Sobre o KC-390

Assuntos em discussão: Força Aérea Brasileira, forças aéreas estrangeiras e aviação militar.

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Re: Sobre o KC-390

#2326 Mensagem por Penguin » Qui Jul 28, 2011 5:30 pm

Cassio escreveu:Pois é...

A coisa é assim. A empresa responsável pelo projeto desenvolve o produto seguindo requisitos operacionais, de "time to market" e de custos bem "apertados". Não adianta cumprir apenas um grupo de requisitos em detrimento dos demais. Tem que cumprir todos. Ou seja, o avião tem que operar como o esperado, sair no custo esperado e no prazo esperado.

Para que isso ocorra a escolha dos fornecedores é fundamental. Apenas os melhores fornecedores poderão entregar equipamentos que operam como desejado, a custos coerentes e nos prazos acertados, e mesmo assim com algum risco envolvido (risco esse calculado).

Quais as vantagens de se comprar de fora?
1- Economia de escala em se adquirir itens de prateleira.
2- Ganhos em confiabilidade dos sistemas para o caso dos itens de prateleira (já operam em outras aeronaves).
3- As empresas tem capital próprio para investir no programa.
4- Conta-se com a vasta experiência de empresas que são experts nos seus ramos de atuação.
5- Reconhecimento internacional das marcas.

Mas se queremos desenvolver a indústria nacional, porque não compramos de empresas nacionais.

Bem, para a maior parte dos casos essas empresas nacionais simplesmente não existem. Para se criar uma empresa seria necessário muito mais tempo. A não se que estejamos falando de abrir aqui filiais de empresas estrangeiras que apenas montassem equipamentos vindos de fora. Mas aí não se ganha muito conhecimento e know-how.
O "pulo do gato" não está em montar, mas sim em desenvolver.

Para um produto com baixa escala de produção como o KC, acredito que não seria viável para os fornecedores montarem filiais aqui.

A outra alternativa seria desenvolvermos componentes genuinamente nacionais. Mas isso leva tempo. Acredito que não seria factível criar uma empresa, esta criar os componentes e ainda os produzir em tempo viável para o programa KC.

O que nos falta é fazer a lição de casa. Assim como foi feito com a Embraer.

Pergunto, quando nasceu a Embraer? Resposta... ela começou a nascer quando foi criado o CTA e o ITA. Ou seja, primeiro formamos uma "massa critica" de engenheiros. Depois os mandamos para cursos no exterior. Depois o governo aproveitou essa "massa crítica" em projetos da FAB. Só então é que se partiu para a criação de uma empresa, que já nasceu com projetos e com escala de produção para lhe manter ativa durante a primeira década, até que pudesse caminhar com as próprias pernas.

Vejamos o Brasil:
Nossa educação primária e secundária pública é ruim.
Nossas universidades (algumas muito boas) formam engenheiros de menos (menos da metade do que precisamos);
Boa parte dos melhores engenheiros formados vão trabalhar nos bancos onde ganham muito mais.
Não investimos o suficiente em pesquisa e desenvolvimento a nível federal (muito menos do que poderíamos);
O Governo não se interessa em reter cérebros. (Muitos vão ganhar a vida no exterior).
Não existem mecanismos suficientes de apoio a pesquisa de longo prazo.
Criar empresas não é mole (alta carga tributária, juros nas alturas, falta de mão-de-obra).
Não se pode contar com as encomendas federais apenas (senão vai morrer de fome, ou vai ter um negócio com um risco enorme).
e por aí vai...

O que nos falta é fazer a lição de casa... coisa que a China fez. Falta é nosso Governo criar vergonha e ter um programa de ciência e tecnologia descente e investir na industrialização, porque o que estamos vendo é o oposto.

A Embraer está corretíssima... Ela é a contratada da FAB, e está especificando o que existe para viabilizar o projeto.
Longe de ser uma montadora apenas, a empresa é a líder do projeto, a desenvolvedora e faz exatamente o que a Boeing ou Airbus fazem... Desenvolvem produtos para atenderem especificações e para isso, reunem o expertize de muitas outras empresas. O que eles tem de vantagem é que estas empresas estão próximos a eles, se não no mesmo país, pelo menos no mesmo continente.

E as contrapartidas... eu acredito que elas existam sim... só que na forma de participação financeira no projeto. Senão acredito que esta conta de 1,3 bilhões seria muito mais alta.

PS1: desenvolver duas aeronaves, uma com componentes nacionais para a FAB e outra com importados é loucura.
PS2: A Embraer tem se esforçado em desenvolver o parque nacional de fornecedores, e já conseguiu muito. Trouxe para cá empresas como a C&D interiors (Jacareí), Latecoere (SJC), a Alestis (SJC), entre outras... Criou a EDE (depois ELEB), que fornece componentes complexos como trens de pouco para diversas aeronaves (e não só da Embraer). Criou também uma universidade própria, que transforma engenheiros das mais variadas especialidades em profissionais de aviação. Criou também um colégio (segundo grau), que já no seu segundo ano de funcionamento já foi considerado um dos melhores do país (e detalhe, só estudam lá crianças vindas da rede pública).

E ajudou a desenvolver fornecedores estritamente nacionais... só que estes não podem ficar dependentes de uma única indústria. Tentam exportar para outros fabricantes mas com a desvalorização do dólar não são competitivos.
As grandes fabricante mundiais estão comprando muito de países de baixo custo (Indonésia, Índia, etc), e nós já não somos um país de baixo custo produtivo.

Ou seja... na minha opinião, todos aqui queriam ver o KC390 com maior participação nacional... mas acho isso uma utopia. Não porque não somos capazes... ah, isso somos sim. Mas porque não querermos. A China está mil anos na frente porque existe plano de governo, existe demanda... existe um trabalho de base.

Uma sugestão... dentro de alguns anos precisaremos pensar em aeronaves mais simples, para substituir os Bandeirantes, os T-25 e os T-27. Já poderíamos começar por desenvolver indústrias de base para estes projetos de menor complexidade.

Cassio
[009]




Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
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Re: Sobre o KC-390

#2327 Mensagem por Carlos Lima » Qui Jul 28, 2011 5:56 pm

Arrebentou Cassio!! [100] [009]

Não adianta essa loucura de achar que tudo tem que ser simplesmente "Made in Brazil"... não é assim que funciona hoje em dia... nem mesmo para empresas como a Boeing (só dar uma olhada no 'mapa' do 787 para ilustrar o que eu estou dizendo.

A Embraer mais uma vez mostrando que é uma fantástica 'integradora' (se 'e que existe essa palavra :lol: ).

[]s
CB_Lima




CB_Lima = Carlos Lima :)
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Re: Sobre o KC-390

#2328 Mensagem por Cassio » Qui Jul 28, 2011 6:01 pm

cb_lima escreveu:Arrebentou Cassio!! [100] [009]

Não adianta essa loucura de achar que tudo tem que ser simplesmente "Made in Brazil"... não é assim que funciona hoje em dia... nem mesmo para empresas como a Boeing (só dar uma olhada no 'mapa' do 787 para ilustrar o que eu estou dizendo.

A Embraer mais uma vez mostrando que é uma fantástica 'integradora' (se 'e que existe essa palavra :lol: ).

[]s
CB_Lima
Cb_lima, meu caro... vc acertou na mosca!!! A palavra existe sim.

Eu diria mais, desenvolvedora e integradora. Ou seja, a mesma coisa que faz uma Boeing ou Airbus da vida.

Sds,
Cassio




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Re: Sobre o KC-390

#2329 Mensagem por Carlos Lima » Qui Jul 28, 2011 6:23 pm

Cassio escreveu:
cb_lima escreveu:Arrebentou Cassio!! [100] [009]

Não adianta essa loucura de achar que tudo tem que ser simplesmente "Made in Brazil"... não é assim que funciona hoje em dia... nem mesmo para empresas como a Boeing (só dar uma olhada no 'mapa' do 787 para ilustrar o que eu estou dizendo.

A Embraer mais uma vez mostrando que é uma fantástica 'integradora' (se 'e que existe essa palavra :lol: ).

[]s
CB_Lima
Cb_lima, meu caro... vc acertou na mosca!!! A palavra existe sim.

Eu diria mais, desenvolvedora e integradora. Ou seja, a mesma coisa que faz uma Boeing ou Airbus da vida.

Sds,
Cassio
Obrigado... :) verdade... pensei mas não escrevi 'desenvolvedora'.

Aqui em ribá o que se ensina é: - Contanto que você seja o desenvolvedor... quem vai fazer o trabalho é outra história... no fim quem faz uma peça ou pedaço quase sempre estará aquém de quem desenvolve...

Mas enfim... tem muita gente de olho nessa outra capacidade da Embraer (integradora) porque muita gente também é excelente em desenvolver e executar, mas coordenar todos esses fornecedores e fazer com que se cumpra requer um tipo de conhecimento que vale ouro hoje em dia. :wink:

(novamente ver os problemas que acontece(ram) com o 787).

A coisa não é fácil não.

[]s
CB_Lima




CB_Lima = Carlos Lima :)
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Re: Sobre o KC-390

#2330 Mensagem por Luiz Bastos » Sex Jul 29, 2011 6:59 am

Interessante Cassio.


O amigo só se esquece de que o projeto é militar e nao civil.

A historia nos mostra que em caso de conflito a primeira palavra a ser dita é embargo.

Minha opinião é que a Embraer faz muito pouco para mudar isso. Poderiam adquirir tudo fora, mas fazer encomendas de protótipos nacionais às universidades como a Marinha vem fazendo. Na hora que o bicho pegar, vão ficar igual à força aérea da Líbia.

Temos que dissociar o que é civil do militar. Um é pra gerar lucro e o outro é para salvar nossas vidas(brasileiros) e temos sim que ter reservas, se não do todo, pelo menos de boa parte deste. A historia da Venezuela com seus F-16 está muito viva, assim como aquele desembarque americano no Haiti.

A grosso modo é como vaga de emprego. Todos os empresários querem funcionários com experiencia, mas os garotos que entram no mercado nunca trabalharam na vida. Como se resolve isso? O governo vem fazendo algo (pouco até) mas a iniciativa privada não faz nada. Recentemente a Dilma lançou um programa de mandar estudantes para fora e ofereceu 75000 bolsas. Pediu a ajuda da Fiesp, Fiemg, Firjan e empresários em geral e todos se calaram. Apenas dois empresários se juntaram ao programa com 100 bolsas cada um. E aí ?

Fui




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Re: Sobre o KC-390

#2331 Mensagem por Penguin » Sex Jul 29, 2011 7:49 am

Luiz Bastos escreveu:Interessante Cassio.


O amigo só se esquece de que o projeto é militar e nao civil.

A historia nos mostra que em caso de conflito a primeira palavra a ser dita é embargo.

Minha opinião é que a Embraer faz muito pouco para mudar isso. Poderiam adquirir tudo fora, mas fazer encomendas de protótipos nacionais às universidades como a Marinha vem fazendo. Na hora que o bicho pegar, vão ficar igual à força aérea da Líbia.

Temos que dissociar o que é civil do militar. Um é pra gerar lucro e o outro é para salvar nossas vidas(brasileiros) e temos sim que ter reservas, se não do todo, pelo menos de boa parte deste. A historia da Venezuela com seus F-16 está muito viva, assim como aquele desembarque americano no Haiti.

A grosso modo é como vaga de emprego. Todos os empresários querem funcionários com experiencia, mas os garotos que entram no mercado nunca trabalharam na vida. Como se resolve isso? O governo vem fazendo algo (pouco até) mas a iniciativa privada não faz nada. Recentemente a Dilma lançou um programa de mandar estudantes para fora e ofereceu 75000 bolsas. Pediu a ajuda da Fiesp, Fiemg, Firjan e empresários em geral e todos se calaram. Apenas dois empresários se juntaram ao programa com 100 bolsas cada um. E aí ?

Fui
Na minha humilde opinião, quem deveria fazer isso é o GF. A Embraer é uma empresa privada. Ela faz a parte dela, como descrito acima por Cassio.

Boa parte dos sistemas são importados pelo simples fato de não haver fornecedores aqui.

Apenas para ficar na turbina, o desevlvimento de uma local na classe da V2500, demandaria muito, mas muito mais mais investimentos e tempo do que o necessário para desenvolver o KC390. E não seria a Embraer a empresa a realizar tal empreitada. Ela não teria cacife e provavelmente quebraria. O GF teria que investir na criação de uma TURBINOBRAS, como o fez com a EMBRAER. O mesmo ocorreria com uma AVIONICOBRAS, etc.

Além do GF que está investindo USD 1,3bi no projeto, há uma série de parceiros de risco estrangeiros (governos e e empresas) que tb estão investindo no projeto.

No que diz respeito a questão da particiapação de empresas no programa de bolsas é realmente lamentável. Mas o GF concede algum incentivo, benefício fiscal a empresas que participam do programa?

[]s




Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
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Re: Sobre o KC-390

#2332 Mensagem por PRick » Sex Jul 29, 2011 11:04 am

Cassio escreveu:Pois é...

A coisa é assim. A empresa responsável pelo projeto desenvolve o produto seguindo requisitos operacionais, de "time to market" e de custos bem "apertados". Não adianta cumprir apenas um grupo de requisitos em detrimento dos demais. Tem que cumprir todos. Ou seja, o avião tem que operar como o esperado, sair no custo esperado e no prazo esperado.

Para que isso ocorra a escolha dos fornecedores é fundamental. Apenas os melhores fornecedores poderão entregar equipamentos que operam como desejado, a custos coerentes e nos prazos acertados, e mesmo assim com algum risco envolvido (risco esse calculado).

Quais as vantagens de se comprar de fora?
1- Economia de escala em se adquirir itens de prateleira.
2- Ganhos em confiabilidade dos sistemas para o caso dos itens de prateleira (já operam em outras aeronaves).
3- As empresas tem capital próprio para investir no programa.
4- Conta-se com a vasta experiência de empresas que são experts nos seus ramos de atuação.
5- Reconhecimento internacional das marcas.

Mas se queremos desenvolver a indústria nacional, porque não compramos de empresas nacionais.

Bem, para a maior parte dos casos essas empresas nacionais simplesmente não existem. Para se criar uma empresa seria necessário muito mais tempo. A não se que estejamos falando de abrir aqui filiais de empresas estrangeiras que apenas montassem equipamentos vindos de fora. Mas aí não se ganha muito conhecimento e know-how.
O "pulo do gato" não está em montar, mas sim em desenvolver.

Para um produto com baixa escala de produção como o KC, acredito que não seria viável para os fornecedores montarem filiais aqui.

A outra alternativa seria desenvolvermos componentes genuinamente nacionais. Mas isso leva tempo. Acredito que não seria factível criar uma empresa, esta criar os componentes e ainda os produzir em tempo viável para o programa KC.

O que nos falta é fazer a lição de casa. Assim como foi feito com a Embraer.

Pergunto, quando nasceu a Embraer? Resposta... ela começou a nascer quando foi criado o CTA e o ITA. Ou seja, primeiro formamos uma "massa critica" de engenheiros. Depois os mandamos para cursos no exterior. Depois o governo aproveitou essa "massa crítica" em projetos da FAB. Só então é que se partiu para a criação de uma empresa, que já nasceu com projetos e com escala de produção para lhe manter ativa durante a primeira década, até que pudesse caminhar com as próprias pernas.

Vejamos o Brasil:
Nossa educação primária e secundária pública é ruim.
Nossas universidades (algumas muito boas) formam engenheiros de menos (menos da metade do que precisamos);
Boa parte dos melhores engenheiros formados vão trabalhar nos bancos onde ganham muito mais.
Não investimos o suficiente em pesquisa e desenvolvimento a nível federal (muito menos do que poderíamos);
O Governo não se interessa em reter cérebros. (Muitos vão ganhar a vida no exterior).
Não existem mecanismos suficientes de apoio a pesquisa de longo prazo.
Criar empresas não é mole (alta carga tributária, juros nas alturas, falta de mão-de-obra).
Não se pode contar com as encomendas federais apenas (senão vai morrer de fome, ou vai ter um negócio com um risco enorme).
e por aí vai...

O que nos falta é fazer a lição de casa... coisa que a China fez. Falta é nosso Governo criar vergonha e ter um programa de ciência e tecnologia descente e investir na industrialização, porque o que estamos vendo é o oposto.

A Embraer está corretíssima... Ela é a contratada da FAB, e está especificando o que existe para viabilizar o projeto.
Longe de ser uma montadora apenas, a empresa é a líder do projeto, a desenvolvedora e faz exatamente o que a Boeing ou Airbus fazem... Desenvolvem produtos para atenderem especificações e para isso, reunem o expertize de muitas outras empresas. O que eles tem de vantagem é que estas empresas estão próximos a eles, se não no mesmo país, pelo menos no mesmo continente.

E as contrapartidas... eu acredito que elas existam sim... só que na forma de participação financeira no projeto. Senão acredito que esta conta de 1,3 bilhões seria muito mais alta.

PS1: desenvolver duas aeronaves, uma com componentes nacionais para a FAB e outra com importados é loucura.
PS2: A Embraer tem se esforçado em desenvolver o parque nacional de fornecedores, e já conseguiu muito. Trouxe para cá empresas como a C&D interiors (Jacareí), Latecoere (SJC), a Alestis (SJC), entre outras... Criou a EDE (depois ELEB), que fornece componentes complexos como trens de pouco para diversas aeronaves (e não só da Embraer). Criou também uma universidade própria, que transforma engenheiros das mais variadas especialidades em profissionais de aviação. Criou também um colégio (segundo grau), que já no seu segundo ano de funcionamento já foi considerado um dos melhores do país (e detalhe, só estudam lá crianças vindas da rede pública).

E ajudou a desenvolver fornecedores estritamente nacionais... só que estes não podem ficar dependentes de uma única indústria. Tentam exportar para outros fabricantes mas com a desvalorização do dólar não são competitivos.
As grandes fabricante mundiais estão comprando muito de países de baixo custo (Indonésia, Índia, etc), e nós já não somos um país de baixo custo produtivo.

Ou seja... na minha opinião, todos aqui queriam ver o KC390 com maior participação nacional... mas acho isso uma utopia. Não porque não somos capazes... ah, isso somos sim. Mas porque não querermos. A China está mil anos na frente porque existe plano de governo, existe demanda... existe um trabalho de base.

Uma sugestão... dentro de alguns anos precisaremos pensar em aeronaves mais simples, para substituir os Bandeirantes, os T-25 e os T-27. Já poderíamos começar por desenvolver indústrias de base para estes projetos de menor complexidade.

Cassio

Acho que não podemos misturar tudo, porém, fica aqui algo interessante para ser pensado.


Estamos diante de dois modelos de negócios e duas maneiras diversas de pensar produção e desenvolvimento.

No caso descrito acima temos o modelo de negócios feito em países chamados desenvolvidos, cuja a mão de obra se tornou muito cara, e as grandes empresas se tornaram montadoras, quer dizer, fazem o projeto e o desenvolvimento, e depois se limitam a montar as peças e sistemas que encomendam de terceiros, em geral fabricados em outros países onde a mão de obra é mais barata ou por empresas menores que pagam salário menores.

Esse tipo de modelo é muito bom quando quero economizar em mão de obra e a empresa está sediada em um país dominante, quer dizer que tem poder econômico e militar para subordinar o sistemas, isso pode ser tanto individual como coletivamente.

Do mesmo modo esse tipo de modelo é mais eficiente quanto falamos de produtos civis, que não subordinam os fornecedores a legislação restritivas de controle de tecnologias e produção.

Porém, o Brasil não faz parte dos países centrais, e o KC-390 não é um produto civil. Assim, o uso desse tipo de modelo de negócios é arriscado para o avião em questão.

O modelo de negócios para aviões militares ainda deve ser o de controle e fabricação do maior número de peças e sistemas pelo montador, ou pelo menos dentro de nação. Me parece evidente que não existe necessidade de que 100% dos componentes sejam nacionais, mas me parece óbvio que os componentes principais e mais críticos devem ser feitos localmente.

A EMBRAER estatal tinha essa preocupação, já a EMBRAER privada não teve esse tipo de preocupação, até que começou a encontrar problemas. Pulverizar demais a produção é uma solução pobre do ponto de vista industrial. No caso do Brasil não se justifica.

O exemplo Chines é muito mais próximos de nós que o exemplo do G7.

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Re: Sobre o KC-390

#2333 Mensagem por Cassio » Sex Jul 29, 2011 12:11 pm

PRick escreveu:
Cassio escreveu:Pois é...

A coisa é assim. A empresa responsável pelo projeto desenvolve o produto seguindo requisitos operacionais, de "time to market" e de custos bem "apertados". Não adianta cumprir apenas um grupo de requisitos em detrimento dos demais. Tem que cumprir todos. Ou seja, o avião tem que operar como o esperado, sair no custo esperado e no prazo esperado.

Para que isso ocorra a escolha dos fornecedores é fundamental. Apenas os melhores fornecedores poderão entregar equipamentos que operam como desejado, a custos coerentes e nos prazos acertados, e mesmo assim com algum risco envolvido (risco esse calculado).

Quais as vantagens de se comprar de fora?
1- Economia de escala em se adquirir itens de prateleira.
2- Ganhos em confiabilidade dos sistemas para o caso dos itens de prateleira (já operam em outras aeronaves).
3- As empresas tem capital próprio para investir no programa.
4- Conta-se com a vasta experiência de empresas que são experts nos seus ramos de atuação.
5- Reconhecimento internacional das marcas.

Mas se queremos desenvolver a indústria nacional, porque não compramos de empresas nacionais.

Bem, para a maior parte dos casos essas empresas nacionais simplesmente não existem. Para se criar uma empresa seria necessário muito mais tempo. A não se que estejamos falando de abrir aqui filiais de empresas estrangeiras que apenas montassem equipamentos vindos de fora. Mas aí não se ganha muito conhecimento e know-how.
O "pulo do gato" não está em montar, mas sim em desenvolver.

Para um produto com baixa escala de produção como o KC, acredito que não seria viável para os fornecedores montarem filiais aqui.

A outra alternativa seria desenvolvermos componentes genuinamente nacionais. Mas isso leva tempo. Acredito que não seria factível criar uma empresa, esta criar os componentes e ainda os produzir em tempo viável para o programa KC.

O que nos falta é fazer a lição de casa. Assim como foi feito com a Embraer.

Pergunto, quando nasceu a Embraer? Resposta... ela começou a nascer quando foi criado o CTA e o ITA. Ou seja, primeiro formamos uma "massa critica" de engenheiros. Depois os mandamos para cursos no exterior. Depois o governo aproveitou essa "massa crítica" em projetos da FAB. Só então é que se partiu para a criação de uma empresa, que já nasceu com projetos e com escala de produção para lhe manter ativa durante a primeira década, até que pudesse caminhar com as próprias pernas.

Vejamos o Brasil:
Nossa educação primária e secundária pública é ruim.
Nossas universidades (algumas muito boas) formam engenheiros de menos (menos da metade do que precisamos);
Boa parte dos melhores engenheiros formados vão trabalhar nos bancos onde ganham muito mais.
Não investimos o suficiente em pesquisa e desenvolvimento a nível federal (muito menos do que poderíamos);
O Governo não se interessa em reter cérebros. (Muitos vão ganhar a vida no exterior).
Não existem mecanismos suficientes de apoio a pesquisa de longo prazo.
Criar empresas não é mole (alta carga tributária, juros nas alturas, falta de mão-de-obra).
Não se pode contar com as encomendas federais apenas (senão vai morrer de fome, ou vai ter um negócio com um risco enorme).
e por aí vai...

O que nos falta é fazer a lição de casa... coisa que a China fez. Falta é nosso Governo criar vergonha e ter um programa de ciência e tecnologia descente e investir na industrialização, porque o que estamos vendo é o oposto.

A Embraer está corretíssima... Ela é a contratada da FAB, e está especificando o que existe para viabilizar o projeto.
Longe de ser uma montadora apenas, a empresa é a líder do projeto, a desenvolvedora e faz exatamente o que a Boeing ou Airbus fazem... Desenvolvem produtos para atenderem especificações e para isso, reunem o expertize de muitas outras empresas. O que eles tem de vantagem é que estas empresas estão próximos a eles, se não no mesmo país, pelo menos no mesmo continente.

E as contrapartidas... eu acredito que elas existam sim... só que na forma de participação financeira no projeto. Senão acredito que esta conta de 1,3 bilhões seria muito mais alta.

PS1: desenvolver duas aeronaves, uma com componentes nacionais para a FAB e outra com importados é loucura.
PS2: A Embraer tem se esforçado em desenvolver o parque nacional de fornecedores, e já conseguiu muito. Trouxe para cá empresas como a C&D interiors (Jacareí), Latecoere (SJC), a Alestis (SJC), entre outras... Criou a EDE (depois ELEB), que fornece componentes complexos como trens de pouco para diversas aeronaves (e não só da Embraer). Criou também uma universidade própria, que transforma engenheiros das mais variadas especialidades em profissionais de aviação. Criou também um colégio (segundo grau), que já no seu segundo ano de funcionamento já foi considerado um dos melhores do país (e detalhe, só estudam lá crianças vindas da rede pública).

E ajudou a desenvolver fornecedores estritamente nacionais... só que estes não podem ficar dependentes de uma única indústria. Tentam exportar para outros fabricantes mas com a desvalorização do dólar não são competitivos.
As grandes fabricante mundiais estão comprando muito de países de baixo custo (Indonésia, Índia, etc), e nós já não somos um país de baixo custo produtivo.

Ou seja... na minha opinião, todos aqui queriam ver o KC390 com maior participação nacional... mas acho isso uma utopia. Não porque não somos capazes... ah, isso somos sim. Mas porque não querermos. A China está mil anos na frente porque existe plano de governo, existe demanda... existe um trabalho de base.

Uma sugestão... dentro de alguns anos precisaremos pensar em aeronaves mais simples, para substituir os Bandeirantes, os T-25 e os T-27. Já poderíamos começar por desenvolver indústrias de base para estes projetos de menor complexidade.

Cassio

Acho que não podemos misturar tudo, porém, fica aqui algo interessante para ser pensado.


Estamos diante de dois modelos de negócios e duas maneiras diversas de pensar produção e desenvolvimento.

No caso descrito acima temos o modelo de negócios feito em países chamados desenvolvidos, cuja a mão de obra se tornou muito cara, e as grandes empresas se tornaram montadoras, quer dizer, fazem o projeto e o desenvolvimento, e depois se limitam a montar as peças e sistemas que encomendam de terceiros, em geral fabricados em outros países onde a mão de obra é mais barata ou por empresas menores que pagam salário menores.

Esse tipo de modelo é muito bom quando quero economizar em mão de obra e a empresa está sediada em um país dominante, quer dizer que tem poder econômico e militar para subordinar o sistemas, isso pode ser tanto individual como coletivamente.

Do mesmo modo esse tipo de modelo é mais eficiente quanto falamos de produtos civis, que não subordinam os fornecedores a legislação restritivas de controle de tecnologias e produção.

Porém, o Brasil não faz parte dos países centrais, e o KC-390 não é um produto civil. Assim, o uso desse tipo de modelo de negócios é arriscado para o avião em questão.

O modelo de negócios para aviões militares ainda deve ser o de controle e fabricação do maior número de peças e sistemas pelo montador, ou pelo menos dentro de nação. Me parece evidente que não existe necessidade de que 100% dos componentes sejam nacionais, mas me parece óbvio que os componentes principais e mais críticos devem ser feitos localmente.

A EMBRAER estatal tinha essa preocupação, já a EMBRAER privada não teve esse tipo de preocupação, até que começou a encontrar problemas. Pulverizar demais a produção é uma solução pobre do ponto de vista industrial. No caso do Brasil não se justifica.

O exemplo Chines é muito mais próximos de nós que o exemplo do G7.

[]´s
Eu discordo.

Primeiro que problemas a Embraer encontrou que invalidassem o modelo atual?

Depois essa questão, como citado pelo amigo Penguin, não é um problema da Embraer, e sim do GF. Este é o responsável pelas questões de segurança nacional, de desenvolvimento industrial e tecnológico da nação e por questõe sestratégicas que envolvam a nação. A Embraer é uma empresa, ou seja, apenas uma parte da equação.

COm empresa a Embraer tem que cuidar das suas estratégias de crescimento, dos seus investimentos e de seus produtos atuais e futuros.

Criar uma base nacional de fornecedores de defesa, de sistemas complexos é trabalho para o Governo.

Pode ser dura a realidade, mas para a Embraer o que importa é a qualidade dos componentes, sua confiabilidade, o suporte dado pelo fabricante e até a saúde financeira deste, ou seja o risco que ele pode representare ao programa (porque se o fabricante de um componente crítico quebra, a coisa pode ficar feia).

Agora vem a pergunta: Quais empresas nacionais poderiam ser fornecedoras? Que produtos elas possuem que atendam aos requsitos de uma aeronave como o KC? Qual a saúde financeira destas empresas?

Eu, em momento algum separei o civil do militar... o que ocorre que nossa realidade, justamente por ser muito diferente dos países do primeiro mundo, é que força as empresas nacionais a irem buscar componentes lá fora.

Trabalhar junto a universidades e institutos de pesquisa a Embraer já faz. Tem trabalhos importantes de novas tecnologias sendo desenvolvidos com cerca de meia duzia de universidades, isso no Brasil, sem contar com trabalhos sendo desenvolvidos em conjunto com universidades européias.

É como eu disse... se o dono do projeto KC390 é o GF, porque é que ele então não estimula empresas nacionais a se desenvolverem e participarem do projeto. Isso existe?
Mesmo que isso ocorra, quanto tempo isso levaria? Ou seja, o avião está aí... seu protótipo começa a ser produzido em 2013. Quais as empresas nacionais poderiam estar aptas a fornecer o que é preciso neste tempo.
Lembre-se que fornecer significa: desenvolver, certificar, produzir. Isso é coisa para mais de 5 anos e, em se falando de Brasil e sua agilidade governamental, diria 10 anos.

Por isso, em vez de ficarmos chorando as pitangas sobre uma indústria que é exemplo para todos nós... e uma das poucas empresas nacionais do ramo tecnológico (aeroespacial) respeitadas mundialmente... porque não olhamos para frente, vendo o que pode ser feito em futuros projetos. Porque se queremos mais componentes nacionais de importância num futuro substituto do Bandeirante por exemplo, temos que começar a criar essas indústrias "ontem" (ou seja já estamos atrasados).

O desenvolvimento deveria começar nos institutos de pesquisa miltiares, como o CTA, INPE, IME..., ou civis, para depois ser tratada a sua industrialização. Mesmo no caso de indústrias já instaladas, como a Aeroeletrônica, o desenvolvimento de uma nova geração de aviônicos tem de começar muito antes de existir um produto que ira empregá-los.

Veja o caso do FX. Quantos anos estamos aguardando uma seleção. Agora me diz, o que está sendo feito em termos de se preparar as indústrias nacionais para se receber os offset´s???

Empresas como a Embraer sabem o que querem absorver de tecnologia e se preparam para recebê-las. Mas e as tecnologias de interesse nacional que vão além destas... quem as irá absorver, e quem está se preparando para isso?

O buraco desta questão, na minha opinião não se chama Embraer... e sim GF e planejamento industrial e tecnológico de longo prazo... o que infelizmente não rende votos e nem dinheiro de super-faturamento. O que rende votos é manter a inflação baixa (a qualquer custo) e distribuir cestas-básicas; e o que rende din-din é deixar o bicho pegar e sair correndo para fazer centenas de obras sem licitação para a Copa e as Olimpíadas.

Falei

Cassio




PRick

Re: Sobre o KC-390

#2334 Mensagem por PRick » Sex Jul 29, 2011 2:03 pm

Cassio escreveu:
PRick escreveu:
Acho que não podemos misturar tudo, porém, fica aqui algo interessante para ser pensado.


Estamos diante de dois modelos de negócios e duas maneiras diversas de pensar produção e desenvolvimento.

No caso descrito acima temos o modelo de negócios feito em países chamados desenvolvidos, cuja a mão de obra se tornou muito cara, e as grandes empresas se tornaram montadoras, quer dizer, fazem o projeto e o desenvolvimento, e depois se limitam a montar as peças e sistemas que encomendam de terceiros, em geral fabricados em outros países onde a mão de obra é mais barata ou por empresas menores que pagam salário menores.

Esse tipo de modelo é muito bom quando quero economizar em mão de obra e a empresa está sediada em um país dominante, quer dizer que tem poder econômico e militar para subordinar o sistemas, isso pode ser tanto individual como coletivamente.

Do mesmo modo esse tipo de modelo é mais eficiente quanto falamos de produtos civis, que não subordinam os fornecedores a legislação restritivas de controle de tecnologias e produção.

Porém, o Brasil não faz parte dos países centrais, e o KC-390 não é um produto civil. Assim, o uso desse tipo de modelo de negócios é arriscado para o avião em questão.

O modelo de negócios para aviões militares ainda deve ser o de controle e fabricação do maior número de peças e sistemas pelo montador, ou pelo menos dentro de nação. Me parece evidente que não existe necessidade de que 100% dos componentes sejam nacionais, mas me parece óbvio que os componentes principais e mais críticos devem ser feitos localmente.

A EMBRAER estatal tinha essa preocupação, já a EMBRAER privada não teve esse tipo de preocupação, até que começou a encontrar problemas. Pulverizar demais a produção é uma solução pobre do ponto de vista industrial. No caso do Brasil não se justifica.

O exemplo Chines é muito mais próximos de nós que o exemplo do G7.

[]´s
Eu discordo.

Primeiro que problemas a Embraer encontrou que invalidassem o modelo atual?

Depois essa questão, como citado pelo amigo Penguin, não é um problema da Embraer, e sim do GF. Este é o responsável pelas questões de segurança nacional, de desenvolvimento industrial e tecnológico da nação e por questõe sestratégicas que envolvam a nação. A Embraer é uma empresa, ou seja, apenas uma parte da equação.

COm empresa a Embraer tem que cuidar das suas estratégias de crescimento, dos seus investimentos e de seus produtos atuais e futuros.

Criar uma base nacional de fornecedores de defesa, de sistemas complexos é trabalho para o Governo.

Pode ser dura a realidade, mas para a Embraer o que importa é a qualidade dos componentes, sua confiabilidade, o suporte dado pelo fabricante e até a saúde financeira deste, ou seja o risco que ele pode representare ao programa (porque se o fabricante de um componente crítico quebra, a coisa pode ficar feia).

Agora vem a pergunta: Quais empresas nacionais poderiam ser fornecedoras? Que produtos elas possuem que atendam aos requsitos de uma aeronave como o KC? Qual a saúde financeira destas empresas?

Eu, em momento algum separei o civil do militar... o que ocorre que nossa realidade, justamente por ser muito diferente dos países do primeiro mundo, é que força as empresas nacionais a irem buscar componentes lá fora.

Trabalhar junto a universidades e institutos de pesquisa a Embraer já faz. Tem trabalhos importantes de novas tecnologias sendo desenvolvidos com cerca de meia duzia de universidades, isso no Brasil, sem contar com trabalhos sendo desenvolvidos em conjunto com universidades européias.

É como eu disse... se o dono do projeto KC390 é o GF, porque é que ele então não estimula empresas nacionais a se desenvolverem e participarem do projeto. Isso existe?
Mesmo que isso ocorra, quanto tempo isso levaria? Ou seja, o avião está aí... seu protótipo começa a ser produzido em 2013. Quais as empresas nacionais poderiam estar aptas a fornecer o que é preciso neste tempo.
Lembre-se que fornecer significa: desenvolver, certificar, produzir. Isso é coisa para mais de 5 anos e, em se falando de Brasil e sua agilidade governamental, diria 10 anos.

Por isso, em vez de ficarmos chorando as pitangas sobre uma indústria que é exemplo para todos nós... e uma das poucas empresas nacionais do ramo tecnológico (aeroespacial) respeitadas mundialmente... porque não olhamos para frente, vendo o que pode ser feito em futuros projetos. Porque se queremos mais componentes nacionais de importância num futuro substituto do Bandeirante por exemplo, temos que começar a criar essas indústrias "ontem" (ou seja já estamos atrasados).

O desenvolvimento deveria começar nos institutos de pesquisa miltiares, como o CTA, INPE, IME..., ou civis, para depois ser tratada a sua industrialização. Mesmo no caso de indústrias já instaladas, como a Aeroeletrônica, o desenvolvimento de uma nova geração de aviônicos tem de começar muito antes de existir um produto que ira empregá-los.

Veja o caso do FX. Quantos anos estamos aguardando uma seleção. Agora me diz, o que está sendo feito em termos de se preparar as indústrias nacionais para se receber os offset´s???

Empresas como a Embraer sabem o que querem absorver de tecnologia e se preparam para recebê-las. Mas e as tecnologias de interesse nacional que vão além destas... quem as irá absorver, e quem está se preparando para isso?

O buraco desta questão, na minha opinião não se chama Embraer... e sim GF e planejamento industrial e tecnológico de longo prazo... o que infelizmente não rende votos e nem dinheiro de super-faturamento. O que rende votos é manter a inflação baixa (a qualquer custo) e distribuir cestas-básicas; e o que rende din-din é deixar o bicho pegar e sair correndo para fazer centenas de obras sem licitação para a Copa e as Olimpíadas.

Falei

Cassio
Você tem todo o direito de discordar, agora não gosto dessa idéia de que o problema é sempre do governo, oras, o fabricante não pode lavar as mãos ou dizer que não tem responsabilidade, ainda mais porque terá que garantir o fornecimento de peças e componentes, e depois não vai adiantar alegar que os culpados são os terceiros. Ainda mais porque quer exportar o avião.

É um modelo de negócios muito prático, porque empurra problemas de sua alçada para outros. Tudo é culpa do governo, dos outros fornecedores, etc..

É o que a SAAB faz, e por isso não quero de jeito nenhuma a compra de Gripen da vida, quem vende deve ter responsabilidade total sobre o produto fornecido. Porque não se trata de um produto comum.

Se a Embraer quer entrar no mercado militar de forma séria, terá que rever seus conceitos, se quiser brincar de empresa do setor de defesa, vai queimar seu filme.

Por sinal, acho isso muito engraçado o CDF(Código de Defesa do Consumidor), legislação civil é muito clara, cabe a detendora da marca e fornecedora do produto, total responsabilidade no fornecimento de peças e acessórios para o mesmo, não podendo alegar falta ou inexistência porque um terceiro fornecedor não tem a peça disponível!

Isso se chama picaretagem. Deixei meu Forno de Microndas na garantia para conserto e ficaram alegando isso. Deixei claro, ou consertam dentro do prazo legal ou vou mover uma Ação contra vocês e denunciar tudo no Procon, num instante as peças sumidas apareceram(48 horas). 8-] 8-]

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soultrain
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Re: Sobre o KC-390

#2335 Mensagem por soultrain » Sex Jul 29, 2011 2:20 pm

Prick,

o colega Cassio tem toda a razão, a Embraer trabalha com riscos de projeto aceitáveis. Para haver um desvio desses riscos alguém tem de estar disposto a bancar ($$$$ e tempo).

Num projecto completamente novo, os riscos são muito maiores, é muito importante que fique on budget e on time, até por uma questão de credibilidade internacional.

[[]]'s





"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento" :!:


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Frederico Vieira
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Re: Sobre o KC-390

#2336 Mensagem por Frederico Vieira » Sex Jul 29, 2011 2:24 pm

cb_lima escreveu:Arrebentou Cassio!! [100] [009]

Não adianta essa loucura de achar que tudo tem que ser simplesmente "Made in Brazil"... não é assim que funciona hoje em dia... nem mesmo para empresas como a Boeing (só dar uma olhada no 'mapa' do 787 para ilustrar o que eu estou dizendo.

A Embraer mais uma vez mostrando que é uma fantástica 'integradora' (se 'e que existe essa palavra :lol: ).

[]s
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Caro amigo CB_lima

Nao eh loucura nenhuma buscar autonomia tecnologica, isso chama-se necessidade e pensar no futuro..., nao se esqueca que o aviao eh militar, e em um pais que pensa grande, faz de tudo pra que seu arsenal seje feito em casa, se for assim a china entao esta a fazer uma loucura, com seus avioes (inclusive comerciais) que fazem de tudo para ter componentes nacionais. ah e gerar empregos tambem,

Sei que o problema eh mais ''embaixo'', eh uma questao inclusive de cultura governamental investir em tecnogia, conhecimento e interligar ambos.
Alias esse ultimo eh de fato o maior gargalo no brasil, a relacao universidade -empresa,(o IPT tem cuidado dessa area),outra coisa: entenda que hora nenhuma eu pus a culpa na embraer, pelo contrario, se quiser leiam meu comentario de novo. O que me deixa chateado sao as circunstancias em que foi assinado o contrato que a aeronautica fez com a embraer.

Deveria estar incluso ao meu ver, um projeto mais amplo por tras desse que procurasse desenvolver uma cadeia de fornecedores. Afinal a aeronautica praticamente encomendou essa aeronave, entandam nao eh soh a embraer que ta na jogada eh grana nossa tambem. Esse ponto me chateia.

Nao eh dificil entender. Sem duvida o maior responsavel por isso eh o governo federal, tem feito pouco ou quase nada por fornecedores nacionais, soh que a embraer por outro lado poderia atuar mais em areas mais criticas a ela, porque independente do que o governo federal faca pelo desenvolvimento tecnolgico da cadeia de fornecedores da embraer,essa vai acabar passando pela mesma.Ela atuaria como em uma capacitacao.Ah e embraer e governo federal andam de maos dadas , que o diga a golden share que o governo tem da mesma, o projeto AMX que foi o pontape inicial pra que a embraer pudesse projetar os ''jungle jets'', o fato do governo federal ser o maior comprador de super-tucanos.


Quem ainda nao entedeu o que eu to falando aqui vai um link:

http://estrategiaemercado.blogspot.com/ ... izada.html


Abracos




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Re: Sobre o KC-390

#2337 Mensagem por Frederico Vieira » Sex Jul 29, 2011 2:32 pm

soultrain escreveu:Prick,

o colega Cassio tem toda a razão, a Embraer trabalha com riscos de projeto aceitáveis. Para haver um desvio desses riscos alguém tem de estar disposto a bancar ($$$$ e tempo).

Num projecto completamente novo, os riscos são muito maiores, é muito importante que fique on budget e on time, até por uma questão de credibilidade internacional.

[[]]'s

E o governo federal bancando com 1,3 bilhao ja nao eh suficiente?? Tem mais variaveis na equacao, o fato de o aviao ser militar, estrategia geo-politica,e em programas militares eh normal que hajam atrasos, que o diga o A400-m, e olha que coisa: esta sendo feito por varios paises, a airbus que ta tocando o projeto, por acaso nao tem credibilidade internacional??


http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/ ... 53903.html


Abracos




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Re: Sobre o KC-390

#2338 Mensagem por Carlos Lima » Sex Jul 29, 2011 2:48 pm

Frederico Vieira escreveu:
cb_lima escreveu:Arrebentou Cassio!! [100] [009]

Não adianta essa loucura de achar que tudo tem que ser simplesmente "Made in Brazil"... não é assim que funciona hoje em dia... nem mesmo para empresas como a Boeing (só dar uma olhada no 'mapa' do 787 para ilustrar o que eu estou dizendo.

A Embraer mais uma vez mostrando que é uma fantástica 'integradora' (se 'e que existe essa palavra :lol: ).

[]s
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Caro amigo CB_lima

Nao eh loucura nenhuma buscar autonomia tecnologica, isso chama-se necessidade e pensar no futuro..., nao se esqueca que o aviao eh militar, e em um pais que pensa grande, faz de tudo pra que seu arsenal seje feito em casa, se for assim a china entao esta a fazer uma loucura, com seus avioes (inclusive comerciais) que fazem de tudo para ter componentes nacionais. ah e gerar empregos tambem,

Sei que o problema eh mais ''embaixo'', eh uma questao inclusive de cultura governamental investir em tecnogia, conhecimento e interligar ambos.
Alias esse ultimo eh de fato o maior gargalo no brasil, a relacao universidade -empresa,(o IPT tem cuidado dessa area),outra coisa: entenda que hora nenhuma eu pus a culpa na embraer, pelo contrario, se quiser leiam meu comentario de novo. O que me deixa chateado sao as circunstancias em que foi assinado o contrato que a aeronautica fez com a embraer.

Deveria estar incluso ao meu ver, um projeto mais amplo por tras desse que procurasse desenvolver uma cadeia de fornecedores. Afinal a aeronautica praticamente encomendou essa aeronave, entandam nao eh soh a embraer que ta na jogada eh grana nossa tambem. Esse ponto me chateia.

Nao eh dificil entender. Sem duvida o maior responsavel por isso eh o governo federal, tem feito pouco ou quase nada por fornecedores nacionais, soh que a embraer por outro lado poderia atuar mais em areas mais criticas a ela, porque independente do que o governo federal faca pelo desenvolvimento tecnolgico da cadeia de fornecedores da embraer,essa vai acabar passando pela mesma.Ela atuaria como em uma capacitacao.Ah e embraer e governo federal andam de maos dadas , que o diga a golden share que o governo tem da mesma, o projeto AMX que foi o pontape inicial pra que a embraer pudesse projetar os ''jungle jets'', o fato do governo federal ser o maior comprador de super-tucanos.


Quem ainda nao entedeu o que eu to falando aqui vai um link:

http://estrategiaemercado.blogspot.com/ ... izada.html


Abracos
Entendo meu amigo [100]

Mas temos que ser realistas... o Brasil não é a China... não nos comportamos com relação a Pesquisa/Desenvolvimento e Educação como eles se comportam... não formamos engenheiros e técnicos como eles formam (a MB está passando por um problemão com relação a isso agora - técnicos), não investimos como deveríamos e para ser realista não existe nenhum indicador muito sólido que P&D, Educação terão o merecido investimento tão cedo.

Sendo assim, fazemos o que podemos... e de uma maneira muito inteligente a Embraer está investindo em centros de educação porque ela sabe que se ela não fizer, ela vai ter que importar pessoas em uma cadência maior do que a atual.

O crescimento economico do Brasil não está sendo acompanhado por investimentos nessas áreas e isso vai nos 'morder' cedo ou tarde infelizmente.

Enfim... eu não quero desanimar o seu ponto de vista, mas eu particularmente acredito que o primeiro passo para crescermos começa em encarar a nossa realidade e as nossas deficiências e evoluir a partir desse ponto.

Existe muito trabalho de base a ser feito e o KC-390 não pode esperar... daí as parcerias são úteis não só sob o ponto de vista de preço/tempo, mas também de certo assim outros países se comprometem com o projeto e dividem as responsabilidades e os riscos :)

[]s
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Re: Sobre o KC-390

#2339 Mensagem por soultrain » Sex Jul 29, 2011 2:50 pm

Frederico Vieira escreveu:
soultrain escreveu:Prick,

o colega Cassio tem toda a razão, a Embraer trabalha com riscos de projeto aceitáveis. Para haver um desvio desses riscos alguém tem de estar disposto a bancar ($$$$ e tempo).

Num projecto completamente novo, os riscos são muito maiores, é muito importante que fique on budget e on time, até por uma questão de credibilidade internacional.

[[]]'s

E o governo federal bancando com 1,3 bilhao ja nao eh suficiente?? Tem mais variaveis na equacao, o fato de o aviao ser militar, estrategia geo-politica,e em programas militares eh normal que hajam atrasos, que o diga o A400-m, e olha que coisa: esta sendo feito por varios paises, a airbus que ta tocando o projeto, por acaso nao tem credibilidade internacional??


http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/ ... 53903.html


Abracos
E o A400M é uma pedra no sapato da Airbus, mas a Airbus é um gigante e a sua imagem está consolidada. Agora o KC-390 é o primeiro projecto de envergadura e militar da Embraer.

Todos os projectos são feitos de compromissos aceitáveis, na minha opinião ter todos os componentes ITAR free é um compromisso aceitável. Muito mais aceitável que desenvolver do zero, com investimento intensivo, sem certezas de resultado e de tempo, coisas que não têm mercado, porque hoje esse mercado já é OEM, como a industria automóvel.





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Re: Sobre o KC-390

#2340 Mensagem por Cassio » Sex Jul 29, 2011 4:38 pm

PRick escreveu: Você tem todo o direito de discordar, agora não gosto dessa idéia de que o problema é sempre do governo, oras, o fabricante não pode lavar as mãos ou dizer que não tem responsabilidade, ainda mais porque terá que garantir o fornecimento de peças e componentes, e depois não vai adiantar alegar que os culpados são os terceiros. Ainda mais porque quer exportar o avião.

É um modelo de negócios muito prático, porque empurra problemas de sua alçada para outros. Tudo é culpa do governo, dos outros fornecedores, etc..

É o que a SAAB faz, e por isso não quero de jeito nenhuma a compra de Gripen da vida, quem vende deve ter responsabilidade total sobre o produto fornecido. Porque não se trata de um produto comum.

Se a Embraer quer entrar no mercado militar de forma séria, terá que rever seus conceitos, se quiser brincar de empresa do setor de defesa, vai queimar seu filme.

Por sinal, acho isso muito engraçado o CDF(Código de Defesa do Consumidor), legislação civil é muito clara, cabe a detendora da marca e fornecedora do produto, total responsabilidade no fornecimento de peças e acessórios para o mesmo, não podendo alegar falta ou inexistência porque um terceiro fornecedor não tem a peça disponível!

Isso se chama picaretagem. Deixei meu Forno de Microndas na garantia para conserto e ficaram alegando isso. Deixei claro, ou consertam dentro do prazo legal ou vou mover uma Ação contra vocês e denunciar tudo no Procon, num instante as peças sumidas apareceram(48 horas). 8-] 8-]

[]´s
Nossa.... eu heim.

E quem disse que a empresa (no caso da Embraer) não é a responsável por todos os componentes. Claro que é. É assim nos Ejet´s e será assim também no KC. Quando uma aeronave fica no chão por falta de peças, a responsabilidade é da Embraer, que é cobrada por isso (existem cláusulas contratuais quanto a isso). Pode chegar ao caso de se retirar componentes da linha de produção para se atender a um AOG.

Só que ser responsável pelo produto não significa produzir o produto inteiro... e é isso que se discute aqui.

E qual é o modelo que vc propões então... descreva-o para que possamos discutir melhor então.

E pode ter certeza que ela não se queima não no mercado militar. O Super-Tucano tá aí, voando em diversas forças aéreas. Os AEW eatão aí... E tem muito mais coisa no tubo!

O Governo é quem dita as regras... se não existem exigências e regras... a culpa é do Governo sim!

Sds,
Cassio




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