Lord Nauta escreveu:Prezados Senhores,
Em face aos recentes cortes na área de Defesa e a postergação de programas, como por exemplo, o PROSUPER, começo a acreditar na necessidade imperativa da MB ponderar sobre compras de oportunidade de navios escolta. Estas compras se fazem necessárias para a manutenção de uma capacidade crível do Poder Naval brasileiro e preencheriam o ''gap'' até a chegada de novos meios. Penso que a grande oportunidade são as Type 22 batch III. Apesar do esforço orçamentário para obtenção e prontificação das mesmas a vinda desses navios seria benéfica para a Esquadra. E possível que a boa relação com a Royal Navy e a possibilidade de participação da Inglaterra no PROSUPER permita que possamos sobrepujar outros concorrentes. Estou começando uma torcida pelas Type 22 para o Brasil.
A realidade e dura e neste momento não adianta pensar em fragatas de 6.000 ton, elas virão mas não tão cedo como era o desejo de todos.
Sds
Lord Nauta
Nauta, ante as dificuldades atuais, sua ideia é boa, mas não sob uma ótica estratégica. Compras de oportunidade adiarão em muito a compra de navios novos; pensarão assim: o problema já foi resolvido, pelo menos por 10 anos, então já não é mais prioridade. Se a MB bater o pé que não quer compras de oportunidade, ficará sem nada (pelo menos no momento); se ceder e aceitar as compras de oportunidade, então não terá navios (de qualquer classe) em menos de 10-15 anos. É preciso encontrar o ponto de equilíbrio.
Meu ponto de vista: não compraria, em hipótese alguma, escoltas "de oportunidade", seria um retrocesso neste momento. Argumento: termos um ou dois anos para compras e investimentos congelados é suportável, desde que se tenha certeza que os novos virão.
O que garante a certeza: para os políticos nada melhor do que geração de empregos e desenvolvimento industrial; no setor bélico o país perdeu tudo que conseguir até a década de oitenta, a recuperação faria a diferença.
O que é preciso fazer: apresentar demandas, apresentar os números (grana) dos investimentos, apresentar a maneira de envolver e reestruturar a indústria bélica, apresentar o retorno "social" (geração de empregos, faturamento das empresas, o quanto se ganha tecnologicamente no investimento nestas empresas, etc.). A MB não tem (ou teve) uma Embraer como a FAB, mas é possível ter. A sacada está em mostrar que é possível ter uma "Embraer naval", privada, mostrar que a construção naval (civil e militar) é fundamental para o desenvolvimento do país; o fundamental é mostrar que os investimentos no setor militar refletirão no setor civil através do segmento industrial. Não vejo isto acontecendo...
Político só cede quando percebe que haverá retorno social expressivo. Veja a questão do PAC, a construção civil no Brasil estava à beira de um colapso, tanto no que diz respeito à construção quanto no índice de desemprego no setor (altíssimo). O PAC "aconteceu" justamente por isso, ou seja, se aumenta o incentivo à construção civil (de pequenas à grandes obras), então o faturamento aumento, o "preço construído" diminui, o mercado se estabiliza. Ou ninguém ainda percebeu que os elevados investimentos em construção civil (no Brasil) estão totalmente relacionados com o colapso que o mesmo segmento sofreu nos EUA? Aqui nós entraríamos em colapso por não construir, lá eles entraram em colapso por maquiar a construção (crédito facilitado a quem não teria condições de honrar compromissos assumidos).
A indústria naval no Brasil já colapsou e perdeu-se o bonde da história no que tange ao desenvolvimento de produtos nacionais, ignorou-se a demanda, perdeu-se mão de obra qualificada, aumentou-se o índice de desemprego, etc.
Ainda não fui claro? Explico: a aquisição de produtos militares no Brasil depende fortemente do retorno no segmento civil, não adianta querer um dado equipamento, ele tem que produzir retornos sociais. O sub nuclear só foi adiante porque foi garantido (e provado) ao governo anterior que o conhecimento e domínio da tecnologia de enriquecimento de urânio (pela MB) poderá impactar na necessária sustentabilidade na matriz energética do país. Que ninguém acredite que a decisão (de continuar o projeto adiante) seja por ideologia ou por querer entrar para o CS (seria ingênuo pensar assim).
Os demais projetos (MB, etc.) exigem procedimentos análogos, ou seja, "cobertura" das demandas sociais. No caso dos escoltas (e outros meios navais) os procedimentos devem ser semelhantes, ou seja, precisam estar fundamentados. Lembro que a compra dos Scorpenes foram consequências sobre o entendimento em se ter um sub nuclear (mais pela geração de energia do que pela a arma em si). Os escoltas precisam ser "justificados e argumentados", compras de oportunidade não é argumento, muito menos justificativa, é sinônimo de incapacidade de propor o novo e de se assumir o próprio fracasso.
Compras de oportunidade: apenas quando se tratar de um equipamento para uso específico e em número reduzidíssimo, fora disso é retrocesso.
Queira me desculpar, amigo Nauta, pela discordância, apesar de saber compreendê-lo perfeitamente.
Abração,
Orestes