Marino escreveu:Vejo muitos preocupados com hardware:
"O Rafale teve suas chances melhoradas..."
"Trocou seis por meia dúzia..."
Etc.
A questão, para mim, é outra.
Por exemplo: como fica a posição da Defesa em relação a assinatura do Protocolo Adicional ao TNP? O Itamaraty era a favor, a Defesa (NJ) contra.
E agora?
A questão da Política de Defesa é, sempre foi, muito maior que hardware.
Estava curioso para ver sua manifestação, que foi, como sempre, racional, objetiva e elegante - ao contrário do Johnbim. Teremos uma guinada na política externa? Penso que o CA não conduzirá sozinho o MD, ele precisa interagir com os militares e seu cargo não é suscetível a caprichos pessoais ou vontades partidárias. Se ele não sabe isos, o que não creio, lhe deixarão claro logo.
Algumas coisas que li hoje:
Candidato?
Um integrante do PMDB gaúcho dizia na tarde desta quinta (4) que o “sonho de Jobim sempre foi ser presidente”. Outro peemedebista gaúcho considera Jobim uma grande raposa da política, preparado para brigar pelo cargo, apesar de sua arrogância. A leitura de peemedebistas conterrâneos do ex-ministro da Defesa é de que, ao bater de frente com o governo, Jobim pode estar tentando se cacifar para se tornar um nome forte da oposição. (Sul 21)
'Só me faltava essa!', afirmou Dilma ao saber de entrevista
Terra - Reduzir Normal Aumentar Imprimir Ao tomar conhecimento da entrevista do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim à revista Piauí, a presidente Dilma Rousseff (PT) ficou indignada e reagiu: "Só me faltava essa! Mas ele falou mesmo que tem trapalhada no governo, que a Ideli é fraquinha e que a Gleisi não conhece Brasília?", perguntou Dilma aos auxiliares, numa referência a Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e a Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Diante da resposta positiva, ela ordenou: "Me consigam essa entrevista". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por volta das 12h30, a entrevista chegou ao gabinete da presidente. Ela ficou furiosa com o que leu e, pouco depois, chamou os mais próximos para um almoço. À mesa com Gleisi, Ideli, Helena e Carvalho, a presidente conversou sobre a "situação insustentável" de Jobim, com quem ainda não tinha falado. Após o almoço, a presidente ligou e mandou Jobim retornar e disse: "Ou você pede para sair ou eu saio com você". Além das palavras do ministro em relação às mulheres, o que mais contrariou Dilma foi não ter sido alertada por Jobim sobre as declarações.
A demissão de Jobim
O ministro da Defesa, Nelson Jobim (PMDB), entregou sua carta de demissão à presidente Dilma Rousseff no dia 4 de agosto. Sua situação se tornou insustentável no governo após declarações dadas à revista Piauí em que teria considerado a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, "muito fraquinha" e dito que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, "sequer conhece Brasília". Jobim negou ter feito as críticas e disse que as informações seriam "parte de um jogo de intrigas". Mas, segundo fontes, Dilma já havia decidido demitir o ministro caso ele não abandonasse o cargo por conta própria. Para seu lugar, a presidente escolheu o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim.
A situação de Jobim à frente da pasta já vinha se deteriorando por outras declarações à imprensa que geraram mal-estar no governo. Em uma entrevista, ele afirmou ter votado no tucano José Serra, principal adversário de Dilma, nas eleições presidenciais do ano passado. No início de julho, em uma cerimônia em homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) - de quem ele foi ministro da Justiça entre 1995 e 1997 - no Senado Federal, ele citou o dramaturgo Nelson Rodrigues dizendo que "os idiotas perderam a modéstia". A fala foi interpretada como uma insatisfação do ministro com sua situação no governo. Mais tarde, contudo, ele disse que se referia a jornalistas.
Caiu Jobim, o arrogante
Ministério (assim como secretarias estaduais) não é lugar de seguidores cegos do chefe do executivo, mas de pessoas alinhadas com o projeto político do governante, mesmo que tenham críticas à sua forma de governar e as façam em reservado. O importante é que a equipe de governo e, consequentemente, os titulares dos ministérios (e/ou das secretarias dos governos estaduais) atuem em sintonia entre si e com os governantes maiores.
Não foi isto o que não ocorreu com o ministro Nelson Jobim. Tanto ele fez, tanto abusou, tanto insistiu, tanto insinuou (já que, ao que parece, nunca teve coragem de apresentar diretamente suas críticas à presidenta), que acabou demitido. Na verdade, como diria Vinícius de Moraes, ele “abusou da regras três”!
Que motivações o levaram a provocar, como provocou, a presidenta Dilma Rousseff? Nelson Jobim não é ingênuo. Nenhum ingênuo teria a sua biografia: deputado federal constituinte, membro da Comissão de Sistematização da Assembléia Nacional Constituinte de 1988, ministro e presidente do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal, presidente do Conselho Nacional de Justiça, ministro da Justiça do governo FHC e ministro da Defesa de Lula e de Dilma.
Nelson Jobim é tido como o pacificador das relações entre as Forças Armadas Brasileiras e o(s) governo(s) petistas de Lula e Dilma. Criado por FHC, o Ministério da Defesa sempre constituiu problema para os governantes, pois os comandantes militares das três armas sempre resistiram ao comando civil. Tanto é que seu primeiro titular foi um político com passado de serviços prestados à ARENA e ao regime ditatorial militar, o ex-governador e ex-senador do Espírito Santo, Élcio Álvarez.
Todos os demais ministros foram ou figuras civis de pouca expressão, que foram acomodados no ministério e não detinham poder de mando, ou foram militares respeitados na caserna e que não incomodavam os colegas de farda, ou foram, ainda, políticos que, pelo cargo que detinham na estrutura de poder, podiam enquadrar os militares, como foi o caso do vice-presidente da República de Lula, José Alencar.
Jobim vendeu a imagem de se fazer respeitar pelos militares. Suas fotos com trajes militares em plena selva amazônica e de uniforme camuflado ao lado e segurando jibóias, no entanto, evidenciam o contrário. Travestido de militar, sem o ser, ele se submetia ao ridículo, além de se submeter aos trajes e costumes de seus próprios comandados!
Fazer-se parecer o que não é, aliás, talvez seja uma característica do antigo ministro. Ele se autoatribui uma importância que, ao que parece, está sempre longe de possuir. Dele, diz-se à boca pequena, que “caminha como se carregasse, no colo, o próprio busto”, tal a empáfia que ostenta. Seria por se julgar mais importante do que de fato é que Nelson Jobim afrontou, repetidamente, o governo ao qual servia?
Chamar de “idiotas” os que o cercam hoje, em plena cerimônia de comemoração de aniversário do antigo presidente da República, FHC, declarar seu voto no adversário eleitoral da atual presidenta (isto, quando se faz, nunca se declara, mesmo constituindo direito, se não se quer constranger o governo que se integra no momento), afirmar que uma sua colega de ministério é “fraquinha” (mesmo que possa sê-lo) e que a outra “sequer conhece Brasília (ainda que ela, de fato, ainda pouco conheça os meandros do poder), só serviriam para criar embaraços. Isto Nelson Jobim, com certeza, sabia. Se o fez, foi com consciência do que fazia e por algum motivo suficientemente pensado e avaliado. Talvez ele se julgasse, quem sabe, indispensável ao atual governo…
Da demissão de Nelson Jobim não se deduza, no entanto, que, finalmente, o governo Dilma
Rousseff esteja (de fato) começando, com a defenestração do quarto ministro herdado, de algum modo, do governo Lula. Antônio Pallocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e Luiz Sérgio (Relações Institucionais) deixaram seus cargos (Luis Sérgio continua no governo, agora no Ministério da Pesca), mas não ocorreu nenhuma ruptura com o antigo presidente ou com as diretrizes do seu partido.
As trocas ministeriais são comuns nos sistemas presidencialistas. Nem por isto, muda-se o sistema, altera-se a forma de governar ou rompe-se com a coalizão governante. Dilma Rousseff é filiada ao PT, foi criada politicamente (como alternativa de governo) por Luis Inácio da Silva Lula e continuará governando com o PT, com Lula e com os partidos que compuseram a base do governo anterior e que compõem a base do governo atual. Nem por isto ela deixa de ter iniciativa própria, nem de ter um governo com sua feição.
No presidencialismo brasileiro, desde a instalação da chamada Nova República, em 1985, todos os governantes trocaram ministros sem trocar de base política. Foi assim com Sarney, que teve 56 ministros, com Collor de Melo, que teve 35 em apenas dois anos, com Itamar Franco, com 44 ministros em outros dois anos, com FHC, que teve 39 ministros no primeiro mandato e 56 no segundo e, finalmente, com Lula, que teve 64 ministros no primeiro e 38 no segundo mandato. Considerando-se que sempre existiram ao menos 30 ministérios em cada governo, fica fácil perceber que as mudanças são frequentes.
Que Dilma Rousseff tenha trocado quatro ministros em seis meses de governo coloca-a na média de seus antecessores. Efetuar tais trocas, portanto, não constituir novidade, nem evidência de ruptura com seu partido, com Lula ou com a sua base de apoio. Afirmar o contrário é evidência de desinformação ou, ao contrário, tentativa de semear confusão e cizânia. Coisas que parte da imprensa e muitos opositores não assumidos fazem com frequência, mas que, quase sempre, levam a nada, a não ser deixar claro que suas análises são inconsistentes.
(editorial do Sul 21)