#1419
Mensagem
por Reginaldo Bacchi » Ter Abr 19, 2011 11:47 am
RECRUTA escreveu em Abr 18, 2011 9:13 pm:
De acordo com o Gal. Cristiano, a médio prazo, os mísseis vão ficar mais competitivos aos aparelhos de cano, dando oportunidades a veículos mais leves e menores tanto 6x6 e 4x4.
O começo disso é o canhão CMI 105 mm ,tira da inércia via estojo, pelo próprio cano um míssil de 105 mm com direção final e alcance de 5 Km.
Baseando-se que um canhão tenha um alcance eficaz de 2,5 km à 3,5 Km (Bacchj me corrija se não for isso para tiro de perfuração de blindagem) os veículos com mísseis tem maior tempo para disparo e abrigo.
RECRUTA escreveu em Abr 18, 2011 9:17 pm:
Um canhão-míssil desse no SUCURI II dava Briga?
RECRUTA as tuas perguntas são de muito difícil resposta e tem muito a ver com a tecnologia de armamento e com o que o carro de combate deve fazer.
Para começar eu diria que no estagio atual de desenvolvimento o míssil anti carro guiado não substitue totalmente o canhão.
Vamos entender inicialmente qual é a função precípua do carro de combate: o domínio do campo de combate.
Neste campo ele vai enfrentar afim de destruir e incapacitar: carros de combate adversários, veículos não blindados, posições defensivas, postos de tiro com metralhadoras, postos de artilharia, construções civis, soldados etc etc etc.
Ou seja, seu armamento deve permitir que o carro de combate enfrente todas estas ameaças.
Existe uma crença (e eu encontrei isto inclusive dentro da ENGESA) de que a função do carro de combate é a de destruir carros de combate adversários. Isto é a função precípua do tank destroyer (caça carros).
Ora, o canhão oferece toda uma gama de munição para enfrentar estas ameaças:
Alto Explosivo (High Explosive) para lidar com posições defensivas, postos de tiro, grupo de soldados no aberto etc etc etc;
AP/APDS/APDSFS para enfrentar alvos blindados;
HEAT (também chamada de Munição Carga Oca) serve principalmente como anti blindagem, mas pode ser empregada como munição AE;
HESH (também chamada Munição Plástica) ótima contra fortificações de cimento armado, com bom efeito anti blindagem e AE.
Em várias descrições de combate na Europa na 2ª GM eu encontrei que na maioria das vezes a quantidade de munição AE e HEAT gastas em combate foi superior a quantidade de AP/APDS gastas.
Para dar um pouco de background: durante os combates na Africa do Norte no período 1940/1941/1942 os carro britânicos eram armados com o canhão de 2 libras (40 mm) uma excelente arma anti carro (para a época) mas que era deficientíssimo em poder AE. Toda vez que as unidades de carro de combate britânicas enfrentavam defesa anti carro alemã ou italiana, ou mesmo infantaria em posição defensiva bem protegida, tinham que apelar para apoio imediato da sua artilharia de campanha rebocada, que demorava para atender devido a não ter a mobilidade dos carros de combate. Já os alemão tinham previsto este fato e começaram a guerra com seu Mark IV mobiliados com canhão 75 mm/L24 com respeitável ação AE (Depois do começo da guerra montaram o mesmo canhão em versão do carro Mark III para a mesma finalidade). Os britânicos só conseguiram ter carros com canhão de 75 mm quando receberam os CCM M3 Grant a tempo para Batalha de Alam el Halfa em 30 Agosto de 1942 .
Da entrada em ação do Afrika Korps em 14 Fevereiro 1941 até 30 Agosto 1942, as unidades britânicas não conseguiram enfrentar a defesa anti carro alemã por deficiência de armamento AE.
Muito bem, e o míssil anti carro guiado?
O míssil anti carro guiado foi introduzido como uma arma de infantaria destinada a substituir os canhões anti carro.
Com efeito, no final da 2ª GM os canhões anti carro tinham atingido tamanho (e peso) que os tornava difícil de servir e manobrar.
O famoso OQF 17 libras, britânico, pesava 3 toneladas e o canhão de 3” M5, estadunidense, pesava 2,2 tonaladas.
Deveriam ser sucedidos por canhões de 90 mm e 105 mm mais pesados ainda.
Na busca de arma mais leves foram sucedidos pelos canhões sem recuo, desenvolvidos quase simultaneamente pelos exércitos britânico, estadunidense e alemão. Hoje são armas obsoletas.
Todavia os alemães desenvolveram quase no final da 2ª GM, uma arma que substituiu os canhões anti carro e permanece até hoje: os misseis anti carro guiados.
O desenvolvimento alemão foi retomado inicialmente pelos franceses e logo depois por vários países.
Aparentemente os primeiros que tiveram a ideia de montar estes mísseis em carro de combate foram os franceses que mobiliaram o AMX-13 com seu míssil SS-10 da Nord Aviation (possivelmente o primeiro míssil anti carro guiado de grande produção no Mundo).
Atualmente os mísseis anticarro guiados são usados veicularmente em tank destroyers, principalmente montados em chassis de VBTPs, tanto sobre lagartas como sobre rodas.
Houve, todavia, tendência em usar os misseis anti carro guiados como arma principal.
Na União Soviética, o Secretário do Partido Comunista Nikita Khrushtchv, ordenou que os futuros carros de combate soviéticos fossem só mobiliados com estes mísseis, persuadido que o canhão tinha atingido o limite de seu desenvolvimento como arma para carro de combate.
Foram construídos protótipos, e um deles entrou em produção limitada, que foi suspensa com a deposição de Khrushtchev em 1964.
O uso de míssil anti carro guiado como armamento em carro de combate na União Soviética/Rússia foi retomado devido a deficiências na munição APDSFS soviética/russa.
Com efeito, os russos foram no após guerra os pioneiros do uso desta munição combinada com municiador automático.
O projeto destes municiadores impediu o aumento da relação L/D que caracterizou o desenvolvimento desta munição.
A munição ocidental atingiu relações L/D em torno de 30, enquanto que a russa teve que permanecer em todo do valor 17 inicial.
Isto limitou (combinado com outros fatores inerentes ao seu projeto) limitou a penetração das munições e principalmente o seu alcance.
A solução foi a introdução de misseis anti carro guiados disparados pelo tubo do canhão, nos calibre de 100, 115 e 125 mm, que elevaram o alcance dos tiros a carca de 5.000 m.
Na França e nos Estados Unidos tentou-se também introduzir o míssil anti carro guiado como arma principal do carro de combate.
Na França foi projetado o ACRA (Anti Char Rapide) em calibre 142 mm, que era composto do míssil (munição HEAT) e de granada convencional AE. Ou seja era um lançador de míssil e canhão convencional.
Um outro detalhe importante é que possivelmente foi o primeiro míssil anti carro guiado supersônico.
Não descobri até hoje qual o motivo do cancelamento deste programa. Talvez muito avançado para sua época?
O desenvolvimento estadunidense foi muito semelhante ao ACRA sem a característica supersónica.
Tratava-se do sistema de armas Shillelagh MGM-51: combinação de míssel lançado pelo tubo do canhão e granadas AE e HEAT de 152 mm.
Um sistema promissor que se revelou um verdadeiro pesadelo na sua implementação.
Foi introduzido no carro M60 sub modelo A2, que pelas suas inovações ganhou o apelido (não a designação) de “Starship” (Nave estelar)
As granadas AE e HEAT, foram projetadas sem estojo, com todo propelente consumido durante o disparo (como hoje é a munição dos carros com canhão 120 mm), coisa que na pratica não acontecia.
O míssil guiado a feixe infra vermelho teve muitos problemas que não conseguiram ser resolvidos.
Foram montados cerca de 200 M60A2 que posteriormente tiveram sua torre removida e substituída pela do A1.
O CCL M151 Sheridan foi projetado com este sistema e foi combater no Vietnam sem o míssil, e com a munição sem estojo dando problemas sem fim.
O MBT 70 que deveria ter este sistema foi cancelado, on qu enterrou definitivamente o programa Shillelagh.
Muito bem, e daí?
Não sei. Como vocês podem ver a substituição do canhão pelo míssil em carros de combate foi um rotundo fracasso.
Qual será o futuro. De novo: não sei.
Há inúmeros fatores atualmente contra o míssil como arma única de carro de combate:
Preço, tamanho (diminui drasticamente a quantidade de munição transportada), velocidade (atualmente a gigantesca maioria deste mísseis é subsônica – o carro tem que ficar parado enquanto o míssil está voando), falta de flexibilidade (só arma anti carro) etc.
Míssil anti carro supersônico atual que eu saiba só existe o Khrizantema russo. Nos Estados Unidos trabalhou-se muito no LOSAT, mas aparentemente o mesmo foi abandonado.
O que eu escrevi acima é o que existe atualmente, e na minha opinião não satisfaz os requisitos basicos.
Peço desculpas por alguma imprecisão, pois estou escrevendo de memória já que não estou na minha residência em São Paulo onde está meu arquivo.
Muito do que escrevi acima pretendo detalhar no meu próximo artigo para a Tecnologia & Defesa sobre os tank destroyers no após guerra.
Bacchi