Olá amigo Zero4.ZeRo4 escreveu:Houveram ganhos em termos de tecnologia?
Acho mto precipitado dizer que "andamos em círculos", na minha opinião vamos continuar andando em círculos até que outro método de propulsão seja realmente possível. Projetar esse foguete para ir à Lua ou Marte, na minha opinião, continua sendo andar em círculos.
De fato, qualquer desenvolvimento de foguetes hoje é andar em círculos, pelo menos para quem possui modelos já operacionais. O que acontece é que falando especificamente em acesso ao espaço, entendido como o transporte de cargas da superfície da Terra até a órbita ou além, a tecnologia aplicável hoje (motores-foguete químicos) está madura desde a década de 70 do século passado, e não há mais nada a desenvolver neste setor. Alguns pequenos avanços em detalhes são possíveis, sendo que atualmente eles visam principalmente reduzir os custos, mas nenhum grande avanço tecnológico será possível mais por aí. Por isso os eventuais avanços trazidos pelos Space-Shuttles se tornaram irrelevantes, e de fato o projeto e construção de novos foguetes também pouco ou nada acrescenta em termos de avanço tecnológico. Isso é um fato reconhecido por todos os especialistas da área da pesquisa espacial.
Por outro lado, uma vez no espaço ainda existem sim muitos campos férteis para trabalhos de pesquisa técnico/científica. Das formas de propulsão avançadas (velas-solares, propulsão iônica, diversas formas de propulsão nuclear e etc..., todas úteis para manobras orbitais ou viagens interplanetárias mas sem aplicação direta para o acesso ao espaço em si), passando por fontes de energia (painéis solares de alto rendimento, reatores nucleares compactos e baterias avançadas) e indo até a automação, o sensoreamento remoto, comunicações, etc... . Em cada um destes campos existem avanços tecnológicos possíveis que poderiam depois ter aplicação mais geral, levando ao tipo de desenvolvimento tecnológico aplicado que é uma das principais razões da própria existência dos programas espaciais.
E também jamais houve tantos objetivos interessantes para a pesquisa espacial em si, com a descoberta inesperada de vários mundos em nosso sistema solar capazes de abrigar formas de vida (Marte, Europa, Ganimedes, Titã e Encéladus pelo menos) e que poderiam ser visitados pelo menos por sondas automáticas sofisticadas, bem como a detecção de centenas ou milhares de planetas extra-solares que deveriam ser investigados por grandes telescópios e outros instrumentos colocados no espaço. E uma boa parte do trabalho de montagem e operação destes equipamentos poderia ser melhor efetuada no próprio espaço por astronautas treinados, o que justificaria a manutenção dos esforços nas viagens espaciais tripuladas.
O problema então está justamente em se aplicar recursos (em termos de capacidade científica e dinheiro) para tentar desenvolver novos e sofisticados foguetes para acesso ao espaço, desviando os recursos que deviam estar disponíveis para a colocação das cargas em órbita utilizando os veículos já existentes e a execução das atividades espaciais em si. Construir e lançar foguetes gigantes e altamente sofisticados pode ser uma atividade empolgante e dar bastante visibilidade a um programa espacial, mas em termos de desenvolvimento tecnológico é algo muito pouco produtivo. Bem melhor seria utilizar os foguetes mais simples e baratos possíveis (alguns dos quais já estão disponíveis e em operação há décadas) e reservar o grosso dos recursos para os projetos e as missões espaciais em si, estes sim possíveis fontes de grandes avanços futuros no conhecimento e na tecnologia.
Um grande abraço,
Leandro G. Card