Já expliquei mais de uma vez, mas não custa explicar de novo.
Esta história de que a Embraer só alcançou o sucesso após a privatização é uma enorme MENTIRA, inventada apenas para justificar a sua privatização em particular e o programa de privatizações em geral. Pouco mais de um ano antes de ser privatizada a empresa já estava crescendo muito forte, com uma carteira de encomendas cada vez maior do Tucano e do Brasília, e o primeiro avião da família 145 já estava em fase final de construção. Não havia nada de errado na administração da empresa e ela mostrava a mesma competência na abordagem do mercado e no desenvolvimento de produtos pela qual é reconhecida hoje.
Aí nosso ilustre presidente Fernando Collor de Melo, por vontade exclusiva sua e de sua camarilha, simplesmente PROIBIU os financiamentos do BNDES para as vendas dos aviões da empresa, nem me lembro sob qual alegação. Como a Embraer não tinha acesso às fontes de financiamento internacionais (ninguém no Brasil tinha na época) e nenhum avião de linha aérea é vendido sem financiamento neste planeta, só restaria a ela financiar suas vendas nos bancos nacionais, que cobravam módicas taxas de juros na faixa de algumas dezenas AO MÊS. Aí, talvez por pura coincidência quem sabe, a empresa enfrentou uma enorme onda de cancelamento de encomendas, os novos pedidos sumiram e ela entrou em uma crise tão profunda que chegou a dispensar 2/3 de seus funcionários em pouco mais de 1 ano.
Neste momento o governo, em uma "heróica tentativa de salvar a empresa", decidiu privatizá-la, o que foi feito a toque de caixa por um valor irrisório, já que a empresa estava a caminho da falência. E por alguma razão metafísica inexplicável logo após a privatização os financiamentos do BNDES voltaram a ser liberados. Aí as encomendas voltaram, a produção subiu e a Embraer voltou exatamente à trajetória de sucesso em que já se encontrava antes de todo o imbróglio ser provocado. E evidentemente os novos donos encheram a burra de dinheiro, justo lucro pelo "ïnvestimento salvador" que fizeram
.
E eu não soube desta história pelos jornais ou por algum livro-denúncia dos muitos que pipocaram sobre o governo Collor. Eu estagiei na empresa no período imediatamente anterior à suspensão dos financiamentos do BNDES, e estava pleiteando um emprego lá justamente durante o período em que ela afundou (ou melhor, foi afundada). Por isso acompanhei com muita atenção tudo o que acontecia lá dentro, e inclusive mantive contatos com pessoas que conheci lá (entre elas meu chefe durante o estágio) durante este período.
Por isso por favor, parem de repetir esta lenda urbana de que foi a privatização que salvou a Embraer, pois na verdade a forma como ela foi privatizada é que quase a levou à ruína.
Leandro G. Card
P.S: No tempo em que era estatal a Embraer só precisava licitar investimentos (máquinas, equipamentos, etc...). Materiais e componentes para a produção de seus aviões eram adquiridos diretamente dos fornecedores, através de processos de concorrência como os de qualquer empresa.