O Exocet entra em cena: o afundamento do HMS Sheffield
Em Buenos Aires fazia muito frio, e não somente pela proximidade do inverno austral. O que começou como uma grande aventura patriótica para recuperar o prestígio social estava convertendo rapidamente em um fracasso. Apesar da férrea censura de informações imposta pela ditadura, o entusiasmo entre as camadas populares sensíveis a este tipo de ações se esfriava tão depressa como o clima buenairense. Rapidamente um mês depois das celebrações populares pela recuperação dos arquipélagos, e apesar de toda a propaganda, nada se escapava, já que o regime havia lançado represálias contra uma grande potência, e esta havia aceito o desafio. Para a Junta, devolver os golpes recebidos como um fato espetacular se converteu en uma prioridade absoluta. Tal fato não podia ser outro do que o afundamento de um grande navio de guerra britânico, sob as camadas populares e uma vingança pelo afundamento do General Belgrano. Com uma guerra em grande escala em marcha, era essencial devolver a esperança à gente e fazer-lhes crer na vitória.
Antes de por em prática em seus portos, a frota argentina havia determinado com bastante precisão a área geral de operações de dois grupos de batalha britânicos pelo procedimento de detectar suas transmissões radioeletrônicas. Na manhã do dia 4 de Maio de 1982, um avião de patrulha P-2 Neptune da Força Aeronaval Argentina (COAN) estabelece por radar as posições da Força de Operações britânica. De imediato, dois aviões de fabricação francesa Dassault-Breguet Super Étendard da 2º Esquadrilha descolaram de Río Grande às 09h45min com um míssil Exocet AM.39 cada um para, quando estarem no céu, realizar um grande vôo semicircular que os aproxime aos navios inimigos, sendo pilotados pelos capitães Augusto Bedacarratz e Armando Mayora. Por trás disto, um grupo de IAI Daggers para dar-lhes cobertura ar-ar e um Learjet em missão de alerta.
Havia um problema com os Exocets. Eles acabavam de chegar da França e, devido ao embargo imposto pela OTAN contra a Argentina, os instrutores franceses não se haviam apresentado. Os técnicos da Base de Río Grande tinham em suas mãos armas muito sofisticadas... só que eles não sabiam como usar. Sem dúvida, eles não se desencorajaram e fizeram o possível para aprender todos os seus segredos, lendo os seus manuais e foram desmontando e montando algumas partes do míssil, cuidadosamente. Quando finalmente os instalaram a bordo dos Super Étendard, não estavam muito seguros de que eles realmente funcionariam.
Por outro lado, o Reino Unido prossegue suas operações militares. Executa a segunda serie de bombardeios Black Buck sobre as Malvinas, buscam o submarino San Luis que está na área, supervisionam de longe as operações de resgate da tripulação do General Belgrano e de suas aeronaves e se aventuram até às proximidades da costa argentina para inspeccionar possíveis objectivos, apesar de que la Junta establecia por sua vez uma zona de exclusão. É uma superpotência, fazendo a guerra «segundo o manual». De longe, no mar, ao Leste das Malvinas, os dois porta-aviões e seus navios auxiliares atuam de retaguarda avançada, bem protegidas do cerco das fragatas com seus mísseis de curto alcance Sea Wolf e, a umas 20 milhas náuticas, pelos destróiers do tipo 42 (entre os que acompanhavam o HMS Sheffield) com seus sofisticados radares e seus mísseis de médio alcance Sea Dart, apoiados por sua vez pela fragata HMS Yarmouth.
Às 10h35min, O P-2 Neptune faz uma última subida a 1,2 km de altitude e localiza um alvo grande e dois pequenos nas coordenadas 52º33'55" Sul e 57º40'55" Oeste. Retransmite as informações a Bedacarratz e retorna a base.
Às 10h50min, os dois Super Étendards —que vinham voando acima da crista das ondas— realizaram uma pequena subida a 160 m de altitude para confirmar as coordenadas fornecidas pelo Neptune, porém não encontraram nada. Bedacarratz decide continuar. Quarenta km mais adiante voltam a tentá-lo e... ali estão!!! Um alvo grande e três pequenos. Voltaram a voar bem baixo pelo local, carregaram os dados nas ogivas dos AM.39 Exocets e os dispararam às 11h04min. Depois de fazê-los, deram a volta para retornar a Río Grande. Os lançamentos foram realizados em altitude muito baixa, com mísseis montados sem qualquer assistência do fabricante e justamente no limite do alcance nominal dos Exocet: quase 50 km. Por estes motivos, durante o regresso Bedacarratz e Mayora duvidaram de que a complexa missão tinha servido de algo.
Ainda hoje, os sucessos seguintes são motivos de disputa. O único fato seguro é de que, às 11h07min do dia 4 de Maio de 1982, um dos dois mísseis Exocet atinngiu em cheio o destróier HMS Sheffield, o navio mais moderno da Royal Navy. Algumas fontes disseram que a ogiva de guerra não detonou, e o que se produziu foi um incêndio causado pelos gases de combustão do Exocet, que se espalhou rapidamente.
O capitão do Sheffield, ao sair, assegura que o míssil explodiu, destruindo o centro de operações e o de engenharia. Seja como for, em poucos segundos, o moderno destróier estava em chamas. 22 homens morreram e 24 ficaram gravemente feridos, entre eles o chefe de informática que tratava de por os computadores em marcha de novo sem sucesso.
O afundamento do HMS Sheffield (cont.)
A principal razão era de que o HMS Sheffield e a fragata HMS Yarmouth não detectaram a presença do Exocet, até que um marinheiro de primeira viagem o viu aproximar-se, 4 segundos antes do impacto, permanece oculta.
Uma versão diz que nesse momento estavam realizando as retransmissões via satélite, que faziam o radar ficar cego. Outra, que os monitores do radar o identificaram como um projéctil amigo devido a sua origem francesa. Ainda uma outra, que afirma que a tripulação dos navios britânicos ficaram demasiadamente confiada, com o alerta muito fraco.
Tudo isto ficavam incompreensíveis, apesar de que os britânicos levavam toda a manhã detectando as transmissões do Neptune e inclusive havia já uma patrulha de Harriers no ar para interceptar-lo. Apesar de tudo, o Exocet só fez aquilo para o que foi fabricado: aproximar-se subrepticiamente a um navio de alta tecnologia e afundá-lo sem prévio aviso.
Mais controvertido ainda é que o ocorreu com o segundo Exocet. A versão geral é que falhou o seu alvo e se perdeu. Sem dúvida, marinheiros a bordo do Yarmouth asseguram que o viram passar diante de seus olhos. A pouca actividade que o porta-aviões HMS Hermes empregou na guerra a partir desse momento fêz pensar a alguns que aliás o segundo Exocet dedicara ao «alvo grande» dos radares.
Rapidamente, vários navios pediram ajuda ao HMS Sheffield. Evacuaram os sobreviventes e lograram controlar o incêndio. Não obstante, o navio estava à deriva, já perdido. Tentaram rebocá-lo de volta ao Reino Unido, porém se afundou no caminho.
A notícia deu a volta ao mundo. A «soldadesca terceiro-mundista» de que falava a imprensa londrense —uns com desprezo, outros com lástima— acabava de abater o navio mais moderno da frota britânica.
O frio se estendeu agora por Whitehall, apesar de que no Hemisfério Norte brilhava a primavera. Foi um duríssimo golpe ao prestígio britânico ante as nações, que reviveu com as celebrações patrióticas na Argentina, de onde Bedacarratz e Mayora foram recebidos como heróis, e deu uma máscara de oxigénio à Junta.
A «questão das Malvinas» se converteu prontamente na «crise das Malvinas». O Exocet ganhou fama entre o público de todos os países, assistindo pela primeira vez a uma guerra aeronaval baseada no uso de mísseis. Com a maior descrição possível, o almirante Fieldhouse afastou as suas unidades da costa tanto quanto foi possível, o qual significava um grave problema, porque o seu propósito era exactamente o contrario: dominar as águas ao redor das ilhas Malvinas e reconquistá-las. Se impunha uma aproximação diferente.
Fonte:
http://www.gforum.tv/board/1277/206870/ ... vinas.html