Brasil é estratégico na expansão da Cassidian
Por Virgínia Silveira | Para o Valor, de São Paulo
Zoeller, presidente da Cassidian: "Vamos criar uma base industrial no Brasil e desenvolver produtos globais"
A Cassidian, braço de defesa do grupo europeu EADS, planeja transformar o Brasil em um dos três principais centros da empresa no mundo para o desenvolvimento de tecnologia nas áreas de defesa e de segurança pública. "Vamos criar uma base industrial no Brasil e ajudar as empresas locais a desenvolverem produtos que possam competir globalmente", disse Stefan Zoeller, presidente e principal executivo da Cassidian, que chegou esta semana ao Brasil para acelerar os projetos de crescimento da empresa.
Para os próximos três anos a empresa pretende investir entre € 50 milhões e € 100 milhões na instalação de um centro de excelência em engenharia de sistemas que, num prazo de dois anos, contará com 2 mil engenheiros. A maioria deles, segundo o presidente da Cassidian no Brasil, Christian Grass, será recrutada junto às universidades brasileiras e no mercado e uma parte virá do grupo EADS na França e na Alemanha. Uma parcela receberá treinamento nas fábricas da Cassidian na Europa.
Parte do crescimento da Cassidian no Brasil, segundo Zoeller, será impulsionado através da joint venture que mantém desde o ano passado com a Odebrecht. "Não temos a intenção de comprar outras empresas de defesa no Brasil, mas a joint venture sim, pois o nosso objetivo é fazer com que ela cresça e produza", afirmou. A Mectron, controlada pela Odebrecht, segundo Zoeller, está preparada para absorver todas as tecnologias que a Cassidian pretende trazer para o Brasil.
Em cinco anos, a meta do grupo é atingir um faturamento de € 500 milhões no Brasil, sendo que parte desse resultado virá por meio da joint venture, segundo o executivo. Com essa parceria, a Cassidian pretende trazer ao Brasil tecnologias de ponta nas áreas de sistemas de controle de fronteiras e costas e sistemas de detecção e inteligência para serem aplicados no monitoramento de regiões estratégicas como a Amazônia.
Na área de segurança pública, de acordo com Zoeller, a Cassidian quer principalmente desenvolver novas capacidades que serão exportadas para todo o mundo. Parte dessa capacidade também poderá ser absorvida com a aquisição de empresas brasileiras na área de tecnologia da informação. "Temos um projeto ambicioso de desenvolver no Brasil a próxima geração de sistemas de proteção policial da Cassidian", disse o presidente da divisão brasileira do grupo.
A Cassidian está no Brasil desde 2006 e já forneceu o sistema de radiocomunicação criptografada, baseado na tecnologia Tetrapol, para a Polícia Federal, no âmbito do projeto Proamatec. O sistema também é fornecido para a MRS Logística, que provê serviços de voz e dados ao longo de 1,5 mil quilômetros de estradas de ferro controladas pela empresa.
Os investimentos do grupo EADS no setor aeroespacial, segundo Zoeller, estão sendo direcionados para outras partes do mundo, para reduzir a dependência do mercado europeu, que está cada vez menor, e desta forma conseguir um maior equilíbrio da sua receita. "A estratégia do grupo prevê que até 2020 cerca de 40% do faturamento, estimado em € 80 bilhões venha de fora da Europa e 20% dos seus empregados sejam não europeus", disse Grass.
Atualmente, segundo o executivo, o mercado europeu ainda responde por 90% da receita da EADS, que em 2010 foi da ordem de € 45 bilhões. A carteira de pedidos do grupo soma € 450 bilhões, a maior parte das encomendas foram feitas pela fabricante europeia Airbus, do mesmo grupo.
O objetivo da Cassidian, segundo Grass, é tornar o Brasil uma referência na área de inteligência, especialmente relacionada a sistemas de comando e controle e de detecção, como radares e câmeras sofisticadas. A Índia é outro mercado visado pelo grupo de defesa Cassidian para montar uma importante base de desenvolvimento de tecnologia.
O governo indiano deve decidir até dezembro o maior contrato de compra de caças dos últimos anos no mundo. A Cassidian é uma das finalistas da disputa com o avião Eurofighter, e disputa com a rival francesa Dassault o fornecimento de 250 caças, avaliados em mais de € 30 bilhões.