica demostra e dá apoio a governadores e prefeitos aliados e luta com os opositores. O que não é o caso da União Europeia.

Internamente, a Merkel incorpora o estilo de capitalismo alemão reforçado com a crise. Baseado em garantir o bem-estar social e beneficiar o setor industrial. para isso, utilizando a intervenção estatal e políticas favoráveis aos setores produtivos. Incluindo a defesa da austeridade para demais países devido a proteger os bancos e cooperativas de crédito alemães que são intrinsecamente ao setor produtivo (cooperativas, pequenas e médias empresas, especialmente) e consumo. Portanto, se a estrutura financeira entrar em dificuldade prejudica o setor real, então manda a conta para os países em dificuldades.

Outro aspecto a posição favorável na criação de uma zona de livre comércio com os EUA que é extremamente interessante para Alemanha. As industrias pesadas e de alta tecnologia agregada são competitivas, com o Acordo tiram concorrentes potencial de outras regiões e ganham o maior mercado do mundo. O que salva grande parte da economia germânica dependente de exportações. Indiretamente, possui a opção de terceirizar partes da produção na europa oriental e periferia que pagam baixos salários, estão sob controle e estão perto de casa.




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Re: Angela Merkel: a nova "dama de ferro"?

#3 Mensagem por Bourne » Ter Abr 09, 2013 7:51 pm

P.S. Isso não tinha que estar no tópico sobre a crise econômica mundial?




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Re: Angela Merkel: a nova "dama de ferro"?

#4 Mensagem por wagnerm25 » Qui Abr 11, 2013 9:46 am

Ah, a falta de pudores dos germânicos...

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Re: Angela Merkel: a nova "dama de ferro"?

#5 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Abr 11, 2013 10:40 am

Isso era na RDA, na RFA eles não eram, nem são tão liberais.




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

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Re: Angela Merkel: a nova "dama de ferro"?

#6 Mensagem por Bourne » Qui Abr 11, 2013 10:45 am

Jovens, a Europa oriental não tem frescura. O importante é reproduzir e espalhar a espécie.




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Re: Angela Merkel: a nova "dama de ferro"?

#7 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Abr 11, 2013 10:46 am

Eles podiam andar nus nas praias, não podiam era falar em politica (pelo menos não num tom contra o governo Comunista).




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

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Re: Angela Merkel: a nova "dama de ferro"?

#8 Mensagem por P44 » Qui Abr 11, 2013 1:54 pm

mais uma razão para chorar o fim da guerra fria e a queda do muro, foi essa cabra (sem querer ofender os quadrúpedes) ter vindo para o ocidente, com o fim da RDA




Triste sina ter nascido português 👎
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