PRick escreveu:Cassio escreveu:Pois é...
A coisa é assim. A empresa responsável pelo projeto desenvolve o produto seguindo requisitos operacionais, de "time to market" e de custos bem "apertados". Não adianta cumprir apenas um grupo de requisitos em detrimento dos demais. Tem que cumprir todos. Ou seja, o avião tem que operar como o esperado, sair no custo esperado e no prazo esperado.
Para que isso ocorra a escolha dos fornecedores é fundamental. Apenas os melhores fornecedores poderão entregar equipamentos que operam como desejado, a custos coerentes e nos prazos acertados, e mesmo assim com algum risco envolvido (risco esse calculado).
Quais as vantagens de se comprar de fora?
1- Economia de escala em se adquirir itens de prateleira.
2- Ganhos em confiabilidade dos sistemas para o caso dos itens de prateleira (já operam em outras aeronaves).
3- As empresas tem capital próprio para investir no programa.
4- Conta-se com a vasta experiência de empresas que são experts nos seus ramos de atuação.
5- Reconhecimento internacional das marcas.
Mas se queremos desenvolver a indústria nacional, porque não compramos de empresas nacionais.
Bem, para a maior parte dos casos essas empresas nacionais simplesmente não existem. Para se criar uma empresa seria necessário muito mais tempo. A não se que estejamos falando de abrir aqui filiais de empresas estrangeiras que apenas montassem equipamentos vindos de fora. Mas aí não se ganha muito conhecimento e know-how.
O "pulo do gato" não está em montar, mas sim em desenvolver.
Para um produto com baixa escala de produção como o KC, acredito que não seria viável para os fornecedores montarem filiais aqui.
A outra alternativa seria desenvolvermos componentes genuinamente nacionais. Mas isso leva tempo. Acredito que não seria factível criar uma empresa, esta criar os componentes e ainda os produzir em tempo viável para o programa KC.
O que nos falta é fazer a lição de casa. Assim como foi feito com a Embraer.
Pergunto, quando nasceu a Embraer? Resposta... ela começou a nascer quando foi criado o CTA e o ITA. Ou seja, primeiro formamos uma "massa critica" de engenheiros. Depois os mandamos para cursos no exterior. Depois o governo aproveitou essa "massa crítica" em projetos da FAB. Só então é que se partiu para a criação de uma empresa, que já nasceu com projetos e com escala de produção para lhe manter ativa durante a primeira década, até que pudesse caminhar com as próprias pernas.
Vejamos o Brasil:
Nossa educação primária e secundária pública é ruim.
Nossas universidades (algumas muito boas) formam engenheiros de menos (menos da metade do que precisamos);
Boa parte dos melhores engenheiros formados vão trabalhar nos bancos onde ganham muito mais.
Não investimos o suficiente em pesquisa e desenvolvimento a nível federal (muito menos do que poderíamos);
O Governo não se interessa em reter cérebros. (Muitos vão ganhar a vida no exterior).
Não existem mecanismos suficientes de apoio a pesquisa de longo prazo.
Criar empresas não é mole (alta carga tributária, juros nas alturas, falta de mão-de-obra).
Não se pode contar com as encomendas federais apenas (senão vai morrer de fome, ou vai ter um negócio com um risco enorme).
e por aí vai...
O que nos falta é fazer a lição de casa... coisa que a China fez. Falta é nosso Governo criar vergonha e ter um programa de ciência e tecnologia descente e investir na industrialização, porque o que estamos vendo é o oposto.
A Embraer está corretíssima... Ela é a contratada da FAB, e está especificando o que existe para viabilizar o projeto.
Longe de ser uma montadora apenas, a empresa é a líder do projeto, a desenvolvedora e faz exatamente o que a Boeing ou Airbus fazem... Desenvolvem produtos para atenderem especificações e para isso, reunem o expertize de muitas outras empresas. O que eles tem de vantagem é que estas empresas estão próximos a eles, se não no mesmo país, pelo menos no mesmo continente.
E as contrapartidas... eu acredito que elas existam sim... só que na forma de participação financeira no projeto. Senão acredito que esta conta de 1,3 bilhões seria muito mais alta.
PS1: desenvolver duas aeronaves, uma com componentes nacionais para a FAB e outra com importados é loucura.
PS2: A Embraer tem se esforçado em desenvolver o parque nacional de fornecedores, e já conseguiu muito. Trouxe para cá empresas como a C&D interiors (Jacareí), Latecoere (SJC), a Alestis (SJC), entre outras... Criou a EDE (depois ELEB), que fornece componentes complexos como trens de pouco para diversas aeronaves (e não só da Embraer). Criou também uma universidade própria, que transforma engenheiros das mais variadas especialidades em profissionais de aviação. Criou também um colégio (segundo grau), que já no seu segundo ano de funcionamento já foi considerado um dos melhores do país (e detalhe, só estudam lá crianças vindas da rede pública).
E ajudou a desenvolver fornecedores estritamente nacionais... só que estes não podem ficar dependentes de uma única indústria. Tentam exportar para outros fabricantes mas com a desvalorização do dólar não são competitivos.
As grandes fabricante mundiais estão comprando muito de países de baixo custo (Indonésia, Índia, etc), e nós já não somos um país de baixo custo produtivo.
Ou seja... na minha opinião, todos aqui queriam ver o KC390 com maior participação nacional... mas acho isso uma utopia. Não porque não somos capazes... ah, isso somos sim. Mas porque não querermos. A China está mil anos na frente porque existe plano de governo, existe demanda... existe um trabalho de base.
Uma sugestão... dentro de alguns anos precisaremos pensar em aeronaves mais simples, para substituir os Bandeirantes, os T-25 e os T-27. Já poderíamos começar por desenvolver indústrias de base para estes projetos de menor complexidade.
Cassio
Acho que não podemos misturar tudo, porém, fica aqui algo interessante para ser pensado.
Estamos diante de dois modelos de negócios e duas maneiras diversas de pensar produção e desenvolvimento.
No caso descrito acima temos o modelo de negócios feito em países chamados desenvolvidos, cuja a mão de obra se tornou muito cara, e as grandes empresas se tornaram montadoras, quer dizer, fazem o projeto e o desenvolvimento, e depois se limitam a montar as peças e sistemas que encomendam de terceiros, em geral fabricados em outros países onde a mão de obra é mais barata ou por empresas menores que pagam salário menores.
Esse tipo de modelo é muito bom quando quero economizar em mão de obra e a empresa está sediada em um país dominante, quer dizer que tem poder econômico e militar para subordinar o sistemas, isso pode ser tanto individual como coletivamente.
Do mesmo modo esse tipo de modelo é mais eficiente quanto falamos de produtos civis, que não subordinam os fornecedores a legislação restritivas de controle de tecnologias e produção.
Porém, o Brasil não faz parte dos países centrais, e o KC-390 não é um produto civil. Assim, o uso desse tipo de modelo de negócios é arriscado para o avião em questão.
O modelo de negócios para aviões militares ainda deve ser o de controle e fabricação do maior número de peças e sistemas pelo montador, ou pelo menos dentro de nação. Me parece evidente que não existe necessidade de que 100% dos componentes sejam nacionais, mas me parece óbvio que os componentes principais e mais críticos devem ser feitos localmente.
A EMBRAER estatal tinha essa preocupação, já a EMBRAER privada não teve esse tipo de preocupação, até que começou a encontrar problemas. Pulverizar demais a produção é uma solução pobre do ponto de vista industrial. No caso do Brasil não se justifica.
O exemplo Chines é muito mais próximos de nós que o exemplo do G7.
[]´s
Eu discordo.
Primeiro que problemas a Embraer encontrou que invalidassem o modelo atual?
Depois essa questão, como citado pelo amigo Penguin, não é um problema da Embraer, e sim do GF. Este é o responsável pelas questões de segurança nacional, de desenvolvimento industrial e tecnológico da nação e por questõe sestratégicas que envolvam a nação. A Embraer é uma empresa, ou seja, apenas uma parte da equação.
COm empresa a Embraer tem que cuidar das suas estratégias de crescimento, dos seus investimentos e de seus produtos atuais e futuros.
Criar uma base nacional de fornecedores de defesa, de sistemas complexos é trabalho para o Governo.
Pode ser dura a realidade, mas para a Embraer o que importa é a qualidade dos componentes, sua confiabilidade, o suporte dado pelo fabricante e até a saúde financeira deste, ou seja o risco que ele pode representare ao programa (porque se o fabricante de um componente crítico quebra, a coisa pode ficar feia).
Agora vem a pergunta: Quais empresas nacionais poderiam ser fornecedoras? Que produtos elas possuem que atendam aos requsitos de uma aeronave como o KC? Qual a saúde financeira destas empresas?
Eu, em momento algum separei o civil do militar... o que ocorre que nossa realidade, justamente por ser muito diferente dos países do primeiro mundo, é que força as empresas nacionais a irem buscar componentes lá fora.
Trabalhar junto a universidades e institutos de pesquisa a Embraer já faz. Tem trabalhos importantes de novas tecnologias sendo desenvolvidos com cerca de meia duzia de universidades, isso no Brasil, sem contar com trabalhos sendo desenvolvidos em conjunto com universidades européias.
É como eu disse... se o dono do projeto KC390 é o GF, porque é que ele então não estimula empresas nacionais a se desenvolverem e participarem do projeto. Isso existe?
Mesmo que isso ocorra, quanto tempo isso levaria? Ou seja, o avião está aí... seu protótipo começa a ser produzido em 2013. Quais as empresas nacionais poderiam estar aptas a fornecer o que é preciso neste tempo.
Lembre-se que fornecer significa: desenvolver, certificar, produzir. Isso é coisa para mais de 5 anos e, em se falando de Brasil e sua agilidade governamental, diria 10 anos.
Por isso, em vez de ficarmos chorando as pitangas sobre uma indústria que é exemplo para todos nós... e uma das poucas empresas nacionais do ramo tecnológico (aeroespacial) respeitadas mundialmente... porque não olhamos para frente, vendo o que pode ser feito em futuros projetos. Porque se queremos mais componentes nacionais de importância num futuro substituto do Bandeirante por exemplo, temos que começar a criar essas indústrias "ontem" (ou seja já estamos atrasados).
O desenvolvimento deveria começar nos institutos de pesquisa miltiares, como o CTA, INPE, IME..., ou civis, para depois ser tratada a sua industrialização. Mesmo no caso de indústrias já instaladas, como a Aeroeletrônica, o desenvolvimento de uma nova geração de aviônicos tem de começar muito antes de existir um produto que ira empregá-los.
Veja o caso do FX. Quantos anos estamos aguardando uma seleção. Agora me diz, o que está sendo feito em termos de se preparar as indústrias nacionais para se receber os offset´s???
Empresas como a Embraer sabem o que querem absorver de tecnologia e se preparam para recebê-las. Mas e as tecnologias de interesse nacional que vão além destas... quem as irá absorver, e quem está se preparando para isso?
O buraco desta questão, na minha opinião não se chama Embraer... e sim GF e planejamento industrial e tecnológico de longo prazo... o que infelizmente não rende votos e nem dinheiro de super-faturamento. O que rende votos é manter a inflação baixa (a qualquer custo) e distribuir cestas-básicas; e o que rende din-din é deixar o bicho pegar e sair correndo para fazer centenas de obras sem licitação para a Copa e as Olimpíadas.
Falei
Cassio