Bueno, editei e ampliei DE NOVO o projeto de artigo para possibilitar a comparação mais direta entre as duas torres. Aliás, decidi qual nome usar (torre ao invés de torreta) simplesmente consultando o Site do C I Bld, pois o termo que usam é este, torre. Assim como atualmente uso o termo CC ao invés de MBT, tento seguir as nomenclaturas militares Brasileiras. Só não sei ainda que sigla terá a VTR de reconhecimento com torre, será VBR-SR? Bem, vamos ao super trunf...errr...debate.
TORRES PARA A VERSÃO DE RECONHECIMENTO DO BLINDADO GUARANI
Por
Túlio Ricardo Moreira
Muito se tem falado sobre as possíveis torres e peças principais que seriam aplicadas a uma possível versão de reconhecimento do blindado Iveco Guarani. As duas mais citadas têm sido a LCTS 90 e a CT-CV 105, ambas da Cockerill Maintenance & Ingénierie (CMI) belga e parece interessante analisá-las, tendo em mente que o Exército Brasileiro aparentemente está mais inclinado a manter a configuração 6 x 6 em todas as versões e na VBR-SR(1) uma torre com arma de 90 mm. Mas, de qualquer modo, e para fins instrutivos, vamos a elas:
1 - TORRE CT-CV 105
A torre biplace em si é totalmente estabilizada, permitindo fogo preciso em movimento, sendo sua peça principal o CT Gun 105, arma de raiamento progressivo (novidade para peças 105 montadas em veículos de combate e que aumenta a velocidade inicial do projétil sem perda de precisão) e apta a disparar qualquer munição padrão OTAN no calibre, embora seu melhor desempenho seja com munição especificamente desenvolvida, como a APFSDS-T MECAR M1060CV, cujo desempenho com a arma é inegavelmente impressionante, atingindo o penetrador de 3,31 kg a velocidade inicial de 1620 m/s (para comparação, o penetrador da munição DM-53 do Leopard 2A6/7, com peça 120 L/55, é de cerca de 5 kg para cerca de 1.750 m/s, na prática entregando uma energia cinética de pouco mais de 7,65 MJ(2)), ou seja, impacto inicial de 4,34 MJ, mais poderoso que o maior possível de ser produzido pelas peças L7/M68 dos nossos M-60A3TTS e Leopard 1A5. O interessante é que, dada a baixa taxa de desaceleração desse tipo de projétil, na prática um alvo a 2000 m (distância na qual se alega capacidade de penetração de aproximadamente 560 mm de RHAe(3) a 60°. Apenas para demonstração, citamos que o CC mais poderoso da América do Sul é o Leopard 2A4 do Exército do Chile, cuja blindagem frontal na torre é descrita como equivalente a 690 mm de RHAe mas cuja inclinação é bem menos aguda que 60º o que, em tese, o tornaria vulnerável a esse conjunto arma/munição e isso a 2 km) seria atingido pouco mais de um segundo após o disparo, ou seja, quase sem ou mesmo sem chance de reação.
A torre pesa, em condição leve (sem munição nem blindagens adicionais, as quais está apta a receber), principalmente para transporte aéreo na viatura sobre a qual estiver instalada, cerca de 4 toneladas. A munição consiste em até 16 tiros prontos (a capacidade de munição adicional dependerá do espaço disponível no veículo onde será instalada), alimentados por carregador automático à peça principal, capaz de cadência de seis a oito disparos por minuto. Tanto o giro da torre quanto o rebaixamento (-10º) e elevação da peça principal (impressionantes + 42º, mais que o dobro da maioria das peças deste calibre, o que proporciona funcionalidades adicionais, como tiro indireto e muito melhores capacidades para combate em regiões montanhosas e ambientes urbanos). Outra característica é a possibilidade de emprego do míssil anticarro Gun Launched Anti-Tank Guided Missile (GLATGM) Falarick 105, desenvolvido em conjunto com a estatal Kyiv Design Bureau “Luch”, da Ucrânia. É um projétil guiado a laser e com duas ogivas HEAT(4) em tandem, alegadamente capaz de penetrar aproximadamente 800 mm de RHAe (após ultrapassar a ERA(5) ou blindagem equivalente) a até 5.000 m, com velocidade de cerca de 300 m/s (alto subsônico). Aliás, o uso deste míssil, transportado no depósito normal de tiros prontos e carregado normalmente pelo mesmo alimentador automático, quando associado à grande capacidade de elevação do tubo da peça principal permite mesmo atirar contra aeronaves (como helicópteros) com alta possibilidade de êxito.
Os sistemas de pontaria tanto do comandante quando do atirador são dois displays idênticos para cada um, sendo um para visão diurna e outro para visão noturna. Um visor panorâmico proporciona ao comandante uma grande capacidade de detectar-atirar primeiro. A mira do atirador também é totalmente estabilizada e dotada de computador balístico e telêmetro laser para permitir fogo em movimento tanto diurno quanto noturno e inclusive contra alvos também em movimento. Aliás, a eletrônica é toda digital de última geração. O equipamento ainda pode ser acrescido de alerta-laser (para quando o veículo for "iluminado" por algum atirador inimigo), além de metralhadora coaxial e superior.
Foi dada uma especial atenção à segurança e conforto dos tripulantes, que ficam sentados em uma posição bem baixa na torre, obtendo a vantagem da proteção extra oferecida pelo casco blindado do carro. Ademais, a tripulação é separada da munição por uma parede blindada, havendo ainda um dispositivo que ejeta por detonação a parte superior do depósito de munições, minimizando os riscos em caso de impacto por ação inimiga.
A peça principal de 105 mm conta com cano de 53 calibres de comprimento (5.586 mm) com uma distância máxima de recuo de 580 mm, sendo a força máxima do mesmo inferior a 15 toneladas, graças à ajuda do compensador/freio de boca. A pressão interna suportada pela arma excede em cerca de 20% a dos tradicionais L7/M68 (notar que uma versão anterior da munição M1060, a Mk3, é usada pelo Striker 105 em sua peça M68-L/51, o que sugere que futuramente se possa desenvolver um cartucho ainda mais potente para o CT-CV, talvez com um penetrador mais pesado capaz de manter a mesma velocidade ou com o mesmo peso e mais veloz).
Sobre a torre CT-CV 105 é singelamente informado pelo fabricante que é "indicada para veículos blindados leves e médios sobre rodas ou lagartas" sem menção a peso. É sintomático, no entanto, que todos os veículos sobre rodas que a empregam são 8 x 8, como o Piranha III e IV e Pandur II. O emprego desta torre em um possível carro Guarani 8 X 8 criaria uma situação algo inusitada em nosso Exército, já que ele teria um poder de fogo muito superior ao dos próprios Carros de Combate (CCs) sobre lagartas em uso (Leopard 1A5 e M-60TTS, ambos dotados de peça principal L7/M68). A ampla gama de munições usadas (além do Falarick 105):
2 - TORRE LCTS 90
Muitas das apresentações desta torre são similares ou mesmo iguais às da CT-CV, como ser biplace, estabilizada, modular, ter peça principal com carregamento automático (no caso da LCTS 90, este é um opcional, o que nos leva a especular sobre como seria se o carregamento automático não fosse selecionado, quem alimentaria a peça? Na torre original não parece haver espaço para um terceiro tripulante mas, como o automatismo no carregamento/recarregamento é opcional e a peça principal é menor, é possível que isso tenha sido providenciado), eletrônica digital com sensores de última geração, atuação eletromecânica tanto no giro quanto na elevação (ou seja, sem os perigosos sistemas hidráulicos usados em torres mais antigas) e rebaixamento do armamento, além da capacidade de proteção (integral contra munição perfurante calibre 7,62 mm; com blindagens modulares adicionais, ambas podem atingir o nível 5 das especificações da OTAN STANAG 4569 (como resistir a um impacto direto de munição 25mm APDS-T (M791) com velocidade de 1258 m/s disparada a 500 metros de distância ou a uma explosão de granada de artilharia de 155 mm a 25 m). Tendo sido desenvolvidas pela mesma empresa, sendo praticamente da mesma geração e para propósitos semelhantes, isso é bastante natural. Assim, nos concentremos nas diferenças, que residem principalmente na peça principal e munição disponível, além de a torre, principalmente por seu armamento, ser mais leve e, logicamente, mais barata.
O comprimento da peça é de 4,365 mm, ou seja, 48,5 calibres, alma raiada. Atinge seu melhor desempenho anticarro com munição APFSDS M603 MECAR Kenerga 90/46, que dispara um penetrador de 1,73 kg com velocidade inicial de 1430 m/s, entregando assim uma energia cinética (KE) de aproximadamente 1,77 MJ sendo, de acordo com a empresa fabricante, capaz de penetrar cerca de 150 mm de RHAe a 2.000 m em ângulo de 60º. Os valores de elevação e rebaixamento da peça são outra grande diferença em relação à torre CT-CV, sendo de -9º a + 20º o que, mesmo assim, são muito bons para peças embarcadas em veículos blindados de reconhecimento e combate.
Ainda segundo o fabricante, esta torre e sua arma são particularmente adequados ao emprego por viaturas com peso entre 10 e 20 toneladas, sendo vista tanto sobre veículos 6 x 6 como o Pandur quanto 8 x 8 como o Piranha IIIC. Outra característica que a diferencia é que não há míssil anticarro disponível para emprego diretamente na peça principal. Por outro lado, a LCTS 90 conduz um total de 37 cartuchos em seu interior, sendo 20 no compartimento blindado para emprego imediato e outras 17 estocadas em um compartimento inferior, dentro da própria torre, com a finalidade de agilizar a recarga.
CONCLUSÃO
Ao nosso ver, a escolha da torre depende principalmente da decisão final do Exército Brasileiro em relação ao Programa Guarani: se for manter a configuração 6 x 6 mesmo em uma versão mais "brava", orientada ao reconhecimento e portanto mais exposta à possibilidade de engajar alvos "duros", é bastante provável que leve à adoção da LCST 90 ou alguma versão similar feita no Brasil com apoio belga; se partir para uma versão 8 x 8, a CT-CV 105 seria uma escolha excelente (embora mesmo na 8 x 8 possa ser usada a LCST 90) pelo seu poderio, sofisticação e mais amplo leque de opções, em que se destacam a muito maior capacidade de elevação da peça principal e a capacidade adicional (flexibilidade) proporcionada pelo míssil Falarick 105 (e possivelmente o LAHAT israelense que, mesmo não sendo biogival, tem cerca de 8.000 m de alcance).
Acrescentamos, não obstante, que ambas ao opções são moderníssimas e certamente cumprirão perfeitamente seu papel. A modularidade permite a escolha de outros sensores, comunicações e eletrônicos em geral, o que poderia aumentar a padronização da frota. Ainda sobre as torres, sua capacidade de giro fica em torno de 60º/s (para comparação, a do M-60A3TTS fica em cerca de 22,5ºs). Isso, combinado aos excelentes sistemas a bordo, proporciona uma rapidíssima capacidade de adquirir-priorizar-mirar-atirar-acertar, capacidade fundamental num TO(6) moderno e atual.
Nota: segundo a CMI, já estão avançadas as tratativas para repassar à IMBEL a tecnologia para a produção das munições da peça de 90 mm, ou seja, ao menos a princípio deverá ser esta a torre/peça a a ser usada na versão VBR-SR do Exército Brasileiro.
(1) VBR-SR - Viatura Blindada de Reconhecimento - Sobre Rodas
(2) MJ - Megajoules
(3) RHAe - Rolled Homogeneous Armor equivalent - material metálico uniforme usado como medida para determinar a resistência de uma blindagem composta e a capacidade de penetração de um projétil.
(4) HEAT - High Explosive Anti Tank - Também conhecida como carga oca ou carga moldada, é uma munição que, quando detonada, dispara um plasma metálico incandescente contra o alvo.
(5) ERA - Explosive Reactive Armour ou "blindagem explosiva reativa", age explodindo ao ser atingida por munição e visa principalmente a HEAT, contrapondo uma chapa metálica de alta velocidade ao disparo da carga oca/moldada.
(6) TO - Teatro de Operações - Área onde se desenvolvem ações militares de combate.