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Mensagem
por moura » Ter Nov 23, 2010 6:10 pm
Encaminho para conhecimento e difusão :
CARTA DE UMA MÃE DE POLICIAL FEDERAL no fóum CORREIOWEB. Acrescentei também comentários de participantes do fórum.
NEVES.
Senhor MARCOS VINICIO DE SOUZA WINK
Presidente da FENAPEF
Açoitada pela notícia do falecimento dos agentes da Polícia Federal no Amazonas, colegas de meu filho, também agente e estabelecido na cidade de Tabatinga, da qual regressei há pouco mais de 20 dias, não tive como me esquivar de lhes fazer este relato, pois a dor dessas famílias também é a minha e a de todos os que já passaram por situação semelhante.
Em Brasília, diante do quadro desesperador que esses momentos carregam, não pude deixar de pensar que aquele filho ali velado poderia ser o meu, ou o de outro casal, pois o que aconteceu não foi uma mera fatalidade, mas sim uma conjunção de fatos que, se levados em consideração, poderiam ter evitado a tragédia que estava por acontecer naquela região, por onde passa grande parte da cocaína comercializada e consumida no mundo.
Preciso falar que, nos dias que lá passei, fui testemunha do esquecimento e do abandono em que se encontram esses profissionais - e toda aquela região do país - e dizer que já se falava, há algum tempo, das ameaças que os policiais federais daquela cidade vinham recebendo por parte dos traficantes ali atuantes.
Além disso, é notório o sucateamento do material disponível para que os agentes exerçam o seu árduo e perigoso trabalho. Isso tudo - e muito mais - já está amplamente divulgado pela mídia, pelo Sindicato e agora, provavelmente, já constatado pelos responsáveis por essas averiguações, consequência dessa tragédia.
Espero que não seja preciso perdermos mais nossos filhos, maridos ou pais policiais para que se valorize e ampare o trabalho desenvolvido por esses homens que põem em risco as próprias vidas para salvar as dos consumidores dessa substância química entorpecente e ilegal, que circula em todas as camadas sociais do nosso planeta. E lhes peço isso em relação a todos os policiais, sejam eles federais, civis ou militares, que trabalham em nosso país a fim de livrar a sociedade do abraço amargo das drogas e da violência que já se banaliza em nossas cidades.
Há várias noites sem conseguir dormir, pensando que meu filho, e os de outras mães, ainda continuam - e continuarão – naquele lado do Brasil, porque foi isso que escolheram e idealizaram para si, estudando por vários anos, sem descanso, todos com curso superior completo e uma árdua passagem na Academia da Polícia Federal para a conclusão de sua formação, sigo questionando-me: por que o governo exigiu e investiu tanto nesses profissionais que protegem a fronteira oeste do nosso imenso país e agora os abandona a sua própria sorte, sem as condições mínimas necessárias para enfrentar homens fortemente equipados, como sabidamente são os grupos ligados ao tráfico de drogas e armas?
Por que o treinamento de tiros não é constante para que eles obtenham a destreza necessária para o exercício de suas funções? Por que a Aeronáutica pode ajudar no combate ao tráfico aéreo e a Marinha e o Exército não podem atuar dessa maneira quando se trata de tráfico por meio fluvial, marítimo ou terrestre? Por que o Exército é responsável pela compra do material bélico usado pela Polícia Federal e não ela própria?
Em 2010 o orçamento da União previu para a Polícia Federal a quantia de R$ 930.500.000,00 (novecentos e trinta milhões e quinhentos mil reais). Por que, então, os agentes têm que comprar o material e o uniforme de que necessitam para a execução do seu trabalho em vez de os receberem da instituição, como acontece em algumas categorias? Qual o critério de distribuição da verba e do número de agentes em cada Estado, uma vez que algumas Unidades da Federação são mais extensas, com maior área de fronteira que outras e, por isso, necessitam maior efetivo? Por que ainda existem essas diferenças gritantes nos aparatos das polícias do sul e do sudeste em relação às demais?
E assim como essas, assaltam-me outras muitas indagações em relação à organização, à conduta e à finalidade das polícias do nosso país, mas a minha intenção primeira foi a de fazer o que deveria ter feito – e não fiz - assim que retornei de Tabatinga: relatar a falta de pessoal e de condições adequadas e seguras de trabalho naquela região e pedir à Polícia Federal que não permita que nossos filhos – policiais ou não – continuem morrendo pelas mãos dos traficantes.
Urge que providências concretas sejam tomadas. A Pátria não precisa de heróis e o povo não carece de mártires. O aparelhamento e o aprimoramento constante das nossas polícias devem ser prioridade para que o crime organizado esteja sempre em desvantagem, seja aqui ou em qualquer ponto do Brasil, e principalmente em Tabatinga, uma das principais cidades do corredor do narcotráfico.
Brasília, 22 de novembro de 2010.