Guerra das Malvinas / Falkland
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Re: Guerra das Malvinas
Tulio
Então é uma maldição dos cruzadores e couraçados brasileiros, eles preferem um tumulo digno, no fundo do mar do que serem sucateados
Um abraço
Hélio
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- Túlio
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Re: Guerra das Malvinas
Xi, valews então, desculpem a intromissão, só queria ajudar...
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P. Sullivan (Margin Call, 2011)
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Re: Guerra das Malvinas
Mucho se discute el papel que jugo Chile en 1982 en Malvinas, creo que nadie se puede sentir orgulloso por provocar en algo la derrota en Argentina pero viendolo desde un punto de vista de interes o sobreviviencia de Chile era lo que tenia que hacer.
Hay que recordar como se gritaba en Plaza de Mayo el 2 de abril de 1982 no solo contra los ingleses sino contra los chilenos, aca un video.
salu2
Hay que recordar como se gritaba en Plaza de Mayo el 2 de abril de 1982 no solo contra los ingleses sino contra los chilenos, aca un video.
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Re: Guerra das Malvinas
Nem tem mesmo que se lamentar. A Argentina dos generais era uma força hostil e ameaçadora para o Chile. Logo, este tinha o direito de tomar todas as atitudes para provocar o enfraquecimento deste potencial adversário. O fato de o Chile estar debaixo de uma ditadura tão brutal quanto a dos argentinos não altera este fato.nirvanerox escreveu:Mucho se discute el papel que jugo Chile en 1982 en Malvinas, creo que nadie se puede sentir orgulloso por provocar en algo la derrota en Argentina pero viendolo desde un punto de vista de interes o sobreviviencia de Chile era lo que tenia que hacer.
Se os generais argentinos não esperavam isto eram uns ingênuos. Se esperavam isto, mas mesmo assim, foram em frente com a aventura nas Malvinas, eram mesmo uns criminosos que colocaram o bem-estar das Forças Armadas e da Nação argentina numa mesa de pôquer.
- Túlio
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Re: Guerra das Malvinas
Perfeito, Clermont. Só para variar, subscrevo.
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- Marino
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Re: Guerra das Malvinas
O Globo
POR DENTRO DO GLOBO
Malvinas, três décadas depois
A História recente do Brasil, e de seus vizinhos na América do Sul, está repleta de lacunas. E, para entender o que acontece hoje neste pedaço do planeta, é preciso tentar preenchê-las. Foi o que os jornalistas José Casado e Eliane Oliveira fizeram, e que O GLOBO publica a partir de amanhã, numa série na editoria O País sobre os 30 anos da Guerra das Malvinas.
Uma das dificuldades enfrentadas foi buscar informações no inquérito militar que a Argentina pôs agora à disposição do público, além da busca de dados também nas quase cinco mil páginas de documentos sobre a guerra em Brasília.
- A Argentina despejou há duas semanas quase uma dezena de milhares de páginas de um inquérito militar guardadas há 30 anos. Foi uma correria para obter cópia e quase uma busca de agulha no palheiro para achar informações úteis - conta Casado, que participou da cobertura da guerra pela "Gazeta Mercantil".
A isso, somou-se a documentação "extraída" em Brasília, "e a expressão é essa mesmo, porque o acesso é limitado", diz Casado, num trabalho que acabou sendo um teste da Lei de Acesso à Informação, recém-aprovada:
- Não é fácil. Os papéis não estão inteiramente disponíveis. Não há o mínimo de estrutura nos ministérios. A melhor situação é a do Itamaraty, com dois funcionários e duas máquinas de microfilmes, uma quase sempre quebrada - afirma o jornalista.
Como lembra Eliane Oliveira, da sucursal de Brasília, "as dificuldades não estão condicionadas ao humor dos funcionários, mas às deficiências de estrutura e pessoal":
- No Itamaraty, por exemplo, que guarda cerca de 50 milhões de papéis no Rio e outros 30 milhões em Brasília, grande parte do material sequer foi digitalizada - diz Eliane.
- No Arquivo Nacional, além da burocracia, impõe-se uma longa espera - completa Casado. - Já o CPDOC da FGV-Rio recebeu nos últimos 20 anos uma série de arquivos da diplomacia brasileira. Há caixas que até hoje não foram abertas. E não há previsão de que isso venha a ocorrer.
POR DENTRO DO GLOBO
Malvinas, três décadas depois
A História recente do Brasil, e de seus vizinhos na América do Sul, está repleta de lacunas. E, para entender o que acontece hoje neste pedaço do planeta, é preciso tentar preenchê-las. Foi o que os jornalistas José Casado e Eliane Oliveira fizeram, e que O GLOBO publica a partir de amanhã, numa série na editoria O País sobre os 30 anos da Guerra das Malvinas.
Uma das dificuldades enfrentadas foi buscar informações no inquérito militar que a Argentina pôs agora à disposição do público, além da busca de dados também nas quase cinco mil páginas de documentos sobre a guerra em Brasília.
- A Argentina despejou há duas semanas quase uma dezena de milhares de páginas de um inquérito militar guardadas há 30 anos. Foi uma correria para obter cópia e quase uma busca de agulha no palheiro para achar informações úteis - conta Casado, que participou da cobertura da guerra pela "Gazeta Mercantil".
A isso, somou-se a documentação "extraída" em Brasília, "e a expressão é essa mesmo, porque o acesso é limitado", diz Casado, num trabalho que acabou sendo um teste da Lei de Acesso à Informação, recém-aprovada:
- Não é fácil. Os papéis não estão inteiramente disponíveis. Não há o mínimo de estrutura nos ministérios. A melhor situação é a do Itamaraty, com dois funcionários e duas máquinas de microfilmes, uma quase sempre quebrada - afirma o jornalista.
Como lembra Eliane Oliveira, da sucursal de Brasília, "as dificuldades não estão condicionadas ao humor dos funcionários, mas às deficiências de estrutura e pessoal":
- No Itamaraty, por exemplo, que guarda cerca de 50 milhões de papéis no Rio e outros 30 milhões em Brasília, grande parte do material sequer foi digitalizada - diz Eliane.
- No Arquivo Nacional, além da burocracia, impõe-se uma longa espera - completa Casado. - Já o CPDOC da FGV-Rio recebeu nos últimos 20 anos uma série de arquivos da diplomacia brasileira. Há caixas que até hoje não foram abertas. E não há previsão de que isso venha a ocorrer.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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Re: Guerra das Malvinas
Emprego político do poder naval:
http://www.dailymail.co.uk/news/article ... z1sgFQvsOM
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Re: Guerra das Malvinas
A GB faz isso já a alguns séculos.
Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo.
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Re: Guerra das Malvinas
terra.com.br
Jornal: Brasil ajudou a traficar armas durante Guerra das Malvinas
22 de abril de 2012 • 08h57
Reportagem publicada neste domingo no jornal O Estado de S.Paulo afirma que na Guerra das Malvinas, em 1982, o Brasil participou de uma operação clandestina de suprimento de armas para a Argentina, montada pela União Soviética e apoiada por Cuba, Peru, Líbia e Angola. Com base em documentos do Conselho de Segurança Nacional e do Itamaraty, a reportagem mostra como a ditadura argentina se valeu de uma ponte aérea de armamento com destino a Buenos Aires, com escalas nos aeroportos de Recife e do Galeão (Rio), que chegou à média de dois voos diários. Enquanto a Argentina enfrentava um bloqueio financeiro, comercial e militar europeu, a Grã-Bretanha recebia ajuda dos EUA, o que motivou os soviéticos a mobilizarem o ditador cubano Fidel Castro para atuar em favor dos argentinos.
Enquanto mantinha o discurso oficial de neutralidade, o Brasil ajudava o governo do general-ditador Leopoldo Galtieri a receber mísseis e aviões russos procedentes da Líbia. "Gradualmente" - registrou o Conselho de Segurança Nacional em memorando ao presidente Figueiredo -, a Argentina estreitava "seus contatos com o Brasil, em graus diversos de formalidade". E requeria "cooperação em termos mais concretos". Brasília começou a receber lista de pedidos: créditos e facilidades para operações triangulares de comércio com a Europa; aviões para entrega imediata; bombas incendiárias e munição para fuzis; sistemas de radar e querosene de aviação, entre outras coisas. O Itamaraty recomendava "tratamento favorável" a quase tudo, enquanto a tensão aumentava no ritmo da marcha da frota britânica pelo Atlântico Sul.
Jornal: Brasil ajudou a traficar armas durante Guerra das Malvinas
22 de abril de 2012 • 08h57
Reportagem publicada neste domingo no jornal O Estado de S.Paulo afirma que na Guerra das Malvinas, em 1982, o Brasil participou de uma operação clandestina de suprimento de armas para a Argentina, montada pela União Soviética e apoiada por Cuba, Peru, Líbia e Angola. Com base em documentos do Conselho de Segurança Nacional e do Itamaraty, a reportagem mostra como a ditadura argentina se valeu de uma ponte aérea de armamento com destino a Buenos Aires, com escalas nos aeroportos de Recife e do Galeão (Rio), que chegou à média de dois voos diários. Enquanto a Argentina enfrentava um bloqueio financeiro, comercial e militar europeu, a Grã-Bretanha recebia ajuda dos EUA, o que motivou os soviéticos a mobilizarem o ditador cubano Fidel Castro para atuar em favor dos argentinos.
Enquanto mantinha o discurso oficial de neutralidade, o Brasil ajudava o governo do general-ditador Leopoldo Galtieri a receber mísseis e aviões russos procedentes da Líbia. "Gradualmente" - registrou o Conselho de Segurança Nacional em memorando ao presidente Figueiredo -, a Argentina estreitava "seus contatos com o Brasil, em graus diversos de formalidade". E requeria "cooperação em termos mais concretos". Brasília começou a receber lista de pedidos: créditos e facilidades para operações triangulares de comércio com a Europa; aviões para entrega imediata; bombas incendiárias e munição para fuzis; sistemas de radar e querosene de aviação, entre outras coisas. O Itamaraty recomendava "tratamento favorável" a quase tudo, enquanto a tensão aumentava no ritmo da marcha da frota britânica pelo Atlântico Sul.
"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
- Clermont
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Re: Guerra das Malvinas
(Agora, vejam só: o general Galtieri desprezava o Brasil, abertamente. Ele ridicularizava a política externa independente brasileira de aproximação com países comunistas e ex-colônias africanas. O objetivo de grande estratégia de Galtieri era suplantar o Brasil como principal aliado dos Estados Unidos nas Américas, para isso, ele pretendia, até mesmo, enviar tropas regulares argentinas para lutar contra governos e movimentos comunistas na América Central. Ou seja, tudo o que Galtieri visava conseguir para a Argentina, era em detrimento dos interesses brasileiros. Imagine-se, então, que, por alguma arte mística, os argentinos conseguissem um resultado favorável nas Malvinas. Se não a vitória, algum empate honroso - seja lá o que isso pudesse ter sido. Qual seria a posição de uma Argentina inflamada pela façanha de desafiar uma grande potência militar européia e ter sobrevivido ao choque? Que perigo essa Argentina militar e militarista representaria para seus vizinhos?
Agora, compare-se a atitude brasileira, com a atitude chilena. Brasil e Chile estavam sob governo militar, mas o líder militar chileno resolveu fazer todo o possível para conter a eventual ameaça argentina, enquanto, de acordo com o relato abaixo, as lideranças militares e diplomáticas brasileiras resolveram cooperar com a vitória e conseqüente fortalecimento de uma feroz Argentina comandada por Galtieri.
Que espécie de triunfo geopolítico os generais brasileiros esperavam de um sucesso argentino nas Malvinas?)
_________________________________________
Ilhas Malvinas: Brasil apoiou tráfico de armas para Argentina.
Ponte aérea montada por URSS e Cuba, com auxílio de Khadafi, teve dois voos diários.
Jose Casado e Eliane Oliveira - O Globo, 21.04.12.
BRASÍLIA - As nuvens prenunciavam chuva forte em Brasília na noite da sexta-feira 9 de abril de 1982. O chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro assistia ao "Jornal Nacional", quando recebeu um telefonema do brigadeiro Saulo de Mattos Macedo, chefe do Comando Aéreo Regional: um avião cubano invadira o espaço aéreo brasileiro.
No mundo da Guerra Fria, Brasil e Cuba não mantinham relações diplomáticas. Por esse motivo, pela manhã, o Itamaraty negara permissão a um voo da Cubana de Aviación rumo a Buenos Aires. Às 20h40m, o chanceler telefonou para o presidente da República, general João Figueiredo. Minutos depois, dois caças decolaram da base de Anápolis — com alguma dificuldade porque a iluminação da pista fora afetada por raios — em direção ao ponto indicado pelos radares, 300 quilômetros a oeste de Brasília.
Seguiu-se um tenso balé noturno a oito mil metros de altitude. Durou tensos 82 minutos. Só acabou quando os pilotos brasileiros anunciaram a decisão de atirar.
O jato russo Ilyushin II 62-M, matrícula CUT-1225, aterrissou em Brasília às 22h12m. Impressionou agentes da Aeronáutica por um detalhe: tinha capacidade para decolar com 165 toneladas de peso e 180 passageiros, mas na cabine estavam apenas três pessoas — o diplomata cubano Emilio Aragonés Navarro, mulher e neto. Só puderam seguir viagem depois de seis horas de negociações entre os governos do Brasil e da Argentina. Nada se sabe sobre a carga.
Navarro chegou a Buenos Aires por volta das 7h de sábado, 10 de abril, com uma mensagem do líder cubano Fidel Castro para o presidente argentino, general Leopoldo Galtieri: oferta de armas e tecnologia de informações, sob patrocínio da União Soviética, para o conflito com o Reino Unido.
Começava uma operação de suprimento clandestino de armas para a Argentina, montada pela URSS, negociada por Cuba, e com participação do Brasil, Peru, Líbia e Angola.
Foi um episódio singular na lógica da Guerra Fria. Os russos mobilizaram Fidel para socorrer uma ditadura militar ferozmente anticomunista, que confrontava o principal aliado dos Estados Unidos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — o sistema de defesa criado para conter uma eventual invasão soviética na Europa.
Uma semana antes, na madrugada de 2 de abril, os militares argentinos haviam desafiado o Reino Unido invadindo o arquipélago Malvinas, a 500 quilômetros da costa. Pressupondo o apoio dos EUA, Galtieri contara ao embaixador norte-americano, Harry Schlaudemann, sua pretensão de ficar no poder por mais cinco anos, no mínimo. Só não calculara a reação determinada da primeira-ministra Margareth Tatcher — "o homem forte do Reino Unido" aos olhos do presidente Ronald Reagan.
Tatcher recebera em Londres o secretário de Estado dos EUA, Alexander Haig, na noite anterior à interceptação do avião cubano em Brasília. "A menos que impeçamos os argentinos de ter êxito, todos somos vulneráveis", ela comentou, conforme registros oficiais. Haig confortou-a: "Estou seguro de que a senhora sabe que não somos imparciais".
Ela despachara uma frota para as Malvinas, a 13 mil quilômetros de distância. Na conversa, agradeceu o suporte norte-americano, a partir da base da Ilha de Ascensão. Instaladas a 2,7 mil quilômetros da costa brasileira, na altura de Pernambuco, as antenas ali plantadas são os "ouvidos eletrônicos" de Washington no Atlântico Sul.
Antes de se despedir de Haig, Tatcher o conduziu a uma sala da residência oficial. E "deliberadamente" mostrou-lhe retratos de heróis britânicos das guerras napoleônicas, o almirante Horatio Nelson e o general Duque de Wellington — descreveu Haig, impressionado, em telegrama enviado à Casa Branca durante o voo de Londres para Buenos Aires.
Haig fez uma escala em Recife para reabastecer seu avião. Encontrou-se com o então governador de Pernambuco, Marco Maciel, a quem contou que aconselharia aos argentinos negociar, pois seriam vencidos por Tatcher com a ajuda dos EUA.
No dia seguinte reuniu-se com Galtieri. Ouviu do general, que já conversara com o emissário de Fidel, menção às "ofertas de ajuda militar de países não-ocidentais".
A União Soviética redicionara parte dos seus satélites Cosmos para vigilância no Atlântico Sul, onde também mantinha 25 barcos "pesqueiros". A CIA considerava "inusual" esse nível de cobertura soviética na região, mas arriscou um palpite em telegrama a Haig na manhã daquele 9 de abril: "A atividade militar soviética provavelmente ficará restrita aos dados de localização (da frota britânica)".
A Argentina enfrentava um bloqueio financeiro, comercial e militar europeu. Não tinha dinheiro, apenas US$ 400 milhões em reservas. Também não tinha as armas necessárias. Pagara à França por 14 caças Super Étendard e recebera apenas cinco, com cinco modernos mísseis Exocet. Sem informação de satélites, não poderia localizar navios inimigos — submarinos, nem pensar.
Os britânicos, ao contrário, já recebiam do Pentágono os códigos militares argentinos, imagens diárias e detalhadas das bases e do movimento em Port Stanley (agora Puerto Argentino, capital das Malvinas). Mandaram dois submarinos nucleares para a região, inspirando medo no chefe da Armada, almirante Jorge Anaya, o mais radical da Junta Militar. Desde 1978, Anaya carregava um manuscrito com seu próprio plano para invasão das Malvinas. Na hora da batalha, recolheu a frota aos portos do sul. E não a deixou navegar até o fim da guerra.
Quando Haig voltou a Londres, um Boeing 707 da Aerolíneas Argentinas aterrissou no Rio. Vinha de Tel Aviv, Israel, com destino à base de El Palomar, na periferia de Buenos Aires. Foi conduzido para reabastecimento ao lado de aeronaves civis no aeroporto do Galeão, apesar do porão estar lotado com uma carga de bombas e minas terrestres.
"Gradualmente" — registrou o Conselho de Segurança Nacional em memorando ao presidente Figueiredo—-, a Argentina estreitava "seus contatos com o Brasil, em graus diversos de formalidade". E requeria "cooperação em termos mais concretos".
Brasília começou a receber lista de pedidos: créditos e facilidades para operações triangulares de comércio com a Europa; aviões para entrega imediata; bombas incendiárias e munição para fuzis; sistemas de radar e querosene de aviação, entre outras coisas.
O Itamaraty recomendava "tratamento favorável" a quase tudo, enquanto a tensão aumentava no ritmo da marcha da frota britânica pelo Atlântico Sul.
Agora, compare-se a atitude brasileira, com a atitude chilena. Brasil e Chile estavam sob governo militar, mas o líder militar chileno resolveu fazer todo o possível para conter a eventual ameaça argentina, enquanto, de acordo com o relato abaixo, as lideranças militares e diplomáticas brasileiras resolveram cooperar com a vitória e conseqüente fortalecimento de uma feroz Argentina comandada por Galtieri.
Que espécie de triunfo geopolítico os generais brasileiros esperavam de um sucesso argentino nas Malvinas?)
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Ilhas Malvinas: Brasil apoiou tráfico de armas para Argentina.
Ponte aérea montada por URSS e Cuba, com auxílio de Khadafi, teve dois voos diários.
Jose Casado e Eliane Oliveira - O Globo, 21.04.12.
BRASÍLIA - As nuvens prenunciavam chuva forte em Brasília na noite da sexta-feira 9 de abril de 1982. O chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro assistia ao "Jornal Nacional", quando recebeu um telefonema do brigadeiro Saulo de Mattos Macedo, chefe do Comando Aéreo Regional: um avião cubano invadira o espaço aéreo brasileiro.
No mundo da Guerra Fria, Brasil e Cuba não mantinham relações diplomáticas. Por esse motivo, pela manhã, o Itamaraty negara permissão a um voo da Cubana de Aviación rumo a Buenos Aires. Às 20h40m, o chanceler telefonou para o presidente da República, general João Figueiredo. Minutos depois, dois caças decolaram da base de Anápolis — com alguma dificuldade porque a iluminação da pista fora afetada por raios — em direção ao ponto indicado pelos radares, 300 quilômetros a oeste de Brasília.
Seguiu-se um tenso balé noturno a oito mil metros de altitude. Durou tensos 82 minutos. Só acabou quando os pilotos brasileiros anunciaram a decisão de atirar.
O jato russo Ilyushin II 62-M, matrícula CUT-1225, aterrissou em Brasília às 22h12m. Impressionou agentes da Aeronáutica por um detalhe: tinha capacidade para decolar com 165 toneladas de peso e 180 passageiros, mas na cabine estavam apenas três pessoas — o diplomata cubano Emilio Aragonés Navarro, mulher e neto. Só puderam seguir viagem depois de seis horas de negociações entre os governos do Brasil e da Argentina. Nada se sabe sobre a carga.
Navarro chegou a Buenos Aires por volta das 7h de sábado, 10 de abril, com uma mensagem do líder cubano Fidel Castro para o presidente argentino, general Leopoldo Galtieri: oferta de armas e tecnologia de informações, sob patrocínio da União Soviética, para o conflito com o Reino Unido.
Começava uma operação de suprimento clandestino de armas para a Argentina, montada pela URSS, negociada por Cuba, e com participação do Brasil, Peru, Líbia e Angola.
Foi um episódio singular na lógica da Guerra Fria. Os russos mobilizaram Fidel para socorrer uma ditadura militar ferozmente anticomunista, que confrontava o principal aliado dos Estados Unidos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — o sistema de defesa criado para conter uma eventual invasão soviética na Europa.
Uma semana antes, na madrugada de 2 de abril, os militares argentinos haviam desafiado o Reino Unido invadindo o arquipélago Malvinas, a 500 quilômetros da costa. Pressupondo o apoio dos EUA, Galtieri contara ao embaixador norte-americano, Harry Schlaudemann, sua pretensão de ficar no poder por mais cinco anos, no mínimo. Só não calculara a reação determinada da primeira-ministra Margareth Tatcher — "o homem forte do Reino Unido" aos olhos do presidente Ronald Reagan.
Tatcher recebera em Londres o secretário de Estado dos EUA, Alexander Haig, na noite anterior à interceptação do avião cubano em Brasília. "A menos que impeçamos os argentinos de ter êxito, todos somos vulneráveis", ela comentou, conforme registros oficiais. Haig confortou-a: "Estou seguro de que a senhora sabe que não somos imparciais".
Ela despachara uma frota para as Malvinas, a 13 mil quilômetros de distância. Na conversa, agradeceu o suporte norte-americano, a partir da base da Ilha de Ascensão. Instaladas a 2,7 mil quilômetros da costa brasileira, na altura de Pernambuco, as antenas ali plantadas são os "ouvidos eletrônicos" de Washington no Atlântico Sul.
Antes de se despedir de Haig, Tatcher o conduziu a uma sala da residência oficial. E "deliberadamente" mostrou-lhe retratos de heróis britânicos das guerras napoleônicas, o almirante Horatio Nelson e o general Duque de Wellington — descreveu Haig, impressionado, em telegrama enviado à Casa Branca durante o voo de Londres para Buenos Aires.
Haig fez uma escala em Recife para reabastecer seu avião. Encontrou-se com o então governador de Pernambuco, Marco Maciel, a quem contou que aconselharia aos argentinos negociar, pois seriam vencidos por Tatcher com a ajuda dos EUA.
No dia seguinte reuniu-se com Galtieri. Ouviu do general, que já conversara com o emissário de Fidel, menção às "ofertas de ajuda militar de países não-ocidentais".
A União Soviética redicionara parte dos seus satélites Cosmos para vigilância no Atlântico Sul, onde também mantinha 25 barcos "pesqueiros". A CIA considerava "inusual" esse nível de cobertura soviética na região, mas arriscou um palpite em telegrama a Haig na manhã daquele 9 de abril: "A atividade militar soviética provavelmente ficará restrita aos dados de localização (da frota britânica)".
A Argentina enfrentava um bloqueio financeiro, comercial e militar europeu. Não tinha dinheiro, apenas US$ 400 milhões em reservas. Também não tinha as armas necessárias. Pagara à França por 14 caças Super Étendard e recebera apenas cinco, com cinco modernos mísseis Exocet. Sem informação de satélites, não poderia localizar navios inimigos — submarinos, nem pensar.
Os britânicos, ao contrário, já recebiam do Pentágono os códigos militares argentinos, imagens diárias e detalhadas das bases e do movimento em Port Stanley (agora Puerto Argentino, capital das Malvinas). Mandaram dois submarinos nucleares para a região, inspirando medo no chefe da Armada, almirante Jorge Anaya, o mais radical da Junta Militar. Desde 1978, Anaya carregava um manuscrito com seu próprio plano para invasão das Malvinas. Na hora da batalha, recolheu a frota aos portos do sul. E não a deixou navegar até o fim da guerra.
Quando Haig voltou a Londres, um Boeing 707 da Aerolíneas Argentinas aterrissou no Rio. Vinha de Tel Aviv, Israel, com destino à base de El Palomar, na periferia de Buenos Aires. Foi conduzido para reabastecimento ao lado de aeronaves civis no aeroporto do Galeão, apesar do porão estar lotado com uma carga de bombas e minas terrestres.
"Gradualmente" — registrou o Conselho de Segurança Nacional em memorando ao presidente Figueiredo—-, a Argentina estreitava "seus contatos com o Brasil, em graus diversos de formalidade". E requeria "cooperação em termos mais concretos".
Brasília começou a receber lista de pedidos: créditos e facilidades para operações triangulares de comércio com a Europa; aviões para entrega imediata; bombas incendiárias e munição para fuzis; sistemas de radar e querosene de aviação, entre outras coisas.
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Re: Guerra das Malvinas
Não havia trunfo geopolitico nenhum, para mim é a tipica miopia Brasileira em questões geopoliticas. Na verdade, o Brasileiro tem muitos motivos para acreditar que Deus esta do nosso lado. Mesmo apesar de toda a dimenssão continental que o Brasil tem.....o Brasil não passou por 1% das provações e dasafios que outras grandes nações enfrentaram.....muitas veses só não fomos invadidos por uma questão de sorte. Enfim, toda essa sorte Brasilera nas relações internacionais só pode ter uma mão superior por trás por que se depender dos nossos lideres estariamos feitos...Clermont escreveu:
Que espécie de triunfo geopolítico os generais brasileiros esperavam de um sucesso argentino nas Malvinas?[/i])
OBS: Olha que eu não sou religioso
- Marino
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Re: Guerra das Malvinas
País temia um conflito de ‘grandes proporções’ nas Ilhas Malvinas
Acordo EUA-URSS deixou ditadura argentina ainda mais isolada, restrita ao apoio de Brasil e Peru
JOSÉ CASADO
ELIANE OLIVEIRA
Publicado:
21/04/12 - 23h05
Atualizado:
21/04/12 - 23h05
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Avião Vulcan interceptado por dois caças brasileiros em espaço brasileiro
ARQUIVO O GLOBO / EURICO DANTAS
BRASÍLIA - A invasão militar das Malvinas levou o governo brasileiro a prever que a Argentina tentaria arrastar a América do Sul para "um conflito de grandes proporções, com consequências desastrosas, em todos os campos, para os países ocidentais" — mostram documentos do Conselho de Segurança Nacional e do Itamaraty.
Estava certo. O governo argentino realmente cogitou "internacionalizar a guerra", confirmou o chanceler Nicanor Costa Méndez nos autos do inquérito militar realizado logo depois do conflito, mas só liberados há duas semanas. Foi um tema "considerado em várias oportunidades", ele disse. Recuou diante do risco de um confronto envolvendo diretamente os Estados Unidos e a União Soviética: "Justamente por isso nunca, pelo menos por meu intermédio, a Argentina pediu ajuda à URSS ou a países de influência soviética, ou à China comunista" — completou Méndez.
Era crescente em Washington a preocupação com o nível de interferência de Moscou na crise. No dia 17 de abril, Londres informou à Casa Branca ter confirmado a disposição soviética em "oferecer navios, aviões e mísseis à Argentina, em troca de cereais".
Dois dias depois, em Brasília, o Centro de Informações da Marinha (Cenimar) alertou para o deslocamento de "agentes soviéticos" do Peru para Buenos Aires e Montevidéu, para auxiliar a Marinha argentina "a levantar dados" sobre a frota britânica, que estava a caminho. "Os soviéticos", informou o Cenimar, "solicitaram a (Muamar) Khadafi que a Líbia fornecesse à Argentina aviões e mísseis de procedência russa, para que a União Soviética não surgisse sozinha como responsável pelo fornecimento de armas".
Acrescentou: "O embaixador cubano em Buenos Aires, cujo avião foi interceptado no espaço aéreo brasileiro, foi portador de uma mensagem de Fidel Castro aos argentinos em que, em nome do governo de Angola, oferece as bases aéreas angolanas como escala operacional para manter uma ponte aérea entre a Líbia e a Argentina".
Khadafi, que Reagan chamava de "cachorro louco", era um bom cliente de Moscou. Entre 1978 e 1982, acumulara US$ 12 bilhões em pedidos de armas russas para os seus arsenais cavados em torno de Trípoli.
Na tarde da quarta-feira 26 de maio, um cargueiro da Aerolíneas Argentinas desceu no aeroporto de Recife. Foi reabastecido e seguiu para Trípoli. Voltou 48 horas depois. Um dos tripulantes, o navegador, estava sob licença psiquiátrica — relata o jornalista Gonzalo Sánchez em livro recém-lançado sobre os pilotos civis na guerra.
O fluxo na ponte aérea de armas para Buenos Aires crescia. Chegou à média de dois voos diários com escalas em Recife. Outros cargueiros entraram na rota — e nem sempre eram civis. Alguns desfilaram pela pista pernambucana exibindo na fuselagem bandeiras de países "neutros", como Libéria e África do Sul.
Em Washington, o embaixador brasileiro Antonio Azeredo da Silveira assistiu, na segunda-feira 31 de maio, ao anúncio do presidente Reagan sobre negociações com os russos para redução dos arsenais nucleares. Ex-chanceler do governo Ernesto Geisel, Azeredo aprendera a ler nas entrelinhas. Escreveu um telegrama curto, classificou como "secreto-urgentíssimo" e enviou ao Itamaraty: "Tudo faz crer que esse entendimento, entre os EUA e a URSS, anula, pelo menos no momento, a possibilidade de uma ajuda concreta da União Soviética à Argentina na crise do Atlântico Sul".
Na mesma tarde, o embaixador russo em Buenos Aires, Serguei Striganov, conversou por 40 minutos com o general Galtieri. À saída da Casa Rosada, Striganov disse que o apoio soviético se limitaria às áreas "política e diplomática".
Restavam poucos aliados, Brasil e Peru entre eles. O Peru se dispôs a atender sem limitações aos pedidos argentinos — principalmente, aqueles recusados pelo Brasil com a diplomática alegação de "não engajamento ostensivo". Lima enviou uma dezena de caças Mirage, pela rota Bolívia-Brasil para evitar os radares do Chile, que se aliara à Inglaterra. Abriu aeroportos e contas para compras de armas.
O Peru também se envolveu em compras de mísseis no mercado paralelo. Numa delas, repassou US$ 9,6 milhões à Difensa Establishment, de Liechnstein, como adiantamento da compra de uma dúzia de Exocets — preço seis vezes acima da tabela.
Restaram US$ 2,4 milhões (20% do valor total) a serem pagos na entrega, mas os mísseis nunca chegaram. O dinheiro foi depositado numa conta (100-2-0039245) do adido da Marinha argentina no Banco Continental, em Lima. E desapareceu.
A capital das Malvinas já estava cercada, na manhã da quinta-feira 3 de junho, quando ouviu-se o alarme no Comando Aéreo do Rio: avião britânico invadira o espaço aéreo nacional e pedia autorização para pouso de emergência, por falta de combustível.
Caças Northrop F-5 foram enviados para escoltar o bombardeiro XM597 Vulcan, alcançado a 340 quilômetros ao sul de Copacabana. Regressava de um ataque nas Malvinas e uma pane hidráulica anulara suas chances de voar por cinco horas sobre o Atlântico até a base da Ilha de Ascensão. Carregava dois sofisticados mísseis norte-americanos AGM-45 Shrike, desenhados para destruir radares. Um foi despejado no mar, junto com os códigos de batalha. O outro ficara preso no porão.
Ao aterrissar, o Vulcan virou sinônimo de crise entre o Brasil e o Reino Unido. O governo Tatcher protestou, alegando que o Brasil apreendia o avião enquanto "facilitava a tarefa perturbadora de Khadafi" no tráfego de armas.
Em Brasília, o embaixador britânico William Harding e o embaixador norte-americano Anthony Motley estavam mais preocupados com o míssil do que com o avião. Era uma tecnologia nova e estratégica da Otan, projetada para competir com o sistema soviético ar-terra S-75. Harding e Motley insistiram em obter garantias de preservação do míssil em local "fechado" e "selado" — contou o chanceler em memorando ao presidente, que classificou como "secreto-exclusivo".
O governo britânico ameaçava com "sérias consequências". O chanceler considerou-a "desproporcional", lembrando ao embaixador que a posição brasileira não era "estritamente de neutralidade". Harding argumentou com "claras evidências" sobre a ponte aérea de armas para a Argentina. "Lembrei" — escreveu Guerreiro ao presidente Figueiredo — "que a vistoria no avião da Aerolíneas não constatara armas".
O bombardeiro e o míssil foram devolvidos 72 horas antes de o general argentino Mario Menéndez se render ao comandante britânico Jeremy Moore, na tarde de 14 de junho, na capital das ilhas.
Acabava a Guerra das Malvinas. Começava o epílogo da ditadura militar na Argentina.
Acordo EUA-URSS deixou ditadura argentina ainda mais isolada, restrita ao apoio de Brasil e Peru
JOSÉ CASADO
ELIANE OLIVEIRA
Publicado:
21/04/12 - 23h05
Atualizado:
21/04/12 - 23h05
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Avião Vulcan interceptado por dois caças brasileiros em espaço brasileiro
ARQUIVO O GLOBO / EURICO DANTAS
BRASÍLIA - A invasão militar das Malvinas levou o governo brasileiro a prever que a Argentina tentaria arrastar a América do Sul para "um conflito de grandes proporções, com consequências desastrosas, em todos os campos, para os países ocidentais" — mostram documentos do Conselho de Segurança Nacional e do Itamaraty.
Estava certo. O governo argentino realmente cogitou "internacionalizar a guerra", confirmou o chanceler Nicanor Costa Méndez nos autos do inquérito militar realizado logo depois do conflito, mas só liberados há duas semanas. Foi um tema "considerado em várias oportunidades", ele disse. Recuou diante do risco de um confronto envolvendo diretamente os Estados Unidos e a União Soviética: "Justamente por isso nunca, pelo menos por meu intermédio, a Argentina pediu ajuda à URSS ou a países de influência soviética, ou à China comunista" — completou Méndez.
Era crescente em Washington a preocupação com o nível de interferência de Moscou na crise. No dia 17 de abril, Londres informou à Casa Branca ter confirmado a disposição soviética em "oferecer navios, aviões e mísseis à Argentina, em troca de cereais".
Dois dias depois, em Brasília, o Centro de Informações da Marinha (Cenimar) alertou para o deslocamento de "agentes soviéticos" do Peru para Buenos Aires e Montevidéu, para auxiliar a Marinha argentina "a levantar dados" sobre a frota britânica, que estava a caminho. "Os soviéticos", informou o Cenimar, "solicitaram a (Muamar) Khadafi que a Líbia fornecesse à Argentina aviões e mísseis de procedência russa, para que a União Soviética não surgisse sozinha como responsável pelo fornecimento de armas".
Acrescentou: "O embaixador cubano em Buenos Aires, cujo avião foi interceptado no espaço aéreo brasileiro, foi portador de uma mensagem de Fidel Castro aos argentinos em que, em nome do governo de Angola, oferece as bases aéreas angolanas como escala operacional para manter uma ponte aérea entre a Líbia e a Argentina".
Khadafi, que Reagan chamava de "cachorro louco", era um bom cliente de Moscou. Entre 1978 e 1982, acumulara US$ 12 bilhões em pedidos de armas russas para os seus arsenais cavados em torno de Trípoli.
Na tarde da quarta-feira 26 de maio, um cargueiro da Aerolíneas Argentinas desceu no aeroporto de Recife. Foi reabastecido e seguiu para Trípoli. Voltou 48 horas depois. Um dos tripulantes, o navegador, estava sob licença psiquiátrica — relata o jornalista Gonzalo Sánchez em livro recém-lançado sobre os pilotos civis na guerra.
O fluxo na ponte aérea de armas para Buenos Aires crescia. Chegou à média de dois voos diários com escalas em Recife. Outros cargueiros entraram na rota — e nem sempre eram civis. Alguns desfilaram pela pista pernambucana exibindo na fuselagem bandeiras de países "neutros", como Libéria e África do Sul.
Em Washington, o embaixador brasileiro Antonio Azeredo da Silveira assistiu, na segunda-feira 31 de maio, ao anúncio do presidente Reagan sobre negociações com os russos para redução dos arsenais nucleares. Ex-chanceler do governo Ernesto Geisel, Azeredo aprendera a ler nas entrelinhas. Escreveu um telegrama curto, classificou como "secreto-urgentíssimo" e enviou ao Itamaraty: "Tudo faz crer que esse entendimento, entre os EUA e a URSS, anula, pelo menos no momento, a possibilidade de uma ajuda concreta da União Soviética à Argentina na crise do Atlântico Sul".
Na mesma tarde, o embaixador russo em Buenos Aires, Serguei Striganov, conversou por 40 minutos com o general Galtieri. À saída da Casa Rosada, Striganov disse que o apoio soviético se limitaria às áreas "política e diplomática".
Restavam poucos aliados, Brasil e Peru entre eles. O Peru se dispôs a atender sem limitações aos pedidos argentinos — principalmente, aqueles recusados pelo Brasil com a diplomática alegação de "não engajamento ostensivo". Lima enviou uma dezena de caças Mirage, pela rota Bolívia-Brasil para evitar os radares do Chile, que se aliara à Inglaterra. Abriu aeroportos e contas para compras de armas.
O Peru também se envolveu em compras de mísseis no mercado paralelo. Numa delas, repassou US$ 9,6 milhões à Difensa Establishment, de Liechnstein, como adiantamento da compra de uma dúzia de Exocets — preço seis vezes acima da tabela.
Restaram US$ 2,4 milhões (20% do valor total) a serem pagos na entrega, mas os mísseis nunca chegaram. O dinheiro foi depositado numa conta (100-2-0039245) do adido da Marinha argentina no Banco Continental, em Lima. E desapareceu.
A capital das Malvinas já estava cercada, na manhã da quinta-feira 3 de junho, quando ouviu-se o alarme no Comando Aéreo do Rio: avião britânico invadira o espaço aéreo nacional e pedia autorização para pouso de emergência, por falta de combustível.
Caças Northrop F-5 foram enviados para escoltar o bombardeiro XM597 Vulcan, alcançado a 340 quilômetros ao sul de Copacabana. Regressava de um ataque nas Malvinas e uma pane hidráulica anulara suas chances de voar por cinco horas sobre o Atlântico até a base da Ilha de Ascensão. Carregava dois sofisticados mísseis norte-americanos AGM-45 Shrike, desenhados para destruir radares. Um foi despejado no mar, junto com os códigos de batalha. O outro ficara preso no porão.
Ao aterrissar, o Vulcan virou sinônimo de crise entre o Brasil e o Reino Unido. O governo Tatcher protestou, alegando que o Brasil apreendia o avião enquanto "facilitava a tarefa perturbadora de Khadafi" no tráfego de armas.
Em Brasília, o embaixador britânico William Harding e o embaixador norte-americano Anthony Motley estavam mais preocupados com o míssil do que com o avião. Era uma tecnologia nova e estratégica da Otan, projetada para competir com o sistema soviético ar-terra S-75. Harding e Motley insistiram em obter garantias de preservação do míssil em local "fechado" e "selado" — contou o chanceler em memorando ao presidente, que classificou como "secreto-exclusivo".
O governo britânico ameaçava com "sérias consequências". O chanceler considerou-a "desproporcional", lembrando ao embaixador que a posição brasileira não era "estritamente de neutralidade". Harding argumentou com "claras evidências" sobre a ponte aérea de armas para a Argentina. "Lembrei" — escreveu Guerreiro ao presidente Figueiredo — "que a vistoria no avião da Aerolíneas não constatara armas".
O bombardeiro e o míssil foram devolvidos 72 horas antes de o general argentino Mario Menéndez se render ao comandante britânico Jeremy Moore, na tarde de 14 de junho, na capital das ilhas.
Acabava a Guerra das Malvinas. Começava o epílogo da ditadura militar na Argentina.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
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Re: Guerra das Malvinas
Concordo.suntsé escreveu:Não havia trunfo geopolitico nenhum, para mim é a tipica miopia Brasileira em questões geopoliticas. Na verdade, o Brasileiro tem muitos motivos para acreditar que Deus esta do nosso lado. Mesmo apesar de toda a dimenssão continental que o Brasil tem.....o Brasil não passou por 1% das provações e dasafios que outras grandes nações enfrentaram.....muitas veses só não fomos invadidos por uma questão de sorte. Enfim, toda essa sorte Brasilera nas relações internacionais só pode ter uma mão superior por trás por que se depender dos nossos lideres estariamos feitos...Clermont escreveu:
Que espécie de triunfo geopolítico os generais brasileiros esperavam de um sucesso argentino nas Malvinas?[/i])
OBS: Olha que eu não sou religioso
O Brasil recebeu de herança os territórios que nossos colonizadores portugueses conquistaram com sua mentalidade expansionista. Em seguida tivemos um gênio da diplomacia, o Barão de Rio Branco. Depois disso contamos com cenários favoráveis, vizinhos fracos e muita sorte.
[]´s,
JT
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Re: Guerra das Malvinas
Uma coisa temos que admitir: Os portugueses foram muito competentes em mantar, e até expandir, a integridade territorial da então colônia brasileira! Colocou pra correr espanhóis, franceses e holandeses, que invariavelmente, tentavam tirar uma "casquinha" do nosso território!
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