20/01/2011 - 15h44
Personagem: Com 29 anos de HCAMP, “índio-maestro” diz que se renova a cada missão
Os colegas o chamam de Índio Velho. O apelido pegou depois de uma missão em Minas Gerais. Misturada ao suor provocado pelo sol escaldante, a poeira vermelha grudou e tingiu os cabelos brancos do Sargento Gerson Cristóvão da Silva, de 50 anos, 29 deles dedicados ao Hospital de Campanha da Força Aérea Brasileira. “O combustível que me renova é o reconhecimento de cada paciente que sai daqui”, explica. Ele também é conhecido como o “maestro” da triagem, já que direciona cada paciente para atendimento.
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Cristóvão acompanha o HCAMP onde quer que ele vá. No Brasil ou no exterior, o índio-maestro já participou de todas as operações do hospital de campanha. “Cada missão é um aprendizado, um tipo de trabalho que te ensina a encarar a vida de uma forma diferente”, explica enquanto faz a triagem de pacientes em Itaipava, na região serrana do Rio de Janeiro. A missão começou na segunda-feira (17) e não tem data pra acabar.
Antes do atendimento médico, mais de 500 pessoas na região já passaram antes por ele. “Ele parece bravo, mas é só aparência, atende a gente muito bem”, elogia Lourdes Santana, que veio ao HCAMP para se vacinar.
De fisionomia séria, o homem tímido, de raros e simples sorrisos se emociona ao falar da família, dos colegas e principalmente da rotina do trabalho duro, que recomeça a cada nova enchente, epidemia, terremoto. “Sempre admirei este tipo de trabalho, quando a vaga surgiu, disse pra mim mesmo: não largo mais”.
Pai de um casal, Cristóvão diz que a compreensão da família ameniza a saudade de casa. “Temos cumplicidade e por isso não há cobranças”, diz. Ainda que com pouco conforto e muito suor, o local de trabalho é definido por ele como uma “segunda casa”. No acampamento, todos os colegas têm nele uma referência. “Ele é camarada, agregador, a figura mais forte do grupo” define a técnica de enfermagem Maria de Fátima Gonçalves. Para o Comandante do HCAMP, Roberto Thury, a palavra que melhor o define é “envolvimento”.
Depois de tanto tempo, dizem os colegas, chama a atenção o fôlego que ele ainda tem pra trabalhar. Haja disposição. A cada acionamento, toda a equipe tem de estar pronta para correr contra o relógio. Em até 48 horas, toneladas de material devem chegar ao local escolhido para a instalação do hospital.
De olho no cronômetro, tudo o que for necessário deve ser encaixotado e despachado por carretas e aviões. O ponto forte do trabalho, segundo aponta, é a integração da equipe. “Aqui, no intervalo de um atendimento e outro, todo mundo pega na vassoura, do diretor ao auxiliar não há distinção quando o assunto é trabalho” diz Cristóvão. A entrevista acaba. Os pacientes não param de chegar. E o índio-maestro continua a reger essa orquestra de solidariedade.