19 de Agosto de 2011 - 20h09
Mais uma semana cruel para as bolsas de valores
O pânico estimulado pela perspectiva de uma nova recessão mundial ampliou os prejuízos nos mercados de capitais ao longo desta semana, encerrada nesta sexta, 19, com novas baixas, depois do terremoto que sacudiu as bolsas no dia anterior.
As bolsas europeias encerraram o pregão no terreno negativo. Londres recuou 1,01%, Frankfurt caiu 2,19% e Paris perdeu 1,92%. Mais uma vez, os bancos lideraram as perdas. Deutsche Bank caiu 5,2%, RBS perdeu 4,4%, Lloyds fechou em baixa de 4,8% e Unicredit declinou 5,8%.
Sistema enfermo
A desconfiança com a saúde do sistema bancário cresce com o risco de calote a cada dia mais iminente na Grécia e outros países da região sufocados pela crise da dívida externa. As ações do banco francês Société Générale, um dos maiores da Europa, caíram 49% entre o dia 1º de julho e ontem, observa o jornal parisiense Le Monde. O diário destaca também a variação das ações de outras duas importantes instituições financeiras francesas: o Banco Nacional de Paris (BNP Paribas) e o Crédit Agricole, cujos papéis desceram 37% e 42% no mesmo período. O sistema está enfermo.
Nos Estados Unidos não foi muito diferente. O índice Dow Jones fechou com queda de 1,57%, para 10.818 pontos; o Nasdaq perdeu 1,62%, para 2.342 pontos; e o S&P 500 recuou 1,50%, para 1.124 pontos.
Ibovespa
Já no Brasil, que como disse a presidente Dilma não é uma ilha de prosperidade no mar da tormenta capitalista, o Ibovespa fechou em queda de 1,29%, aos 52.447 pontos, com giro financeiro de R$ 5,902 bilhões. Neste patamar, o indicador marca perda de 1,9% na semana, 10,8% no mês e 24,3% no ano.
"A semana começou boa e foi ficando cada vez mais negativa com o passar dos dias, atingindo o pico do pessimismo ontem [18]. Hoje foi um dia mais calmo, sem grandes notícias, mas ainda ruim", resumiu Pedro Galdi, analista de investimento da SLW Corretora, em entrevista ao Valor.
Recessão mundial
Os motivos para o mau humor do mercado são conhecidos. As debilidades das economias europeia e estadunidense ameaçam arrastar o globo para uma nova recessão. Os sinais de que o mundo caminha nesta direção são crescentes. Não se resumem à desvalorização dos papéis negociados nas bolsas. Também são notáveis na chamada economia real.
Relatório divulgado pelo JP Morgan deixou os investidores ainda mais pessimistas. O banco prevê que a economia americana deve crescer menos do que o previsto nos próximos dois trimestres, ante o recuo da confiança do consumidor e a falta de ímpeto no mercado imobiliário.
Economia real
O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos vai crescer 1% no quarto trimestre deste ano, em vez dos 2,5% previstos anteriormente. No primeiro trimestre de 2012, a economia deve expandir-se 0,5%, e não 1,5%, a julgar pelo JP Morgan. Foi a terceira instituição na semana a reduzir a expectativa de expansão do PIB dos EUA, seguindo-se ao Morgan Stanley e ao Citigroup.
A situação do mercado de trabalho norte-americano tende a piorar. O Bank of America anunciou a intenção de demitir 3,5 mil bancários. A empresa, que perdeu quase metade do valor acionário ao longo dos últimos meses, já condenou ao olho da rua 2,5 mil trabalhadores neste ano. O jornal New York Times (NYT) informou que pode haver mais enxugamento de pessoal, com a possibilidade de o número total de cortes alcançar a marca de 10 mil.
O mercado também foi notificado nesta sexta que o Índice de Preços ao Produtor (PPI, na sigla em inglês) da Alemanha apresentou alta de 0,7% em julho na comparação com junho e de 5,8% frente a julho do ano passado. Os porcentuais superaram as previsões de analistas, de altas de 0,1% na comparação mensal e 5,6% na anual, e reduz a alternativa de redução da taxa de juros na Europa.
Anarquia capitalista
Sem muitas alternativas, os investidores procuram se refugiar no ouro, cuja cotação marcou um novo recorde em Londres nesta sexta, sendo cotado acima de US$ 1.860 a onça (28,34 gramas). Cresceu igualmente a demanda por franco suíço e iene. A moeda japonesa registrou sua maior cotação frente ao dólar desde a Segunda Guerra Mundial, fechando em torno dos 75,95 por um dólar. O valor mais baixo desde a II Guerra Mundial era de 76,25 ienes por dólar.
A esperança de recuperação das potências capitalistas evapora. O chamado “espírito animal” dos capitalistas perde fôlego e os investidores se comportam que nem barata tonta. Será isto um exemplo do que a ideologia dominante chama de racionalidade do mercado ou os fatos, por teimosia, continuam dando razão a Karl Marx, que denunciou o caráter anárquico da produção capitalista?
Da Redação, Umberto Martins, com agências
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