Sim, tenho de reconhecer que o seu pensamento está correcto. A Europa ainda não está preparada para uma aventura dessas. O "papão vermelho" ainda pesa muito na mente colectiva europeia e a actual conjuntura russa (corrupção, alienação e nepotismo) também não favorece em nada uma aproximação desse tipo. Com as condições actuais seria uma parceria forçada em que o sentimento de ajuda seria de motivação negativa, em vez de ser positiva e, a prazo, alguém se daria mal.LeandroGCard escreveu:Esta questão de energia na Europa é realmente crítica, felizmente aqui no Brasil não temos problemas parecidos.FoxTroop escreveu:Mas para que a Europa possa seguir uma linha mais socialista precisa de acesso interno à energia, coisa que não é possivel sem uma entrada da Rússia na esfera da UE, caso contrario estará sempre com a "faca na garganta".
Mas em princípio seria possível sim à Europa se virar sem a Rússia, incrementando a energia nuclear (os alemães ficariam arrepiados!!!), fontes alternativas, etc… . É claro que no curto e médio prazo isto sairia muito mais caro e menos eficiente que comprar óleo e gás aos russos, e em uma economia capitalista custo e eficiência são vitais. Mas numa economia socialista… .
Aqui já não concordo muito, a Europa já possui fortes barreiras internas à entrada de produtos estrangeiros (é claro que não totalmente efetivas), e hoje ela não é a maior compradora de bens produzidos na China ou na Índia, tendendo a perder cada vez mais posição (e clientes) para os países em desenvolvimento ao longo do tempo. Talvez os americanos pudessem assustar os orientais com um embargo (o que para eles na prática seria o equivalente econômico a um ataque kamikaze), mas a Europa não. Até porque ele seria impossível sem a anuência de todos os membros da UEE, e muitos deles não teriam interesse nisso pois não topariam pagar mais caro pelos bens de consumo para ajudar as nações mais industrializadas do bloco (aqui entra a questão da integração não ser total, que o Bourne sempre menciona).Temos também de analisar que países como a China ou a Índia estão mais dependentes do consumidor europeu do que os nossos mercados do capital deles (pelo menos por agora). Como esses países ainda não atingiram uma massa critica interna que sustente a sua industria (e no caso destes dois, dificilmente isso poderá acontecer sem por em causa o sistema em que a sua economia se baseia levando a uma implosão) uma acção proteccionista da ZE sobre os produtos oriundos desses países, teriam consequencias cataclismicas em todo o sistema interno deles.
Concordo que a Rússia tem mais interesse em ficar do lado da Europa do que da China (a Índia já seria outra história, mas ela é mais distante e sozinha ainda não tem o peso da Europa). E acho até que eles deveriam mesmo para seu próprio bem procurar se aproximar da UEE e manter a China a uma distância razoável. O bloco europeu mais a Rússia teria a possibilidade de se tornar um ator de muito mais peso no mundo que se delineia para o futuro.Estou plenamente convencido que o futuro da economia da ZE se encontra na Rússia e que a balança de poder mundial se vai decidir quando os russos optarem por um lado. Seria de todo ter o bom senso estabelecer bons relacionamentos com a Rússia (coisa que os americanos têm sabotado deliberadamente com as suas tretas de sistemas de misseis na Europa) e explorar a ameaça chinesa sobre os territórios da Sibéria nas mentes russas (aliás, a Rússia considera como ameaça mais séria à nação, a emigração maciça de chineses para os territórios siberianos e está a recolocar as suas melhores forças nessa zona do país)
A questão é que os americanos sabem perfeitamente disso e não tem interesse nenhum em que isto aconteça. Um dos maiores pesadelos dos EUA é justamente uma Europa integrada incluindo a Rússia e com orientação político econômica socialista (e não comunista, veja bem, o comunismo é coisa do passado), deixando os americano sozinhos para pregar o capitalismo e a liberdade de mercado que eles mais do que ninguém precisam em um mundo onde só quem os houve é quem pode tirar mais vantagem ainda destas idéias do que eles próprios. Mas estará a Europa pronta para abandonar os EUA à própria sorte, absorver a Rússia (e isto não seria fácil) e caminhar sozinha em um mundo perigoso e em rápida mutação? Os nossos colegas europeus sentem que algo assim seria possível de acontecer?
Abraços à todos,
Leandro G. Card
Neste momento da História, em que tudo está a cambiar tão depressa, pode ser que os caminhos levem a isso, mas.....
Excelente troca de ideias, é um prazer trocar argumentos assim.
Um abraço
FoxTroop