Eleições Presidenciais de 2012, EUA
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
Atualizado: 08/09/2012 17:33 | Por Reuters
Obama amplia vantagem sobre Romney em pesquisa
WASHINGTON, 8 Set (Reuters) - O presidente Barack Obama, que está ganhando cada vez mais apoio após a Convenção Nacional Democrata, conseguiu se distanciar mais do republicano Mitt Romney em uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada neste sábado.
(...)
Fontes: Reuters/MSN
http://noticias.br.msn.com/obama-amplia ... m-pesquisa
Obama amplia vantagem sobre Romney em pesquisa
WASHINGTON, 8 Set (Reuters) - O presidente Barack Obama, que está ganhando cada vez mais apoio após a Convenção Nacional Democrata, conseguiu se distanciar mais do republicano Mitt Romney em uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada neste sábado.
(...)
Fontes: Reuters/MSN
http://noticias.br.msn.com/obama-amplia ... m-pesquisa
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
Agora, vejam só: alguns meses atrás, num artigo, o Magnoli detonou a candidatura de Ron Paul, que foi classificado de "isolacionista insensato" e outras coisas, e declarando que o candidato ideal para os Republicanos era Mitt Romney.
O homem mais perigoso da Terra.
Demétrio Magnoli, O Globo - 13.09.12.
Seu nome é Mitt Romney, o candidato republicano à presidência dos EUA. Afável, propenso ao diálogo, oriundo da quase defunta corrente moderada do partido, o ex-governador do estado liberal de Massachusetts não parece um homem perigoso.
Contudo, no caminho até a disputa com Barack Obama, ele sofreu uma mutação essencial. O Romney de hoje, que já não mais se recorda do Romney original, é o homem mais perigoso da Terra. O diagnóstico, inevitável, deriva da abordagem adotada pela chapa republicana dos grandes temas de política externa.
Antes de tudo, há a China. Romney prometeu que, “no primeiro dia na Casa Branca”, declararia a China um “manipulador cambial”. A consequência óbvia seria a imposição de tarifas protecionistas sobre produtos chineses, deflagrando uma guerra econômica entre as duas maiores potências mundiais.
É a receita certa para provocar a quebra em série das lajes já tensionadas que sustentam o edifício da economia global.
A acusação é de um cinismo patente. A China foi admitida na Organização Mundial de Comércio há mais de uma década, apesar da “manipulação cambial”. Os chineses sempre “manipulam” o câmbio, pois essa é uma característica inerente ao capitalismo de estado.
Os EUA nem sempre “manipulam” o câmbio, mas fazem isso sempre que precisam, notadamente desde 2009, por meio de sucessivas rodadas de quantitative easing, o eufemismo cunhado para descrever pudicamente a fabricação de dólares em escala industrial.
Aos poucos, a China valoriza sua taxa de câmbio real, como querem os EUA — e como requer o interesse chinês de ligar os motores do mercado interno a fim de engendrar um novo ciclo de crescimento.
O cinismo é um pecado menor, perto da irresponsabilidade. A China é o principal fornecedor de manufaturados para os EUA e sofreria um golpe profundo com as represálias americanas. Contudo, seus vultosos saldos comerciais são, em larga medida, investidos na aquisição de títulos do Tesouro americano.
Isso significa que a China financia a política monetária expansionista dos EUA, assegurando espaço para a emissão de dólares em ambiente de juros e inflação baixos.
Os chineses retaliariam Romney faltando a algumas rodadas de leilão dos títulos americanos. A ruptura do intercâmbio de manufaturas por papéis da dívida provocaria o pânico nos mercados financeiros, lançando o mundo na espiral regressiva de uma depressão.
Em segundo lugar, há o Irã. Na sua visita a Israel, o homem mais perigoso da Terra entregou-se à aventura de estimular um ataque unilateral israelense contra o Irã. A hipótese está sobre a mesa faz tempo, provocando amargas discórdias no governo e nas agências de inteligência de Israel.
Um ataque dificilmente eliminaria as instalações nucleares iranianas, mas degeneraria em conflito regional de incertas proporções. Ao mesmo tempo, certamente, produziria um retrocesso fundamental na gramática política da Primavera Árabe, contaminando-a de antiamericanismo e antissemitismo.
Desde o início, as revoltas populares contra os tiranos organizaram-se em torno dos valores das liberdades, dos direitos políticos e da responsabilidade dos governos perante o povo. Tais “valores ocidentais”, que são aspirações humanas universais, impelem as correntes laicas e democráticas no mundo árabe e, mais além, no próprio Irã, que não é um país árabe.
Eles também regam as sementes do reformismo no interior de organizações fundamentalistas, como a Irmandade Muçulmana. Toda essa evolução, de amplas repercussões, poderia ser comprometida pela guerra que Romney parece insuflar.
Os gastos militares ocupam o terceiro lugar. Paul Ryan, o representante da ala do Tea Party na chapa republicana, criticou em palestra recente a redução relativa do orçamento militar, que decorre da pressão dos gastos com a saúde. O vice traçou um paralelo com o declínio britânico, cem anos atrás, quando a antiga potência foi obrigada a transferir o cetro para os EUA devido à sua incapacidade de conservar a primazia militar.
A Grã-Bretanha deu lugar a uma potência que compartilhava seus valores, mas o declínio americano deixa entrever o espectro de ascensão de uma potência cujos valores conflitam com os dos EUA, sublinhou Ryan.
O paralelo está sustentado sobre premissas falsas. Os britânicos tinham a maior força naval, mas sua Marinha equivalia, apenas, à soma das duas frotas de guerra seguintes e as suas forças terrestres eram inferiores às das potências continentais europeias.
Em contraste, o orçamento militar dos EUA representa dois quintos dos gastos militares globais e equivale aos orçamentos somados dos 14 países seguintes. Os gastos militares da China — o espectro mencionado por Ryan — ainda não alcançam um quinto dos gastos americanos.
Há dez anos, o comentarista neoconservador Charles Krauthammer consagrou um artigo à defesa do argumento de que a inabalável hegemonia militar dos EUA asseguraria mais um século de liderança americana. A hipótese contrária, do declínio americano, conta com arautos sérios — mas eles nunca utilizam o argumento militar.
Provavelmente, Romney não acredita em nada do que diz sobre política externa. Ao que parece, o candidato republicano vestiu a indumentária preparada pelos alfaiates do Tea Party, reconhecendo que seu partido foi tomado de assalto pela corrente radical.
Na Casa Branca, ele não pretenderia honrar os compromissos extravagantes — as “bravatas de oposição”, na linguagem de Lula — proclamados ao longo da campanha eleitoral. Eis aí a razão definitiva para qualificá-lo como o homem mais perigoso da Terra. A palavra do presidente dos EUA deveria ter valor maior que o dos ativos podres do Lehman Brothers, ao menos na esfera dos temas estratégicos da ordem econômica e geopolítica mundial.
Se Romney não pensa assim, ele representa mais perigo que a manipulação cambial chinesa ou o programa nuclear iraniano.
O homem mais perigoso da Terra.
Demétrio Magnoli, O Globo - 13.09.12.
Seu nome é Mitt Romney, o candidato republicano à presidência dos EUA. Afável, propenso ao diálogo, oriundo da quase defunta corrente moderada do partido, o ex-governador do estado liberal de Massachusetts não parece um homem perigoso.
Contudo, no caminho até a disputa com Barack Obama, ele sofreu uma mutação essencial. O Romney de hoje, que já não mais se recorda do Romney original, é o homem mais perigoso da Terra. O diagnóstico, inevitável, deriva da abordagem adotada pela chapa republicana dos grandes temas de política externa.
Antes de tudo, há a China. Romney prometeu que, “no primeiro dia na Casa Branca”, declararia a China um “manipulador cambial”. A consequência óbvia seria a imposição de tarifas protecionistas sobre produtos chineses, deflagrando uma guerra econômica entre as duas maiores potências mundiais.
É a receita certa para provocar a quebra em série das lajes já tensionadas que sustentam o edifício da economia global.
A acusação é de um cinismo patente. A China foi admitida na Organização Mundial de Comércio há mais de uma década, apesar da “manipulação cambial”. Os chineses sempre “manipulam” o câmbio, pois essa é uma característica inerente ao capitalismo de estado.
Os EUA nem sempre “manipulam” o câmbio, mas fazem isso sempre que precisam, notadamente desde 2009, por meio de sucessivas rodadas de quantitative easing, o eufemismo cunhado para descrever pudicamente a fabricação de dólares em escala industrial.
Aos poucos, a China valoriza sua taxa de câmbio real, como querem os EUA — e como requer o interesse chinês de ligar os motores do mercado interno a fim de engendrar um novo ciclo de crescimento.
O cinismo é um pecado menor, perto da irresponsabilidade. A China é o principal fornecedor de manufaturados para os EUA e sofreria um golpe profundo com as represálias americanas. Contudo, seus vultosos saldos comerciais são, em larga medida, investidos na aquisição de títulos do Tesouro americano.
Isso significa que a China financia a política monetária expansionista dos EUA, assegurando espaço para a emissão de dólares em ambiente de juros e inflação baixos.
Os chineses retaliariam Romney faltando a algumas rodadas de leilão dos títulos americanos. A ruptura do intercâmbio de manufaturas por papéis da dívida provocaria o pânico nos mercados financeiros, lançando o mundo na espiral regressiva de uma depressão.
Em segundo lugar, há o Irã. Na sua visita a Israel, o homem mais perigoso da Terra entregou-se à aventura de estimular um ataque unilateral israelense contra o Irã. A hipótese está sobre a mesa faz tempo, provocando amargas discórdias no governo e nas agências de inteligência de Israel.
Um ataque dificilmente eliminaria as instalações nucleares iranianas, mas degeneraria em conflito regional de incertas proporções. Ao mesmo tempo, certamente, produziria um retrocesso fundamental na gramática política da Primavera Árabe, contaminando-a de antiamericanismo e antissemitismo.
Desde o início, as revoltas populares contra os tiranos organizaram-se em torno dos valores das liberdades, dos direitos políticos e da responsabilidade dos governos perante o povo. Tais “valores ocidentais”, que são aspirações humanas universais, impelem as correntes laicas e democráticas no mundo árabe e, mais além, no próprio Irã, que não é um país árabe.
Eles também regam as sementes do reformismo no interior de organizações fundamentalistas, como a Irmandade Muçulmana. Toda essa evolução, de amplas repercussões, poderia ser comprometida pela guerra que Romney parece insuflar.
Os gastos militares ocupam o terceiro lugar. Paul Ryan, o representante da ala do Tea Party na chapa republicana, criticou em palestra recente a redução relativa do orçamento militar, que decorre da pressão dos gastos com a saúde. O vice traçou um paralelo com o declínio britânico, cem anos atrás, quando a antiga potência foi obrigada a transferir o cetro para os EUA devido à sua incapacidade de conservar a primazia militar.
A Grã-Bretanha deu lugar a uma potência que compartilhava seus valores, mas o declínio americano deixa entrever o espectro de ascensão de uma potência cujos valores conflitam com os dos EUA, sublinhou Ryan.
O paralelo está sustentado sobre premissas falsas. Os britânicos tinham a maior força naval, mas sua Marinha equivalia, apenas, à soma das duas frotas de guerra seguintes e as suas forças terrestres eram inferiores às das potências continentais europeias.
Em contraste, o orçamento militar dos EUA representa dois quintos dos gastos militares globais e equivale aos orçamentos somados dos 14 países seguintes. Os gastos militares da China — o espectro mencionado por Ryan — ainda não alcançam um quinto dos gastos americanos.
Há dez anos, o comentarista neoconservador Charles Krauthammer consagrou um artigo à defesa do argumento de que a inabalável hegemonia militar dos EUA asseguraria mais um século de liderança americana. A hipótese contrária, do declínio americano, conta com arautos sérios — mas eles nunca utilizam o argumento militar.
Provavelmente, Romney não acredita em nada do que diz sobre política externa. Ao que parece, o candidato republicano vestiu a indumentária preparada pelos alfaiates do Tea Party, reconhecendo que seu partido foi tomado de assalto pela corrente radical.
Na Casa Branca, ele não pretenderia honrar os compromissos extravagantes — as “bravatas de oposição”, na linguagem de Lula — proclamados ao longo da campanha eleitoral. Eis aí a razão definitiva para qualificá-lo como o homem mais perigoso da Terra. A palavra do presidente dos EUA deveria ter valor maior que o dos ativos podres do Lehman Brothers, ao menos na esfera dos temas estratégicos da ordem econômica e geopolítica mundial.
Se Romney não pensa assim, ele representa mais perigo que a manipulação cambial chinesa ou o programa nuclear iraniano.
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
Se Obama não ganhar é o fim do mundo!!!!
-----------------
No mundo real, de facto, não vai acontecer nada. Os candidatos representam viés e não mudanças.
Sobre a China e irã:
EUA e China (incluindo a ásia e circulo do pacifico) possui laços de dependência mutua profundas e crescente. Não tem como voltar atrás sem ter um apocalipse que quebre a integração e não vai ser um "aiaiaiauiuiui" que vai criá-lo. Quando ocorrer o mundo inteiro vai junto.
A mesma coisa que falar que a euro e UE vão acabar ou a Grécia vai ser expulsa. Pode ocorrer? Sim, mas vai levar alguns anos.
A dinâmica de inflação do poder financeiro e pendência externa de manufaturas é manjada há décadas. O problema é que a mecânica da coisa é cada vez mais irreal. Está descolada dos fatos e não explica nada, principalmente por estar presa ao século XIX e Grã-Bretanha. É uma explicação de inspiração braudeliana que era restrita nos anos 1990 e, hoje, cada mais desacreditada.
A questão nuclear iraniana se fosse fácil aumentar a pressão ou atacar o Irã já teria sido feito. Aquilo é Ásia Central onde as potências atuam e é briga de cachorro grande. Se mexer uma peça, muda o jogo e a posição dos adversários. Neste caso, o Irã está refém dos interesses externos que o circundam, amigos não tem nenhum.
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
Tá confuso. Se reelegem o Obama, não há perspectiva de melhorar a economia. Se elegem Romney, é garantia de guerra em pouco tempo.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
E existe alguma perspectiva de melhoria da economia com Romney? Nesta área que milagre ele poderia fazer diferente do que o Obama já faz?rodrigo escreveu:Tá confuso. Se reelegem o Obama, não há perspectiva de melhorar a economia. Se elegem Romney, é garantia de guerra em pouco tempo.
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
É exatamente nesse ponto que o eleitorado americano está do lado dos republicanos. O que pode ser feito? Não sei, se eu soubesse vendia caro.LeandroGCard escreveu:E existe alguma perspectiva de melhoria da economia com Romney? Nesta área que milagre ele poderia fazer diferente do que o Obama já faz?rodrigo escreveu:Tá confuso. Se reelegem o Obama, não há perspectiva de melhorar a economia. Se elegem Romney, é garantia de guerra em pouco tempo.
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
10/09/2012 - 17h47
Obstruir e explorar
DE SÃO PAULO
Alguém se recorda da American Jobs Act (a Lei dos Empregos nos EUA)? Um ano atrás o presidente Barack Obama propôs que a economia recebesse um incentivo que combinaria cortes nos impostos e aumentos das despesas, visando especialmente manter o nível de emprego nos Estados e prefeituras. Analistas independentes reagiram favoravelmente. Por exemplo, a consultoria Macroeconomic Advisers estimou que a lei criaria 1,3 vagas de trabalho adicionais até o final de 2012.
Havia bons motivos para essas avaliações positivas. Embora você não o adivinharia ouvindo as discussões políticas, a experiência mundial desde a chegada da crise financeira em 2008 vem confirmando avassaladoramente a noção de que a política fiscal "funciona", que aumentos temporários nos gastos públicos incentivam o emprego numa economia desaquecida (e que os cortes nos gastos aumentam o desemprego). A Lei dos Empregos teria sido exatamente o remédio que o país necessitava.
Mas ela não foi a lugar algum, é claro, tendo sido bloqueada pelos republicanos no Congresso. E agora, tendo impedido Obama de implementar qualquer de suas políticas, esses mesmos republicanos estão apontando para os números decepcionantes do emprego e declarando que as políticas do presidente fracassaram.
Pense nisso como uma estratégia em duas partes. Primeiro, obstruir todos e quaisquer esforços para fortalecer a economia; depois, explorar a debilidade da economia para ganho político próprio. Se essa estratégia soa cínica, é porque é. No entanto, ela representa a melhor chance que o Partido Republicano tem de chegar à vitória em novembro.
Mas será que os republicanos estão realmente jogando um jogo tão cínico?
Você poderia argumentar que estamos tendo um debate genuíno sobre a política econômica, debate no qual os republicanos acreditam sinceramente que as coisas que Obama propõe prejudicariam a geração de empregos, e não a ajudariam. Contudo, mesmo que isso fosse verdade, o fato é que a economia que temos neste momento não reflete as políticas que o presidente queria.
De qualquer maneira, será que os republicanos pensam realmente que os gastos públicos são negativos para a economia? Não.
Neste momento Mitt Romney está no meio de uma blitz publicitária em que ele ataca Obama por possíveis cortes nos gastos com a defesa --cortes esses que, por sinal, foram exigidos por um acordo imposto ao presidente pelos deputados republicanos na Câmara no ano passado. E por que Romney está denunciando esses cortes? Porque, diz ele, custariam empregos!
Trata-se de um caso clássico de "keynesianismo militarizado" --a alegação de que os gastos governamentais não geram empregos, a não ser que o dinheiro seja encaminhado para fornecedores de armas e equipamentos militares, caso em que passa a ser aquilo que injeta vida na economia. E não faz sentido.
E o que dizer do argumento, que ouço o tempo inteiro, segundo o qual Obama deveria ter arrumado a economia muito tempo atrás? O que se alega é o seguinte: em seus dois primeiros anos na Presidência, Obama dispôs de uma maioria no Congresso que lhe teria permitido fazer qualquer coisa que quisesse; logo, ele já teve sua chance.
A resposta curta é: "Você só pode estar brincando".
Como já sabe qualquer pessoa que andou prestando atenção, o período durante o qual os democratas controlaram as duas câmaras do Congresso foi marcado por obstrucionismo sem precedentes no Senado. Antes uma tática reservada para ocasiões raras, o obstrucionismo virou procedimento operacional padrão; na prática, tornou-se impossível aprovar qualquer coisa sem 60 votos. E os democratas dispuseram daqueles 60 votos por apenas alguns meses. Deveriam ter tentado aprovar um grande programa econômico novo durante essa janela estreita? Olhando em retrospectiva, sim --mas isso não muda a realidade de que, durante a maior parte da Presidência de Obama, a política fiscal dos EUA vem sendo definida não pelos planos do presidente, mas pelo bloqueio republicano.
Eu argumentaria que a consequência mais importante desse obstrucionismo vem sendo o fato de não ter sido dada ajuda muito necessária aos governos estaduais e locais. Na ausência dessa ajuda, esses governos foram forçados a demitir centenas de milhares de professores e outros funcionários, e essas demissões são a razão principal pela qual os números do emprego vêm sendo decepcionantes. Desde que chegou ao nível mais baixo, um ano depois de Obama chegar ao poder, o emprego no setor privado aumentou em 4,6 milhões de empregos; mas o emprego no setor público, que normalmente tem crescimento mais ou menos correspondente ao da população, ao invés disso caiu em 571 mil empregos.
Digamos assim: quando os republicanos assumiram o controle da Câmara, declararam que sua filosofia econômica consistia em "cortar e crescer": reduza o governo, e a economia prosperará. E, graças às suas táticas de terra arrasada, tivemos os cortes que eles queriam. Mas o crescimento prometido não se concretizou --e os republicanos querem atribuir a Obama a culpa por esse fracasso.
Tudo isso coloca a Casa Branca numa situação difícil. Se ela chamar muito a atenção para o obstrucionismo republicano, isso poderia facilmente ser percebido como queixume. Mas o obstrucionismo é real; podemos argumentar que é a maior razão isolada de nossa fraqueza econômica atual.
E o que vai acontecer se a estratégia de obstruir e explorar der certo? Será essa a forma da política do futuro? Se sim, os EUA terão avançado no caminho de se tornarem uma ingovernável república de bananas.
Tradução de Clara Allain
Paul Krugman é prêmio Nobel de Economia (2008), colunista do jornal "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Um dos mais renomados economistas da atualidade, é autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados. Escreve às segundas, no site da Folha, e aos sábados, na versão impressa de "Mundo".
Obstruir e explorar
DE SÃO PAULO
Alguém se recorda da American Jobs Act (a Lei dos Empregos nos EUA)? Um ano atrás o presidente Barack Obama propôs que a economia recebesse um incentivo que combinaria cortes nos impostos e aumentos das despesas, visando especialmente manter o nível de emprego nos Estados e prefeituras. Analistas independentes reagiram favoravelmente. Por exemplo, a consultoria Macroeconomic Advisers estimou que a lei criaria 1,3 vagas de trabalho adicionais até o final de 2012.
Havia bons motivos para essas avaliações positivas. Embora você não o adivinharia ouvindo as discussões políticas, a experiência mundial desde a chegada da crise financeira em 2008 vem confirmando avassaladoramente a noção de que a política fiscal "funciona", que aumentos temporários nos gastos públicos incentivam o emprego numa economia desaquecida (e que os cortes nos gastos aumentam o desemprego). A Lei dos Empregos teria sido exatamente o remédio que o país necessitava.
Mas ela não foi a lugar algum, é claro, tendo sido bloqueada pelos republicanos no Congresso. E agora, tendo impedido Obama de implementar qualquer de suas políticas, esses mesmos republicanos estão apontando para os números decepcionantes do emprego e declarando que as políticas do presidente fracassaram.
Pense nisso como uma estratégia em duas partes. Primeiro, obstruir todos e quaisquer esforços para fortalecer a economia; depois, explorar a debilidade da economia para ganho político próprio. Se essa estratégia soa cínica, é porque é. No entanto, ela representa a melhor chance que o Partido Republicano tem de chegar à vitória em novembro.
Mas será que os republicanos estão realmente jogando um jogo tão cínico?
Você poderia argumentar que estamos tendo um debate genuíno sobre a política econômica, debate no qual os republicanos acreditam sinceramente que as coisas que Obama propõe prejudicariam a geração de empregos, e não a ajudariam. Contudo, mesmo que isso fosse verdade, o fato é que a economia que temos neste momento não reflete as políticas que o presidente queria.
De qualquer maneira, será que os republicanos pensam realmente que os gastos públicos são negativos para a economia? Não.
Neste momento Mitt Romney está no meio de uma blitz publicitária em que ele ataca Obama por possíveis cortes nos gastos com a defesa --cortes esses que, por sinal, foram exigidos por um acordo imposto ao presidente pelos deputados republicanos na Câmara no ano passado. E por que Romney está denunciando esses cortes? Porque, diz ele, custariam empregos!
Trata-se de um caso clássico de "keynesianismo militarizado" --a alegação de que os gastos governamentais não geram empregos, a não ser que o dinheiro seja encaminhado para fornecedores de armas e equipamentos militares, caso em que passa a ser aquilo que injeta vida na economia. E não faz sentido.
E o que dizer do argumento, que ouço o tempo inteiro, segundo o qual Obama deveria ter arrumado a economia muito tempo atrás? O que se alega é o seguinte: em seus dois primeiros anos na Presidência, Obama dispôs de uma maioria no Congresso que lhe teria permitido fazer qualquer coisa que quisesse; logo, ele já teve sua chance.
A resposta curta é: "Você só pode estar brincando".
Como já sabe qualquer pessoa que andou prestando atenção, o período durante o qual os democratas controlaram as duas câmaras do Congresso foi marcado por obstrucionismo sem precedentes no Senado. Antes uma tática reservada para ocasiões raras, o obstrucionismo virou procedimento operacional padrão; na prática, tornou-se impossível aprovar qualquer coisa sem 60 votos. E os democratas dispuseram daqueles 60 votos por apenas alguns meses. Deveriam ter tentado aprovar um grande programa econômico novo durante essa janela estreita? Olhando em retrospectiva, sim --mas isso não muda a realidade de que, durante a maior parte da Presidência de Obama, a política fiscal dos EUA vem sendo definida não pelos planos do presidente, mas pelo bloqueio republicano.
Eu argumentaria que a consequência mais importante desse obstrucionismo vem sendo o fato de não ter sido dada ajuda muito necessária aos governos estaduais e locais. Na ausência dessa ajuda, esses governos foram forçados a demitir centenas de milhares de professores e outros funcionários, e essas demissões são a razão principal pela qual os números do emprego vêm sendo decepcionantes. Desde que chegou ao nível mais baixo, um ano depois de Obama chegar ao poder, o emprego no setor privado aumentou em 4,6 milhões de empregos; mas o emprego no setor público, que normalmente tem crescimento mais ou menos correspondente ao da população, ao invés disso caiu em 571 mil empregos.
Digamos assim: quando os republicanos assumiram o controle da Câmara, declararam que sua filosofia econômica consistia em "cortar e crescer": reduza o governo, e a economia prosperará. E, graças às suas táticas de terra arrasada, tivemos os cortes que eles queriam. Mas o crescimento prometido não se concretizou --e os republicanos querem atribuir a Obama a culpa por esse fracasso.
Tudo isso coloca a Casa Branca numa situação difícil. Se ela chamar muito a atenção para o obstrucionismo republicano, isso poderia facilmente ser percebido como queixume. Mas o obstrucionismo é real; podemos argumentar que é a maior razão isolada de nossa fraqueza econômica atual.
E o que vai acontecer se a estratégia de obstruir e explorar der certo? Será essa a forma da política do futuro? Se sim, os EUA terão avançado no caminho de se tornarem uma ingovernável república de bananas.
Tradução de Clara Allain
Paul Krugman é prêmio Nobel de Economia (2008), colunista do jornal "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Um dos mais renomados economistas da atualidade, é autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados. Escreve às segundas, no site da Folha, e aos sábados, na versão impressa de "Mundo".
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
Li cenários catastróficos, quase apocalípticos, na hipótese de eleição de qualquer um dos dois. Na prática, o governo norte-americano como de outros países desenvolvidos e em desenvolvimento são pragmáticos. As medidas em si mudam muito pouco. O que difere é como vende as medidas e como age politicamente. Normalmente mais empurrados pelas novas necessidades e cenário do que por uma vontade própria de mudar algo.LeandroGCard escreveu:E existe alguma perspectiva de melhoria da economia com Romney? Nesta área que milagre ele poderia fazer diferente do que o Obama já faz?rodrigo escreveu:Tá confuso. Se reelegem o Obama, não há perspectiva de melhorar a economia. Se elegem Romney, é garantia de guerra em pouco tempo.
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
Estou em Alpharetta, Georgia, uma cidade perto de Atlanta. Para quem chegou,como eu, de Porto Alegre custa a acreditar que havera uma eleicao por aqui. Nenhum cartaz, nenhuma faixa, nenhum cavalete, nenhum adesivo em carro, nada. Se eu nao tivesse vindo ja sabendo da eleicao o fato passaria despercebido. Nao posso avaliar se isto e o normal ou a turma nao esta entusiasmada com os candidatos.
Ps. Esta droga de computador nao tem acentos.
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Todas coisas que nós ouvimos são uma opinião, não um fato. Todas coisas que nós vemos são uma perspectiva, não a verdade. by Marco Aurélio, imperador romano.
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
Puxa Cabeça... Tira esta assinatura daí.... Morto jamais... Ânimo homem...cabeça de martelo escreveu:http://www.youtube.com/watch?v=XJEFgRNrSuE&hd=1
Portugal pode estar adormecido... Há de despertar, e a história passada é fiel fiadora do futuro.
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
Aí vai dar Romney né . A economia da Georgia está como?delmar escreveu:Estou em Alpharetta, Georgia, uma cidade perto de Atlanta. Para quem chegou,como eu, de Porto Alegre custa a acreditar que havera uma eleicao por aqui. Nenhum cartaz, nenhuma faixa, nenhum cavalete, nenhum adesivo em carro, nada. Se eu nao tivesse vindo ja sabendo da eleicao o fato passaria despercebido. Nao posso avaliar se isto e o normal ou a turma nao esta entusiasmada com os candidatos.
Ps. Esta droga de computador nao tem acentos.
"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
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- delmar
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
Nao esta definido quem vai vencer aqui na Georgia. A populacao negra e muito grande por aqui e pode, se comparecer na votacao, dar a vitoria ao Obama. Conforme meu genro a Georgia foi um dos estados que menos sofreu com a crise. Nao ha nenhum sinal visivel de recessao.marcelo l. escreveu:Aí vai dar Romney né . A economia da Georgia está como?delmar escreveu:Estou em Alpharetta, Georgia, uma cidade perto de Atlanta. Para quem chegou,como eu, de Porto Alegre custa a acreditar que havera uma eleicao por aqui. Nenhum cartaz, nenhuma faixa, nenhum cavalete, nenhum adesivo em carro, nada. Se eu nao tivesse vindo ja sabendo da eleicao o fato passaria despercebido. Nao posso avaliar se isto e o normal ou a turma nao esta entusiasmada com os candidatos.
Ps. Esta droga de computador nao tem acentos.
Todas coisas que nós ouvimos são uma opinião, não um fato. Todas coisas que nós vemos são uma perspectiva, não a verdade. by Marco Aurélio, imperador romano.
- cabeça de martelo
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Re: Eleições Presidenciais de 2012, EUA
Está morto e enterrado, agora só falta enterrarem o corpo e está feito o serviço. Tenho a agradecer a todos os que ocuparam o poleiro desde o 25 de Abril, a todos os corruptos, a todos os vendidos que quiseram ser "Europeus".romeo escreveu:Puxa Cabeça... Tira esta assinatura daí.... Morto jamais... Ânimo homem...cabeça de martelo escreveu:
Portugal pode estar adormecido... Há de despertar, e a história passada é fiel fiadora do futuro.
MAS não te preocupes, se Portugal está morto, os Portugueses têm a "mania" de continuarem. O novo 1621 é 2012, que venha a "Restauração", de preferência com muito sangue nas ruas, talvez desta vez o povo não deixe isto chegar ao que chegou.
PS: desculpem o offtopic.