O texto citado, na página, não tem a fonte. Pode ter sido escrito por qualquer um.Marino escreveu:http://groups.google.com/group/noticiar ... afd0c00923rodrigo escreveu:Qual a fonte dessa entrevista?
GEOPOLÍTICA
Moderador: Conselho de Moderação
- rodrigo
- Sênior
- Mensagens: 12891
- Registrado em: Dom Ago 22, 2004 8:16 pm
- Agradeceu: 221 vezes
- Agradeceram: 424 vezes
Re: GEOPOLÍTICA
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
- Túlio
- Site Admin
- Mensagens: 61482
- Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
- Localização: Tramandaí, RS, Brasil
- Agradeceu: 6309 vezes
- Agradeceram: 6658 vezes
- Contato:
Re: GEOPOLÍTICA
Sávio Ricardo escreveu:Você não disse antes de postar sobre isso que se recusava a comentar sobre o assunto?Marino escreveu:Ninguém comenta nada sobre a base no Chile?
Eu compartilho da mesma idéia.
Eu idem. E Pelo mesmíssimo motivo do BOSS, afinal, não estou acima do Regulamento...
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
- Snowmeow
- Intermediário
- Mensagens: 262
- Registrado em: Ter Mar 27, 2012 6:05 pm
- Agradeceu: 1 vez
- Agradeceram: 1 vez
Re: GEOPOLÍTICA
Se for a segunda opção, é motivo de preocupação. É o Tio Sam cercando o Brasil pelas beiradas.jumentodonordeste escreveu:Quanto à base no Chile, não entendi direito, é uma base construída com ajuda americana ou uma base administrada pela US.Navy ?
Se for a primeira, problema nenhum, os americanos são os melhores no que diz respeito a ensino de CQB para grande número de soldados.
Se for a segunda opção, é motivo para o Chile tomar uma CR sem tamanho de todo continente.
"Não cortes uma árvore no Inverno; sentirás falta dela no Verão." J. N. Dias
"Você sabe porque USA nunca sofreu golpe de estado? Porque em USA, não existe embaixada de USA." Michele Bachelet, nova presidenta do Chile
"Você sabe porque USA nunca sofreu golpe de estado? Porque em USA, não existe embaixada de USA." Michele Bachelet, nova presidenta do Chile
- Marino
- Sênior
- Mensagens: 15667
- Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
- Agradeceu: 134 vezes
- Agradeceram: 630 vezes
Re: GEOPOLÍTICA
Re: Geopolítica
Índia testa míssil de longo alcance, com os olhos postos na China
19 de abril de 2012 • 19h41
NOVA DÉLHI, 19 Abr 2012 (AFP) -A Índia realizou nesta quinta-feira o primeiro lançamento de teste de um novo míssil de longo alcance com capacidade nuclear que pode impactar o território chinês e países não asiáticos, e coloca o país no seleto grupo de países detentores de mísseis balísticos intercontinentais.
O míssil Agni V, de um alcance de 5.000 km (classe IRBM dos mísseis intermediários de menos de 6.400 km) foi lançado às 08H05 local (00H35 de Brasília) de uma base situada no mar junto ao Estado de Odisha.
O míssil de 50 toneladas e 17 metros de altura pode alcançar alvos em todo o território chinês, assim como no resto da Ásia e inclusive em certos países da Europa, segundo especialistas.
Apenas China, Rússia, França, Estados Unidos e Reino Unido possuem mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), com um alcance de mais de 5.500 km.
O primeiro-ministro chinês, Manmohan Singh, felicitou os cientistas pelo lançamento bem-sucedido do míssil, segundo um comunicado transmitido por seu gabinete.
O ministro da Defesa, A.K. Anthony, mencionou o "impecável sucesso" e classificou o lançamento como "um avanço maiúsculo no programa de mísseis da Índia", de acordo com a versão de seu porta-voz.
No entanto, o chefe da agência responsável pelo desenvolvimento das tecnologias militares (DRDO), V. K. Saraswat, disse à rede de televisão NCTV que se trata de um "fato histórico que honra nosso país no domínio da tecnologia de mísseis".
"Somos atualmente uma potência dotada de mísseis sem igual na maior parte dos países do mundo", acrescentou.
Os Estados Unidos pediram nesta quinta-feira "contenção" e a evitar toda ação que possa "desestabilizar" o sul de Ásia, depois do teste do míssil indiano.
"Pedimos a todos os Estados dotados de capacidade nuclear a dar provas de contenção sobre (suas) atividades nucleares e balísticas e continuaremos dissuadindo-os de realizar atos que possam desestabilizar o sul da Ásia", afirmou o porta-voz presidencial americano, Jay Carney.
A DRDO, que fabricou o míssil, pretendia realizar o disparo na quarta-feira à noite, mas a operação precisou ser adiada devido ao mau tempo.
A terceira maior economia asiática iniciou nos últimos anos um enorme programa de aquisições militares para modernizar seu exército, e busca fortalecer seus meios de defesa, em especial em relação à China. A fronteira entre China e Índia é motivo de discussões desde a década de 1980, e ambos os países se enfrentaram em uma curta guerra em 1962.
De acordo com Ravi Gupta, porta-voz da DRDO, este míssil tem "um efeito dissuasivo para evitar as guerras e não foi desenvolvido contra nenhum país em particular", assegurando que se trata de um programa "puramente defensivo".
Agni, que significa "fogo" em sânscrito, é o nome dado a cinco mísseis desenvolvidos pela DRDO a um programa lançado originalmente em 1983.
Enquanto os mísseis de curto alcance Agni I e II (de até 2.500 km) foram desenvolvidos diante da ameaça hipotética do Paquistão, os modelos Agni III e IV (de até 3.500 km ) já foram percebidos como meios de dissuasão para a China.
Índia e Paquistão, vizinhos e rivais, se enfrentaram em três guerras desde a partilha e independência em 1947.
"Agni V pode alcançar alvos no coração da China, liberando potencialmente mísseis de menor potência para uso contra o Paquistão ou boa parte do Oeste e Sul da China", disse Poornima Subramaniam, do Centro de Análises sobre Defesa IHS Jane.
Shannon Kile, especialista em armas nucleares no Instituto Internacional de Pesquisas sobre a Paz (SIPRI), em Estocolmo, considerou que o Agni VI faz parte de um desenvolvimento importante no âmbito das aspirações da Índia de jogar um papel mais importante no cenário internacional.
Ao mesmo tempo, o alcance do míssil "dará aos estrategistas indianos do setor de defesa uma maior margem de manobra sobre a opção de localização dos lançadores de mísseis, acrescentou.
Índia testa míssil de longo alcance, com os olhos postos na China
19 de abril de 2012 • 19h41
NOVA DÉLHI, 19 Abr 2012 (AFP) -A Índia realizou nesta quinta-feira o primeiro lançamento de teste de um novo míssil de longo alcance com capacidade nuclear que pode impactar o território chinês e países não asiáticos, e coloca o país no seleto grupo de países detentores de mísseis balísticos intercontinentais.
O míssil Agni V, de um alcance de 5.000 km (classe IRBM dos mísseis intermediários de menos de 6.400 km) foi lançado às 08H05 local (00H35 de Brasília) de uma base situada no mar junto ao Estado de Odisha.
O míssil de 50 toneladas e 17 metros de altura pode alcançar alvos em todo o território chinês, assim como no resto da Ásia e inclusive em certos países da Europa, segundo especialistas.
Apenas China, Rússia, França, Estados Unidos e Reino Unido possuem mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), com um alcance de mais de 5.500 km.
O primeiro-ministro chinês, Manmohan Singh, felicitou os cientistas pelo lançamento bem-sucedido do míssil, segundo um comunicado transmitido por seu gabinete.
O ministro da Defesa, A.K. Anthony, mencionou o "impecável sucesso" e classificou o lançamento como "um avanço maiúsculo no programa de mísseis da Índia", de acordo com a versão de seu porta-voz.
No entanto, o chefe da agência responsável pelo desenvolvimento das tecnologias militares (DRDO), V. K. Saraswat, disse à rede de televisão NCTV que se trata de um "fato histórico que honra nosso país no domínio da tecnologia de mísseis".
"Somos atualmente uma potência dotada de mísseis sem igual na maior parte dos países do mundo", acrescentou.
Os Estados Unidos pediram nesta quinta-feira "contenção" e a evitar toda ação que possa "desestabilizar" o sul de Ásia, depois do teste do míssil indiano.
"Pedimos a todos os Estados dotados de capacidade nuclear a dar provas de contenção sobre (suas) atividades nucleares e balísticas e continuaremos dissuadindo-os de realizar atos que possam desestabilizar o sul da Ásia", afirmou o porta-voz presidencial americano, Jay Carney.
A DRDO, que fabricou o míssil, pretendia realizar o disparo na quarta-feira à noite, mas a operação precisou ser adiada devido ao mau tempo.
A terceira maior economia asiática iniciou nos últimos anos um enorme programa de aquisições militares para modernizar seu exército, e busca fortalecer seus meios de defesa, em especial em relação à China. A fronteira entre China e Índia é motivo de discussões desde a década de 1980, e ambos os países se enfrentaram em uma curta guerra em 1962.
De acordo com Ravi Gupta, porta-voz da DRDO, este míssil tem "um efeito dissuasivo para evitar as guerras e não foi desenvolvido contra nenhum país em particular", assegurando que se trata de um programa "puramente defensivo".
Agni, que significa "fogo" em sânscrito, é o nome dado a cinco mísseis desenvolvidos pela DRDO a um programa lançado originalmente em 1983.
Enquanto os mísseis de curto alcance Agni I e II (de até 2.500 km) foram desenvolvidos diante da ameaça hipotética do Paquistão, os modelos Agni III e IV (de até 3.500 km ) já foram percebidos como meios de dissuasão para a China.
Índia e Paquistão, vizinhos e rivais, se enfrentaram em três guerras desde a partilha e independência em 1947.
"Agni V pode alcançar alvos no coração da China, liberando potencialmente mísseis de menor potência para uso contra o Paquistão ou boa parte do Oeste e Sul da China", disse Poornima Subramaniam, do Centro de Análises sobre Defesa IHS Jane.
Shannon Kile, especialista em armas nucleares no Instituto Internacional de Pesquisas sobre a Paz (SIPRI), em Estocolmo, considerou que o Agni VI faz parte de um desenvolvimento importante no âmbito das aspirações da Índia de jogar um papel mais importante no cenário internacional.
Ao mesmo tempo, o alcance do míssil "dará aos estrategistas indianos do setor de defesa uma maior margem de manobra sobre a opção de localização dos lançadores de mísseis, acrescentou.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
Barão do Rio Branco
- Marino
- Sênior
- Mensagens: 15667
- Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
- Agradeceu: 134 vezes
- Agradeceram: 630 vezes
Re: GEOPOLÍTICA
Você está correto em desconfiar.rodrigo escreveu:O texto citado, na página, não tem a fonte. Pode ter sido escrito por qualquer um.Marino escreveu: http://groups.google.com/group/noticiar ... afd0c00923
Tendo lido os livros dele, achei a linguagem inusual.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
Barão do Rio Branco
- Túlio
- Site Admin
- Mensagens: 61482
- Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
- Localização: Tramandaí, RS, Brasil
- Agradeceu: 6309 vezes
- Agradeceram: 6658 vezes
- Contato:
Re: GEOPOLÍTICA
O que não falta é texto apócrifo na net. Geralmente tentam passar alguma IDEOLOGICE e/ou TEORIA DE CONSPIRAÇÃO. Este texto me parece mais para o segundo caso. E tenho sérias dúvidas da autoria, conteúdo e intenção.
Mas não confundamos a intenção de quem escreveu o texto com a de quem o postou aqui.
Mas não confundamos a intenção de quem escreveu o texto com a de quem o postou aqui.
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
- Túlio
- Site Admin
- Mensagens: 61482
- Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
- Localização: Tramandaí, RS, Brasil
- Agradeceu: 6309 vezes
- Agradeceram: 6658 vezes
- Contato:
Re: GEOPOLÍTICA
Mas aqui um texto BEM interessante e nada apócrifo. Pode ser uma alvíssara para os Rafaleiros de plantão (comentários meus em azul, sublinhados e negritos meus)...
Este texto me impressionou muito, pelas amplas possibilidades de uma inédita reviravolta geopolítica, com a França ensejando um retorno (ou quase-retorno) aos tempos Gaullistas com um impacto altamente positivo para nós em particular e para os BRICS em geral. Estou há dias refletindo e pesquisando sobre isso, depois de ter lido o texto em Inglês. Aliás, faz anos que acompanho este site - ele pode ser lido em Francês no default mas com opções para Inglês, Alemão e Espanhol - e raramente erram.
Como tem um outro site - Resistir.info, este dos COMUNAZZZ - que traduz para o Português (DIALECTO da terrinha ), nem me dou ao trabalho de traduzir para postar aqui, apenas aguardo uns dias e sai a tradução. A matéria dos GEAB, como sempre, não é ideológica e sim preditiva. Até o default ianque do ano passado - que só não ocorreu por um acordo de última hora com o Congresso - estava previsto e com um erro de menos de um ano.
Aliás, para quem realmente se interessa por GEOPOLÍTICA num sentido amplo (economia, política, possibilidades de guerras e seus desdobramentos e consequências em nível mundial, etc) e não apenas em quem fez o quê, quem comprou o quê e quem está em guerra contra quem (fatos deslocados de um contexto geral, peças soltas de um grande e quase ininteligível quebra-cabeças, em suma), recomendo fortemente o site linkado à notícia, está cheio de coisa muito boa e pelo menos em Espanhol dá para entender (aos pouco afeitos ao idioma de Shakespeare)...
Crise sistémica global
França 2012-2014: O grande sismo republicano e o seu impacto internacional
por GEAB [*]
Como antecipado desde Novembro/2010 pelo LEAP/E2020 ( GEAB Nº 49 ), o candidato socialista [1] , no caso François Holland, vencerá a eleição presidencial francesa de 2012 [2] . A questão que se coloca refere-se ainda à primeira volta desta eleição: Nicolas Sarkozy, o presidente que sai estará à frente ou atrás de Marine Le Pen (esta era também uma das componentes da nossa antecipação de Novembro de 2010) [3] ? Portanto, já é tempo de antecipar as consequências desta eleição tanto para a França como para a Eurolândia e a UE assim como a nível mundial (NATO, G20, Euro-BRICs) pois ela é de facto muito mais importante para a evolução do mundo actual, em plena transição devido à crise mundial, do que a próxima eleição americana que verá defrontarem-se Barack Obama e Mitt Romney (dois candidatos financiados maciçamente pela Wall Street) num fundo de paralisia geral do sistema político estado-unidense [4] .
Neste GEAB nº 64, além das consequências nacionais, europeias e internacionais importantes deste grande sismo republicano que vai sacudir a França, nossa equipe apresenta uma antecipação pormenorizada sobre a próxima queda do mercado imobiliário residencial do Canadá. Além disso, revelamos um instrumento metodológico de antecipação política muito útil para decifrar as tentativas de tomada de controle das opiniões públicas. E nossas recomendações referem-se este mês à evolução dos dólares australiano e neo-zelandês, ao desenvolvimento do grande ataque fiscal contra as praças financeiras, à evolução dos mercados bursáteis mundiais e à próxima evolução radical das reacções da Eurolândia face aos ataques especulativos (pouco ou nada se comenta sobre a ORIGEM dos sistemáticos abalos do euro, atribuindo-os a mídia a simples malversações orçamentárias de pequenos Países pouco influentes, quando o grosso do ataque é claramente orquestrado por Wall Street e pela City, com o claro objetivo de mascarar seus próprios - e muito mais graves - problemas. O recado é: invistam em nós que a Europa está afundando...). Neste comunicado público optámos por apresentar um extracto que trata das consequências geopolíticas mundiais da mudança de poder em França.
Uma eleição francesa em 2012 muito mais importante do ponto de vista geopolítico do que a eleição dos EUA em 2012
Para a nossa equipe, a vitória de François Hollande vai com efeito desencadear uma série de perturbações estratégicas que vão afectar fortemente a Europa e acelerar consideravelmente as transições geopolíticas em curso a nível mundial desde o início da crise global em 2008. Nisto, os resultados e as consequências da eleição presidencial francesa (5) tem muito mais importância do que os da próxima eleição presidencial americana em Novembro de 2012. Com efeito, a França, apesar de ser um país muito menos poderoso que os Estados Unidos, ocupa uma posição estratégica tanto na Europa como a nível mundial (nomeadamente através do seu papel intra-europeu) que vai torná-la um actor chave da emergência do "mundo após a crise", para retomar o título do livro de Franck Biancheri. E a eleição de François Hollande, que possui uma verdadeira reflexão sobre a Europa e o papel da França na Europa e afirmou claramente a sua intenção de explorar activamente as possibilidade de parceria com as novas potências emergentes (BRICs), vai consagrar uma grande ruptura com a ausência de visão e de estratégia europeia dos cinco anos de presidência de Nicolas Sarkozy assinalados essencialmente por um enfeudamento sem precedentes na História recente do país à potência dominante americana [6] e sua integração incondicional num eixo Washington/TelAviv sobre o essencial dos grandes problemas geopolíticos [7] . A França havia desaparecido no mundo desde há cinco anos [8] , ela prepara-se para fazer um retorno sensacional [9] mesmo para além da personalidade do futuro presidente [10] .
O impacto da eleição de François Holland sobre a transição geopolítica global (2012-2015)
Em matéria global, o LEAP/E2020 faz questão de sublinhar duas tendências marcantes que vão caracterizar os dois primeiros anos do novo poder francês:
- a afirmação pela França de uma político europeia-gaullista (ou miterrandista-gaullista), ou seja, fazendo da independência da política externa europeia uma prioridade estratégica
- a exploração em velocidade acelerada das possíveis relações com os BRICs, nomeadamente num contexto de futura parceria Euro-BRICs (Tudo o que os EUA NÃO QUEREM por serem definitivamente postos em segundo plano).
François Hollande tem permanecido muito discreto em matéria de política externa pois, por um lado, ela não está no centro das preocupações dos franceses nesta eleição de 2012 e, por outro lado, não se anuncia previamente mudanças importantes neste domínio.
Sendo muito abundantes os argumentos para tais mudanças e a sua execução não correndo risco de gerar dificuldades junto à opinião pública que, de um modo geral, se sentiu traída pelo enfeudamento americanista do período sarkozyano, não há com efeito nenhuma razão para precipitações. Como foi anunciado para a questão da reintegração da França na organização militar da NATO [11] , ela será apoiada numa avaliação objectiva das vantagens e inconvenientes desta decisão. O resultado é conhecido previamente uma vez que o presidente que sai nada negociou (e portanto nada obteve) em troca do retorno da França a esta organização militar. Haverá portanto uma acção em dois tempos: a exigência de um certo número de contrapartidas em termos de posições militares chave para a França no seio da NATO e execução daqui até 2015 o mais tardar de um pilar europeu de defesa fora da NATO mas ligado à NATO.
A França poderá contar com o apoio da maior parte dos países europeus continentais aos quais as aventuras líbia e afegã convenceram definitivamente da necessidade de mudanças radicais no seio da Aliança atlântica. Mediante uma punção orçamental acrescida por parte dos europeus dos custos da sua própria defesa, os Estados Unidos, a enfrentarem reduções drásticas do seu orçamento militar, aceitarão de boa ou má vontade. E apenas o Reino Unido se oporá a esta evolução antes de a ela se alinhar uma vez que não mais possui os meios financeiros, militares e diplomáticos da sua política (aqui se evidencia claramente a decadência e cada vez menor influência do eixo Washington-Londres).
Em matéria global, na sequência da Alemanha já bem empenhada no processo de cooperação diplomática com os BRICs, a França voltar-se-á para uma abordagem mais estratégica, com uma lógica europeia (eurolandesa) comum, que terá como objectivo formular eixos comuns de acção Euro-BRICs [12] ao nível das organizações internacionais (reformas do FMI [13] , do Conselho de Segurança da ONU, ...) e sobretudo de reforma fundamental do sistema monetário internacional (questão da substituição do US dólar como pilar do sistema). A cimeira do G20 em Moscovo no primeiro semestre de 2013 assinalará a primeira concretização desta evolução.
Ao estimular estas duas únicas mudanças (e pode-se supor que haverá outras), o novo poder francês, com uma abordagem europeia exemplar, terá assim contribuído de maneira decisiva para a evolução da governação mundial pós crise.
Notas:
(1) A antecipação do LEAP/E2020 de Novembro de 2010 fora efectuada em função de tendências pesadas (rejeição popular maciça da pessoa de Nicolas Sarkozy, desmotivação do eleitorado UMP e forte avanço do Front National), todas independentes da pessoa do candidato socialista, na época desconhecido.
(2) Com sondagens da segunda volta que nunca colocaram Nicolas Sarkozy à frente e um afastamento que se confirma mês após mês (em torno de 8% a 10%), que ainda se aprofunda (13% de afastamento numa recente sondagem CSA) em proveito de François Hollande, doravante só um acidente trágico poderia impedir a vitória do candidato socialista na noite de 6 de Maio.
(3) Continuamos a considerar que as sondagens sub-avaliam o desempenho da candidata do Front National e super-avaliam a do presidente que sai. Doravante o sentimento geral, confortado por todas as sondagens sem qualquer excepção, de que candidato da UMP não pode sair vencedor da segunda volta enfraquece consideravelmente a estratégia do "voto útil" em Sarkozy desde a primeira volta face ao "voto inútil" em Le Pen. De facto, consideramos que os últimos dias antes da primeira volta vão mesmo assistir à inversão desta estratégia em detrimento do voto em Sarkozy que de facto se tornou um voto inútil, devido à incapacidade de ganhar na segunda volta.
(4) Ver a respeito nossa antecipação sobre a evolução dos Estados Unidos 2012-2016 ( GEAB nº 60 ) que acabámos de por em acesso público em quatro extractos (IMPERDÍVEL! Está lá para ver, é uma matéria em três partes).
(5) E da eleição legislativa que se seguirá em Junho próximo.
(6) Como já sublinhámos em relação ao passado, a única época que se pode comparar em matéria de abandono da soberania em matéria de política internacional é aquela do regime de Vichy e seu enfeudamento sem condições ao regime nazi.
(7) E mesmo sobre a formação das futuras elites francesas sobre o modelo sem futuro da "World University Inc". Fonte: NewropMag , 12/04/2012
(8) É mesmo um dos intermediários no caso Karachi, Zak Takieddine, que afirma destacando o negocismo que desde há cinco anos presidiu decisões estratégicas do país. Em matéria de negocismo, é um conhecedor que fala. Fonte: Le Point , 26/03/2012
(9) Dito isto, são livres aqueles que, por instigação da City e da Wall Street, querem "ler" na crise grega o futuro da Eurolândia. O LEAP/E2020 considera que doravante é antes do lado da mudança política francesa que se vai escrever a sequência da história da Eurolândia e para além da transição geopolítica pós crise.
(10) Pois após 12 anos de quase ausência da França nas questões europeias para as quais Jacques Chirac não tinha qualquer afinidade e ainda menos visão estratégica, estes últimos cinco anos assinalaram um desaparecimento de facto da França do cenário internacional e europeu, salvo como segunda faca dos Estados Unidos e como instrumento de mediatização das fanfarronadas de Nicolas Sarkozy nunca seguidas de efeitos (supressão dos paraísos fiscais, impostos sobre as transacções finaceiras, etc). O país, seus actores, operadores, cidadãos, encontrou-se portanto privado de toda capacidade de projecção à escala europeia e internacional. É esta situação que terá fim em menos de um mês e que vai de facto gerar uma forte ebulição e numerosas iniciativas, como uma "panela de pressão" desde há anos! Isso explica também porque esta eleição não reflecte uma clivagem direita-esquerda clássica mas sim uma clivagem republicana no sentido forte da "coisa pública".
(11) Decidida por Nicolas Sarkozy sem anúncio antes da sua eleição e sem nenhum debate democrático.
(12) A Rússia, por exemplo, acaba de substituir sem preparação prévia os Estados Unidos que declararam retirar-se, por falta de dinheiro, do projecto ExoMars pilotado pelos europeus. Fonte: RiaNovosti , 14/04/2012
(13) Um assunto candente onde os BRICs aguardam os europeus. Fonte: CNBC , 14/04/2012
15/Abril/2012
[*] Global Europe Anticipation Bulletin.
NR: A publicação de um texto por resistir.info não significa necessariamente um endosso ao seu conteúdo (CLARO que não. Mas obrigado assim mesmo... ).
O original encontra-se em http://www.leap2020.eu/...
Este texto me impressionou muito, pelas amplas possibilidades de uma inédita reviravolta geopolítica, com a França ensejando um retorno (ou quase-retorno) aos tempos Gaullistas com um impacto altamente positivo para nós em particular e para os BRICS em geral. Estou há dias refletindo e pesquisando sobre isso, depois de ter lido o texto em Inglês. Aliás, faz anos que acompanho este site - ele pode ser lido em Francês no default mas com opções para Inglês, Alemão e Espanhol - e raramente erram.
Como tem um outro site - Resistir.info, este dos COMUNAZZZ - que traduz para o Português (DIALECTO da terrinha ), nem me dou ao trabalho de traduzir para postar aqui, apenas aguardo uns dias e sai a tradução. A matéria dos GEAB, como sempre, não é ideológica e sim preditiva. Até o default ianque do ano passado - que só não ocorreu por um acordo de última hora com o Congresso - estava previsto e com um erro de menos de um ano.
Aliás, para quem realmente se interessa por GEOPOLÍTICA num sentido amplo (economia, política, possibilidades de guerras e seus desdobramentos e consequências em nível mundial, etc) e não apenas em quem fez o quê, quem comprou o quê e quem está em guerra contra quem (fatos deslocados de um contexto geral, peças soltas de um grande e quase ininteligível quebra-cabeças, em suma), recomendo fortemente o site linkado à notícia, está cheio de coisa muito boa e pelo menos em Espanhol dá para entender (aos pouco afeitos ao idioma de Shakespeare)...
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
- Snowmeow
- Intermediário
- Mensagens: 262
- Registrado em: Ter Mar 27, 2012 6:05 pm
- Agradeceu: 1 vez
- Agradeceram: 1 vez
Re: GEOPOLÍTICA
Muito interessante, vou favoritar pra ler com calma depois (Patrão psicopata não deixa ler à vontade... )
"Não cortes uma árvore no Inverno; sentirás falta dela no Verão." J. N. Dias
"Você sabe porque USA nunca sofreu golpe de estado? Porque em USA, não existe embaixada de USA." Michele Bachelet, nova presidenta do Chile
"Você sabe porque USA nunca sofreu golpe de estado? Porque em USA, não existe embaixada de USA." Michele Bachelet, nova presidenta do Chile
- Marino
- Sênior
- Mensagens: 15667
- Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
- Agradeceu: 134 vezes
- Agradeceram: 630 vezes
Re: GEOPOLÍTICA
IMPORTANTE:
Valor Econômico
Brasil quer parceria do Uruguai em energia eólica e indústria naval
Sergio Leo
Brasília - O Brasil quer cooperação com o Uruguai na produção de embarcações e peças navais e na instalação de parques de energia eólica e outras iniciativas de energia renovável, disse a presidente Dilma Rousseff ao presidente uruguaio, José Mujica, com quem se reuniu e almoçou ontem, no Palácio do Alvorada. "É uma oportunidade histórica de desenvolver um novo modelo de integração entre Uruguai e Brasil", comentou o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, ao relatar o encontro.
Patriota citou o encontro no Alvorada como demonstração da "fraterna amizade" e do "momento histórico" da relação bilateral. O governo Dilma quer prestigiar Mujica, que declarou sua intenção explícita de ligar o projeto de desenvolvimento do país vizinho ao que os uruguaios chamam o "grande vizinho do Norte". A cooperação "promissora" na indústria naval e em peças para embarcações deve ser "emblemática", segundo Patriota, que espera abrir caminho a outros projetos de integração de cadeias produtivas.
A Eletrobras e a UTE - a estatal energética uruguaia - firmaram acordo de cooperação para desenvolvimento de fontes de energia renovável, a começar por um projeto de parques de energia eólica que poderão gerar cerca de 300 megawatts. Patriota informou que há planos também para programas de cooperação entre institutos acadêmicos e de inovação, para projetos tecnológicos e de pesquisa, como já vem acontecendo com a TV digital.
O bom relacionamento entre Mujica e Dilma não foi afetado pelo novo regime automotivo brasileiro, que cria dificuldades para empresas estrangeiras, como as montadoras chinesas instaladas no Uruguai. Segundo Patriota, o assunto nem sequer foi tratado pelos dois presidentes, que se reuniram acompanhados de ministros de diversas áreas. O ministro garantiu o compromisso brasileiro em evitar que as novas regras prejudiquem investimentos no país vizinho.
Há semanas, em uma visita ao Uruguai do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, as autoridades uruguaias disseram estar preocupadas com as consequências das novas exigências de produção nacional para o setor automotivo no Brasil. As garantias de que o Brasil se esforçará para atender às preocupações do país vizinho deixou os uruguaios "satisfeitos", acredita Patriota. "Encontraremos solução, sempre dentro do espírito de aproximação das cadeias produtivas", adiantou o ministro de Relações Exteriores.
Valor Econômico
Brasil quer parceria do Uruguai em energia eólica e indústria naval
Sergio Leo
Brasília - O Brasil quer cooperação com o Uruguai na produção de embarcações e peças navais e na instalação de parques de energia eólica e outras iniciativas de energia renovável, disse a presidente Dilma Rousseff ao presidente uruguaio, José Mujica, com quem se reuniu e almoçou ontem, no Palácio do Alvorada. "É uma oportunidade histórica de desenvolver um novo modelo de integração entre Uruguai e Brasil", comentou o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, ao relatar o encontro.
Patriota citou o encontro no Alvorada como demonstração da "fraterna amizade" e do "momento histórico" da relação bilateral. O governo Dilma quer prestigiar Mujica, que declarou sua intenção explícita de ligar o projeto de desenvolvimento do país vizinho ao que os uruguaios chamam o "grande vizinho do Norte". A cooperação "promissora" na indústria naval e em peças para embarcações deve ser "emblemática", segundo Patriota, que espera abrir caminho a outros projetos de integração de cadeias produtivas.
A Eletrobras e a UTE - a estatal energética uruguaia - firmaram acordo de cooperação para desenvolvimento de fontes de energia renovável, a começar por um projeto de parques de energia eólica que poderão gerar cerca de 300 megawatts. Patriota informou que há planos também para programas de cooperação entre institutos acadêmicos e de inovação, para projetos tecnológicos e de pesquisa, como já vem acontecendo com a TV digital.
O bom relacionamento entre Mujica e Dilma não foi afetado pelo novo regime automotivo brasileiro, que cria dificuldades para empresas estrangeiras, como as montadoras chinesas instaladas no Uruguai. Segundo Patriota, o assunto nem sequer foi tratado pelos dois presidentes, que se reuniram acompanhados de ministros de diversas áreas. O ministro garantiu o compromisso brasileiro em evitar que as novas regras prejudiquem investimentos no país vizinho.
Há semanas, em uma visita ao Uruguai do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, as autoridades uruguaias disseram estar preocupadas com as consequências das novas exigências de produção nacional para o setor automotivo no Brasil. As garantias de que o Brasil se esforçará para atender às preocupações do país vizinho deixou os uruguaios "satisfeitos", acredita Patriota. "Encontraremos solução, sempre dentro do espírito de aproximação das cadeias produtivas", adiantou o ministro de Relações Exteriores.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
Barão do Rio Branco
- rodrigo
- Sênior
- Mensagens: 12891
- Registrado em: Dom Ago 22, 2004 8:16 pm
- Agradeceu: 221 vezes
- Agradeceram: 424 vezes
Re: GEOPOLÍTICA
Nunca, aliás é uma regra de ouro de comportamento em ambientes virtuais.Mas não confundamos a intenção de quem escreveu o texto com a de quem o postou aqui.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
- Túlio
- Site Admin
- Mensagens: 61482
- Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
- Localização: Tramandaí, RS, Brasil
- Agradeceu: 6309 vezes
- Agradeceram: 6658 vezes
- Contato:
Re: GEOPOLÍTICA
Sei, Rodrigo, e és exemplar nisso, não me referia a ti, aliás, a ninguém em especial, foi apenas um pequeno lembrete valendo geral, tri?
Foi trabalhoso e mesmo traumático chegar a este nível de educação e civilidade que ora desfrutamos, tento apenas PRESERVAR.
Foi trabalhoso e mesmo traumático chegar a este nível de educação e civilidade que ora desfrutamos, tento apenas PRESERVAR.
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
- Marino
- Sênior
- Mensagens: 15667
- Registrado em: Dom Nov 26, 2006 4:04 pm
- Agradeceu: 134 vezes
- Agradeceram: 630 vezes
Re: GEOPOLÍTICA
Ações do documento
A nova voz do Brasil na geopolítica regional
Vias abertas na América Latina
Autor(es): Por Diego Viana e César Felício | De São Paulo e de Cartagena
Valor Econômico - 20/04/2012
A reunião da Cúpula das Américas constituiu uma oportunidade para o Brasil, lá representado pela presidente Dilma Rousseff, mostrar-se em seu novo papel na geopolítica latino-americana, agora em posição de proeminência, que o governo dos Estados Unidos, por gestos e palavras - do presidente Barack Obama, também presente em Cartagena, e da secretária de Estado, Hillary Clinton, que visitou Brasília dias depois -, reconhece como fato irreversível
No fórum de 590 dirigentes de empresas que ocorreu de forma paralela ao encontro de chefes de Estado da Cúpula das Américas, em Cartagena, o papel que o Brasil desempenhou ficou claro: a presidente Dilma Rousseff dividiu o cenário do principal painel com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Sentado entre ambos, como se fosse um elo entre dois polos, estava o presidente anfitrião, o colombiano Juan Manuel Santos. Era a manhã do sábado, 14 de abril. Santos anunciaria na tarde do dia seguinte a entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos.
A imagem ilustra a polaridade que se estabeleceu no continente a partir do início do século XXI. Entre o Peru e o México, com as exceções de Venezuela, Equador, Cuba e Nicarágua, os EUA ainda são a grande referência econômica. Quase todos os países nesta faixa estabeleceram tratados de livre comércio com os EUA. Santos, como anfitrião da Cúpula das Américas, esteve à frente desse bloco. O cone sul do continente e a Venezuela convergiram para o Mercosul, em que o discurso predominante é o de Dilma.
Talvez seja uma coincidência da diplomacia, mas a Cúpula ficou espremida entre duas visitas de Estado entre Brasil e EUA, cujos contatos estão mais frequentes do que nunca em tempos sem crise. Antes do encontro na Colômbia, Dilma Rousseff visitou Barack Obama em Washington. Em seguida à cúpula, Hillary Clinton tomou um avião para Brasília, onde declarou que "é difícil imaginar um Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas] reformado sem a presença de um país como o Brasil". A declaração é um passo discreto na direção do apoio ao pleito brasileiro por um assento permanente no conselho.
O papel central exercido pelo Brasil nas reuniões de Cartagena está ancorado na sua participação crescente, e muitas vezes central, na economia dos vizinhos. "Hoje, quem está exposto a riscos na América Latina não são mais os EUA, mas o Brasil", diz Matias Spektor, coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas. Portanto, "os investimentos fornecem instrumentos importantes para influenciar os caminhos da região, principalmente através dessa relação de dependência recíproca com os vizinhos".
Essa exposição é fruto dos investimentos importantes que o governo e as empresas brasileiras mantêm em outros países da região. A política do país está ancorada em um regime definido como "solidário" pelo Itamaraty, ou seja, orientado para se inserir nas economias vizinhas de acordo com suas necessidades: tecnologia de pesca para países caribenhos, mediação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias) na Colômbia, fornecimento de petróleo com segurança para o Chile.
Empresas de peso, públicas e privadas, têm presença forte no continente, como Vale e Petrobras. Também avançam companhias do setor financeiro - agências do banco Itaú estão espalhadas por Buenos Aires e Santiago do Chile -, e empreiteiras, como a Odebrecht, responsável pela modernização do porto de Mariel, em Cuba, e a OAS, que constrói uma estrada na Bolívia como parte do projeto de abrir uma conexão viária para o Oceano Pacífico.
A magnitude da presença brasileira no continente é descrita por Kellie Meiman, diretora-executiva na consultoria McLarty Associates, que foi diplomata no Brasil e em outros países do continente: "Ao visitar os países da América do Sul e Central, ouvia constantemente falar nas "big americans", empresas americanas que dominavam a economia desses países. Agora, esse discurso teve de abrir espaço para um novo ator, as "grandes empresas brasileiras".
O peso dos investimentos nos países vizinhos produz uma interdependência que, por sua vez, é um primeiro passo para a integração regional, ao torná-la necessária. A Petrobras é responsável por quase um quarto da arrecadação de impostos bolivianos, enquanto a energia que alimenta as indústrias do Sudeste brasileiro vem, em grande parte, da usina binacional de Itaipu, na divisa com o Paraguai. Uma crise em algum desses países, política ou econômica, poderia trazer riscos para a economia brasileira.
Nem sempre a interdependência é recebida com sorrisos pelos vizinhos. A construção de uma estrada em terras indígenas na Bolívia, com financiamento do BNDES, foi suspensa no ano passado pelo presidente do país, Evo Morales, acusado pela imprensa de ser um "títere do imperialismo brasileiro". Os protestos indígenas tiveram um impacto particularmente forte no país, porque Morales foi eleito como um representante da população indígena.
Também na Bolívia, as relações com a Petrobras são dúbias. Em 2006, o governo de Morales anunciou a nacionalização do gás boliviano e tropas do país chegaram a ocupar uma refinaria da Petrobras. No ano seguinte, duas refinarias foram compradas pela Bolívia, ainda no esforço de nacionalização. Foram momentos de crise, mas, como assinala o embaixador Antonio Simões, subsecretário-geral da América do Sul do Ministério das Relações Exteriores, não se chegou ao extremo de cortar o fornecimento de gás para o Brasil.
"Não teria sido do interesse deles interromper o fornecimento, vender para o Brasil é importante", diz o embaixador, usando o caso boliviano como exemplo para as vantagens de estreitar as relações com os vizinhos sem passar a impressão de se tratar de um comportamento de tipo imperialista. O temor boliviano, hoje, foi, desde a independência, expresso também por outros países, a começar pela Argentina.
A atuação diplomática do Brasil é considerada "muito sofisticada" por Riordan Roett, cientista político especializado em América Latina, professor da universidade Johns Hopkins e autor de "The New Brazil". A crise com a Bolívia foi resolvida com uma conversa entre Lula e Evo Morales em Brasília. Quando houve um desentendimento com Fernando Lugo, presidente do Paraguai, por causa da divisão da energia da usina de Itaipu, em 2009, a solução foi encontrada pelo mesmo método. "A maior preocupação dessa diplomacia é evitar ou minimizar danos", diz Roett.
Durante o governo de George W. Bush nos EUA, encerrado em 2009, a orientação da política externa americana foi de delegar ao Brasil a execução, ou ao menos a defesa, de algumas de suas bandeiras, particularmente a oposição às políticas bolivarianas de Hugo Chávez e o combate agressivo, militarizado, ao narcotráfico. "Condoleezza Rice [então secretária de Estado] veio ao Brasil para exigir que o Brasil "fizesse alguma coisa" contra a Venezuela", diz Roett. "Brasília, já no governo Lula, foi muito sábia ao não seguir o que Washington preconizava."
""Delegar" é uma curiosa escolha de palavras", afirma Julia Sweig, do "think tank" americano Council on Foreign Relations. "Na verdade, não consigo imaginar alguém em Brasília usando essa palavra para descrever as políticas que Washington tentava empurrar para cima do Brasil."
Ainda durante a gestão de Bush, ficou evidente que o Brasil não pretendia ocupar o espaço que Washington lhe oferecia de maneira tão categórica. Hoje, resta aos EUA reconhecer que o Brasil, em particular, e a América Latina, em geral, "já deixaram há muito tempo de ser seu quintal", como frisa Spektor.
"Em Washington, o governo já se deu conta de que o Brasil está em outro patamar, tornou-se uma peça importante no jogo global", diz David Rothkopf, presidente da consultoria internacional Garden Rothkopf. "Mas ainda não está agindo plenamente de acordo com isso."
Os sinais, segundo Rothkopf, são contraditórios. Por um lado, o Departamento de Estado, comandado por Hillary Clinton, designou Thomas Shannon para a embaixada em Brasília. Trata-se de um dos mais prestigiados diplomatas de seu país e um nome muito próximo a Hillary. Antes de assumir o cargo no Brasil, foi secretário-assistente para assuntos do Hemisfério Ocidental. Por outro lado, o tratamento oferecido ao Brasil continua inferior a seu prestígio e, principalmente, à atenção dispensada a outros países de importância semelhante, como a Índia e a China. Rothkopf ilustra essa discrepância citando o caso do acordo nuclear com o Irã, costurado por Brasil e Turquia em 2010. "Enquanto o Brasil foi criticado e punido, nenhuma palavra foi dita em relação à Turquia. A relação dos EUA com aquele país nunca esteve melhor", comenta.
Dentre os temas que opõem as duas maiores forças do continente, aquele que mais reverbera nos demais países é o do "tsunami monetário", como diz a presidente Dilma Rousseff. "Temos que tomar medidas para nos defender, e não nos proteger. É importante diferenciar defesa de protecionismo. Não podemos deixar nosso setor industrial ser canibalizado", disse Dilma aos empresários.
O excesso de liquidez atinge os países do continente de maneira desigual. O real tem o câmbio mais valorizado porque sua economia é a maior do continente. Como consequência, afirma Roett, Dilma tem o discurso mais vigoroso em defesa de políticas compensatórias e de proteção à indústria. Os demais países podem interpretar esse discurso como recusa à abertura do mercado, não só para os produtos industriais chineses, mas também aos capitais financeiros abundantes.
Roett não vê essas medidas como tendência para o longo prazo. As iniciativas de integração regional são mais fortes, a começar pela rodovia que liga o Brasil aos portos do Peru, a partir de Rio Branco e Porto Velho. Para evitar o risco de desindustrialização, assunto que está em pauta no Brasil atualmente, será necessário tomar medidas de mais longo prazo, como investimento em qualificação da mão de obra e reformas institucionais. "Tenho esperança de que isso aconteça, mas admito que não é uma esperança muito realista", diz Roett, citando as dificuldades do sistema político.
Na parte de cima da América Latina, pontifica o "laissez faire, laissez passer". "As coordenadas para o crescimento não estão no protecionismo, mas na abertura comercial, e não estão na expropriação de ativos, mas na garantia de livre empresa", afirmou o presidente mexicano Felipe Calderón, aplaudido de pé. O discurso era uma alfinetada diretamente dirigida ao Brasil, em resposta à mudança no regime automotivo binacional com o México no mês passado, que reduziu drasticamente a importação de carros vindos do país de Calderón.
O caso mexicano é particular e ilustra a dinâmica da economia latino-americana nas últimas duas décadas. Com a criação do Nafta (Acordo de Livre-Comércio da América do Norte, na sigla em inglês), o país foi inundado de investimentos americanos - com destaque para as chamadas indústrias maquiadoras, que aproveitavam a eliminação das tarifas e os baixíssimos salários para montar produtos sem transferir tecnologia - e se tornou a principal economia do continente.
Já no século atual, com a ascensão da China, seguida da alta vertiginosa dos preços de produtos primários, a balança do continente passou a pesar a favor do Brasil. Os países cuja política econômica estava voltada para o mercado interno foram favorecidos, ao promover uma redistribuição da renda e uma alta dos salários. Até 2004, Brasil e México tinham PIBs em nível semelhante, mas, desde então, o produto brasileiro disparou, permitindo ao país a manifestação de ambições diplomáticas mais vistosas.
A ascensão do Brasil não foi bem recebida pelos mexicanos. O país investe numa oposição ativa contra a candidatura brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Na votação para a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), no ano passado, o México foi o único país latino-americano a não apoiar o candidato brasileiro, José Graziano, que acabou eleito.
No mês passado, os chefes de Estado dos países da Aliança do Pacífico, formada por México, Peru, Chile e Colômbia, se reuniram pela primeira vez em Santiago. O grupo, constituído pelos principais países do bloco mais ligado à economia americana - portanto, contrapostos à corrente inspirada em iniciativas como o Mercosul -, tem no México seu integrante mais entusiasmado.
Para Rothkopf, é normal que a ascensão internacional do Brasil provoque reações de preocupação - e de ciúmes - em alguns de seus vizinhos, notadamente aqueles que aspiravam a um destino semelhante. O México, em particular, tem sido uma barreira eficaz contra algumas pretensões do Brasil também junto ao governo americano, diz Rothkopf. Um dos motivos da lentidão no avanço do governo Obama para o reconhecimento do pleito brasileiro na ONU é a tentativa de evitar ferir os sentimentos mexicanos. "Será que as Filipinas têm ciúme da proeminência da China?", pergunta Rothkopf. "Será que o Canadá tem ciúmes dos EUA? Ninguém aqui fica cheio de dedos com os ciúmes do Canadá."
Roett acrescenta mais uma causa para a irritação mexicana com o Brasil. "O Itamaraty concentra seus esforços na integração da América do Sul", diz. Em 2000, foi feita a primeira reunião de presidentes sul-americanos. O México reclamou e acabou obtendo status de observador. Vicente Fox, presidente mexicano de 2000 a 2006, quis integrar o país ao Mercosul, mas foi rejeitado. "A proximidade com os EUA sempre incomodou a América do Sul, não só o Brasil."
Por outro lado, o Brasil tem uma situação melhor do que as demais potências ascendentes, no objetivo de conjugar a posição global e a local. Ao contrário da China, e principalmente da Índia, não tem conflitos históricos ou de fronteira com seus vizinhos. E, ao contrário da Alemanha que crescia na época de Otto von Bismarck, "há 140 anos que o Brasil não entra em guerra no continente", ressalta Rothkopf.
Roett cita o barão do Rio Banco, "essa figura adorável", para assinalar a tradição brasileira de trabalhar em conjunto com os vizinhos, em vez de escolher a via do confronto. "Ao contrário de vários outros países da América do Sul, o Brasil não tem quase nenhum conflito de fronteiras." O embaixador Simões segue na mesma linha de Roett. Entende que as eventuais desconfianças dos vizinhos quanto às verdadeiras intenções do Brasil são compreensíveis, mas equivocadas, e afirma que "o Brasil não quer ser rico, mas crescer com seus vizinhos".
Outrora a maior rival do Brasil no continente, hoje a principal parceira comercial e política abaixo do Rio Grande, a Argentina, na pessoa da presidente Cristina Kirchner, foi frustrada, na cúpula de Cartagena, em seu propósito de obter uma declaração conjunta sobre a disputa das ilhas Malvinas. Também muito distante do encontro dos empresários, Cristina voltou para Buenos Aires ainda na manhã de domingo para preparar a expropriação da petroleira YPF, até o momento de capital espanhol, no dia seguinte.
A única reação significativa à decisão de Cristina veio da Espanha, que ameaçou com retaliações e avaliou a parte da companhia que terá de vender em US$ 10,5 bilhões. Em perspectiva histórica, o pouco barulho é significativo. Há menos de uma década, uma decisão drástica como a da Argentina teria provocado uma reação em cadeia no continente, como nas crises políticas dos anos 1960 e 1970 e na montanha-russa financeira dos anos 1980 e 1990.
Já não é assim. "A Argentina está claramente isolada", diz Julia Sweig. "Os investidores sabem que o ambiente econômico e político do continente está sólido e estável." Para Rothkopf, "a Argentina só fez o que fez porque está sem dinheiro. Acredito que entrará em crise muito em breve".
Do outro lado do panorama continental, os países que gravitam em torno dos EUA têm no baixo custo da mão de obra um de seus principais ativos e na violência urbana a principal debilidade. Jornais favoráveis ao governo colombiano festejavam os índices animadores do país, como a inflação de apenas 3,4% no ano passado e o crescimento de mais de 100% das exportações nos últimos cinco anos.
Mas também recordavam o desemprego persistente em 11,9% da população econômica ativa (no Brasil, de 5,7% em fevereiro) e um dos 20 salários médios mais baixos do mundo. Não é à toa que a principal reação contra os TLC nos Estados Unidos tenha partido da central sindical AFL-CIO, preocupada com a migração da mão de obra para países de salários mais baixos, que, graças a essa condição e aos acordos de livre comércio, exportariam produtos de menor preço para os EUA - com ganho certo em geração de postos de trabalho e divisas.
Se existe a divisão na economia, no âmbito político a equação é outra. "Caminhamos do Consenso de Washington para o consenso sem Washington", comentou, em Quito, o presidente do Equador, Rafael Correa, o único a boicotar a cúpula em razão da ausência de Cuba em Cartagena, uma exigência americana.
Nos debates a portas fechadas, os Estados Unidos ficaram "solos, solitos", ironizou o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, que representava o presidente Hugo Chávez, ausente por doença. A política interna é citada como principal entrave à atuação dos EUA no continente. "Para alguém que, como eu, trabalhou tanto com a América Latina, é uma pena que o continente não receba mais atenção dos EUA", diz Donna Hrinak. A ex-embaixadora no Brasil faz a ressalva, porém, de que uma das principais funções da diplomacia americana, hoje, é criar condições para a atuação do setor privado. "Mas o setor privado, adiantando-se aos diplomatas, "já busca intensamente maneiras de investir no continente, particularmente no Brasil."
Para Julia Sweig, "a América Latina deveria ser uma região importantíssima para os EUA". A explicação, paradoxal segundo ela, está justamente na tranquilidade e na solidez da região. A política externa americana se concentra em regiões de conflito e instabilidade que possam colocar em risco a segurança alimentar, energética e econômica do mundo. Trata-se de uma visão, segundo Kellie Meiman, baseada na "realpolitik": uma diplomacia baseada em preocupações práticas e imediatas. "Os EUA já perderam a influência que tinham no continente, isso é fato consumado", diz Sweig.
Maduro exagerou ao falar da solidão americana. Os Estados Unidos ficaram em companhia do nada tropical Canadá em sua intransigência em relação a Cuba, na resistência a discutir uma mudança na política antidrogas no Continente e na oposição a se debater a reivindicação argentina pelas Malvinas. E até Felipe Calderón, antes de chegar à Colômbia, passou por Cuba para se encontrar com Raúl Castro.
Neste "consenso sem Washington", a estrela de Hugo Chávez esmaece. A tendência é para o predomínio dos presidentes eleitos pela esquerda, mas com compromissos de manutenção de políticas econômicas favoráveis ao meio empresarial. É o caso de Dilma Rousseff, do peruano Ollanta Humala, do uruguaio José Mujica - cujo país acaba de subir no rating das agências de classificação de risco - e do salvadorenho Mauricio Funes.
O grupo começa a ganhar a adesão de uma geração eleita pela direita e interessada em políticas sociais. Estão no grupo o colombiano Santos, que promove uma reforma fundiária que beneficia as famílias de camponeses atingidas pelos grupos de extermínio, e o guatemalteco Otto Pérez, defensor de investimentos em saúde e educação no tratamento da violência urbana.
Em ambos os lados do espectro político, a referência evocada é quase sempre a mesma: o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Lula virou uma espécie de símbolo na região porque foi, nas palavras de Donna Hrinak, o primeiro a chamar para os próprios latino-americanos o peso da responsabilidade de resolver os problemas do continente. A transição política suave entre o governo do PSDB e o do PT também é citada como prova da maturação do continente, em paralelo com o controle continuado da inflação e a ênfase em políticas sociais.
Um elemento citado por diplomatas para explicar a transformação de Lula em "grife" na política continental é o sucesso em provocar a sensação, na população, de que a vida está melhorando de fato. Mesmo em países com grande sucesso econômico, como o Chile, o orgulho com a força financeira pode ser eclipsado pela ausência dessa sensação. O Chile sofreu com vastos protestos estudantis no ano passado e seu presidente, Sebastián Piñera, não goza de bons índices de popularidade.
Aproveitando a aproximação, primeiro da União Europeia e depois, principalmente, da China, esses países estão conseguindo conjugar a liberdade de mercado com a atenção a problemas sociais. A retórica inflamada de Hugo Chávez empalidece diante da capacidade que países como o Brasil e o Peru - em que a eleição de Humala, no ano passado, causou a mesma apreensão que a vitória de Lula em 2002 - têm demonstrado de produzir crescimento econômico com sucessos na área social, sempre com independência de políticas, mas sem bater de frente a cada momento com os EUA ou os mercados.
Para ser protagonista dessa nova tendência, falta a Dilma certos gestos de apelo popular, nos quais Lula sempre foi pródigo. Em Cartagena, a presidente não bebeu cerveja em uma boate, como a secretária de Estado Hillary Clinton. Jantou em um restaurante refinado da cidade colombiana e se retirou, sem acenar para turistas brasileiros. "O Piñera é mais simpático", lamentou uma paulistana a passeio. O presidente do Chile, apesar de não fazer parte do grupo que reivindica o legado de Lula, visitou comunidades carentes durante sua estadia na Colômbia.
A nova voz do Brasil na geopolítica regional
Vias abertas na América Latina
Autor(es): Por Diego Viana e César Felício | De São Paulo e de Cartagena
Valor Econômico - 20/04/2012
A reunião da Cúpula das Américas constituiu uma oportunidade para o Brasil, lá representado pela presidente Dilma Rousseff, mostrar-se em seu novo papel na geopolítica latino-americana, agora em posição de proeminência, que o governo dos Estados Unidos, por gestos e palavras - do presidente Barack Obama, também presente em Cartagena, e da secretária de Estado, Hillary Clinton, que visitou Brasília dias depois -, reconhece como fato irreversível
No fórum de 590 dirigentes de empresas que ocorreu de forma paralela ao encontro de chefes de Estado da Cúpula das Américas, em Cartagena, o papel que o Brasil desempenhou ficou claro: a presidente Dilma Rousseff dividiu o cenário do principal painel com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Sentado entre ambos, como se fosse um elo entre dois polos, estava o presidente anfitrião, o colombiano Juan Manuel Santos. Era a manhã do sábado, 14 de abril. Santos anunciaria na tarde do dia seguinte a entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos.
A imagem ilustra a polaridade que se estabeleceu no continente a partir do início do século XXI. Entre o Peru e o México, com as exceções de Venezuela, Equador, Cuba e Nicarágua, os EUA ainda são a grande referência econômica. Quase todos os países nesta faixa estabeleceram tratados de livre comércio com os EUA. Santos, como anfitrião da Cúpula das Américas, esteve à frente desse bloco. O cone sul do continente e a Venezuela convergiram para o Mercosul, em que o discurso predominante é o de Dilma.
Talvez seja uma coincidência da diplomacia, mas a Cúpula ficou espremida entre duas visitas de Estado entre Brasil e EUA, cujos contatos estão mais frequentes do que nunca em tempos sem crise. Antes do encontro na Colômbia, Dilma Rousseff visitou Barack Obama em Washington. Em seguida à cúpula, Hillary Clinton tomou um avião para Brasília, onde declarou que "é difícil imaginar um Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas] reformado sem a presença de um país como o Brasil". A declaração é um passo discreto na direção do apoio ao pleito brasileiro por um assento permanente no conselho.
O papel central exercido pelo Brasil nas reuniões de Cartagena está ancorado na sua participação crescente, e muitas vezes central, na economia dos vizinhos. "Hoje, quem está exposto a riscos na América Latina não são mais os EUA, mas o Brasil", diz Matias Spektor, coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas. Portanto, "os investimentos fornecem instrumentos importantes para influenciar os caminhos da região, principalmente através dessa relação de dependência recíproca com os vizinhos".
Essa exposição é fruto dos investimentos importantes que o governo e as empresas brasileiras mantêm em outros países da região. A política do país está ancorada em um regime definido como "solidário" pelo Itamaraty, ou seja, orientado para se inserir nas economias vizinhas de acordo com suas necessidades: tecnologia de pesca para países caribenhos, mediação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias) na Colômbia, fornecimento de petróleo com segurança para o Chile.
Empresas de peso, públicas e privadas, têm presença forte no continente, como Vale e Petrobras. Também avançam companhias do setor financeiro - agências do banco Itaú estão espalhadas por Buenos Aires e Santiago do Chile -, e empreiteiras, como a Odebrecht, responsável pela modernização do porto de Mariel, em Cuba, e a OAS, que constrói uma estrada na Bolívia como parte do projeto de abrir uma conexão viária para o Oceano Pacífico.
A magnitude da presença brasileira no continente é descrita por Kellie Meiman, diretora-executiva na consultoria McLarty Associates, que foi diplomata no Brasil e em outros países do continente: "Ao visitar os países da América do Sul e Central, ouvia constantemente falar nas "big americans", empresas americanas que dominavam a economia desses países. Agora, esse discurso teve de abrir espaço para um novo ator, as "grandes empresas brasileiras".
O peso dos investimentos nos países vizinhos produz uma interdependência que, por sua vez, é um primeiro passo para a integração regional, ao torná-la necessária. A Petrobras é responsável por quase um quarto da arrecadação de impostos bolivianos, enquanto a energia que alimenta as indústrias do Sudeste brasileiro vem, em grande parte, da usina binacional de Itaipu, na divisa com o Paraguai. Uma crise em algum desses países, política ou econômica, poderia trazer riscos para a economia brasileira.
Nem sempre a interdependência é recebida com sorrisos pelos vizinhos. A construção de uma estrada em terras indígenas na Bolívia, com financiamento do BNDES, foi suspensa no ano passado pelo presidente do país, Evo Morales, acusado pela imprensa de ser um "títere do imperialismo brasileiro". Os protestos indígenas tiveram um impacto particularmente forte no país, porque Morales foi eleito como um representante da população indígena.
Também na Bolívia, as relações com a Petrobras são dúbias. Em 2006, o governo de Morales anunciou a nacionalização do gás boliviano e tropas do país chegaram a ocupar uma refinaria da Petrobras. No ano seguinte, duas refinarias foram compradas pela Bolívia, ainda no esforço de nacionalização. Foram momentos de crise, mas, como assinala o embaixador Antonio Simões, subsecretário-geral da América do Sul do Ministério das Relações Exteriores, não se chegou ao extremo de cortar o fornecimento de gás para o Brasil.
"Não teria sido do interesse deles interromper o fornecimento, vender para o Brasil é importante", diz o embaixador, usando o caso boliviano como exemplo para as vantagens de estreitar as relações com os vizinhos sem passar a impressão de se tratar de um comportamento de tipo imperialista. O temor boliviano, hoje, foi, desde a independência, expresso também por outros países, a começar pela Argentina.
A atuação diplomática do Brasil é considerada "muito sofisticada" por Riordan Roett, cientista político especializado em América Latina, professor da universidade Johns Hopkins e autor de "The New Brazil". A crise com a Bolívia foi resolvida com uma conversa entre Lula e Evo Morales em Brasília. Quando houve um desentendimento com Fernando Lugo, presidente do Paraguai, por causa da divisão da energia da usina de Itaipu, em 2009, a solução foi encontrada pelo mesmo método. "A maior preocupação dessa diplomacia é evitar ou minimizar danos", diz Roett.
Durante o governo de George W. Bush nos EUA, encerrado em 2009, a orientação da política externa americana foi de delegar ao Brasil a execução, ou ao menos a defesa, de algumas de suas bandeiras, particularmente a oposição às políticas bolivarianas de Hugo Chávez e o combate agressivo, militarizado, ao narcotráfico. "Condoleezza Rice [então secretária de Estado] veio ao Brasil para exigir que o Brasil "fizesse alguma coisa" contra a Venezuela", diz Roett. "Brasília, já no governo Lula, foi muito sábia ao não seguir o que Washington preconizava."
""Delegar" é uma curiosa escolha de palavras", afirma Julia Sweig, do "think tank" americano Council on Foreign Relations. "Na verdade, não consigo imaginar alguém em Brasília usando essa palavra para descrever as políticas que Washington tentava empurrar para cima do Brasil."
Ainda durante a gestão de Bush, ficou evidente que o Brasil não pretendia ocupar o espaço que Washington lhe oferecia de maneira tão categórica. Hoje, resta aos EUA reconhecer que o Brasil, em particular, e a América Latina, em geral, "já deixaram há muito tempo de ser seu quintal", como frisa Spektor.
"Em Washington, o governo já se deu conta de que o Brasil está em outro patamar, tornou-se uma peça importante no jogo global", diz David Rothkopf, presidente da consultoria internacional Garden Rothkopf. "Mas ainda não está agindo plenamente de acordo com isso."
Os sinais, segundo Rothkopf, são contraditórios. Por um lado, o Departamento de Estado, comandado por Hillary Clinton, designou Thomas Shannon para a embaixada em Brasília. Trata-se de um dos mais prestigiados diplomatas de seu país e um nome muito próximo a Hillary. Antes de assumir o cargo no Brasil, foi secretário-assistente para assuntos do Hemisfério Ocidental. Por outro lado, o tratamento oferecido ao Brasil continua inferior a seu prestígio e, principalmente, à atenção dispensada a outros países de importância semelhante, como a Índia e a China. Rothkopf ilustra essa discrepância citando o caso do acordo nuclear com o Irã, costurado por Brasil e Turquia em 2010. "Enquanto o Brasil foi criticado e punido, nenhuma palavra foi dita em relação à Turquia. A relação dos EUA com aquele país nunca esteve melhor", comenta.
Dentre os temas que opõem as duas maiores forças do continente, aquele que mais reverbera nos demais países é o do "tsunami monetário", como diz a presidente Dilma Rousseff. "Temos que tomar medidas para nos defender, e não nos proteger. É importante diferenciar defesa de protecionismo. Não podemos deixar nosso setor industrial ser canibalizado", disse Dilma aos empresários.
O excesso de liquidez atinge os países do continente de maneira desigual. O real tem o câmbio mais valorizado porque sua economia é a maior do continente. Como consequência, afirma Roett, Dilma tem o discurso mais vigoroso em defesa de políticas compensatórias e de proteção à indústria. Os demais países podem interpretar esse discurso como recusa à abertura do mercado, não só para os produtos industriais chineses, mas também aos capitais financeiros abundantes.
Roett não vê essas medidas como tendência para o longo prazo. As iniciativas de integração regional são mais fortes, a começar pela rodovia que liga o Brasil aos portos do Peru, a partir de Rio Branco e Porto Velho. Para evitar o risco de desindustrialização, assunto que está em pauta no Brasil atualmente, será necessário tomar medidas de mais longo prazo, como investimento em qualificação da mão de obra e reformas institucionais. "Tenho esperança de que isso aconteça, mas admito que não é uma esperança muito realista", diz Roett, citando as dificuldades do sistema político.
Na parte de cima da América Latina, pontifica o "laissez faire, laissez passer". "As coordenadas para o crescimento não estão no protecionismo, mas na abertura comercial, e não estão na expropriação de ativos, mas na garantia de livre empresa", afirmou o presidente mexicano Felipe Calderón, aplaudido de pé. O discurso era uma alfinetada diretamente dirigida ao Brasil, em resposta à mudança no regime automotivo binacional com o México no mês passado, que reduziu drasticamente a importação de carros vindos do país de Calderón.
O caso mexicano é particular e ilustra a dinâmica da economia latino-americana nas últimas duas décadas. Com a criação do Nafta (Acordo de Livre-Comércio da América do Norte, na sigla em inglês), o país foi inundado de investimentos americanos - com destaque para as chamadas indústrias maquiadoras, que aproveitavam a eliminação das tarifas e os baixíssimos salários para montar produtos sem transferir tecnologia - e se tornou a principal economia do continente.
Já no século atual, com a ascensão da China, seguida da alta vertiginosa dos preços de produtos primários, a balança do continente passou a pesar a favor do Brasil. Os países cuja política econômica estava voltada para o mercado interno foram favorecidos, ao promover uma redistribuição da renda e uma alta dos salários. Até 2004, Brasil e México tinham PIBs em nível semelhante, mas, desde então, o produto brasileiro disparou, permitindo ao país a manifestação de ambições diplomáticas mais vistosas.
A ascensão do Brasil não foi bem recebida pelos mexicanos. O país investe numa oposição ativa contra a candidatura brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Na votação para a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), no ano passado, o México foi o único país latino-americano a não apoiar o candidato brasileiro, José Graziano, que acabou eleito.
No mês passado, os chefes de Estado dos países da Aliança do Pacífico, formada por México, Peru, Chile e Colômbia, se reuniram pela primeira vez em Santiago. O grupo, constituído pelos principais países do bloco mais ligado à economia americana - portanto, contrapostos à corrente inspirada em iniciativas como o Mercosul -, tem no México seu integrante mais entusiasmado.
Para Rothkopf, é normal que a ascensão internacional do Brasil provoque reações de preocupação - e de ciúmes - em alguns de seus vizinhos, notadamente aqueles que aspiravam a um destino semelhante. O México, em particular, tem sido uma barreira eficaz contra algumas pretensões do Brasil também junto ao governo americano, diz Rothkopf. Um dos motivos da lentidão no avanço do governo Obama para o reconhecimento do pleito brasileiro na ONU é a tentativa de evitar ferir os sentimentos mexicanos. "Será que as Filipinas têm ciúme da proeminência da China?", pergunta Rothkopf. "Será que o Canadá tem ciúmes dos EUA? Ninguém aqui fica cheio de dedos com os ciúmes do Canadá."
Roett acrescenta mais uma causa para a irritação mexicana com o Brasil. "O Itamaraty concentra seus esforços na integração da América do Sul", diz. Em 2000, foi feita a primeira reunião de presidentes sul-americanos. O México reclamou e acabou obtendo status de observador. Vicente Fox, presidente mexicano de 2000 a 2006, quis integrar o país ao Mercosul, mas foi rejeitado. "A proximidade com os EUA sempre incomodou a América do Sul, não só o Brasil."
Por outro lado, o Brasil tem uma situação melhor do que as demais potências ascendentes, no objetivo de conjugar a posição global e a local. Ao contrário da China, e principalmente da Índia, não tem conflitos históricos ou de fronteira com seus vizinhos. E, ao contrário da Alemanha que crescia na época de Otto von Bismarck, "há 140 anos que o Brasil não entra em guerra no continente", ressalta Rothkopf.
Roett cita o barão do Rio Banco, "essa figura adorável", para assinalar a tradição brasileira de trabalhar em conjunto com os vizinhos, em vez de escolher a via do confronto. "Ao contrário de vários outros países da América do Sul, o Brasil não tem quase nenhum conflito de fronteiras." O embaixador Simões segue na mesma linha de Roett. Entende que as eventuais desconfianças dos vizinhos quanto às verdadeiras intenções do Brasil são compreensíveis, mas equivocadas, e afirma que "o Brasil não quer ser rico, mas crescer com seus vizinhos".
Outrora a maior rival do Brasil no continente, hoje a principal parceira comercial e política abaixo do Rio Grande, a Argentina, na pessoa da presidente Cristina Kirchner, foi frustrada, na cúpula de Cartagena, em seu propósito de obter uma declaração conjunta sobre a disputa das ilhas Malvinas. Também muito distante do encontro dos empresários, Cristina voltou para Buenos Aires ainda na manhã de domingo para preparar a expropriação da petroleira YPF, até o momento de capital espanhol, no dia seguinte.
A única reação significativa à decisão de Cristina veio da Espanha, que ameaçou com retaliações e avaliou a parte da companhia que terá de vender em US$ 10,5 bilhões. Em perspectiva histórica, o pouco barulho é significativo. Há menos de uma década, uma decisão drástica como a da Argentina teria provocado uma reação em cadeia no continente, como nas crises políticas dos anos 1960 e 1970 e na montanha-russa financeira dos anos 1980 e 1990.
Já não é assim. "A Argentina está claramente isolada", diz Julia Sweig. "Os investidores sabem que o ambiente econômico e político do continente está sólido e estável." Para Rothkopf, "a Argentina só fez o que fez porque está sem dinheiro. Acredito que entrará em crise muito em breve".
Do outro lado do panorama continental, os países que gravitam em torno dos EUA têm no baixo custo da mão de obra um de seus principais ativos e na violência urbana a principal debilidade. Jornais favoráveis ao governo colombiano festejavam os índices animadores do país, como a inflação de apenas 3,4% no ano passado e o crescimento de mais de 100% das exportações nos últimos cinco anos.
Mas também recordavam o desemprego persistente em 11,9% da população econômica ativa (no Brasil, de 5,7% em fevereiro) e um dos 20 salários médios mais baixos do mundo. Não é à toa que a principal reação contra os TLC nos Estados Unidos tenha partido da central sindical AFL-CIO, preocupada com a migração da mão de obra para países de salários mais baixos, que, graças a essa condição e aos acordos de livre comércio, exportariam produtos de menor preço para os EUA - com ganho certo em geração de postos de trabalho e divisas.
Se existe a divisão na economia, no âmbito político a equação é outra. "Caminhamos do Consenso de Washington para o consenso sem Washington", comentou, em Quito, o presidente do Equador, Rafael Correa, o único a boicotar a cúpula em razão da ausência de Cuba em Cartagena, uma exigência americana.
Nos debates a portas fechadas, os Estados Unidos ficaram "solos, solitos", ironizou o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, que representava o presidente Hugo Chávez, ausente por doença. A política interna é citada como principal entrave à atuação dos EUA no continente. "Para alguém que, como eu, trabalhou tanto com a América Latina, é uma pena que o continente não receba mais atenção dos EUA", diz Donna Hrinak. A ex-embaixadora no Brasil faz a ressalva, porém, de que uma das principais funções da diplomacia americana, hoje, é criar condições para a atuação do setor privado. "Mas o setor privado, adiantando-se aos diplomatas, "já busca intensamente maneiras de investir no continente, particularmente no Brasil."
Para Julia Sweig, "a América Latina deveria ser uma região importantíssima para os EUA". A explicação, paradoxal segundo ela, está justamente na tranquilidade e na solidez da região. A política externa americana se concentra em regiões de conflito e instabilidade que possam colocar em risco a segurança alimentar, energética e econômica do mundo. Trata-se de uma visão, segundo Kellie Meiman, baseada na "realpolitik": uma diplomacia baseada em preocupações práticas e imediatas. "Os EUA já perderam a influência que tinham no continente, isso é fato consumado", diz Sweig.
Maduro exagerou ao falar da solidão americana. Os Estados Unidos ficaram em companhia do nada tropical Canadá em sua intransigência em relação a Cuba, na resistência a discutir uma mudança na política antidrogas no Continente e na oposição a se debater a reivindicação argentina pelas Malvinas. E até Felipe Calderón, antes de chegar à Colômbia, passou por Cuba para se encontrar com Raúl Castro.
Neste "consenso sem Washington", a estrela de Hugo Chávez esmaece. A tendência é para o predomínio dos presidentes eleitos pela esquerda, mas com compromissos de manutenção de políticas econômicas favoráveis ao meio empresarial. É o caso de Dilma Rousseff, do peruano Ollanta Humala, do uruguaio José Mujica - cujo país acaba de subir no rating das agências de classificação de risco - e do salvadorenho Mauricio Funes.
O grupo começa a ganhar a adesão de uma geração eleita pela direita e interessada em políticas sociais. Estão no grupo o colombiano Santos, que promove uma reforma fundiária que beneficia as famílias de camponeses atingidas pelos grupos de extermínio, e o guatemalteco Otto Pérez, defensor de investimentos em saúde e educação no tratamento da violência urbana.
Em ambos os lados do espectro político, a referência evocada é quase sempre a mesma: o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Lula virou uma espécie de símbolo na região porque foi, nas palavras de Donna Hrinak, o primeiro a chamar para os próprios latino-americanos o peso da responsabilidade de resolver os problemas do continente. A transição política suave entre o governo do PSDB e o do PT também é citada como prova da maturação do continente, em paralelo com o controle continuado da inflação e a ênfase em políticas sociais.
Um elemento citado por diplomatas para explicar a transformação de Lula em "grife" na política continental é o sucesso em provocar a sensação, na população, de que a vida está melhorando de fato. Mesmo em países com grande sucesso econômico, como o Chile, o orgulho com a força financeira pode ser eclipsado pela ausência dessa sensação. O Chile sofreu com vastos protestos estudantis no ano passado e seu presidente, Sebastián Piñera, não goza de bons índices de popularidade.
Aproveitando a aproximação, primeiro da União Europeia e depois, principalmente, da China, esses países estão conseguindo conjugar a liberdade de mercado com a atenção a problemas sociais. A retórica inflamada de Hugo Chávez empalidece diante da capacidade que países como o Brasil e o Peru - em que a eleição de Humala, no ano passado, causou a mesma apreensão que a vitória de Lula em 2002 - têm demonstrado de produzir crescimento econômico com sucessos na área social, sempre com independência de políticas, mas sem bater de frente a cada momento com os EUA ou os mercados.
Para ser protagonista dessa nova tendência, falta a Dilma certos gestos de apelo popular, nos quais Lula sempre foi pródigo. Em Cartagena, a presidente não bebeu cerveja em uma boate, como a secretária de Estado Hillary Clinton. Jantou em um restaurante refinado da cidade colombiana e se retirou, sem acenar para turistas brasileiros. "O Piñera é mais simpático", lamentou uma paulistana a passeio. O presidente do Chile, apesar de não fazer parte do grupo que reivindica o legado de Lula, visitou comunidades carentes durante sua estadia na Colômbia.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
Barão do Rio Branco
- Túlio
- Site Admin
- Mensagens: 61482
- Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
- Localização: Tramandaí, RS, Brasil
- Agradeceu: 6309 vezes
- Agradeceram: 6658 vezes
- Contato:
Re: GEOPOLÍTICA
Snowmeow escreveu:Muito interessante, vou favoritar pra ler com calma depois (Patrão psicopata não deixa ler à vontade... )
Sem problemas. O que importa é que as pessoas leiam e compreendam que GEOPOLÍTICA:
É muito mais do que juntar um amontoado de notícias desconexas tentando extrair daí algum sentido, isso é trabalho de INTELIGÊNCIA!
É compreender o mundo à luz das informações coletadas, processadas e apresentadas pela Inteligência e não fazer-lhe o trabalho.
E é, fundamentalmente, compreender no que isso nos afeta, de que modo e como podemos nos beneficiar disso.
Assim, a meu ver este tópico deveria se chamar INTELIGÊNCIA GERAL e não GEOPOLÍTICA.
É o que penso.
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
- Sávio Ricardo
- Sênior
- Mensagens: 2990
- Registrado em: Ter Mai 01, 2007 10:55 am
- Localização: Conceição das Alagoas-MG
- Agradeceu: 128 vezes
- Agradeceram: 181 vezes
- Contato:
Re: GEOPOLÍTICA
Túlio escreveu:Foi trabalhoso e mesmo traumático chegar a este nível de educação e civilidade que ora desfrutamos, tento apenas PRESERVAR.
Bem lembrado...
A tempos não vejo baixarias e falta de respeito com outros usuarios como se via corriqueiramente num passado não muito distante.
Calmaria geral...
- Túlio
- Site Admin
- Mensagens: 61482
- Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
- Localização: Tramandaí, RS, Brasil
- Agradeceu: 6309 vezes
- Agradeceram: 6658 vezes
- Contato:
Re: GEOPOLÍTICA
E vai continuar assim. Compromisso do Conselho, cupincha. Chega de aturar TROLL torrando forista direito, que só quer aprender e ensinar e, claro, se divertir um pouco no processo...
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
P. Sullivan (Margin Call, 2011)
P. Sullivan (Margin Call, 2011)