MOMENTO ATUAL DA ECONOMIA BRASILEIRA

Área para discussão de Assuntos Gerais e off-topics.

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
Algus
Avançado
Avançado
Mensagens: 507
Registrado em: Ter Dez 23, 2008 2:17 pm
Agradeceu: 38 vezes
Agradeceram: 48 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2761 Mensagem por Algus » Sex Jun 08, 2012 8:56 pm

Vitor escreveu:
LeandroGCard escreveu:Não sei se a redução drástica do estado é solução para alguma coisa em algum lugar do mundo, os países que fizeram isso depois se arrebentaram do mesmo jeito e hoje tem muita gente arrependida. Já países que sequer se preocuparam com isso (como as repúblicas nórdicas) apresentam desempenho sistematicamente bom, bem acima da média dos que tentaram reduzir o tamanho e a influência do estado, tanto nos tempos de bonanza quanto nos de crise. Acho que esta charla de lutar por um estado cada vez menor menor logo logo vai sair de moda, se já não saiu.

Agora outra coisa completamente diferente é a demanda por um estado EFICIENTE. Tanto o estado quanto a iniciativa privada no fundo são feitos por pessoas, e o portanto em princípio podem ambos ser controlados por regras similares para garantir a eficiência dos serviços prestados e/ou bens produzidos. A questão de identificar estas regras e lutar para que sejam aplicadas tem mostrado ser bem mais útil do que a luta pla pura e simples redução do estado (esta insistência nas virtudes da redução do estado aliás serve o mais das vezes como cortina de fumaça para desculpar as próprias ineficiências do estado e mascarar as da iniciativa privada).

Se para ser mais eficiente o estado deve ser menor isso tem que ser definido pela avaliação do seu funcionamento, do que ele consome e do que ele oferece em troca. Mas pode até ser que se descubra que o estado deve aumentar e não diminuir, dependendo de como ele vai funcionar. O importante é que em qualquer caso ELE TEM QUE FUNCIONAR O MELHOR POSSÍVEL pelo gasto envolvido na sua manutenção.


Leandro G. Card
Que países que tem um estado verdadeiramente mínimo se arrependeram? Que eu saiba as Ilhas Cayman, Singapura, Suíça e Lichenstein vão muito bem.

Um estado não pode ter regras similares a iniciativa privada pois teria seu monopólio de força essencial violado. Eu não posso deixar de pagar imposto se acho o serviço horrível.

Não acha que os soviéticos tentaram de todos os modos serem eficientes? Mas não há como quando se tem um cálculo econômico totalmente distorcido. O estado tende a ser menos ineficiente a medida que é mais descentralizado. O nosso modelo que concentra quase tudo em Brasília é um dos piores possíveis e mais engessados de obter alguma melhoria real.

Agora vivemos num mundo orwelliano, onde quase todos os setores da economia tem milhares e mais milhares de páginas de regulamentação, todo dia algum deputado propõe uma lei querendo regulamentar o dedo mindinho da parafuseta, e de algum jeito o estado é mais mínimo que no passado? O burocrata tem incentivo para criar dificuldades, pois assim justifica sua função, a gente vê isso na Receita que todo mês modifica pequenas regras só pra enlouquecer os contadores das empresas.

Me mostre um único país que desfez mais regras e leis do que criou.

Um estado não consegue ser eficiente sem ser mínimo, afinal se é eficiente, não precisa devorar 40% da riqueza do país ou se endividar loucamente.

Obviamente, a única coisa que consegue ser exemplar no estado é a receita, que permite que todo o resto tenha dinheiro o bastante para desperdiçar a vontade.

http://www.estadao.com.br/noticias/impr ... 5806,0.htm
Olha, não faço a menor ideia do que é esse tal de Lichenstein, mas as Ilhas Cayman e a Suíça são verdadeiros paraísos fiscais e lucram horrores com isso. Não acredito que seus modelos econômicos sirvam de exemplo para o mundo.

Singapura tem estatais de presença muito marcante na sociedade, como nos sistemas de transporte. Até as emissoras de Tv lá são, em sua grande maioria, estatais.
Ela é uma economia de mercado, de fato, mas se aproxima muito mais da Suécia que da Suíça. Neste caso, Singapura está mais para um exemplo de país com Estado forte e eficiente, ele se encaixa bem naquela "receita".




Avatar do usuário
marcelo l.
Sênior
Sênior
Mensagens: 6097
Registrado em: Qui Out 15, 2009 12:22 am
Agradeceu: 138 vezes
Agradeceram: 66 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2762 Mensagem por marcelo l. » Sex Jun 08, 2012 11:16 pm

Andre Correa escreveu:
Túlio escreveu:CREDO!!! :shock: :shock: :shock: :shock:

Li o texto todo e os comentários. Que zona, hein?

Do jeito que vai, talvez em breve comecemos a debater se a primeira palavra do título deste tópico não deveria der mudada para "foi"...
Estava agora a pensar no mesmo... :shock: :shock:

:lol:
Tem boas razões para não ser foi...há um quadro internacional ajudar e também temos até 2030 pela demografia, vai ter crise, problemas como em qualquer lugar, ajustes.




"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
Avatar do usuário
LeandroGCard
Sênior
Sênior
Mensagens: 8754
Registrado em: Qui Ago 03, 2006 9:50 am
Localização: S.B. do Campo
Agradeceu: 69 vezes
Agradeceram: 812 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2763 Mensagem por LeandroGCard » Sáb Jun 09, 2012 10:45 am

Vitor escreveu:Que países que tem um estado verdadeiramente mínimo se arrependeram? Que eu saiba as Ilhas Cayman, Singapura, Suíça e Lichenstein vão muito bem.

Um estado não pode ter regras similares a iniciativa privada pois teria seu monopólio de força essencial violado. Eu não posso deixar de pagar imposto se acho o serviço horrível.

Não acha que os soviéticos tentaram de todos os modos serem eficientes? Mas não há como quando se tem um cálculo econômico totalmente distorcido. O estado tende a ser menos ineficiente a medida que é mais descentralizado. O nosso modelo que concentra quase tudo em Brasília é um dos piores possíveis e mais engessados de obter alguma melhoria real.

Agora vivemos num mundo orwelliano, onde quase todos os setores da economia tem milhares e mais milhares de páginas de regulamentação, todo dia algum deputado propõe uma lei querendo regulamentar o dedo mindinho da parafuseta, e de algum jeito o estado é mais mínimo que no passado? O burocrata tem incentivo para criar dificuldades, pois assim justifica sua função, a gente vê isso na Receita que todo mês modifica pequenas regras só pra enlouquecer os contadores das empresas.

Me mostre um único país que desfez mais regras e leis do que criou.

Um estado não consegue ser eficiente sem ser mínimo, afinal se é eficiente, não precisa devorar 40% da riqueza do país ou se endividar loucamente.

Obviamente, a única coisa que consegue ser exemplar no estado é a receita, que permite que todo o resto tenha dinheiro o bastante para desperdiçar a vontade.

http://www.estadao.com.br/noticias/impr ... 5806,0.htm
As ilhas Cayman sequer são um país, são um território ultramarino da Inglaterra e obedece às leis deles (que não são poucas). Só tem regras mínimas para o sistema bancário, por se tratar de um paraíso fiscal. E Singapura, como bem notou o Algus, está muito mais perto de ser um exemplo de país com estado forte do que o contrário. O mersmo vale para a Coréia do Sul (onde as intevenções do estado na economia chegam a níveis absurdos como construir unidades fábris inteiras para uso das empresas locais), a Malásia e obviamente a China, para não deixar de falar em alguns exemplos de como funcionam os países da região.

Fiquemos então com Liechtenstein e a Suíça, também notórios exemplos de paraísos fiscais. pelo seu raciocínio estes países deveriam ser verdadeiros paraísos na Terra, com indicadores econômicos e sociais muito acima de outros da mesma região e com histórias parecidas mas que cultivam governos grandes e atuantes há muito tempo não é? Infelizmente paera o seu raciocínio no mesmo continente temos diversos exemplos, como a Diamarca, a Suécia, a Finlândia, a Noruega e outros que tem estados grandes e pesados há décadas ou mesmo séculos, e que possuem indicadores econômicos e sociais tão bons ou melhores do que os da Suécia e de Liechteinstein. E se você tirar a riqueza que migra destes dois últimos advinda das pessoas e empresas que colocam seu dinheiro lá para fugir dos impostos os indicadores deles vão para um nível muito, muito inferior, mostrando que este sistema não se sustenta.

Agora, você esqueceu dos exemplos de países onde o estado foi radicalmente reduzido, que são a Rússia e os países do leste europeu. Não me consta que tenham se tornado altamente desenvolvidos da noite para o dia por isso, pelo contrário, as condições de vida em alguns deles hoje são até inferiores ao que existia na época dos governos comunistas, mesmo com toda a ajuda que receberam do ocidente em empréstimos e apoio comercial na época da derrubada dos regimes anteriores (e não venha com aquele seu velho argumento de que agora eles tem celulares, isso não vale o aumento da mortalidade infantil e a queda na expectativa de vida).

O exagero na regulamentação é sem dúvida um problema e deve ser combatido, mas a solução não é simplesmente reduzir a regulamentação ao mínimo e sim procurar o equilíbrio certo que permita o melhor funcionamento das instituições e da sociedade humanas, apesar das imperfeições e problemas inerentes ao ser humano em si. E é óbvio que o estado pode sim serguir regras que tenham a mesma orientação das da iniciativa privada (embora não tenham que e nem devam ser necessariamente as mesmas), visando sua máxima eficiência em prol da sociedade. É isso que os cidadão de uma democracia devem buscar, e não a pura e simples minimização do estado a qualquer custo.


Leandro G. Card




Avatar do usuário
marcelo l.
Sênior
Sênior
Mensagens: 6097
Registrado em: Qui Out 15, 2009 12:22 am
Agradeceu: 138 vezes
Agradeceram: 66 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2764 Mensagem por marcelo l. » Dom Jun 10, 2012 12:48 pm

http://gazetaonline.globo.com/_conteudo ... china.html

A tradicional feijoada brasileira também é meio chinesa. O avanço do gigante asiático no mercado mundial vai além dos tablets, eletrônicos e das bugigangas que invadiram camelôs e lojas. Até abril deste ano, 44% das 78,2 mil toneladas de feijão-preto importado pelo País vieram da China, fatia quase equivalente à da Argentina (48%), velho fornecedor do grão.
A China nem aparecia nas compras externas brasileiras de feijão-preto seis anos atrás. Já em 2011, o feijão chinês era 33% das importações. E, só em abril deste ano, a participação atingiu 72,9%, apontam os dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, elaborados pela Federação da Agricultura do Estado de Paraná (Faep).

A China estreou para valer no mercado brasileiro de feijão-preto em 2008, quando houve quebra na safra nacional e na produção argentina. De lá para cá, os volumes cresceram, impulsionados pelo câmbio favorável às importações e preços competitivos. "Com condições climáticas favoráveis à produção, a China identificou também uma boa oportunidade de mercado para se transformar em fornecedor de países como Brasil, México e Estados Unidos", observa a economista da Faep, Tania Moreira.

Tanto é que, em 2008, a China se tornou o principal exportador mundial de feijão com vendas externas de 960 mil toneladas, posição confirmada no ano seguinte com 1,046 milhão de toneladas segundo os últimos dados disponíveis da FAO, órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação.

A importância que o produto chinês ganhou no mercado brasileiro já apareceu nos números dos grandes processadores do grão. Mais de 90% do feijão-preto beneficiado hoje pela Broto Legal Alimentos vêm da China. Na Camil Alimentos, a totalidade de 1 mil toneladas mensais de feijão-preto empacotado é importada. Metade vem da China e a outra metade, da Argentina.

"Nossa preferência sempre foi pelo feijão-preto produzido aqui, onde tivemos ótimas safras", afirma o diretor da Broto Legal Alimentos, Hugo Fujisawa. Ele conta que cinco anos atrás a Argentina dominava as exportações para o Brasil. Aproveitando a quebra de safra nacional e a falta de competitividade do feijão argentino, o grão chinês começou a ser testado pelos empacotadores. O baixo custo, o dólar favorável à importação e a qualidade aperfeiçoada transformaram o grão chinês em rival imbatível diante do feijão-preto brasileiro e do argentino, explica.

O diretor de suprimentos da Camil, José Rubens, também diz que a preferência da sua empresa é pelo feijão nacional, observando a qualidade do produto e os preços compatíveis com o mercado. "No entanto, há alguns anos a produção nacional tem ficado abaixo da demanda, o que nos obrigou a recorrer à importação."

Rubens destaca que os chineses, mestres na comercialização de produtos em geral, detectaram a oportunidade de abastecimento nos países consumidores de feijão, e trataram de melhorar a qualidade. "Hoje o feijão-preto chinês é tão bom quanto o produto argentino. A China conseguiu desenvolver variedades de feijão-preto consumidas nos principais mundiais (Brasil, México e Estados Unidos) com boa produtividade e baixo custo ", observa Fujisawa, da Broto Legal.

Mesmo sujeito ao Imposto de Importação de 10%, o preço no atacado da saca de 60 quilos de feijão-preto vindo da China é cerca de 20% menor do que o produto brasileiro e perto de 15% abaixo do valor do grão argentino, diz Nilson Pietrobom, gerente do atacadista Pietrobom Cereais, que fica em Prudentópolis (PR), a capital brasileira do feijão-preto.

Na semana passada, por exemplo, a saca do produto nacional no Paraná estava cotada a R$ 110, o argentino custava R$ 95 e o chinês saía por R$ 90. Pietrobom diz que a mão de obra barata na China faz diferença no preço. "Lá não tem máquina, tudo é escolhido à mão." Além disso, o custo do frete é bem menor.




"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
Avatar do usuário
LeandroGCard
Sênior
Sênior
Mensagens: 8754
Registrado em: Qui Ago 03, 2006 9:50 am
Localização: S.B. do Campo
Agradeceu: 69 vezes
Agradeceram: 812 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2765 Mensagem por LeandroGCard » Dom Jun 10, 2012 12:56 pm

marcelo l. escreveu:Na semana passada, por exemplo, a saca do produto nacional no Paraná estava cotada a R$ 110, o argentino custava R$ 95 e o chinês saía por R$ 90. Pietrobom diz que a mão de obra barata na China faz diferença no preço. "Lá não tem máquina, tudo é escolhido à mão." Além disso, o custo do frete é bem menor.
Impressionante,

O custo do frete de um produto que vem do outro lado do mundo é bem menor que o do mesmo produto produzido aqui :shock: ! Isso diz muito sobre as condições de infra-estrutura e de negócios de nosso país.


Leandro G. Card




Avatar do usuário
NettoBR
Sênior
Sênior
Mensagens: 2773
Registrado em: Sáb Abr 28, 2012 10:36 am
Localização: Ribeirão Preto-SP
Agradeceu: 1085 vezes
Agradeceram: 320 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2766 Mensagem por NettoBR » Seg Jun 11, 2012 11:36 am

OCDE prevê recuperação nos EUA e crescimento moderado no Brasil
DA FRANCE PRESSE, EM PARIS - 11/06/2012 - 09h30

Estados Unidos e Japão continuam dando sinais de recuperação, enquanto a Alemanha segue em ritmo de cruzeiro e França e Itália mostram um crescimento frágil, segundo os indicadores antecipados da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

Para o Brasil, a organização destaca que o indicador composto avançado mostra uma aceleração moderada da atividade econômica.

Os indicadores compostos avançados, que pretendem antecipar os pontos de inflexão da atividade econômica em relação a sua tendência, mostram que a avaliação "mudou significativamente" para duas grandes economias emergentes, China e Índia, e agora prevê uma desaceleração.

"Os indicadores compostos antecipados para os dois países preveem uma atividade econômica abaixo da tendência de longo prazo", afirma a OCDE.

"Os indicadores compostos avançados do Japão, dos Estados Unidos e da Federação Russa continuam mostrando uma melhora da atividade econômica. No entanto, a desaceleração dos indicadores nos quatro últimos meses mostra que este crescimento parece moderado em um futuro próximo", afirma a OCDE.

Na Eurozona, França e Itália "continuam mostrando um crescimento pouco sustentável da atividade econômica". Os indicadores compostos de Alemanha, Canadá, Reino Unido e da zona do euro no conjunto "seguem mostrando uma atividade econômica abaixo da tendência a longo prazo".

Os indicadores compostos avançados tentam prever a atividade econômica de longo prazo com seis meses de antecedência.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1102 ... asil.shtml




"Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo."
Liev Tolstói
Avatar do usuário
marcelo l.
Sênior
Sênior
Mensagens: 6097
Registrado em: Qui Out 15, 2009 12:22 am
Agradeceu: 138 vezes
Agradeceram: 66 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2767 Mensagem por marcelo l. » Seg Jun 11, 2012 12:03 pm

Autor(es): David Kupfer
Valor Econômico - 11/06/2012



A reação dos analistas econômicos ao magro crescimento alcançado pelo Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, de somente 0,2% em relação ao trimestre anterior, trouxe uma sensação de consenso com relação aos novos contornos que estão conformando o modelo macroeconômico do país. É percepção geral que as políticas de dinamização da demanda dos últimos anos cumpriram um papel essencial na construção de um quadro geral favorável, mas já não estão mais se revelando suficientes para assegurar a almejada aceleração do crescimento.

Sempre é possível argumentar que, mesmo que uma determinada política não tenha proporcionado resultados suficientemente robustos, teria sido possível obtê-los com mais do mesmo. Assim como os defensores das reformas microeconômicas dos anos 1990 tentavam justificar a baixa efetividade dessas políticas com a ideia de que teria faltado abrangência, intensidade e persistência nessas reformas, é plausível sugerir que a atual inflexão da taxa de crescimento do PIB pode ser revertida com doses mais fortes de estímulos de demanda. Contudo, nas condições atuais da economia mundial, não se pode descartar a possibilidade de que esses estímulos de demanda vazem para o setor externo, reduzindo a sua contribuição para a expansão da produção. Conclusão: é necessário colocar o foco da política econômica também no lado da oferta, que precisa ser concomitantemente dinamizada para que os objetivos de crescimento sejam alcançados. Se esse raciocínio está correto, mais cedo ou mais tarde, a economia terá que ser puxada pelos investimentos, e não mais pelo consumo. E se é assim, que seja mais cedo!

Desatar o nó do investimento implica reconhecer, inicialmente, que uma parcela importante do portfólio de projetos em pipeline, em grande parte herdados do final da década passada, está postergada ou represada. A parcela postergada relaciona-se quase sempre aos projetos ligados a recursos naturais que dependem de mercados externos para a viabilização das grandes escalas requeridas. Nesses casos, pouco ou nada se pode fazer a não ser aguardar o reaquecimento desses mercados pois nas condições pós-crise da economia internacional, esses projetos deparam-se com excedentes generalizados de capacidade mundo afora. Já a parcela represada deve-se em grande parte a problemas administrativos enfrentados na execução de obras de infraestrutura contratadas ou concedidas pelo poder público. Evidentemente, cabe ao próprio governo retirar essas amarras para que o investimento represado volte a fluir. O bônus aqui é que, além dos efeitos diretos sobre a formação de capital, essas obras, na medida em que vão entrando na fase operacional, promovem impulso adicional à oferta, já que ampliam a rentabilidade de novos projetos de seus usuários.

Tributos, energia e qualificação da mão de obra são os vilões mais citados, mas há ainda o hiato tecnológico

No entanto, o jogo decisivo não é (apenas) esse. A universalização do padrão de consumo, que motivou a dinamização da economia a partir da inclusão de camadas crescentes da população ao mercado, não pode conviver com expansão da produção a custos crescentes, como vem ocorrendo nos últimos anos, sob pena de se abortar os fundamentos do próprio ciclo de crescimento. Esse paradigma de universalização do padrão de consumo cumpre hoje um papel disciplinador dos preços que, desse ponto de vista, é análogo ao desempenhado pela abertura comercial da década de 1990. Porém, diferentemente da abertura, ainda mais quando atabalhoada tal qual a que foi praticada no Brasil, a universalização do acesso ao consumo não desincentiva o investimento, não desarticula as cadeias produtivas nem tampouco desbarata o sistema nacional de inovação. Portanto, ao contrário de trazer impactos destrutivos e de constituir uma ameaça para a indústria brasileira, pode ser fonte de grandes oportunidades para o seu pleno desenvolvimento.

No entanto, essas oportunidades dificilmente se concretizarão se a mencionada pressão de custos sobre a produção nacional não for revertida por uma firme ação política, capaz de atacar na base os seus elementos geradores. Embora tributos, energia e qualificação do trabalho sejam os vilões mais citados, há razões para se acreditar que sem uma onda de investimentos voltados para reduzir o hiato tecnológico que voltou a distanciar a atividade industrial brasileira das melhores práticas internacionais, as chances de sucesso se verão muito reduzidas. E esses investimentos não fazem parte do pipeline herdado do período pré-crise internacional.

Nesse momento, o Brasil caminha para fechar 2012 com uma taxa de juros básica real próxima a 2% anuais. Embora ainda alta relativamente a outros países, o importante é que em valor absoluto esse patamar já não impõe os custos insuportáveis de servir a dívida pública ou carregar as reservas internacionais nem os efeitos indesejáveis da atração de capital externo especulativo sobre a apreciação cambial que eram provocados pela estratégia anterior da super-Selic.

O fato é que o país parece estar macroeconomicamente mais bem preparado agora do que antes para poder novamente conciliar as políticas de estabilização e de desenvolvimento, abandonando de vez a prática esquizofrênica que perdurou nos últimos vinte anos de privilegiar o primeiro sempre em detrimento do segundo. Mas para que essa página seja definitivamente virada, além de assegurar que o retorno a um mix juros-câmbio mais civilizado seja duradouro, políticas competentes de fomento ao investimento se fazem igualmente essenciais.

David Kupfer é professor e pesquisador licenciado do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ (GIC-IE/UFRJ) e assessor da presidência do BNDES. Escreve mensalmente às segundas-feiras. E-mail: gic@ie.ufrj.br/ www.ie.ufrj.br/gic.




"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
Avatar do usuário
marcelo l.
Sênior
Sênior
Mensagens: 6097
Registrado em: Qui Out 15, 2009 12:22 am
Agradeceu: 138 vezes
Agradeceram: 66 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2768 Mensagem por marcelo l. » Seg Jun 11, 2012 1:17 pm

http://economia.estadao.com.br/noticias ... 5605,0.htm


O Brasil está se tornando menos produtivo no governo da presidente Dilma Rousseff. Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a produtividade da economia brasileira está caindo em 2012 pelo segundo ano consecutivo, após ter alcançado no governo Lula o seu melhor desempenho desde o milagre econômico da década de 70.

Silvia Matos, economista do Ibre, calculou que a queda da produtividade pode ter reduzido em quase dois terços o crescimento dos investimentos no Brasil em 2011, que ficou em 4,7%, depois de uma expansão média anual de 10% no segundo mandato de Lula. Ela projeta crescimento zero dos investimentos em 2012.

O números do Ibre mostram que a produtividade, após ter crescido uma média anual de 1,2% no governo Lula, e 1,9% no segundo mandato do ex-presidente, recuou 0,03% em 2011 e deve ter nova retração de 1% em 2012. Com isso, a taxa de investimento, que foi de 19,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, cairia para 18,9% em 2012, ficando mais distante dos 20% pretendidos pelo governo para este ano.

O indicador medido pelo Ibre é a chamada produtividade total dos fatores, considerada o componente mais importante do crescimento econômico no longo prazo. A queda da produtividade significa que a economia está produzindo menos com uma mesma quantidade de fatores de produção, que são o capital (fábricas, máquinas, imóveis, etc) e o trabalho, medido pelas horas trabalhadas.

O avanço da produtividade no segundo mandato de Lula, o mais veloz em décadas, não só ajudou o PIB a crescer mais rápido, mas também levou muitos analistas a projetarem que a economia poderia se expandir a um ritmo mais acelerado sem descontrole da inflação e outros desequilíbrios. O chamado "crescimento potencial" chegou a ser estimado pelos mais otimistas, incluindo o governo, na faixa de 4,5% a 5%.

Agora, porém, o pessimismo parece estar voltando sobre a capacidade de expansão da economia brasileira. Em 2011, o PIB cresceu apenas 2,7%, com a inflação batendo no teto do intervalo da meta, de 6,5%.

O decepcionante resultado do PIB do primeiro trimestre, que cresceu apenas 0,2% ante o trimestre anterior, na série dessazonalizada, levou diversos analistas a rever para baixo suas projeções de crescimento em 2012, levando-as para perto de 2%.

O governo vê basicamente um problema de demanda, e tem tomado diversas medidas para estimular o consumo e o crédito. Alguns economistas, porém, enxergam no mau desempenho da produtividade - ligada às condições de oferta da economia - um dos possíveis motivos para o desapontador desempenho recente do Brasil.




"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
Avatar do usuário
Bourne
Sênior
Sênior
Mensagens: 21087
Registrado em: Dom Nov 04, 2007 11:23 pm
Localização: Campina Grande do Sul
Agradeceu: 3 vezes
Agradeceram: 21 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2769 Mensagem por Bourne » Seg Jun 11, 2012 7:03 pm

[sarcastic mode on] David Kupfer Esse maldito neocon :x :x :x :x [sarcastic mode off]

O problema está nas duas pontas. A demanda internacional e interna está deprimida. O governo toma medida para incentivar o consumo e tentar minimizar e criar um cenário positivo ao crescimento nos próximos meses. Entretanto são medidas que surtem efeitos no curto prazo. No longo prazo o problema está na oferta relacionada aos investimentos, densidade tecnológica, custos de produção, educação entre outros. Estourando na dificuldade de exportar produtos com maior valor agregado e a produtividade não cresce. O custo de produção no Brasil é muito alto. É tudo entravado de algum jeito.

Estas visões não são excludentes. Uma age no curto e outro no longo prazo. Nenhuma novidade. Um membro da alta cúpula do BNDES, David Kupfer, conhece os problemas e fala dentro governo. A Dona Dilma sabe. Não vive no mundo da Lua. O problema é como fazer e vencer os entraves. É uma briga mais difícil que do FX.

Uma das formas de amenizar a situação é o incetivo na formação de grandes conglomerados para serem capazes de competir internacionalmente e criando multinacionais brasileiras. Existem outros como Cano da Unicamp que criticam por considerar desperdício por desviar recursos para o investimento produtivo no Brasil, pois no estágio atual do capitalismo no Brasil não é interessante incentivar esses tipo de empresa.

Outra medida é deixar que o câmbio se valorize e chegue ao que se espera para igualar o diferencial de competitividade. A crise internacional e busca por rotas seguras pelos especuladores está favorecendo a desvalorização do real, incetivo a exportação e proteção contra a concorrência estrangeira. Nada de errado. O câmbio está simplesmente chegando a cotação que deveria ter.

Se isso ocorresse com os entraves ao crescimento solucionados crescia mais forte e rápido que a China, mas não é assim.




Vitor
Sênior
Sênior
Mensagens: 1109
Registrado em: Sáb Mai 09, 2009 11:43 pm

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2770 Mensagem por Vitor » Ter Jun 12, 2012 9:42 am

É impossível vencer esses entraves sem medidas que não sejam consideradas "ultra neoliberais". Logo não vão ocorrer.




NÃO À DROGA! NÃO AO CRIME LEGALIZADO! HOJE ÁLCOOL, AMANHÃ COGUMELO, DEPOIS NECROFILIA! QUANDO E ONDE IREMOS PARAR?
Avatar do usuário
marcelo l.
Sênior
Sênior
Mensagens: 6097
Registrado em: Qui Out 15, 2009 12:22 am
Agradeceu: 138 vezes
Agradeceram: 66 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2771 Mensagem por marcelo l. » Ter Jun 12, 2012 12:40 pm

Bourne escreveu:[sarcastic mode on] David Kupfer Esse maldito neocon :x :x :x :x [sarcastic mode off]

O problema está nas duas pontas. A demanda internacional e interna está deprimida. O governo toma medida para incentivar o consumo e tentar minimizar e criar um cenário positivo ao crescimento nos próximos meses. Entretanto são medidas que surtem efeitos no curto prazo. No longo prazo o problema está na oferta relacionada aos investimentos, densidade tecnológica, custos de produção, educação entre outros. Estourando na dificuldade de exportar produtos com maior valor agregado e a produtividade não cresce. O custo de produção no Brasil é muito alto. É tudo entravado de algum jeito.

Estas visões não são excludentes. Uma age no curto e outro no longo prazo. Nenhuma novidade. Um membro da alta cúpula do BNDES, David Kupfer, conhece os problemas e fala dentro governo. A Dona Dilma sabe. Não vive no mundo da Lua. O problema é como fazer e vencer os entraves. É uma briga mais difícil que do FX.

Uma das formas de amenizar a situação é o incetivo na formação de grandes conglomerados para serem capazes de competir internacionalmente e criando multinacionais brasileiras. Existem outros como Cano da Unicamp que criticam por considerar desperdício por desviar recursos para o investimento produtivo no Brasil, pois no estágio atual do capitalismo no Brasil não é interessante incentivar esses tipo de empresa.

Outra medida é deixar que o câmbio se valorize e chegue ao que se espera para igualar o diferencial de competitividade. A crise internacional e busca por rotas seguras pelos especuladores está favorecendo a desvalorização do real, incetivo a exportação e proteção contra a concorrência estrangeira. Nada de errado. O câmbio está simplesmente chegando a cotação que deveria ter.

Se isso ocorresse com os entraves ao crescimento solucionados crescia mais forte e rápido que a China, mas não é assim.
Dona Dilma sabe de muita coisa e até mais que todos...mas, ela tem razões políticas de querer atrelar a economia as decisões do projeto de poder a que está ligada.




"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
Avatar do usuário
Grifon
Avançado
Avançado
Mensagens: 492
Registrado em: Ter Out 21, 2008 10:41 pm
Agradeceu: 1 vez
Agradeceram: 3 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2772 Mensagem por Grifon » Ter Jun 12, 2012 2:20 pm

Para presidente do BC, medidas do governo não são controle de capital

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, negou nesta terça-feira (12) que as medidas de restrição à entrada de capitais no Brasil sejam controle de capital.

"Alguns chamam de controle de capital, mas nós chamamos de medidas macroprudenciais [políticas econômicas de prevenção de riscos]", declarou, durante audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos).

Tombini se referia tanto às atuações do BC no mercado de câmbio quanto ao aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para investidores estrangeiros e para empréstimos tomados por empresas e bancos brasileiros lá fora.

Ontem, o dólar fechou cotado a R$ 2,057, aumento de 1,63%, a maior cotação desde 18 de maio de 2009, quando encerrou a R$ 2,076.

A atuação do Banco Central, que voltou a ofertar dólar no mercado futuro via swaps cambiais (operação equivalente à venda de dólar no mercado futuro), não foi suficiente para conter a alta da moeda.

http://www1.folha.uol.com.br/poder/1103 ... ital.shtml




Vitor
Sênior
Sênior
Mensagens: 1109
Registrado em: Sáb Mai 09, 2009 11:43 pm

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2773 Mensagem por Vitor » Ter Jun 12, 2012 3:10 pm

Grifon escreveu:
Para presidente do BC, medidas do governo não são controle de capital

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, negou nesta terça-feira (12) que as medidas de restrição à entrada de capitais no Brasil sejam controle de capital.

"Alguns chamam de controle de capital, mas nós chamamos de medidas macroprudenciais [políticas econômicas de prevenção de riscos]", declarou, durante audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos).

Tombini se referia tanto às atuações do BC no mercado de câmbio quanto ao aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para investidores estrangeiros e para empréstimos tomados por empresas e bancos brasileiros lá fora.

Ontem, o dólar fechou cotado a R$ 2,057, aumento de 1,63%, a maior cotação desde 18 de maio de 2009, quando encerrou a R$ 2,076.

A atuação do Banco Central, que voltou a ofertar dólar no mercado futuro via swaps cambiais (operação equivalente à venda de dólar no mercado futuro), não foi suficiente para conter a alta da moeda.

http://www1.folha.uol.com.br/poder/1103 ... ital.shtml
"Macroprudenciais", patético.




NÃO À DROGA! NÃO AO CRIME LEGALIZADO! HOJE ÁLCOOL, AMANHÃ COGUMELO, DEPOIS NECROFILIA! QUANDO E ONDE IREMOS PARAR?
Vitor
Sênior
Sênior
Mensagens: 1109
Registrado em: Sáb Mai 09, 2009 11:43 pm

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2774 Mensagem por Vitor » Ter Jun 12, 2012 4:25 pm

Uma bela parábola do absurdo do protecionismo.

Este Lado e Aquele Lado

Você mora de um lado da rua. No outro lado da rua mora João. João quer vender para você um item que você quer comprar.

Silva, seu vizinho de porta — e que, portanto, mora no mesmo lado da rua que você —, também vende um item parecido com este que João vende. Mas este item de Silva custa 20% mais caro.

Silva se aproxima de você e lhe diz que, pelo bem do "lado de cá" ou em nome do "conceito Deste Lado", temos de impor um imposto sobre vendas de pelo menos 25% sobre o item vendido por João. Afinal, não queremos perder a riqueza que há Deste Lado da rua. Sem um imposto sobre a mercadoria de João, Aquele Lado irá ampliar sua presença Neste Lado.

Você rejeita a sugestão de Silva como sendo totalmente absurda e sem sentido. Você gosta do produto sendo vendido por João. É elegante. É barato. É um bom negócio. "Sai da minha frente, Silva." (Sempre que você compra algum bem, você está na realidade falando para todos os outros vendedores saírem da sua frente).

Silva, ao constatar que você é teimoso, irá atrás de Bruno, seu outro vizinho de porta, e irá alertá-lo sobre a terrível ameaça representada por Aquele Lado sobre o estilo de vida aqui Deste Lado. Ele não irá mencionar você, é claro. Ele está apenas defendendo Este Lado em nome da verdade, da justiça e do modo de vida Deste Lado.

Após isso, Silva vai para outra casa mais ao lado e destila a mesma cantilena para Pedro. Ele sugere que Pedro e Bruno se juntem a ele para aprovar uma lei impondo um imposto de 25% sobre a venda do produto de João. Se esta lei for aprovada, promete Silva, Este Lado será mais rico. Este Lado será mais forte. Este Lado será mais livre.

E a lei, então, é democraticamente aprovada. Ato contínuo, eles nomeiam um sujeito chamado Peçanha para impingir esta nova lei. Peçanha tem um distintivo. Peçanha tem uma arma. Peçanha se aproxima de você e o alerta que, se você comprar o item de João sem pagar uma tarifa de 25% para Este Lado, ele irá multá-lo em bem mais do que 25%. Ele defende Este Lado com grande entusiasmo, dado que a alternativa a este emprego tranquilo e poderoso seria a iniciativa privada. E ele jamais se saiu bem no setor privado — característica esta que ele compartilha com Silva.

Bruno irá agora comprar de Silva. Pedro também irá comprar de Silva. E Peçanha, que não tinha um emprego em tempo integral há anos, também está muito contente em comprar de Silva.

Como é que Este Lado está mais rico?

Por que as palavras "Este Lado" tornam você mais rico? Como é que o "conceito Deste Lado" faz de você alguém mais rico?

Qual é a mágica que a linha invisível que divide Este Lado e Aquele Lado faz, em termos econômicos?

Se você é um protecionista mercantilista, linhas invisíveis têm total sentido econômico. Elas representam uma oportunidade de se subsidiar seus agentes econômicos favoritos. Elas são uma desculpa perfeita para se praticar o capitalismo de estado, algo muito eficaz em uma democracia.




NÃO À DROGA! NÃO AO CRIME LEGALIZADO! HOJE ÁLCOOL, AMANHÃ COGUMELO, DEPOIS NECROFILIA! QUANDO E ONDE IREMOS PARAR?
Avatar do usuário
Algus
Avançado
Avançado
Mensagens: 507
Registrado em: Ter Dez 23, 2008 2:17 pm
Agradeceu: 38 vezes
Agradeceram: 48 vezes

Re: É O MELHOR MOMENTO DA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA

#2775 Mensagem por Algus » Qua Jun 13, 2012 12:02 pm

Respeito sua opinião, Vitor, mas não considero esta uma boa comparação. A divergência fundamental é que, pela parábola, o protecionismo não nos traz vantagem alguma. Trazendo isso para o mundo real, significa que não importa se a empresa "vizinha" (que produz dentro do território nacional) cresça exponencialmente ou venha a falir, já que isso não traz vantagem alguma ao João da padaria.

Só que uma empresa que cresce gera mais empregos, mais renda, mais recursos ao Estado. E trabalhadores desta empresa, ao invés de desempregados, terão dinheiro para comprar os produtos dos vizinhos.

Protecionismo existe em qualquer lugar do mundo, a diferença é que países ricos fazem uso de outros mecanismos que não a simples taxação de produtos. A prática de subsídios agrícolas dos EUA, por exemplo, é um exemplo de medida protecionista. Eles aceitam "perder dinheiro" para tornar seus produtos competitivos ao menos no mercado interno (mas geralmente o fazem para competir no mercado externo também). Aí, depois de enfraquecer os concorrentes ou quando suas empresas tiverem força suficiente pra competir sozinhas, a medida pode ser amenizada ou até mesmo cancelada.

Quando um governo incentiva a xenofobia ele está atuando em uma área mais obscura que também envolve o protecionismo. Aí não existem barreiras tarifárias às importações ou medidas de incentivo fiscal, mas sim uma barreira ideológica. A Europa inteira faz isso há muito tempo.

O argumento mais comum entre aqueles que criticam o protecionismo é que isso torna nossas empresas (e, consequentemente, seus produtos) fracas e difíceis de competir no mercado externo, como se elas tivessem condições iguais de competir localizadas num país com infra-estrutura precária, sem mão-de-obra especializada e sérios entraves burocráticos.

O que se esquecem de contar é que o protecionismo foi utilizado pelos EUA ao longo de todo o século XIX e foi neste século que eles se tornaram a maior economia do mundo.

Vou sintetizar o que eu disse: O protecionismo foi ferramenta fundamental no modelo econômico denominado "escola americana", que por sua vez fez com que os EUA se industrializasse de maneira muito rápida.

Naquela época, o maior crítico do protecionismo era a Inglaterra. O que é óbvio, uma vez que foi o primeiro país a se industrializar. Boa parte de sua indústria já estava consolidada e só precisava que outros países não dificultassem o acesso a seus produtos.
Se hoje os EUA criticam o protecionismo é porque suas empresas possuem excelentes condições de competir no mercado e comprar aquelas que podem ameaçar seu reinado (nesta hora o liberalismo é mais que bem vindo). Mas mesmo assim, quando não possuem ou precisam de auxílio, são prontamente socorridas pelo Estado.

A propósito, existe outra forma de "proteger a empresa do vizinho": Quando um país força o outro econômica, ideológica ou militarmente a facilitar a entrada de seus produtos e empresas, como ocorreu no período colonial e como é o caso do que ocorre no Iraque.
"A guerra foi (e é) custosa, mas já que estamos aqui vamos incentivar a privatização das estatais iraquianas, mas só para os EUA e seus aliados que auxiliaram na invasão. Vamos aproveitar também e vender a eles F-16 pelo dobro do preço". Todo mundo fica feliz e a gente continua fazendo de conta que a receita certa é o liberalismo econômico.

E por que não citar a venda cancelada do Super Tucano? O melhor da classe, único testado (e aprovado) em combate e com peças made in USA ainda assim teve seu contrato cancelado em nome de uma empresa quase falida, mas nacional. O ST só será vendido a eles porque a empresa americana não tem a mínima condição de competir, ainda assim postergaram ao máximo. Eles possuem uma política específica que dificulta ao máximo a compra de armamento de origem estrangeira, justamente por entender que existem outros fatores mais importantes que o lucro. Se isso não é uma medida protecionista eu não sei o que poderia ser.

Protecionismo é largamente utilizado pelos países industrializados e prontamente criticado por eles quando lhes convém.




Responder