JL escreveu:
Será que estão nos equipamentos os problemas ou na baixa qualificação de nosso soldado, na dificuldade que temos de lidar com o novo e com tecnologias mais avançadas.
Fico imaginando como uma unidade AAAe vai operar um sistema de mísseis se tem dificuldade de posicionar e alinhar canhões. Imagine um tenente tentado falar de trigonometria para um soldado em serviço militar.
Aqui Igla erra alvo, Mi 35 não se sabe se tem mísseis, Mowag tem manutenção difícil. Fala o que.
JL lendo e analisando o que você escreveu de para verificar que existem uma série de variáveis que dificulta uma resposta rápida e genérica, por não dispor de todas elas irei tentar pontuar uma situação em particular.
Devido ao fato utilizarmos do grosso das tropas do EB advirem de processos de conscritos, que impede uma melhor capacitação dessa mão de obra, todos os sistemas mais complexos são operados e manutenidos por graduados e/ou oficiais de carreira, portanto oriundos de cursos especializados e de estágios probatórios.
No caso dos sistemas de Msl AAe IGLA-S, esses militares são capacitados pela Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (Es A Cos AAe), localizada no Rio de Janeiro, em um curso montado, por força do contrato de aquisição, pela equipe da Rosoboronexport, utilizando os simuladores 9F874. Que fique bem claro que esse curso foi montado, bem como o pessoal foi capacitado, baseado na documentação fornecida pela empresa e com a orientação de seus técnicos, que por sinal também são professores no curso, conforme contrato firmado entre o EB e a empresa, ou seja, tudo isso é pago.
A utilização de simuladores auxilia em muito a capacitação dos militares, pois o tiro real desse sistema é muito caro, fazendo que cada disparo ocorra mediante um grande processo de planejamento para o maior aproveitamento possível, por isso o evento do dia 20, onde seriam disparados 4 (quatro) mísseis gerou enorme expectativa anterior e frustração posterior.
O evento contou com a presença de diversos generais, entre eles o General-de-Exército Sinclair James MAYER, Chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), e um representante russo da Rosoboroexport, que veio cuidar da operacionalidade desse equipamento no Brasil, devido ao grande numero de reclamações.
Foram efetuados 4 disparos, todos por sargentos especialistas devidamente homologados no sistema, apoiados por outros militares e técnicos Rosoboroexport, e TODOS erraram o alvo. Após os quatro fracassos, o russo foi até a área de lançamento e, com o auxilio de um interprete, começou literalmente a brigar com todos os militares envolvidos, inclusive de forma bem truculenta e na frente de todos os presentes, dizendo que os mísseis erraram por eles terem sido lançados fora do envelope de vôo. O russo só parou com a bronca, quando chegou o General MAYER, e informou-lhe que quem orientou para atirarem daquela forma foi o próprio pessoal da Rosoboronexport. Ele também questionou, com a mesma veemência da bronca do russo, também na frente de todos os envolvidos, inclusive os militares que levaram a bronca, “porque que diabos esse russo permitiu que fossem disparados 4 mísseis”, já que no meio da bronca ele disse que viu logo do inicio que os tiros estavam errados. Depois ainda perguntam o porquê dos militares não gostarem ou terem um certo rancor dos russos, apesar de alguns russocultistas (ou eslavolatristas, se preferirem) ainda acharem que isso se deve “por não se conhecer, aliado a arrogância típica dos parvos”, referindo-se, obviamente aos militares brasileiros.
Os militares do EB estão muito insatisfeitos com a Rosoboronexport e com o IGLA-S. Eles admitem que o míssel foi importante para a criação da doutrina, mas seu desempenho é pífio, com uma taxa de acerto no EB inferior a 50%. Alguns militares inclusive demonstraram o interesse da substituição desses pelos MISTRAL, que consideram superior e que tem um índice de acerto de 100% no CFN.
É interessante que existe uma verdadeira cultura de cultuar esse sistema simplesmente pelo fato dele ser russo, demonstrando a sua enorme capacidade operativa baseada apenas em blogs e conversas com “amigos”, mas ninguém questiona o fato do IGLA ter um desempenho inferior aos equivalentes ocidentais quando se trata do índice de acerto. O fato de um suposto abate de um avião líbio, repetido como o evento mais marcante do mundo, não quer dizer nada quando o cidadão que informa não sabe dizer quantos mísseis foram necessários para obter esse resultado.
Com isso tudo que apresentei posso afirmar que, para o desgosto de alguns aqui, o EB só vai adquirir outro sistema AAe russo se for uma decisão política, ou seja, de cima para baixo, ou se a Rosoboronexport mudar a forma de trato com seu cliente.
Abraços,
Paulo Bastos