LAGER, o horror do nazismo.
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GENOCÍDIO – A DESTRUIÇÃO DAS MINORIAS – parte final.
Ward Rutherford (digitado por Adolfo Luna Neto)
Saindo do caos
A possibilidade de derrota da Alemanha, que já em 1942 se deixava entrever, pelo outono de 1944 se mostrava plenamente inevitável. As esperanças de vitória dos Aliados aumentaram após os desembarques do Dia "D", a 6 de junho, e a instalação dos exércitos aliados no continente europeu.
Os campos de extermínio já vinham funcionando há dois anos, consumindo numerosíssimas vidas humanas. Enquanto isso, o Exército Vermelho vinha avançando sistematicamente, expulsando os alemães de territórios conquistados mais recentemente e passando de volta pela Polônia e pelos países aliados de Hitler, Hungria, Romênia, Bulgária. A 24 de julho, o Exército Vermelho entrou em Lublin - onde não havia mais judeus - e a imprensa aliada publicou as primeiras histórias dos campos de concentração e do maciço extermínio neles verificado, pois os correspondentes de guerra puderam ver as pequenas câmaras de gás (Majdanek, o campo de Lublin, não chegara a ser um grande centro de extermínio), os crematórios, as latas de Zyklon B e ossos humanos.
O que restava da população judia confinada na linha do avanço dos russos não lhes cairia nas mãos, desde que Hitler pudesse evitar. Eles foram tirados do alcance da libertação e levados para a Alemanha. Onde isso não podia ser feito, os judeus eram executados sumariamente. Os deslocamentos para oeste haviam começado já no verão, quando 27.000 judeus foram evacuados, em julho, de nove campos, de Radom e Cracóvia, e quase 4.000 do campo aberto no antigo gueto de Varsóvia, bem como de outros. Durante a marcha, centenas foram metralhados, e os que sobreviveram foram diretamente para Auschwitz.
Quando isto não era possível, os migrantes eram simplesmente amontoados nos campos de concentração alemães, nos quais havia cerca de 500.000 pessoas - número este que, naturalmente, as seleções e a "diminuição natural" vinham reduzindo. Contudo, em meados do verão de 1944, julgavam os nazistas poderem colocar o dobro desse número nos campos, mas somente uns 100.000 judeus foram somados aos presos ali admitidos, sobretudo porque os alemães temiam epidemias, se mais gente fosse confinada em tais campos.
Os cativos estavam, a essa altura, perfeitamente a par do que os aguardava. Se não morressem de fome, de frio ou de doença, ou se não caíssem durante as longas marchas a que eram obrigados, quando eram fuzilados, seriam exterminados em massa. Afinal de contas, Auschwitz estava funcionando a todo vapor nessa época, e foi em maio (antes que o Dia "D" mudasse a direção da guerra) que Himmler falou com franqueza incomum sobre a questão judaica. Os judeus, disse ele numa reunião de oficiais nazistas, em Posen, deveriam ser mortos, homens, mulheres e crianças. "Fomos obrigados a admitir que essa gente tem de desaparecer da face da terra", disse-lhes ele, como se anunciasse novas providências contra uma peste.
Mas as coisas não eram como pareciam ser.
Himmler pensara profundamente sobre seu próprio futuro numa Alemanha derrotada e submetida às Nações Unidas. Em particular, pensava nos seus reféns. Já se inaugurara um campo de troca no campo de concentração de Bergen-Belsen e, em maio, o mês do seu discurso, Eichmann teve um encontro com Joel Brand, da Comissão Sionista de Ajuda de Budapeste, durante o qual foi discutida a troca de 10.000 caminhões pesados, para a máquina de guerra alemã, pela vida de 700.000 judeus húngaros. Os veículos seriam fornecidos pelos Aliados através de Salônica, mas o plano deu em nada, quando a história foi publicada pela imprensa aliada.
Então, em julho, houve outra proposta, desta vez feita por outro sionista de Budapeste, o Dr. Reszoe Kastner. Era a troca de 100.000 vidas judaicas por cinco milhões de francos suíços. Himmler examinou os termos da proposta e contrapropôs: 30.000 judeus, fisicamente perfeitos, por seis milhões de dólares. Os judeus não seriam entregues, mas "guardados" no campo de trabalho austríaco, Strasshof. Só foram conseguidos 1.800.000 dólares e, por este preço, 9.000 judeus foram "guardados".
As negociações sofreram nova interrupção, quando Kastner foi informado de que Himmler estava decidido a não deixar um só judeu sair da Europa, embora talvez houvesse possibilidade de acordo sobre os judeus de Bergen-Belsen, entre os quais se encontravam 1.684 judeus de Budapeste. As conversações foram reiniciadas, dessa vez na Suíça, e, como demonstração de boa-fé do lado alemão, cerca de 318 desse grupo de judeus de Budapeste foram levados até o outro lado da fronteira, na Basiléia. Os alemães formularam então uma proposta para suspender não só as deportações, como também os envenenamentos a gás em troca de material bélico. Mas o negociador judeu não estava autorizado a aceitar a proposta. Em vez disso, ele fez uma oferta de 15.000.000 de francos suíços pela suspensão do banimento de judeus da Tchecoslováquia e Hungria, seguido da entrega à Suíça dos que restavam em Bergen-Belsen.
O dinheiro para este fim (ao todo 20.000.000 de francos suíços) foi coletado nos Estados Unidos, em campanhas de caridade, e a transação poderia ter sido completada com sucesso, mas Cordell Hull, Secretário de Estado dos Estados Unidos, só consentia na transferência de cinco milhões para a Suíça. Edward Stettinius Jr., que substituiu Hull pouco depois; cancelou inclusive a transferência dos cinco milhões, e somente a 6 de fevereiro é que Himmler os recebeu, através do Presidente da Suíça, Jean-Marie Musi. Um total de 2.684 judeus foi então transferido para a Suíça. Durante o inverno providenciou-se um encontro entre Himmler e Musi. Ainda em troca de dinheiro, em lugar de equipamento e suprimentos médicos; que Himmler exigira originariamente, 1.200 judeus seriam enviados, por trem, para a Suíça todas as quinzenas. Os termos do negócio previam inclusive a criação de um plano de propaganda, a ser feito na Europa, em que a Alemanha deveria deixar de ser considerada como assassina dos judeus.
O plano chegou aos ouvidos de um Hitler enfurecido e ultrajado, que disse a Himmler que ordenasse a destruição de todos os campos de concentração e extermínio, em caso de perigo de serem tomados pelo inimigo, sendo antes mortos todos os seus internos.
Mas as negociações inconcludentes e sobretudo o desejo de Himmler de "mudar sua imagem" resultaram em algum bem. Em outubro de 1944, as seleções para a câmara de gás em Auschwitz foram suspensas. Em setembro, uma missão da Cruz Vermelha Internacional tivera permissão de entrar no campo, embora só para uma entrevista com Baer, o comandante que substituíra Höss. Mas os prisioneiros de guerra britânicos que trabalhavam na fábrica de borracha sintética, e que foram entrevistados, chamaram a atenção da missão para os envenenamentos a gás, mas quando os seus integrantes tentaram junto aos internos confirmar a denúncia recebida, eles se recusaram a falar. Mas após a visita da missão as condições no campo melhoraram.
Então, em novembro, Himmler deu ordens para que os crematórios fossem desmontados. Auschwitz chegava ao fim, depois de dois anos e meio de atividade incessante, como usina da morte. Höss gabara-se de ter matado 2.500.000 judeus. Porém, o número mais certo, ainda que horrível, é de 840.000, provindos da Bélgica, Croácia, França, Alemanha, Tchecoslováquia, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Luxemburgo, Noruega, Polônia, do Báltico e da Eslováquia, tendo fornecido o maior contingente a Hungria, 380.000, e cerca de 180.000 da Polônia e do Báltico. A grande maioria destes, entre 550.0000 e 600.000, foi seguramente envenenada a gás ao chegar, e "selecionada" tão logo os trens dos desgraçados alcançavam o desvio de Birkenau. Mas, além desses, numerosíssimos outros internos daquele campo morreram na câmara de gás, por serem classificados como "incapazes para o trabalho".
Os judeus do Comando Especial, que cuidava dos cadáveres em Auschwitz após o envenenamento a gás, sabiam perfeitamente o destino que os aguardava com a nova ordem de Himmler e tentaram uma revolta que fracassou. Em fins de novembro, foram levados para o Birkenwald e fuzilados.
À medida que os russos se aproximavam, os internos dos campos começaram a ser distribuídos por outros, situados na Alemanha. Os primeiros deslocamentos foram relativamente organizados; grande número de mulheres foram transferidas de Birkenau para Bergen-Belsen, campo que Josef Kramer, comandante de Birkenau ao tempo em que era o principal centro de extermínio, recebera ordens de organizar.
Mais tarde, com 64.000 pessoas ainda no campo e com os canhões russos já audíveis, a evacuação tornou-se caótica. Milhares viajavam apenas em uniformes da prisão, em vagões abertos e em pleno inverno. Outros iam a pé. Distribuíram-nos por Dachau, Dora, Mauthausen, Ravensbrück, Sachsenhausen e Buchenwald, que recebeu a maior quantidade, ou seja, 13.886 cativos.
Quando os russos chegaram a Auschwitz, a 26 de janeiro, encontraram apenas 2.819 inválidos nos campos, à maioria dos quais puderam devolver à saúde.
Havia então no Reich sitiado cerca de 700.000 internos em campos de concentração. A vida de todos eles piorava dia a dia, proporcionalmente à deterioração das condições vigentes na Alemanha. E a situação em nada melhorou com as demarches secretamente desenvolvidas por Himmler e outros líderes das SS junto a autoridades aliadas com o objetivo de salvar a pele. Muitas vezes essas atividades ocultas resultavam em conflito com seus interesses ou com os pontos de vista de algum superidealista da "Solução Final", como Eichmann, que faria o máximo para sabotar os planos dos seus colegas.
O próprio Himmler estava então empenhado em novas negociações destinadas a evitar a ordem de destruir os campos e os que neles se encontravam. A 12 de março ele concordou em suspender as execuções e entregar os campos intactos. A 19 de abril, o Dr. Norberg Masur, diretor do setor suíço do Congresso Judeu Mundial, chegou a Berlim para tratar do problema judeu com seu arquiinimigo. Himmler, ainda aterrorizado com a possibilidade de que Hitler viesse a descobrir o que ele fizera, não podia prender-se a coisas específicas, mas acordaram nalguns pontos, com a ajuda de Kersten, o massagista de Himmler, que já tanta coisa havia feito para ajudar nessas negociações salva-vidas.
Mas o jogo de xadrez com vidas humanas prosseguia. Os representantes da Cruz Vermelha suíça estavam tentando inutilmente entrar nos campos, falar abertamente com os internos e fazer uma estimativa do tipo de ajuda necessária. O representante da Cruz Vermelha sueca, Conde Folke Bernadotte, conseguiu penetrar em Neuengamme, próximo de Hamburgo, mas o máximo que pôde fazer foi conversar com um interno de Oranienburg, na presença dos seus carcereiros e de importantes oficiais das SS.
Naturalmente, quem primeiro entrou em campo de concentração alemão foram os russos. Os alemães tentaram livrar-se das acusações que lhes foram feitas alegando que não passavam de propaganda comunista, referindo a descoberta que fizeram na floresta de Katyn, no ano anterior quando descobriram os cadáveres de milhares de oficiais poloneses assassinados pelos soviéticos. Mas outra força aliada se aproximava de Buchenwald. Eram os americanos e, a 3 de abril, teve início uma evacuação em massa. Mais de metade dos 48.000 confinados no campo principal foi mandada para o sul da Alemanha, de trem. Alguns dias depois, 4.500 judeus de um dos campos-satélites também partiram; 1.500 estavam mortos ao chegarem a Dachau. Tudo isso a despeito da promessa de Himmler de que o campo seria entregue intacto.
Mais ou menos ao mesmo tempo, soldados britânicos aproximaram-se de Bergen-Belsen. As descobertas feitas ali tornaram-se famosas. No Campo I, 40.000 pessoas foram encontradas vivendo em meio a 13.000 cadáveres insepultos, mas em condições tão ruins que muitos morreram após a libertação. O tifo, que por ali grassava violento, vitimou muitos internos, principalmente judeus da Hungria e Polônia, que eram maioria ali.
Os Aliados têm sido criticados, de certa maneira justificadamente, por se terem aproveitado logo das descobertas de campos de concentração para fazer propaganda. Com isso, fizeram que os alemães decidissem não abandonar as áreas em que havia campos de concentração sem antes os evacuar, se possível. E o problema fugira das mãos de Himmler, pois Hitler ordenara que todo interno dos campos que pudesse andar tinha de ser deslocado.
Quando a evacuação não fosse possível, teriam de ser massacrados. Isto quase se realizou em Dachau, pois havia um plano para colocar ali os internos dos campos circundantes e bombardeá-los do ar. Mas os acontecimentos foram mais rápidos. Os americanos, a 24 de abril, entraram em Dachau, onde encontraram numerosos semivivos e semimortos.
Em Theresienstadt, onde Eichmann prometera ao representante da Cruz Vermelha que não havia mais uma única deportação, soube-se, a 12 de abril, que todos os arquivos do campo tinham sido destruídos, dando a impressão de que se pretendia fazer um massacre. O campo estava sufocantemente lotado de evacuados de quatro outros campos. Contudo, graças ás providências tomadas pela Cruz Vermelha, que de imediato hasteou sua bandeira no campo, os que ali estavam foram salvos da execução ou evacuação.
Por toda a Alemanha, delegados da Cruz Vermelha lutavam então por salvar o que restava das populações dos campos de concentração. Em Mauthausen, superlotado, como todos os outros, de gente vinda de outros campos, eles conseguiram impedir a concretização do plano de pôr os prisioneiros numa fábrica subterrânea e fazê-la ir pelos ares. A 8 de maio, o campo foi entregue às tropas de Patton.
Apesar de se encontrar a Alemanha já com os dias contados, as evacuações não paravam. Em Oranienburg, os prisioneiros eram removidos praticamente aos olhos dos russos e com os agentes da Cruz Vermelha sueca impotentes para agir. Tudo o que podiam fazer era acompanhar a coluna, fornecendo-lhe comida e transportando os doentes para trás das linhas aliadas. Ao mesmo tempo, de Sachsenhausen e Ravensbrück, colunas idênticas, de homens e mulheres famintos, esgotados e desesperançados, estavam sendo levados para os últimos bolsões de resistência nazistas. Contudo, dera-se uma ordem que modificara a vigente nessas ocasiões: os desgarrados não deviam ser fuzilados. Eram recolhidos por caminhões da Cruz Vermelha.
Quando seus salvadores se debruçavam sobre eles, para levantá-los, os prisioneiros, já por hábito, imploravam que não os fuzilassem.
A tragédia teve prosseguimento até os últimos dias de abril - dias que Hitler dedicou á feitura de seu testamento, em que instava seus sucessores a prosseguir na política por ele adotada.
Alguns dias mais tarde a guerra na Europa terminava.
Hitler estava morto, assim como Heydrich e Himmler. Kaltenbrunner em breve seria julgado em Nuremberg e, depois, enforcado. Eichmann desaparecera, e também Höss, por algum tempo. Muitos seriam descobertos nos anos seguintes; alguns jamais o foram.
Mortos também se encontravam numerosíssimos judeus da Europa. Em 1939, segundo os números constantes do anuário judeu americano publicado em 1946-1947, as populações judias da Alemanha, seus aliados, satélites e nações submetidas montavam a 9.282.500. Por volta de 1946 não iam além de 3.169.000, uma queda de quase dois terços. Os dois países em que se registraram as mais acentuadas baixas foram, como seria de esperar, a Áustria e a Alemanha. A população judaica alemã de 1939, de 240.000 caíra para um vinte avos daquele número; a população austríaca, de 60.000 desceu para um doze avos. Mas não se pode atribuir o fato exclusivamente à "Solução Final". No tocante à Alemanha e à Áustria, houve o concurso também do êxodo maciço registrado após a guerra. Sem nos determos no exame pormenorizado do número de baixas nação por nação, por ser de certo modo especulativo, fontes as mais fidedignas situam em torno de 4.500.000 o número de judeus mortos no transcurso do segundo conflito mundial.
Entretanto, a rendição incondicional da Alemanha não representou a solução do problema físico e psicológico dos que sobreviveram ao holocausto, criado pelo regime nazista e pela "Solução Final".
Duas décadas se passariam até que os campos de "Pessoas Deslocadas" se esvaziassem, enquanto que um mundo negligente, o mesmo que permitira a realização da "Solução Final", cuidava dos seus negócios. Tornou-se lugar-comum dizer que, por trás da apatia humana, o que ocorreu foi um crime mais espantoso que a sangrenta história do homem registra. Sua enormidade e a complexidade que dessa enormidade surgiu são tais, que desafiam a narrativa coerente ou completa. Sob todos os aspectos, foi a realização de uma psicose em escala nacional. E talvez seja por causa disso que, embora plenamente documentado - graças sobretudo à devoção dos seus perpetradores à ordem e ao procedimento - ele ainda esteja cercado por mistérios oriundos das intrigas e da necessidade de segredo entre homens que sabiam estar cometendo crime, apesar das desculpas de que agiam em consonância com suas teorias raciais. Já existem bibliotecas inteiras sobre o assunto e nenhum dos livros diz tudo o que tem a ser dito; muitos tratam apenas de uma faceta do problema, de um incidente, da história de um campo ou de um massacre.
Mas outro lugar-comum é dizer que, apesar de toda a sua hediondez, o crime foi totalmente inútil. Ele não deu a menor vantagem aos nazistas. Apesar das invencionices sobre tramas sionistas, das mentiras reformadas dos "Protocolos dos Sábios de Sião", das supostas conspirações financeiras da judiaria internacional, em doze anos de perseguição, com milhões de palavras e de documentos judeus sendo por eles manipulados, não conseguiram os nazistas propagandear nada de útil a seus propósitos. Os judeus não eram os todo-poderosos que Hitler imaginava; nem na Grã-Bretanha nem nos Estados Unidos eles conseguiram o apoio que poderia ter salvo grande percentagem deles. Enquanto isso, as provas que os nazistas encontraram apenas mostravam que os judeus, homens e mulheres, se consideravam tão alemães quanto seus perseguidores. Nas sinagogas, a maioria rezava não pelo sucesso de conspirações apócrifas, mas pelo seu país e pelos seus governantes, como nas sinagogas britânicas eles hoje rezam pela Rainha e pela nação, usando as formas do "Livro das Orações" da Igreja Anglicana. Tal era o patriotismo que nutriam, que as velhas e tradicionais famílias de judeus alemães se recusavam a deixar o país, aguardando a "recolonização" em casa, com as malas prontas.
Longe de lucrarem com a "Solução Final", os alemães contribuíram, instituindo-a, para a própria queda. Além de fazer o mundo voltar-se contra eles, a medida levou-os ao suicida desperdício de cientistas, de técnicos e de mão-de-obra especializada. Também houve má aplicação de recursos técnicos limitados, tais como a sobrecarga de um sistema de transporte já sob a pressão causada pelos ataques aéreos aliados. Por causa disso, suprimentos vitais não chegavam à frente de batalha. Havia o bloqueio das estradas quando milhares de prisioneiros eram evacuados, e tudo isso no momento em que a nação já lutava pela própria sobrevivência. Eichmann seria capaz de rir alegremente diante da queda de qualquer cidade alemã, desde que o último trem a deixá-la estivesse levando judeus para os campos da morte!
A fidelidade aos programas da "Solução Final" deve ter criado para as forças combatentes muito mais dificuldade de comunicação do que qualquer movimento de resistência. E ela causou um dano muito maior para a causa alemã. Tem-se afirmado coerentemente que se os alemães se tivessem comportado de maneira diferente durante a campanha russa; se Hitler não tivesse dado suas notórias ordens que fizeram dela uma "guerra sem cavalheirismo", o resultado poderia ter sido muito diferente. Os Estados Bálticos já se sentiam atormentados sob o jugo stalinista. Milhares haviam sido deportados, para destruir neles o nacionalismo e o espírito de independência. Havia outros grupos assim, na própria Rússia, que podiam passar para o lado alemão, e às vezes passavam, pois a Rússia, não nos esqueçamos, ainda é um império de nações independentes reunidas sob um governo central por czares despóticos e brutais. Se Hitler quisesse destruir o bolchevismo, este teria sido o meio de fazê-lo. Suas barbaridades permitiram a Stalin a chance de exigir de todo o povo que travasse uma "guerra patriótica". E para isso os Einsatzgruppen muito contribuíram, pois, seja qual for o sentimento do povo em relação à minoria que lhe tenha varado a fronteira, mesmo que a tenha na conta de elemento de libertação, ao ser alvo de barbaridades, de tratamento impiedosamente cruel, inconcebe o princípio segundo o qual o "inimigo do meu inimigo é meu amigo". Sobretudo quando, como aconteceu com os Einsatzgruppen, pouco se cuidava para que somente as pessoas certas fossem executadas. Administradores alemães, como Wilhelm Kube, chegaram a protestar que não só judeus, mas também a população em geral, sem quaisquer conexões comunistas, estavam sendo saqueados e fuzilados. E mesmo que aqueles grupos tivessem sido mais escrupulosos, seria bom que lembrassem que tais demonstrações de violência crua não ajudam em nada a criar confiança entre os "libertados". Há de sempre prevalecer a sensação de que também possam vir a ser tratados assim.
A "Solução Final" não foi apenas um crime de proporções inimagináveis, com uma única vítima multiplicada ao infinito. Foram três grandes crimes, dos quais o cometido contra os judeus foi apenas o primeiro. O segundo foi ter levado homens, em nada diferentes de seus semelhantes, a se desfazerem do mais comezinho princípio de decência a ponto de se prestarem a servir de cúmplices na trama diabólica. É inútil tentar crer que tudo seja culpa do sistema. Os homens precedem os sistemas; não existisse o homem não existiria o sistema. Se havia um sistema errado, este era mais antigo que o instalado pelos nazistas. Era o velho sistema humano da complacência, da apatia, da covardia moral, de se adotar a posição de menor resistência.
O terceiro grande crime foi o perpetrado contra toda a raça humana. Antes da segunda década deste século, a melhor representação do inferno era encontrada no "Inferno" de Dante ou nas pinturas de Bosch e Dürer. Entretanto, Verdun, Hiroxima e a "Solução Final", episódios das duas grandes convulsões mundiais reproduziram melhor o reino de Satanás que a concepção artística de Dante, Bosch e Dürer.
Além disso, o que os homens foram ou o que fizeram podem novamente ser ou fazer. O primeiro crime probabiliza os subseqüentes. Basta que pensemos na Europa de antes de 1914 para ver o que três décadas e três visões do Inferno fizeram ao que outrora era uma crença na boa vontade básica, mesmo dos inimigos. A "Solução Final" deixou-nos para sempre receosos de que as teorias raciais que elegeram os judeus em vítimas podem fazer de outro grupo étnico qualquer alvo de perseguições e abominações.
Ward Rutherford (digitado por Adolfo Luna Neto)
Saindo do caos
A possibilidade de derrota da Alemanha, que já em 1942 se deixava entrever, pelo outono de 1944 se mostrava plenamente inevitável. As esperanças de vitória dos Aliados aumentaram após os desembarques do Dia "D", a 6 de junho, e a instalação dos exércitos aliados no continente europeu.
Os campos de extermínio já vinham funcionando há dois anos, consumindo numerosíssimas vidas humanas. Enquanto isso, o Exército Vermelho vinha avançando sistematicamente, expulsando os alemães de territórios conquistados mais recentemente e passando de volta pela Polônia e pelos países aliados de Hitler, Hungria, Romênia, Bulgária. A 24 de julho, o Exército Vermelho entrou em Lublin - onde não havia mais judeus - e a imprensa aliada publicou as primeiras histórias dos campos de concentração e do maciço extermínio neles verificado, pois os correspondentes de guerra puderam ver as pequenas câmaras de gás (Majdanek, o campo de Lublin, não chegara a ser um grande centro de extermínio), os crematórios, as latas de Zyklon B e ossos humanos.
O que restava da população judia confinada na linha do avanço dos russos não lhes cairia nas mãos, desde que Hitler pudesse evitar. Eles foram tirados do alcance da libertação e levados para a Alemanha. Onde isso não podia ser feito, os judeus eram executados sumariamente. Os deslocamentos para oeste haviam começado já no verão, quando 27.000 judeus foram evacuados, em julho, de nove campos, de Radom e Cracóvia, e quase 4.000 do campo aberto no antigo gueto de Varsóvia, bem como de outros. Durante a marcha, centenas foram metralhados, e os que sobreviveram foram diretamente para Auschwitz.
Quando isto não era possível, os migrantes eram simplesmente amontoados nos campos de concentração alemães, nos quais havia cerca de 500.000 pessoas - número este que, naturalmente, as seleções e a "diminuição natural" vinham reduzindo. Contudo, em meados do verão de 1944, julgavam os nazistas poderem colocar o dobro desse número nos campos, mas somente uns 100.000 judeus foram somados aos presos ali admitidos, sobretudo porque os alemães temiam epidemias, se mais gente fosse confinada em tais campos.
Os cativos estavam, a essa altura, perfeitamente a par do que os aguardava. Se não morressem de fome, de frio ou de doença, ou se não caíssem durante as longas marchas a que eram obrigados, quando eram fuzilados, seriam exterminados em massa. Afinal de contas, Auschwitz estava funcionando a todo vapor nessa época, e foi em maio (antes que o Dia "D" mudasse a direção da guerra) que Himmler falou com franqueza incomum sobre a questão judaica. Os judeus, disse ele numa reunião de oficiais nazistas, em Posen, deveriam ser mortos, homens, mulheres e crianças. "Fomos obrigados a admitir que essa gente tem de desaparecer da face da terra", disse-lhes ele, como se anunciasse novas providências contra uma peste.
Mas as coisas não eram como pareciam ser.
Himmler pensara profundamente sobre seu próprio futuro numa Alemanha derrotada e submetida às Nações Unidas. Em particular, pensava nos seus reféns. Já se inaugurara um campo de troca no campo de concentração de Bergen-Belsen e, em maio, o mês do seu discurso, Eichmann teve um encontro com Joel Brand, da Comissão Sionista de Ajuda de Budapeste, durante o qual foi discutida a troca de 10.000 caminhões pesados, para a máquina de guerra alemã, pela vida de 700.000 judeus húngaros. Os veículos seriam fornecidos pelos Aliados através de Salônica, mas o plano deu em nada, quando a história foi publicada pela imprensa aliada.
Então, em julho, houve outra proposta, desta vez feita por outro sionista de Budapeste, o Dr. Reszoe Kastner. Era a troca de 100.000 vidas judaicas por cinco milhões de francos suíços. Himmler examinou os termos da proposta e contrapropôs: 30.000 judeus, fisicamente perfeitos, por seis milhões de dólares. Os judeus não seriam entregues, mas "guardados" no campo de trabalho austríaco, Strasshof. Só foram conseguidos 1.800.000 dólares e, por este preço, 9.000 judeus foram "guardados".
As negociações sofreram nova interrupção, quando Kastner foi informado de que Himmler estava decidido a não deixar um só judeu sair da Europa, embora talvez houvesse possibilidade de acordo sobre os judeus de Bergen-Belsen, entre os quais se encontravam 1.684 judeus de Budapeste. As conversações foram reiniciadas, dessa vez na Suíça, e, como demonstração de boa-fé do lado alemão, cerca de 318 desse grupo de judeus de Budapeste foram levados até o outro lado da fronteira, na Basiléia. Os alemães formularam então uma proposta para suspender não só as deportações, como também os envenenamentos a gás em troca de material bélico. Mas o negociador judeu não estava autorizado a aceitar a proposta. Em vez disso, ele fez uma oferta de 15.000.000 de francos suíços pela suspensão do banimento de judeus da Tchecoslováquia e Hungria, seguido da entrega à Suíça dos que restavam em Bergen-Belsen.
O dinheiro para este fim (ao todo 20.000.000 de francos suíços) foi coletado nos Estados Unidos, em campanhas de caridade, e a transação poderia ter sido completada com sucesso, mas Cordell Hull, Secretário de Estado dos Estados Unidos, só consentia na transferência de cinco milhões para a Suíça. Edward Stettinius Jr., que substituiu Hull pouco depois; cancelou inclusive a transferência dos cinco milhões, e somente a 6 de fevereiro é que Himmler os recebeu, através do Presidente da Suíça, Jean-Marie Musi. Um total de 2.684 judeus foi então transferido para a Suíça. Durante o inverno providenciou-se um encontro entre Himmler e Musi. Ainda em troca de dinheiro, em lugar de equipamento e suprimentos médicos; que Himmler exigira originariamente, 1.200 judeus seriam enviados, por trem, para a Suíça todas as quinzenas. Os termos do negócio previam inclusive a criação de um plano de propaganda, a ser feito na Europa, em que a Alemanha deveria deixar de ser considerada como assassina dos judeus.
O plano chegou aos ouvidos de um Hitler enfurecido e ultrajado, que disse a Himmler que ordenasse a destruição de todos os campos de concentração e extermínio, em caso de perigo de serem tomados pelo inimigo, sendo antes mortos todos os seus internos.
Mas as negociações inconcludentes e sobretudo o desejo de Himmler de "mudar sua imagem" resultaram em algum bem. Em outubro de 1944, as seleções para a câmara de gás em Auschwitz foram suspensas. Em setembro, uma missão da Cruz Vermelha Internacional tivera permissão de entrar no campo, embora só para uma entrevista com Baer, o comandante que substituíra Höss. Mas os prisioneiros de guerra britânicos que trabalhavam na fábrica de borracha sintética, e que foram entrevistados, chamaram a atenção da missão para os envenenamentos a gás, mas quando os seus integrantes tentaram junto aos internos confirmar a denúncia recebida, eles se recusaram a falar. Mas após a visita da missão as condições no campo melhoraram.
Então, em novembro, Himmler deu ordens para que os crematórios fossem desmontados. Auschwitz chegava ao fim, depois de dois anos e meio de atividade incessante, como usina da morte. Höss gabara-se de ter matado 2.500.000 judeus. Porém, o número mais certo, ainda que horrível, é de 840.000, provindos da Bélgica, Croácia, França, Alemanha, Tchecoslováquia, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Luxemburgo, Noruega, Polônia, do Báltico e da Eslováquia, tendo fornecido o maior contingente a Hungria, 380.000, e cerca de 180.000 da Polônia e do Báltico. A grande maioria destes, entre 550.0000 e 600.000, foi seguramente envenenada a gás ao chegar, e "selecionada" tão logo os trens dos desgraçados alcançavam o desvio de Birkenau. Mas, além desses, numerosíssimos outros internos daquele campo morreram na câmara de gás, por serem classificados como "incapazes para o trabalho".
Os judeus do Comando Especial, que cuidava dos cadáveres em Auschwitz após o envenenamento a gás, sabiam perfeitamente o destino que os aguardava com a nova ordem de Himmler e tentaram uma revolta que fracassou. Em fins de novembro, foram levados para o Birkenwald e fuzilados.
À medida que os russos se aproximavam, os internos dos campos começaram a ser distribuídos por outros, situados na Alemanha. Os primeiros deslocamentos foram relativamente organizados; grande número de mulheres foram transferidas de Birkenau para Bergen-Belsen, campo que Josef Kramer, comandante de Birkenau ao tempo em que era o principal centro de extermínio, recebera ordens de organizar.
Mais tarde, com 64.000 pessoas ainda no campo e com os canhões russos já audíveis, a evacuação tornou-se caótica. Milhares viajavam apenas em uniformes da prisão, em vagões abertos e em pleno inverno. Outros iam a pé. Distribuíram-nos por Dachau, Dora, Mauthausen, Ravensbrück, Sachsenhausen e Buchenwald, que recebeu a maior quantidade, ou seja, 13.886 cativos.
Quando os russos chegaram a Auschwitz, a 26 de janeiro, encontraram apenas 2.819 inválidos nos campos, à maioria dos quais puderam devolver à saúde.
Havia então no Reich sitiado cerca de 700.000 internos em campos de concentração. A vida de todos eles piorava dia a dia, proporcionalmente à deterioração das condições vigentes na Alemanha. E a situação em nada melhorou com as demarches secretamente desenvolvidas por Himmler e outros líderes das SS junto a autoridades aliadas com o objetivo de salvar a pele. Muitas vezes essas atividades ocultas resultavam em conflito com seus interesses ou com os pontos de vista de algum superidealista da "Solução Final", como Eichmann, que faria o máximo para sabotar os planos dos seus colegas.
O próprio Himmler estava então empenhado em novas negociações destinadas a evitar a ordem de destruir os campos e os que neles se encontravam. A 12 de março ele concordou em suspender as execuções e entregar os campos intactos. A 19 de abril, o Dr. Norberg Masur, diretor do setor suíço do Congresso Judeu Mundial, chegou a Berlim para tratar do problema judeu com seu arquiinimigo. Himmler, ainda aterrorizado com a possibilidade de que Hitler viesse a descobrir o que ele fizera, não podia prender-se a coisas específicas, mas acordaram nalguns pontos, com a ajuda de Kersten, o massagista de Himmler, que já tanta coisa havia feito para ajudar nessas negociações salva-vidas.
Mas o jogo de xadrez com vidas humanas prosseguia. Os representantes da Cruz Vermelha suíça estavam tentando inutilmente entrar nos campos, falar abertamente com os internos e fazer uma estimativa do tipo de ajuda necessária. O representante da Cruz Vermelha sueca, Conde Folke Bernadotte, conseguiu penetrar em Neuengamme, próximo de Hamburgo, mas o máximo que pôde fazer foi conversar com um interno de Oranienburg, na presença dos seus carcereiros e de importantes oficiais das SS.
Naturalmente, quem primeiro entrou em campo de concentração alemão foram os russos. Os alemães tentaram livrar-se das acusações que lhes foram feitas alegando que não passavam de propaganda comunista, referindo a descoberta que fizeram na floresta de Katyn, no ano anterior quando descobriram os cadáveres de milhares de oficiais poloneses assassinados pelos soviéticos. Mas outra força aliada se aproximava de Buchenwald. Eram os americanos e, a 3 de abril, teve início uma evacuação em massa. Mais de metade dos 48.000 confinados no campo principal foi mandada para o sul da Alemanha, de trem. Alguns dias depois, 4.500 judeus de um dos campos-satélites também partiram; 1.500 estavam mortos ao chegarem a Dachau. Tudo isso a despeito da promessa de Himmler de que o campo seria entregue intacto.
Mais ou menos ao mesmo tempo, soldados britânicos aproximaram-se de Bergen-Belsen. As descobertas feitas ali tornaram-se famosas. No Campo I, 40.000 pessoas foram encontradas vivendo em meio a 13.000 cadáveres insepultos, mas em condições tão ruins que muitos morreram após a libertação. O tifo, que por ali grassava violento, vitimou muitos internos, principalmente judeus da Hungria e Polônia, que eram maioria ali.
Os Aliados têm sido criticados, de certa maneira justificadamente, por se terem aproveitado logo das descobertas de campos de concentração para fazer propaganda. Com isso, fizeram que os alemães decidissem não abandonar as áreas em que havia campos de concentração sem antes os evacuar, se possível. E o problema fugira das mãos de Himmler, pois Hitler ordenara que todo interno dos campos que pudesse andar tinha de ser deslocado.
Quando a evacuação não fosse possível, teriam de ser massacrados. Isto quase se realizou em Dachau, pois havia um plano para colocar ali os internos dos campos circundantes e bombardeá-los do ar. Mas os acontecimentos foram mais rápidos. Os americanos, a 24 de abril, entraram em Dachau, onde encontraram numerosos semivivos e semimortos.
Em Theresienstadt, onde Eichmann prometera ao representante da Cruz Vermelha que não havia mais uma única deportação, soube-se, a 12 de abril, que todos os arquivos do campo tinham sido destruídos, dando a impressão de que se pretendia fazer um massacre. O campo estava sufocantemente lotado de evacuados de quatro outros campos. Contudo, graças ás providências tomadas pela Cruz Vermelha, que de imediato hasteou sua bandeira no campo, os que ali estavam foram salvos da execução ou evacuação.
Por toda a Alemanha, delegados da Cruz Vermelha lutavam então por salvar o que restava das populações dos campos de concentração. Em Mauthausen, superlotado, como todos os outros, de gente vinda de outros campos, eles conseguiram impedir a concretização do plano de pôr os prisioneiros numa fábrica subterrânea e fazê-la ir pelos ares. A 8 de maio, o campo foi entregue às tropas de Patton.
Apesar de se encontrar a Alemanha já com os dias contados, as evacuações não paravam. Em Oranienburg, os prisioneiros eram removidos praticamente aos olhos dos russos e com os agentes da Cruz Vermelha sueca impotentes para agir. Tudo o que podiam fazer era acompanhar a coluna, fornecendo-lhe comida e transportando os doentes para trás das linhas aliadas. Ao mesmo tempo, de Sachsenhausen e Ravensbrück, colunas idênticas, de homens e mulheres famintos, esgotados e desesperançados, estavam sendo levados para os últimos bolsões de resistência nazistas. Contudo, dera-se uma ordem que modificara a vigente nessas ocasiões: os desgarrados não deviam ser fuzilados. Eram recolhidos por caminhões da Cruz Vermelha.
Quando seus salvadores se debruçavam sobre eles, para levantá-los, os prisioneiros, já por hábito, imploravam que não os fuzilassem.
A tragédia teve prosseguimento até os últimos dias de abril - dias que Hitler dedicou á feitura de seu testamento, em que instava seus sucessores a prosseguir na política por ele adotada.
Alguns dias mais tarde a guerra na Europa terminava.
Hitler estava morto, assim como Heydrich e Himmler. Kaltenbrunner em breve seria julgado em Nuremberg e, depois, enforcado. Eichmann desaparecera, e também Höss, por algum tempo. Muitos seriam descobertos nos anos seguintes; alguns jamais o foram.
Mortos também se encontravam numerosíssimos judeus da Europa. Em 1939, segundo os números constantes do anuário judeu americano publicado em 1946-1947, as populações judias da Alemanha, seus aliados, satélites e nações submetidas montavam a 9.282.500. Por volta de 1946 não iam além de 3.169.000, uma queda de quase dois terços. Os dois países em que se registraram as mais acentuadas baixas foram, como seria de esperar, a Áustria e a Alemanha. A população judaica alemã de 1939, de 240.000 caíra para um vinte avos daquele número; a população austríaca, de 60.000 desceu para um doze avos. Mas não se pode atribuir o fato exclusivamente à "Solução Final". No tocante à Alemanha e à Áustria, houve o concurso também do êxodo maciço registrado após a guerra. Sem nos determos no exame pormenorizado do número de baixas nação por nação, por ser de certo modo especulativo, fontes as mais fidedignas situam em torno de 4.500.000 o número de judeus mortos no transcurso do segundo conflito mundial.
Entretanto, a rendição incondicional da Alemanha não representou a solução do problema físico e psicológico dos que sobreviveram ao holocausto, criado pelo regime nazista e pela "Solução Final".
Duas décadas se passariam até que os campos de "Pessoas Deslocadas" se esvaziassem, enquanto que um mundo negligente, o mesmo que permitira a realização da "Solução Final", cuidava dos seus negócios. Tornou-se lugar-comum dizer que, por trás da apatia humana, o que ocorreu foi um crime mais espantoso que a sangrenta história do homem registra. Sua enormidade e a complexidade que dessa enormidade surgiu são tais, que desafiam a narrativa coerente ou completa. Sob todos os aspectos, foi a realização de uma psicose em escala nacional. E talvez seja por causa disso que, embora plenamente documentado - graças sobretudo à devoção dos seus perpetradores à ordem e ao procedimento - ele ainda esteja cercado por mistérios oriundos das intrigas e da necessidade de segredo entre homens que sabiam estar cometendo crime, apesar das desculpas de que agiam em consonância com suas teorias raciais. Já existem bibliotecas inteiras sobre o assunto e nenhum dos livros diz tudo o que tem a ser dito; muitos tratam apenas de uma faceta do problema, de um incidente, da história de um campo ou de um massacre.
Mas outro lugar-comum é dizer que, apesar de toda a sua hediondez, o crime foi totalmente inútil. Ele não deu a menor vantagem aos nazistas. Apesar das invencionices sobre tramas sionistas, das mentiras reformadas dos "Protocolos dos Sábios de Sião", das supostas conspirações financeiras da judiaria internacional, em doze anos de perseguição, com milhões de palavras e de documentos judeus sendo por eles manipulados, não conseguiram os nazistas propagandear nada de útil a seus propósitos. Os judeus não eram os todo-poderosos que Hitler imaginava; nem na Grã-Bretanha nem nos Estados Unidos eles conseguiram o apoio que poderia ter salvo grande percentagem deles. Enquanto isso, as provas que os nazistas encontraram apenas mostravam que os judeus, homens e mulheres, se consideravam tão alemães quanto seus perseguidores. Nas sinagogas, a maioria rezava não pelo sucesso de conspirações apócrifas, mas pelo seu país e pelos seus governantes, como nas sinagogas britânicas eles hoje rezam pela Rainha e pela nação, usando as formas do "Livro das Orações" da Igreja Anglicana. Tal era o patriotismo que nutriam, que as velhas e tradicionais famílias de judeus alemães se recusavam a deixar o país, aguardando a "recolonização" em casa, com as malas prontas.
Longe de lucrarem com a "Solução Final", os alemães contribuíram, instituindo-a, para a própria queda. Além de fazer o mundo voltar-se contra eles, a medida levou-os ao suicida desperdício de cientistas, de técnicos e de mão-de-obra especializada. Também houve má aplicação de recursos técnicos limitados, tais como a sobrecarga de um sistema de transporte já sob a pressão causada pelos ataques aéreos aliados. Por causa disso, suprimentos vitais não chegavam à frente de batalha. Havia o bloqueio das estradas quando milhares de prisioneiros eram evacuados, e tudo isso no momento em que a nação já lutava pela própria sobrevivência. Eichmann seria capaz de rir alegremente diante da queda de qualquer cidade alemã, desde que o último trem a deixá-la estivesse levando judeus para os campos da morte!
A fidelidade aos programas da "Solução Final" deve ter criado para as forças combatentes muito mais dificuldade de comunicação do que qualquer movimento de resistência. E ela causou um dano muito maior para a causa alemã. Tem-se afirmado coerentemente que se os alemães se tivessem comportado de maneira diferente durante a campanha russa; se Hitler não tivesse dado suas notórias ordens que fizeram dela uma "guerra sem cavalheirismo", o resultado poderia ter sido muito diferente. Os Estados Bálticos já se sentiam atormentados sob o jugo stalinista. Milhares haviam sido deportados, para destruir neles o nacionalismo e o espírito de independência. Havia outros grupos assim, na própria Rússia, que podiam passar para o lado alemão, e às vezes passavam, pois a Rússia, não nos esqueçamos, ainda é um império de nações independentes reunidas sob um governo central por czares despóticos e brutais. Se Hitler quisesse destruir o bolchevismo, este teria sido o meio de fazê-lo. Suas barbaridades permitiram a Stalin a chance de exigir de todo o povo que travasse uma "guerra patriótica". E para isso os Einsatzgruppen muito contribuíram, pois, seja qual for o sentimento do povo em relação à minoria que lhe tenha varado a fronteira, mesmo que a tenha na conta de elemento de libertação, ao ser alvo de barbaridades, de tratamento impiedosamente cruel, inconcebe o princípio segundo o qual o "inimigo do meu inimigo é meu amigo". Sobretudo quando, como aconteceu com os Einsatzgruppen, pouco se cuidava para que somente as pessoas certas fossem executadas. Administradores alemães, como Wilhelm Kube, chegaram a protestar que não só judeus, mas também a população em geral, sem quaisquer conexões comunistas, estavam sendo saqueados e fuzilados. E mesmo que aqueles grupos tivessem sido mais escrupulosos, seria bom que lembrassem que tais demonstrações de violência crua não ajudam em nada a criar confiança entre os "libertados". Há de sempre prevalecer a sensação de que também possam vir a ser tratados assim.
A "Solução Final" não foi apenas um crime de proporções inimagináveis, com uma única vítima multiplicada ao infinito. Foram três grandes crimes, dos quais o cometido contra os judeus foi apenas o primeiro. O segundo foi ter levado homens, em nada diferentes de seus semelhantes, a se desfazerem do mais comezinho princípio de decência a ponto de se prestarem a servir de cúmplices na trama diabólica. É inútil tentar crer que tudo seja culpa do sistema. Os homens precedem os sistemas; não existisse o homem não existiria o sistema. Se havia um sistema errado, este era mais antigo que o instalado pelos nazistas. Era o velho sistema humano da complacência, da apatia, da covardia moral, de se adotar a posição de menor resistência.
O terceiro grande crime foi o perpetrado contra toda a raça humana. Antes da segunda década deste século, a melhor representação do inferno era encontrada no "Inferno" de Dante ou nas pinturas de Bosch e Dürer. Entretanto, Verdun, Hiroxima e a "Solução Final", episódios das duas grandes convulsões mundiais reproduziram melhor o reino de Satanás que a concepção artística de Dante, Bosch e Dürer.
Além disso, o que os homens foram ou o que fizeram podem novamente ser ou fazer. O primeiro crime probabiliza os subseqüentes. Basta que pensemos na Europa de antes de 1914 para ver o que três décadas e três visões do Inferno fizeram ao que outrora era uma crença na boa vontade básica, mesmo dos inimigos. A "Solução Final" deixou-nos para sempre receosos de que as teorias raciais que elegeram os judeus em vítimas podem fazer de outro grupo étnico qualquer alvo de perseguições e abominações.
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Clermont escreveu:GENOCÍDIO – A DESTRUIÇÃO DAS MINORIAS – parte final.
(...blablablabla...)
Além disso, o que os homens foram ou o que fizeram podem novamente ser ou fazer. O primeiro crime probabiliza os subseqüentes. Basta que pensemos na Europa de antes de 1914 para ver o que três décadas e três visões do Inferno fizeram ao que outrora era uma crença na boa vontade básica, mesmo dos inimigos. A "Solução Final" deixou-nos para sempre receosos de que as teorias raciais que elegeram os judeus em vítimas podem fazer de outro grupo étnico qualquer alvo de perseguições e abominações.[/size]
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Lobos que foram homens e o tornarão a ser
ou talvez memórias de homens.
que insistem em não rasgar a pele
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mas que jamais o tornarão a ser...
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
O LEVANTE DO GUETO DE VARSÓVIA.
A Segunda Guerra Mundial – Editora Codex, Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, 1966.
Em meados de 1941, Hitler e seus mais próximos auxiliares, resolveram levar à prática o que denominaram “solução final do problema judeu na Europa”.
No dia 31 de julho desse mesmo ano, o marechal Goering dirigiu um comunicado a Heydrich, chefe do serviço de segurança das SS (Sicherheitsdienst, ou SD), no qual o designava para “realizar todos os preparativos referentes à solução total do problema judeu nos territórios da Europa que se encontrassem sob a jurisdição da Alemanha.” Na prática, a execução dessa ordem significava a consumação de um dos crimes mais gigantescos que a Humanidade conheceu: o extermínio maciço e impiedoso de milhões de inocentes realizado em nome de descabeladas teorias raciais. A colocação em marcha da “solução final” provocou um dos episódios mais trágicos e comovedores da Segunda Guerra: o Levante do Gueto de Varsóvia.
Em 1940, as autoridades nazistas da Polônia haviam concentrado no Gueto medieval da cidade de Varsóvia, mais de 400 mil habitantes de origem judia, encerrando-os em uma estreita área de quatro quilômetros de comprimento por dois de largura, circundada por uma alta muralha. Amontoados nesse setor, esses infortunados seres foram submetidos a uma virtual condenação à morte por inanição; os víveres, de fato, davam apenas para manter vivas, em condições subumanas, a metade de população total. Milhares de homens, mulheres e crianças pereceram , assim, de fome. Para completar o extermínio, seguindo a orientação da “solução final”, os nazistas iniciaram a construção de um campo da morte em Treblinka, perto de Varsóvia, onde instalaram câmaras de gás, especialmente construídas para exterminar maciçamente os habitantes do Gueto. Himmler ordenou, em 1942, por “razões de segurança”, a evacuação da população judia para Treblinka. Mais de 300 mil judeus foram conduzidos ao campo de morte, onde a maioria foi eliminada nas camadas de gás.
Por volta de janeiro de 1943, não obstante, cerca de 60 mil judeus permaneciam ainda no Gueto de Varsóvia. Consciente do terrível destino que os aguardava, muitos deles haviam iniciado já a organização da resistência armada. Assim, em outubro de de 1942, foi criada a ZOB (Zydowska Organizacja Bojowa ou Organização Judaica de Combate). Antes de terminar o ano, a ZOB havia formado e instruído militarmente cinqüenta grupos de jovens. Tinha, também, organizado comandos de zonas em diferentes lugares do Gueto e publicava dois jornais, um em língua polonesa, o Wiadomosci (Informações) e outo em iídiche, Der Schturem (A Tempestade).
A ZOB trabalhou ativamente para incitar a população à resistência armada. Esforçou-se, também, por resgatar as crianças judias e, com ajuda dos membros da resistência polonesa conseguiu ocultar, entre janeiro de 1943 e agosto de 1944, cerca de 20 mil crianças judias.
A 11 de janeiro de 1943, Himmler visitou pessoalmente o Gueto rodeado por uma poderosa escolta armada. Tanques e caminhões com soldados fortemente municiados escoltaram a sua passagem. Himmler ordenou, após a visita, o extermínio do bairro judeu, dando um prazo de menos de um mês. A operação teria que efetuar-se antes de 15 de fevereiro. Seria iniciada, também, com a deportação de 16 mil judeus.
Tendo conhecimento dos planos germânicos, a ZOB preparou-se para resistir. Distribuíram-se volantes e cartazes murais, onde se anunciava a determinação de lutar, proclamando: “por meio da luta nos salvaremos”.
A 18 de janeiro de 1943, o chefe das SS de Varsóvia, SS-Oberführer von Sammern-Frankenegg, dispôs-se a levar a cabo a primeira batida, empregando na operação duzentos gendarmes e perto de oitocentos membros da polícia.
A ZOB não se deixou surpreender e recebeu os nazistas com disparos de armas curtas, granadas e bombas molotov. Os combatentes judeus conseguiram rechaçar os alemães. No dia seguinte, os SS voltaram ao ataque. A operação foi presenciada pelo chefe das SS e pelo chefe do campo de extermínio de Treblinka, SS-Hauptsturmführer Franz Stangl. A ZOB se lançou novamente à luta. Sua proclamação de combate começava assim:
O chamado da ZOB encontrou eco imediato. Os judeus, acatando solidariamente o grito de combate, se lançaram à luta. A primeira granada foi lançada pela jovem Emilia Landau, que sucumbiu na batalha. Até 21 de janeiro, combateu-se furiosamente nas ruas, nas casas, nos sótãos. Nessa data, von Sammern decidiu retirar suas tropas do Gueto. A ordem de Himmler somente havia podido ser executada em parte. Apenas 6.500 judeus haviam sido apanhados pelos nazistas. A ZOB, contudo, sofrera grandes baixas. Seus efetivos haviam sido dizimados e, dos cinqüenta grupos somente restavam em ação cinco. Porém, seu sacrifício não fôra vão. Toda a população judia do Gueto estava agora disposta a combater.
Uma nova proclamação da ZOB, além disso, reafirmava a sua posição:
Essa primeira ação impressionou grandemente toda a população de Varsóvia. A disposição de luta do Gueto se transmitiria mais tarde à população não judia da capital da Polônia, no momento heróico do grande levante.
O movimento de resistência polonês se dispôs imediatamente a cooperar com os grupos que combatiam no Gueto. Distribuíram volantes que diziam: “O heroísmo da ZOB deve nos servir de exemplo...”
Grupos de guerrilheiros atacaram trens que conduziam os prisioneiros judeus rumo a Treblinka. Um dos comboios interceptados, teve libertada toda a gente que conduzia.
Sobreveio então uma pausa, enquanto os nazistas se preparavam para desferir o golpe definitivo. A ZOB, entrementes, dedicou-se a reconstituir suas fileiras e implantou entre os seus membros uma rígida disciplina militar. A população, contribuiu com seus últimos recursos para adquirir armas clandestinamente.
Os dirigentes judeus, a esta altura dos acontecimentos, preparavam já uma insurreição geral. Sabiam perfeitamente que não conseguiriam a vitória...
Para os nazistas, Varsóvia já deixara de ser uma cidade segura. O comandante da guarnição militar alemã assim se manifestou em um informe às autoridades: “A insurreição do Gueto poderia ser o começo da insurreição geral de Varsóvia, que as forças militares e policiais não conseguiriam sufocar”. Himmler, por sua vez, já decidira tomar uma resolução final. Em carta ao chefe das SS na Polônia declarava: “Exijo que me seja submetido um plano geral de destruição. É necessário que seja riscado do mapa esse espaço que ainda pode conter mais de 500 mil subumanos...”
Em cumprimento das implacáveis determinações de Himmler, foram traçados os planos para arrasar o Gueto e aniquilar-se a sua população. A missão foi encomendada ao SS-Brigadeführer Jürgen Stroop das Waffen-SS.
Dois mil homens atuariam na ação; a metade deles do Exército e das Waffen-SS, e o resto do serviço policial das SS, reforçado por milicianos lituanos e policiais poloneses colaboracionistas. Além disso, interviriam tanques, carros blindados, unidades lança-chamas e artilharia.
A ZOB também se preparou para a luta. Nas esquinas foram localizados postos de resistência, assim como nos telhados e pontos chaves. Estenderam-se pontes improvisadas entre os edifícios, para permitir a passagem dos grupos de combatentes. Com esse mesmo objetivo, foram abertos buracos nas paredes comuns das casas. Também, sob a superfície, preparou-se uma verdadeira cidade subterrânea, utilizando na sua construção as galerias e túneis já existentes, interligados por múltiplos corredores. Esse labirinto estava unido ao sistema e de esgoto e serviria como último centro de resistência.
Às vésperas da ação, na noite de 18 para 19 de abril de 1943, os germânicos rodearam o Gueto com suas tropas, tanques e canhões. A ZOB proclamou o estado de alerta e lançou um apelo:
Às seis da manhã do dia 19 as tropas nazistas irromperam no Gueto. Foram recebidas por uma chuva de balas, granadas e bombas molotov que caíam de todos os telhados e janelas. Os primeiros disparos partiram da casa nº 38 da rua Zamenhoff, onde hoje se levanta um monumento à glória dos combatentes do Gueto. Os alemães, surpreendidos pela resistência, se retiraram, abandonando na praça os mortos. Os combatentes judeus, saindo dos seus refúgios, despojaram os cadáveres de seus capacetes e armas. Stroop assumiu, então, o comando direto da operação. Iniciou-se assim uma luta sangrenta e sem quartel.
Nas fileiras dos combatentes judeus ocorreram cenas de bravura inenarráveis! No “Diário” de uma testemunha, se lê:
A furiosa resistência se prolongou durante cinco dias. A 23 de abril, Himmler, enfurecido, enviou uma mensagem a Stroop, ordenando-lhe arrasar o Gueto. Posteriormente, Stroop escreveu a seguinte frase no informe enviado ao seu superior: “Eu decidi então destruir toda área judia, ateando fogo a cada edifício...”.
A terrível tática não conseguiu porém quebrar a resistência dos judeus. Com os edifícios incendiados na sua parte mais baixa, os combatentes se refugiavam nos telhados, e ali continuavam disparando. Em meio aos incêndios, a luta foi adquirindo aspectos dantescos.
A 7 de maio, os germânicos conseguiram localizar e cercar o edifício onde se achava o estado-maior da insurreição. Os principais dirigentes da ZOB estavam ali. Era um vasto refúgio localizado no número 18 da rua Mila. Os SS atacaram de todas as direções, valendo-se de gases tóxicos para expulsar os combatentes judeus de suas posições. Estes, antes de entregar-se, preferiram suicidar-se. Nos últimos instantes, um grupo descobriu uma saída que não estava controlada pelos alemães e conseguiu escapar. A maioria, porém, matou-se, com as próprias mãos.
Apesar da desaparição dos dirigentes, a resistência judia se manteve, sem decrescer em momento algum. Os alemães, valendo-se de sua esmagadora superioridade em armas e munições, foram eliminando, um por um, os bolsões onde os judeus resistiam. No dia 15 de maio, finalmente, foi dinamitado o último bloco de casas do Gueto. O SS-Brigadeführer Stroop pôde então telegrafar ao seu superior: “O bairro judeu cessou de existir”.
No dia seguinte, o chefe alemão enviou uma nova mensagem: “Ação em grande escala foi terminada às 20:15h, mediante a explosão da sinagoga de Varsóvia”. Nas ruínas do Gueto, grupos isolados de combatentes judeus continuaram, porém, lutando. Os últimos reduzidos grupos que restavam com vida conseguiram finalmente evadir-se, através da canalização dos esgotos, passando ao setor “ariano” de Varsóvia, no mês de setembro. Ali, foram auxiliados pelos poloneses do movimento de resistência. Na luta pereceram milhares de homens e mulheres. Os infelizes que foram capturados com vida sucumbiram, posteriormente, nos campos de extermínio.
Stroop encadernou elegantemente um álbum fotográfico da “Grande Ação”, presenteando-o a Himmler. “Aquele porco imundo e arrogante das SS, exclamaria o general Jodl em Nuremberg. “Imagine: escrever um relatório pomposo de setenta e cinco páginas sobre uma expedição de assassinato, quando importante campanha travada por soldados contra um exército bem armado ocupa apenas algumas páginas”.
A Segunda Guerra Mundial – Editora Codex, Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, 1966.
Em meados de 1941, Hitler e seus mais próximos auxiliares, resolveram levar à prática o que denominaram “solução final do problema judeu na Europa”.
No dia 31 de julho desse mesmo ano, o marechal Goering dirigiu um comunicado a Heydrich, chefe do serviço de segurança das SS (Sicherheitsdienst, ou SD), no qual o designava para “realizar todos os preparativos referentes à solução total do problema judeu nos territórios da Europa que se encontrassem sob a jurisdição da Alemanha.” Na prática, a execução dessa ordem significava a consumação de um dos crimes mais gigantescos que a Humanidade conheceu: o extermínio maciço e impiedoso de milhões de inocentes realizado em nome de descabeladas teorias raciais. A colocação em marcha da “solução final” provocou um dos episódios mais trágicos e comovedores da Segunda Guerra: o Levante do Gueto de Varsóvia.
Em 1940, as autoridades nazistas da Polônia haviam concentrado no Gueto medieval da cidade de Varsóvia, mais de 400 mil habitantes de origem judia, encerrando-os em uma estreita área de quatro quilômetros de comprimento por dois de largura, circundada por uma alta muralha. Amontoados nesse setor, esses infortunados seres foram submetidos a uma virtual condenação à morte por inanição; os víveres, de fato, davam apenas para manter vivas, em condições subumanas, a metade de população total. Milhares de homens, mulheres e crianças pereceram , assim, de fome. Para completar o extermínio, seguindo a orientação da “solução final”, os nazistas iniciaram a construção de um campo da morte em Treblinka, perto de Varsóvia, onde instalaram câmaras de gás, especialmente construídas para exterminar maciçamente os habitantes do Gueto. Himmler ordenou, em 1942, por “razões de segurança”, a evacuação da população judia para Treblinka. Mais de 300 mil judeus foram conduzidos ao campo de morte, onde a maioria foi eliminada nas camadas de gás.
Por volta de janeiro de 1943, não obstante, cerca de 60 mil judeus permaneciam ainda no Gueto de Varsóvia. Consciente do terrível destino que os aguardava, muitos deles haviam iniciado já a organização da resistência armada. Assim, em outubro de de 1942, foi criada a ZOB (Zydowska Organizacja Bojowa ou Organização Judaica de Combate). Antes de terminar o ano, a ZOB havia formado e instruído militarmente cinqüenta grupos de jovens. Tinha, também, organizado comandos de zonas em diferentes lugares do Gueto e publicava dois jornais, um em língua polonesa, o Wiadomosci (Informações) e outo em iídiche, Der Schturem (A Tempestade).
A ZOB trabalhou ativamente para incitar a população à resistência armada. Esforçou-se, também, por resgatar as crianças judias e, com ajuda dos membros da resistência polonesa conseguiu ocultar, entre janeiro de 1943 e agosto de 1944, cerca de 20 mil crianças judias.
A 11 de janeiro de 1943, Himmler visitou pessoalmente o Gueto rodeado por uma poderosa escolta armada. Tanques e caminhões com soldados fortemente municiados escoltaram a sua passagem. Himmler ordenou, após a visita, o extermínio do bairro judeu, dando um prazo de menos de um mês. A operação teria que efetuar-se antes de 15 de fevereiro. Seria iniciada, também, com a deportação de 16 mil judeus.
Tendo conhecimento dos planos germânicos, a ZOB preparou-se para resistir. Distribuíram-se volantes e cartazes murais, onde se anunciava a determinação de lutar, proclamando: “por meio da luta nos salvaremos”.
A 18 de janeiro de 1943, o chefe das SS de Varsóvia, SS-Oberführer von Sammern-Frankenegg, dispôs-se a levar a cabo a primeira batida, empregando na operação duzentos gendarmes e perto de oitocentos membros da polícia.
A ZOB não se deixou surpreender e recebeu os nazistas com disparos de armas curtas, granadas e bombas molotov. Os combatentes judeus conseguiram rechaçar os alemães. No dia seguinte, os SS voltaram ao ataque. A operação foi presenciada pelo chefe das SS e pelo chefe do campo de extermínio de Treblinka, SS-Hauptsturmführer Franz Stangl. A ZOB se lançou novamente à luta. Sua proclamação de combate começava assim:
O ocupante empreende um segundo extermínio... Defendei-vos... Empunhai uma acha, uma barra de ferro... Que vossa casa seja uma barricada...”
O chamado da ZOB encontrou eco imediato. Os judeus, acatando solidariamente o grito de combate, se lançaram à luta. A primeira granada foi lançada pela jovem Emilia Landau, que sucumbiu na batalha. Até 21 de janeiro, combateu-se furiosamente nas ruas, nas casas, nos sótãos. Nessa data, von Sammern decidiu retirar suas tropas do Gueto. A ordem de Himmler somente havia podido ser executada em parte. Apenas 6.500 judeus haviam sido apanhados pelos nazistas. A ZOB, contudo, sofrera grandes baixas. Seus efetivos haviam sido dizimados e, dos cinqüenta grupos somente restavam em ação cinco. Porém, seu sacrifício não fôra vão. Toda a população judia do Gueto estava agora disposta a combater.
Uma nova proclamação da ZOB, além disso, reafirmava a sua posição:
”Irmãos, não marcheis como ovelhas à morte! Quem subir aos vagões estará perdido para sempre! Que cada casa seja uma fortaleza!”
Essa primeira ação impressionou grandemente toda a população de Varsóvia. A disposição de luta do Gueto se transmitiria mais tarde à população não judia da capital da Polônia, no momento heróico do grande levante.
O movimento de resistência polonês se dispôs imediatamente a cooperar com os grupos que combatiam no Gueto. Distribuíram volantes que diziam: “O heroísmo da ZOB deve nos servir de exemplo...”
Grupos de guerrilheiros atacaram trens que conduziam os prisioneiros judeus rumo a Treblinka. Um dos comboios interceptados, teve libertada toda a gente que conduzia.
Sobreveio então uma pausa, enquanto os nazistas se preparavam para desferir o golpe definitivo. A ZOB, entrementes, dedicou-se a reconstituir suas fileiras e implantou entre os seus membros uma rígida disciplina militar. A população, contribuiu com seus últimos recursos para adquirir armas clandestinamente.
Os dirigentes judeus, a esta altura dos acontecimentos, preparavam já uma insurreição geral. Sabiam perfeitamente que não conseguiriam a vitória...
Para os nazistas, Varsóvia já deixara de ser uma cidade segura. O comandante da guarnição militar alemã assim se manifestou em um informe às autoridades: “A insurreição do Gueto poderia ser o começo da insurreição geral de Varsóvia, que as forças militares e policiais não conseguiriam sufocar”. Himmler, por sua vez, já decidira tomar uma resolução final. Em carta ao chefe das SS na Polônia declarava: “Exijo que me seja submetido um plano geral de destruição. É necessário que seja riscado do mapa esse espaço que ainda pode conter mais de 500 mil subumanos...”
Em cumprimento das implacáveis determinações de Himmler, foram traçados os planos para arrasar o Gueto e aniquilar-se a sua população. A missão foi encomendada ao SS-Brigadeführer Jürgen Stroop das Waffen-SS.
Dois mil homens atuariam na ação; a metade deles do Exército e das Waffen-SS, e o resto do serviço policial das SS, reforçado por milicianos lituanos e policiais poloneses colaboracionistas. Além disso, interviriam tanques, carros blindados, unidades lança-chamas e artilharia.
A ZOB também se preparou para a luta. Nas esquinas foram localizados postos de resistência, assim como nos telhados e pontos chaves. Estenderam-se pontes improvisadas entre os edifícios, para permitir a passagem dos grupos de combatentes. Com esse mesmo objetivo, foram abertos buracos nas paredes comuns das casas. Também, sob a superfície, preparou-se uma verdadeira cidade subterrânea, utilizando na sua construção as galerias e túneis já existentes, interligados por múltiplos corredores. Esse labirinto estava unido ao sistema e de esgoto e serviria como último centro de resistência.
Às vésperas da ação, na noite de 18 para 19 de abril de 1943, os germânicos rodearam o Gueto com suas tropas, tanques e canhões. A ZOB proclamou o estado de alerta e lançou um apelo:
Judeus, soou a hora da vingança! Que todos aqueles capazes de carregar uma arma se unam aos combatentes! Que os velhos e as mulheres dêem sua ajuda! Às armas!
Às seis da manhã do dia 19 as tropas nazistas irromperam no Gueto. Foram recebidas por uma chuva de balas, granadas e bombas molotov que caíam de todos os telhados e janelas. Os primeiros disparos partiram da casa nº 38 da rua Zamenhoff, onde hoje se levanta um monumento à glória dos combatentes do Gueto. Os alemães, surpreendidos pela resistência, se retiraram, abandonando na praça os mortos. Os combatentes judeus, saindo dos seus refúgios, despojaram os cadáveres de seus capacetes e armas. Stroop assumiu, então, o comando direto da operação. Iniciou-se assim uma luta sangrenta e sem quartel.
Nas fileiras dos combatentes judeus ocorreram cenas de bravura inenarráveis! No “Diário” de uma testemunha, se lê:
”Cada adolescente, cada menininha, morre hoje como um herói. Assim como aquela menina de dezesseis anos que amarrou na sua cintura granadas e garrafas incendiárias, assomou a um balcão, despejou na cabeça um líquido inflamável, ateou fogo e se arrojou sobre um tanque que passava...”.
A furiosa resistência se prolongou durante cinco dias. A 23 de abril, Himmler, enfurecido, enviou uma mensagem a Stroop, ordenando-lhe arrasar o Gueto. Posteriormente, Stroop escreveu a seguinte frase no informe enviado ao seu superior: “Eu decidi então destruir toda área judia, ateando fogo a cada edifício...”.
A terrível tática não conseguiu porém quebrar a resistência dos judeus. Com os edifícios incendiados na sua parte mais baixa, os combatentes se refugiavam nos telhados, e ali continuavam disparando. Em meio aos incêndios, a luta foi adquirindo aspectos dantescos.
A 7 de maio, os germânicos conseguiram localizar e cercar o edifício onde se achava o estado-maior da insurreição. Os principais dirigentes da ZOB estavam ali. Era um vasto refúgio localizado no número 18 da rua Mila. Os SS atacaram de todas as direções, valendo-se de gases tóxicos para expulsar os combatentes judeus de suas posições. Estes, antes de entregar-se, preferiram suicidar-se. Nos últimos instantes, um grupo descobriu uma saída que não estava controlada pelos alemães e conseguiu escapar. A maioria, porém, matou-se, com as próprias mãos.
Apesar da desaparição dos dirigentes, a resistência judia se manteve, sem decrescer em momento algum. Os alemães, valendo-se de sua esmagadora superioridade em armas e munições, foram eliminando, um por um, os bolsões onde os judeus resistiam. No dia 15 de maio, finalmente, foi dinamitado o último bloco de casas do Gueto. O SS-Brigadeführer Stroop pôde então telegrafar ao seu superior: “O bairro judeu cessou de existir”.
No dia seguinte, o chefe alemão enviou uma nova mensagem: “Ação em grande escala foi terminada às 20:15h, mediante a explosão da sinagoga de Varsóvia”. Nas ruínas do Gueto, grupos isolados de combatentes judeus continuaram, porém, lutando. Os últimos reduzidos grupos que restavam com vida conseguiram finalmente evadir-se, através da canalização dos esgotos, passando ao setor “ariano” de Varsóvia, no mês de setembro. Ali, foram auxiliados pelos poloneses do movimento de resistência. Na luta pereceram milhares de homens e mulheres. Os infelizes que foram capturados com vida sucumbiram, posteriormente, nos campos de extermínio.
Stroop encadernou elegantemente um álbum fotográfico da “Grande Ação”, presenteando-o a Himmler. “Aquele porco imundo e arrogante das SS, exclamaria o general Jodl em Nuremberg. “Imagine: escrever um relatório pomposo de setenta e cinco páginas sobre uma expedição de assassinato, quando importante campanha travada por soldados contra um exército bem armado ocupa apenas algumas páginas”.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
OS CARRASCOS NO BRASIL - Com a ajuda de autoridades, criminosos de guerra acharam refúgio no país durante o governo de Dutra.
Ana Claudia Fonseca - Revista Época, 15 de junho de 1998.
A derrota de 1945 encheu as ruas alemãs de "deslocados de guerra", pessoas que haviam perdido tudo e tentavam recomeçar a vida em outro país. O Conselho de Controle da Alemanha, criado por Estados Unidos, Inglaterra, França e URSS, decidia quem podia e quem não podia sair. Os vencedores exigiam que os candidatos a emigrar passassem pela desnazificação - investigação para determinar se haviam cooperado com o Reich. O objetivo era impedir que criminosos de guerra escapassem impunes. Apesar disso, grandes carrascos do nazismo, como Gustav Wagner, Josef Mengele e Paul Stangl, vieram parar no Brasil.
Como isso foi possível é o que a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, da Universidade de São Paulo, está começando a desvendar. No meio dos mais de 2 mil documentos que estuda, Maria Luiza achou vários que mostram como autoridades brasileiras aconselhavam os interessados no visto de saída a falsificar endereço ou profissão para ludibriar os fiscais aliados.
Há indícios de que esses nazistas contavam com a boa vontade do Itamaraty. A professora levanta a hipótese de que o próprio presidente Eurico Gaspar Dutra sabia do que se passava. "Havia na época uma circular secreta, datada de 1947, que restringia a entrada de judeus no Brasil", lembra. "Em contrapartida, existia uma missão diplomática em Berlim que não se acanhava em ludibriar a lei para facilitar o ingresso de funcionários do III Reich no país", acusa. A hipótese é endossada por outros estudos. "Tudo indica que houve facilitação da entrada de empresários nazistas no Brasil por iniciativa pessoal de Dutra", diz Marionilde Brephol Magalhães, autora do livro Pangermanismo e Nazismo - A Trajetória Alemã Rumo ao Brasil. "Como ministro da Guerra de Getúlio Vargas, Dutra já mostrava simpatia pelo nazi-fascismo", diz.
Estima-se que 3 mil alemães tenham entrado no Brasil entre 1945 e 1950. Evidentemente, nem todos eram nazistas. Para separar o joio do trigo, Maria Luiza recorre a duas fontes: os arquivos do Itamaraty, em Brasília, e do Deops, em São Paulo. A idéia é reconstituir trajetórias individuais, como a de T.K. (a historiadora pede para que os nomes não sejam revelados), ex-agente da polícia nazista. Terminada a guerra, ele resolveu fugir da Alemanha. Tentou primeiro a via clandestina - acabou preso em Sófia, Bulgária. Resolveu, então, seguir os meios legais. Foi à missão militar brasileira em Berlim - a embaixada não existia desde 1942, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha - e solicitou visto. O arquivo do Itamaraty guarda a carta em que a missão militar pede instruções sobre T.K. informando que foi agente policial nazista. Embora não tenha sido achada a resposta do ministério, o nome de T.K. aparece numa lista de pessoas que obtiveram o visto brasileiro.
O coronel Aurélio de Lyra Tavares, depois membro da junta militar que governou o Brasil após a morte de Costa e Silva até a posse de Médici, era o chefe da missão militar em Berlim. Em telegrama de 1947, ele avisa o Itamaraty que oito nazistas embarcaram no navio Santarém. Lyra alega só ter sabido disso quando o navio já estava em alto-mar. Maria Luiza duvida. "Antes de deixar o porto, só poderiam embarcar no navio as pessoas que estivessem com os documentos em dia. E só estava em dia quem não constasse das listas inglesas e americanas", diz. "Esse é mais um indício de que existia uma boa vontade do governo brasileiro para acolher essas pessoas." No mesmo ano de 1947, o general Anor Teixeira dos Santos, da missão militar brasileira, mandou telegrama ao Itamaraty sobre o alemão H.P.M., a quem a saída da Alemanha fora negada pelos aliados. O telegrama informa que H.P.M. fora incluído em lista de residentes na parte de Berlim controlada pelos ingleses e que sua liberação estava em negociação. Um ano depois, o mesmo Teixeira dos Santos manda telegrama ao ministério brasileiro intercedendo por uma brasileira filha de alemães. O general informa que lhe pedira para falsificar o endereço para que a missão militar pleiteasse sua vinda ao Brasil.
O que ainda não se pode responder inteiramente é a razão pela qual o Brasil ajudava esses nazistas. Para o historiador argentino Leonardo Senkman, que publicou um estudo comparando Dutra e Perón, o presidente brasileiro achava que técnicos e cientistas nazistas poderiam colaborar na industrialização do país. Pela mesma porta pela qual passavam técnicos que muitas vezes não tinham colaborado diretamente com os crimes de guerra, entravam também os carrascos nazistas. E eles só vieram depois que a tolerância dos brasileiros ficou conhecida. "Depois da guerra, o governo brasileiro não se mostrou disposto a caçar nazistas", explica Maria Luiza. "Eis por que eles nem se deram ao trabalho de mudar de nome, como faziam em outros países." Como Franz Stangl, comandante do campo de extermínio de Treblinka, na Polônia. Responsável pela morte de 900 mil judeus, Stangl chegou ao Brasil com a família na década de 50. Na maior parte dos 16 anos que viveu em São Paulo trabalhou como supervisor da linha de montagem da Volkswagen usando seu próprio nome, até ser descoberto, em 1967. Extraditado para a Alemanha, morreu na prisão um ano mais tarde. *
Gustav Franz Wagner, comandante do campo de Sobibor, na Polônia, onde morreram 250 mil judeus, também nunca mudou de nome. Wagner recebeu a Cruz de Ferro por sua eficiência em matar prisioneiros. Depois de entrar no Brasil com passaporte suíço, foi morar em um pequeno sítio nos arredores de Atibaia (a 69 quilômetros de São Paulo). Condenado in absentia à prisão perpétua pelo Tribunal de Nuremberg, Wagner levava uma vida calma criando animais e cultivando hortaliças. O homem alto e de olhos azuis, cujo hobby era pintar paisagens, traiu-se ao comparecer ao Deops de São Paulo em 1978 para desmentir notícia de que participara de uma festa em homenagem a Hitler. Na mesma hora foi detido e depois transferido para uma clínica psiquiátrica paulista. Após ser libertado, voltou ao sítio. Menos de dois anos depois, matou-se.
Josef Mengele, o Anjo da Morte, médico que fazia experiências com seres humanos nos campos de concentração, morreu tranqüilo no Brasil, no final da década de 70. Como ele, vários criminosos de guerra nazistas encontraram abrigo no Brasil. O estudo de Maria Luiza deve mostrar de que forma eles conseguiram entrar no país.
__________________________
*: De lá pra cá, parece que os juristas brasileiros descobriram - não sei como, talvez, efetuando alguma escavação arqueológica, em algum santuário perdido do Direito - que, extraditar bandidos condenados a penas maiores de que 30 anos de gancho "não está de acordo com as mais autênticas tradições jurídicas do Brasil".
Sorte nossa que já não existem mais grandes criminosos de guerra nazistas vivos. Já pensaram o mico se descobrissem Adolf Hitler, ainda vivo, em algum barraco, no alto do Morro do Alemão? O Brasil ia se negar a extraditá-lo se o país que solicitasse tal coisa tivesse ou pena de morte, ou pena perpétua.
Ana Claudia Fonseca - Revista Época, 15 de junho de 1998.
A derrota de 1945 encheu as ruas alemãs de "deslocados de guerra", pessoas que haviam perdido tudo e tentavam recomeçar a vida em outro país. O Conselho de Controle da Alemanha, criado por Estados Unidos, Inglaterra, França e URSS, decidia quem podia e quem não podia sair. Os vencedores exigiam que os candidatos a emigrar passassem pela desnazificação - investigação para determinar se haviam cooperado com o Reich. O objetivo era impedir que criminosos de guerra escapassem impunes. Apesar disso, grandes carrascos do nazismo, como Gustav Wagner, Josef Mengele e Paul Stangl, vieram parar no Brasil.
Como isso foi possível é o que a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, da Universidade de São Paulo, está começando a desvendar. No meio dos mais de 2 mil documentos que estuda, Maria Luiza achou vários que mostram como autoridades brasileiras aconselhavam os interessados no visto de saída a falsificar endereço ou profissão para ludibriar os fiscais aliados.
Há indícios de que esses nazistas contavam com a boa vontade do Itamaraty. A professora levanta a hipótese de que o próprio presidente Eurico Gaspar Dutra sabia do que se passava. "Havia na época uma circular secreta, datada de 1947, que restringia a entrada de judeus no Brasil", lembra. "Em contrapartida, existia uma missão diplomática em Berlim que não se acanhava em ludibriar a lei para facilitar o ingresso de funcionários do III Reich no país", acusa. A hipótese é endossada por outros estudos. "Tudo indica que houve facilitação da entrada de empresários nazistas no Brasil por iniciativa pessoal de Dutra", diz Marionilde Brephol Magalhães, autora do livro Pangermanismo e Nazismo - A Trajetória Alemã Rumo ao Brasil. "Como ministro da Guerra de Getúlio Vargas, Dutra já mostrava simpatia pelo nazi-fascismo", diz.
Estima-se que 3 mil alemães tenham entrado no Brasil entre 1945 e 1950. Evidentemente, nem todos eram nazistas. Para separar o joio do trigo, Maria Luiza recorre a duas fontes: os arquivos do Itamaraty, em Brasília, e do Deops, em São Paulo. A idéia é reconstituir trajetórias individuais, como a de T.K. (a historiadora pede para que os nomes não sejam revelados), ex-agente da polícia nazista. Terminada a guerra, ele resolveu fugir da Alemanha. Tentou primeiro a via clandestina - acabou preso em Sófia, Bulgária. Resolveu, então, seguir os meios legais. Foi à missão militar brasileira em Berlim - a embaixada não existia desde 1942, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha - e solicitou visto. O arquivo do Itamaraty guarda a carta em que a missão militar pede instruções sobre T.K. informando que foi agente policial nazista. Embora não tenha sido achada a resposta do ministério, o nome de T.K. aparece numa lista de pessoas que obtiveram o visto brasileiro.
O coronel Aurélio de Lyra Tavares, depois membro da junta militar que governou o Brasil após a morte de Costa e Silva até a posse de Médici, era o chefe da missão militar em Berlim. Em telegrama de 1947, ele avisa o Itamaraty que oito nazistas embarcaram no navio Santarém. Lyra alega só ter sabido disso quando o navio já estava em alto-mar. Maria Luiza duvida. "Antes de deixar o porto, só poderiam embarcar no navio as pessoas que estivessem com os documentos em dia. E só estava em dia quem não constasse das listas inglesas e americanas", diz. "Esse é mais um indício de que existia uma boa vontade do governo brasileiro para acolher essas pessoas." No mesmo ano de 1947, o general Anor Teixeira dos Santos, da missão militar brasileira, mandou telegrama ao Itamaraty sobre o alemão H.P.M., a quem a saída da Alemanha fora negada pelos aliados. O telegrama informa que H.P.M. fora incluído em lista de residentes na parte de Berlim controlada pelos ingleses e que sua liberação estava em negociação. Um ano depois, o mesmo Teixeira dos Santos manda telegrama ao ministério brasileiro intercedendo por uma brasileira filha de alemães. O general informa que lhe pedira para falsificar o endereço para que a missão militar pleiteasse sua vinda ao Brasil.
O que ainda não se pode responder inteiramente é a razão pela qual o Brasil ajudava esses nazistas. Para o historiador argentino Leonardo Senkman, que publicou um estudo comparando Dutra e Perón, o presidente brasileiro achava que técnicos e cientistas nazistas poderiam colaborar na industrialização do país. Pela mesma porta pela qual passavam técnicos que muitas vezes não tinham colaborado diretamente com os crimes de guerra, entravam também os carrascos nazistas. E eles só vieram depois que a tolerância dos brasileiros ficou conhecida. "Depois da guerra, o governo brasileiro não se mostrou disposto a caçar nazistas", explica Maria Luiza. "Eis por que eles nem se deram ao trabalho de mudar de nome, como faziam em outros países." Como Franz Stangl, comandante do campo de extermínio de Treblinka, na Polônia. Responsável pela morte de 900 mil judeus, Stangl chegou ao Brasil com a família na década de 50. Na maior parte dos 16 anos que viveu em São Paulo trabalhou como supervisor da linha de montagem da Volkswagen usando seu próprio nome, até ser descoberto, em 1967. Extraditado para a Alemanha, morreu na prisão um ano mais tarde. *
Gustav Franz Wagner, comandante do campo de Sobibor, na Polônia, onde morreram 250 mil judeus, também nunca mudou de nome. Wagner recebeu a Cruz de Ferro por sua eficiência em matar prisioneiros. Depois de entrar no Brasil com passaporte suíço, foi morar em um pequeno sítio nos arredores de Atibaia (a 69 quilômetros de São Paulo). Condenado in absentia à prisão perpétua pelo Tribunal de Nuremberg, Wagner levava uma vida calma criando animais e cultivando hortaliças. O homem alto e de olhos azuis, cujo hobby era pintar paisagens, traiu-se ao comparecer ao Deops de São Paulo em 1978 para desmentir notícia de que participara de uma festa em homenagem a Hitler. Na mesma hora foi detido e depois transferido para uma clínica psiquiátrica paulista. Após ser libertado, voltou ao sítio. Menos de dois anos depois, matou-se.
Josef Mengele, o Anjo da Morte, médico que fazia experiências com seres humanos nos campos de concentração, morreu tranqüilo no Brasil, no final da década de 70. Como ele, vários criminosos de guerra nazistas encontraram abrigo no Brasil. O estudo de Maria Luiza deve mostrar de que forma eles conseguiram entrar no país.
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*: De lá pra cá, parece que os juristas brasileiros descobriram - não sei como, talvez, efetuando alguma escavação arqueológica, em algum santuário perdido do Direito - que, extraditar bandidos condenados a penas maiores de que 30 anos de gancho "não está de acordo com as mais autênticas tradições jurídicas do Brasil".
Sorte nossa que já não existem mais grandes criminosos de guerra nazistas vivos. Já pensaram o mico se descobrissem Adolf Hitler, ainda vivo, em algum barraco, no alto do Morro do Alemão? O Brasil ia se negar a extraditá-lo se o país que solicitasse tal coisa tivesse ou pena de morte, ou pena perpétua.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
http://colunistas.ig.com.br/mauriciosty ... %e2%80%9d/
filme sobre o massacre de 15 mil oficiais poloneses pelos russos na ww2
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o amor é lindo
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
ALEMÃES NEGROS, VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO.
Por A. Tolbert, III – http://www.black-history-month.co.uk/ar ... ctims.html
Muito de nossa história se perdeu para nós, porque, com freqüência, não escrevemos os livros de história, não filmamos os documentários, ou não passamos os relatos, de geração para geração. Um documentário agora sendo exibido no circuito de festival de cinema, nos incitando a “Sempre Lembrarmos” é “Black Survivors of the Holocaust”. Fora dos Estados Unidos, o filme é intitulado “Hitler’s Forgotten Victims” (Afro-Wisdom Productions). Ele codifica uma outra dimensão para “Nunca Esquecer” a história do Holocausto – a nossa dimensão.
Você sabia que, nos anos 1920, existiam 24 mil negros vivendo na Alemanha? Nem eu. Aqui está como isso aconteceu, e como muitos deles foram, eventualmente, pegos, desprevenidos, pelos eventos do Holocausto.
Semelhante a maioria das nações da Europa ocidental, a Alemanha estabeleceu colônias na África, no final dos anos 1800, no que mais tarde se tornou o Togo, Camarões, Namíbia e Tanzânia. As experiências genéticas alemãs começaram lá, a maioria envolvendo prisioneiros feitos durante o Massacre de Herero em 1904, que deixou 60 mil africanos mortos, seguindo-se a uma revolta de quatro anos contra a colonização alemã. Após a decisiva derrota da Alemanha na Grande Guerra, ela foi privada de todas as suas colônias africanas, em 1918.
Como espólio de guerra, os franceses tiveram permissão para ocuparem a Renânia alemã – um amargo pedaço de chão que foi e voltou entre as duas nações, durante séculos. Os franceses, deliberadamente, desdobraram seus próprios soldados coloniais africanos, como força de ocupação. Os alemães contemplaram isto como o insulto final da Grande Guerra, e, logo após isto, 92 porcento deles votaram no Partido Nazista.
Centenas de soldados africanos, baseados na Renânia, relacionaram-se com mulheres alemãs e criaram seus filhos como alemães negros. No “Mein Kampf”, Hitler escreveu sobre seus planos para estes “bastardos renanos”. Quando chegou ao poder, uma de suas primeiras diretrizes visava estas crianças mestiças. Sublinhando a obsessão de Hitler com a pureza racial, em 1937, cada criança identificada como mestiça na Renânia tinha sido esterilizada, à força, de modo a impedir posterior “poluição da raça”, como Hitler denominava isto.
Hans Hauck, um sobrevivente negro do Holocausto, e uma vítima do programa de esterilização compulsória de Hitler, explicou, no filme que, ao ser forçado a passar por esterilização, quando adolescente, ele não recebeu nenhuma anestesia. Uma vez tendo recebido seu certificado de esterilizado, ele estava “livre para sair”, contanto que concordasse em não manter relação sexual alguma com qualquer alemã.
Embora a maioria dos alemães negros tentasse escapar de sua pátria, rumando para a França, onde pessoas como Josephine Baker estavam, firmemente, apoiando o movimento subterrâneo francês, muitos ainda encontravam problemas alhures. Nações que fechavam suas portas para os alemães, incluindo os negros. Alguns negros alemães foram capazes de subsistir durante o reino de terror de Hitler, atuando em exibições de teatro de variedades, porém, muitos negros, firmes na crença de que eram alemães primeiro e negros em segundo, optaram por permanecer na Alemanha. Alguns lutaram do lado nazista (uns poucos, até mesmo, tornando-se pilotos da Luftwaffe! 1)
Infelizmente, muitos negros alemães foram detidos, acusados de traição, e embarcados em vagões de gado para campos de concentração. Com freqüência, estes trens estavam tão abarrotados de gente (sem instalações sanitárias ou alimentares), que, após a jornada de quatro dias, as portas eram abertas, encontrando-se pilhas de mortos e moribundos. Uma vez no interior dos campos de concentração, aos negros eram confiados os piores trabalhos concebíveis. Alguns soldados negros americanos, que foram capturados e mantidos com prisioneiros de guerra, relembram que, embora sendo esfomeados o obrigados a trabalhos perigosos (em violação da Convenção de Genebra), eles ainda eram melhor tratados do que os negros alemães, detidos nos campos, que eram forçados ao impensável – operar os crematórios e trabalhar em laboratórios nos quais experimentos genéticos eram conduzidos. Como sacrifício final, estes negros eram mortos, a cada três meses, para que nunca pudessem ser capazes de revelarem o funcionamento interno da “Solução Final”.
Em toda a história da opressão dos negros, não importo como fôssemos escravizados, acorrentados ou espancados, sempre encontramos um meio de sobreviver e de resgatar outros. Como no caso em questão, considere Johnny Voste, um combatente da Resistência belga, que foi detido em 1942, por alegada sabotagem, e, então, embarcado para Dachau. Um de seus trabalhos era armazenar caixas de vitaminas. Arriscando a própria vida, ele distribuiu centenas de vitaminas aos detidos no campo, que salvaram as vidas de muitos esfomeados, fracos e em más-condições, exacerbadas por extremas deficiências vitamínicas. Seu lema era, “Não, você não vai tirar minha vida; eu vou lutar por ela.”
De acordo com Delroy Constantine-Simms da Universidade de Essex, existiram alemães negros que resistiram aos nazistas, tais como Lari Gilges, que fundou o Rann Noroeste – uma organização de entretenimento que combateu os nazistas em sua cidade natal de Dusseldorf – e que foi assassinados pelos SS, em 1933, o ano em que Hitler chegou ao poder.
Pouca informação resta sobre o número de alemães negros mantidos nos campos ou mortos sob o regime nazista. Algumas vítimas do projeto de esterilização nazista e sobreviventes negros do Holocausto, ainda estão vivos e contando a história deles, em filmes tais como “Black Survivors of the Nazi Holocaust”, mas eles devem falar, também por justiça, não apenas por história.
Ao contrário dos judeus (em Israel e na Alemanha), os alemães negros não receberam nenhuma reparação de guerra, devido a sua cidadania alemã ter sido revogada (mesmo embora, eles fossem alemães natos). A única pensão que eles conseguiram foi daqueles como nós que estão desejosos de contar ao mundo a história deles, e continuar sua batalha por reconhecimento e compensação.
Após a guerra, vários negros que, de alguma forma, conseguiram sobreviver ao regime nazista, foram arrebanhados e julgados como criminosos de guerra. E ainda falavam de insulto final! Há milhares de histórias do Holocausto negro, do comércio triangular [de escravos], até a escravidão na América, chegando aos fornos crematórios na Alemanha. Com freqüência, nos esquivamos de ouvir sobre nosso passado histórico, porque muito dele é doloroso; entretanto, nós estamos nesta luta por direitos, dignidade, e, sim, reparações pelos erros cometidos contra nós, através dos séculos. Nós precisamos, sempre, nos lembrar de forma que possamos tomar medidas para que tais atrocidades nunca aconteçam novamento.
Para mais informação, leia, “Destined to Witness: Growing Up Black in Nazi Germany”, por Hans J. Massaquoi.
(De acordo com a pessoa que publicou a foto, a mulher é uma mestiça - no Brasil, diríamos “mulata” - alemã casada com o militar da foto. O garoto é filho de vizinhos, não deles. O homem da foto é – salvo erro meu – um Unteroffizier - equivalente a 3º sargento -; é um veterano de combate, altamente condecorado. Se não estou equivocado – afinal, não sou especialista em fardamentos alemães – ele usa a fita da Cruz de Ferro de 2ª Classe no segundo botão; e, no bolso esquerdo, o Distintivo de Assalto de Infantaria, concedido a um infante que participasse, no mínimo, de três assaltos diretos contra o inimigo, em ocasiões diferentes; ao lado dele, a insígnia escura poderia ser uma das classes de Distintivo de Ferimento em Combate).
____________________________________
1 : Pessoal estudioso do assunto, diz que isto não corresponde a verdade. Se houvesse um só piloto alemão negro, nem que fosse de teco-teco, na Segunda Guerra, isso seria amplamente conhecido. Alguns dizem que o autor ouviu a designação, “os negros da Luftwaffe” (em alemão, é claro) e não tomou ciência de que isto se refere aos mecânicos de terra da força aérea. Uma referência ao trabalho duro desse pessoal, tipo “trabalho escravo”.
Isso é o que se diz...
Por A. Tolbert, III – http://www.black-history-month.co.uk/ar ... ctims.html
Muito de nossa história se perdeu para nós, porque, com freqüência, não escrevemos os livros de história, não filmamos os documentários, ou não passamos os relatos, de geração para geração. Um documentário agora sendo exibido no circuito de festival de cinema, nos incitando a “Sempre Lembrarmos” é “Black Survivors of the Holocaust”. Fora dos Estados Unidos, o filme é intitulado “Hitler’s Forgotten Victims” (Afro-Wisdom Productions). Ele codifica uma outra dimensão para “Nunca Esquecer” a história do Holocausto – a nossa dimensão.
Você sabia que, nos anos 1920, existiam 24 mil negros vivendo na Alemanha? Nem eu. Aqui está como isso aconteceu, e como muitos deles foram, eventualmente, pegos, desprevenidos, pelos eventos do Holocausto.
Semelhante a maioria das nações da Europa ocidental, a Alemanha estabeleceu colônias na África, no final dos anos 1800, no que mais tarde se tornou o Togo, Camarões, Namíbia e Tanzânia. As experiências genéticas alemãs começaram lá, a maioria envolvendo prisioneiros feitos durante o Massacre de Herero em 1904, que deixou 60 mil africanos mortos, seguindo-se a uma revolta de quatro anos contra a colonização alemã. Após a decisiva derrota da Alemanha na Grande Guerra, ela foi privada de todas as suas colônias africanas, em 1918.
Como espólio de guerra, os franceses tiveram permissão para ocuparem a Renânia alemã – um amargo pedaço de chão que foi e voltou entre as duas nações, durante séculos. Os franceses, deliberadamente, desdobraram seus próprios soldados coloniais africanos, como força de ocupação. Os alemães contemplaram isto como o insulto final da Grande Guerra, e, logo após isto, 92 porcento deles votaram no Partido Nazista.
Centenas de soldados africanos, baseados na Renânia, relacionaram-se com mulheres alemãs e criaram seus filhos como alemães negros. No “Mein Kampf”, Hitler escreveu sobre seus planos para estes “bastardos renanos”. Quando chegou ao poder, uma de suas primeiras diretrizes visava estas crianças mestiças. Sublinhando a obsessão de Hitler com a pureza racial, em 1937, cada criança identificada como mestiça na Renânia tinha sido esterilizada, à força, de modo a impedir posterior “poluição da raça”, como Hitler denominava isto.
Hans Hauck, um sobrevivente negro do Holocausto, e uma vítima do programa de esterilização compulsória de Hitler, explicou, no filme que, ao ser forçado a passar por esterilização, quando adolescente, ele não recebeu nenhuma anestesia. Uma vez tendo recebido seu certificado de esterilizado, ele estava “livre para sair”, contanto que concordasse em não manter relação sexual alguma com qualquer alemã.
Embora a maioria dos alemães negros tentasse escapar de sua pátria, rumando para a França, onde pessoas como Josephine Baker estavam, firmemente, apoiando o movimento subterrâneo francês, muitos ainda encontravam problemas alhures. Nações que fechavam suas portas para os alemães, incluindo os negros. Alguns negros alemães foram capazes de subsistir durante o reino de terror de Hitler, atuando em exibições de teatro de variedades, porém, muitos negros, firmes na crença de que eram alemães primeiro e negros em segundo, optaram por permanecer na Alemanha. Alguns lutaram do lado nazista (uns poucos, até mesmo, tornando-se pilotos da Luftwaffe! 1)
Infelizmente, muitos negros alemães foram detidos, acusados de traição, e embarcados em vagões de gado para campos de concentração. Com freqüência, estes trens estavam tão abarrotados de gente (sem instalações sanitárias ou alimentares), que, após a jornada de quatro dias, as portas eram abertas, encontrando-se pilhas de mortos e moribundos. Uma vez no interior dos campos de concentração, aos negros eram confiados os piores trabalhos concebíveis. Alguns soldados negros americanos, que foram capturados e mantidos com prisioneiros de guerra, relembram que, embora sendo esfomeados o obrigados a trabalhos perigosos (em violação da Convenção de Genebra), eles ainda eram melhor tratados do que os negros alemães, detidos nos campos, que eram forçados ao impensável – operar os crematórios e trabalhar em laboratórios nos quais experimentos genéticos eram conduzidos. Como sacrifício final, estes negros eram mortos, a cada três meses, para que nunca pudessem ser capazes de revelarem o funcionamento interno da “Solução Final”.
Em toda a história da opressão dos negros, não importo como fôssemos escravizados, acorrentados ou espancados, sempre encontramos um meio de sobreviver e de resgatar outros. Como no caso em questão, considere Johnny Voste, um combatente da Resistência belga, que foi detido em 1942, por alegada sabotagem, e, então, embarcado para Dachau. Um de seus trabalhos era armazenar caixas de vitaminas. Arriscando a própria vida, ele distribuiu centenas de vitaminas aos detidos no campo, que salvaram as vidas de muitos esfomeados, fracos e em más-condições, exacerbadas por extremas deficiências vitamínicas. Seu lema era, “Não, você não vai tirar minha vida; eu vou lutar por ela.”
De acordo com Delroy Constantine-Simms da Universidade de Essex, existiram alemães negros que resistiram aos nazistas, tais como Lari Gilges, que fundou o Rann Noroeste – uma organização de entretenimento que combateu os nazistas em sua cidade natal de Dusseldorf – e que foi assassinados pelos SS, em 1933, o ano em que Hitler chegou ao poder.
Pouca informação resta sobre o número de alemães negros mantidos nos campos ou mortos sob o regime nazista. Algumas vítimas do projeto de esterilização nazista e sobreviventes negros do Holocausto, ainda estão vivos e contando a história deles, em filmes tais como “Black Survivors of the Nazi Holocaust”, mas eles devem falar, também por justiça, não apenas por história.
Ao contrário dos judeus (em Israel e na Alemanha), os alemães negros não receberam nenhuma reparação de guerra, devido a sua cidadania alemã ter sido revogada (mesmo embora, eles fossem alemães natos). A única pensão que eles conseguiram foi daqueles como nós que estão desejosos de contar ao mundo a história deles, e continuar sua batalha por reconhecimento e compensação.
Após a guerra, vários negros que, de alguma forma, conseguiram sobreviver ao regime nazista, foram arrebanhados e julgados como criminosos de guerra. E ainda falavam de insulto final! Há milhares de histórias do Holocausto negro, do comércio triangular [de escravos], até a escravidão na América, chegando aos fornos crematórios na Alemanha. Com freqüência, nos esquivamos de ouvir sobre nosso passado histórico, porque muito dele é doloroso; entretanto, nós estamos nesta luta por direitos, dignidade, e, sim, reparações pelos erros cometidos contra nós, através dos séculos. Nós precisamos, sempre, nos lembrar de forma que possamos tomar medidas para que tais atrocidades nunca aconteçam novamento.
Para mais informação, leia, “Destined to Witness: Growing Up Black in Nazi Germany”, por Hans J. Massaquoi.
(De acordo com a pessoa que publicou a foto, a mulher é uma mestiça - no Brasil, diríamos “mulata” - alemã casada com o militar da foto. O garoto é filho de vizinhos, não deles. O homem da foto é – salvo erro meu – um Unteroffizier - equivalente a 3º sargento -; é um veterano de combate, altamente condecorado. Se não estou equivocado – afinal, não sou especialista em fardamentos alemães – ele usa a fita da Cruz de Ferro de 2ª Classe no segundo botão; e, no bolso esquerdo, o Distintivo de Assalto de Infantaria, concedido a um infante que participasse, no mínimo, de três assaltos diretos contra o inimigo, em ocasiões diferentes; ao lado dele, a insígnia escura poderia ser uma das classes de Distintivo de Ferimento em Combate).
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1 : Pessoal estudioso do assunto, diz que isto não corresponde a verdade. Se houvesse um só piloto alemão negro, nem que fosse de teco-teco, na Segunda Guerra, isso seria amplamente conhecido. Alguns dizem que o autor ouviu a designação, “os negros da Luftwaffe” (em alemão, é claro) e não tomou ciência de que isto se refere aos mecânicos de terra da força aérea. Uma referência ao trabalho duro desse pessoal, tipo “trabalho escravo”.
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- Clermont
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
OTTO SKORZENY - "O COMANDO DE ÁREA DE RETAGUARDA".
(* ou como uma cara de mau; uma roupinha sinistra, amigos nos lugares certos e uma boa máquina de propaganda, transformam qualquer um em super-soldado by Clermont).
A VERDADEIRA FÉ-DE-OFÍCIO DO "COMANDO EXTRAORDINÁRIO" DAS SS.
O papel de Otto Skorzeny na Operação OAK (o resgate de Mussolini) tem sido distorcido pelos duradouros restos da propaganda nazista e pelas memórias do própio Skorzeny, que ele utilizou para reforçar sua imagem como "o homem mais perigoso da Europa". De fato, antes da Operação OAK, Skorzeny era um obscuro oficial SS que, durante a maior parte da guerra, ficou sentado "na retaguarda com a carga", como dizem.
Nascido em Viena, em 1908, sua família era, suficientemente bem-colocada para que ele cursasse a Universidade de Viena, de onde se graduou em engenharia, em 1931. Enquanto na universidade, ele se tornou ativo na política de direita e ingressou no partido nazista austríaco. Ele casou após a graduação e, mais tarde, afirmou ter passado sua lua-de-mel na região de Abruzzi, na Itália, próximo ao Gran Sasso. Após seis anos em pequenos negócios de engenharia, em Viena, Skorzeny se envolveu no Anschluss austríaco de 1938 e, em suas memórias, deu declarações bombásticas sobre seu suposto papel-chave. No começo da Segunda Guerra Mundial, Skorzeny, imediatamente, voluntariou-se para serviço na Luftwaffe, irrealisticamente, esperando ser comissionado como piloto, mas, ao invés, servindo como um Flieger (praça) comum, no Regimento de Recompletamento de Comunicações da Luftwaffe, em Viena, até 31 de janeiro de 1940.
Desapontado com a Luftwaffe, Skorzeny utilizou algumas de suas conexões com o partido nazista para obter transferência para as Waffen-SS, em fevereiro de 1940, onde serviu três meses como um SS-Schütze (praça) no 2º Batalhão de Recompletamento de Reserva do SS-Leibstandarte, em Berlim-Lichterfelde. Em 1º de maio de 1940, Skorzeny foi promovido à SS-Unterscharführer (sargento) e transferido para o regimento de artilharia na Divisão SS-Reich.
Skorzeny continou a trabalhar com seus contados no partido nazista e, em 30 de janeiro de 1941, ele foi, finalmente, promovido a SS-Untersturmführer (tenente) da Reserva-SS e designado como oficial-técnico para o II Batalhão do regimento de artilharia da Divisão Reich. Ele serviu durante a invasão da Iugoslávia, em abril de 1941, e declarou ter capturado, sozinho, certo número de soldados iugoslavos (o que não é corroborado em seus registros das SS). Logo após, Skorzeny foi promovido a SS-Obersturmführer e continuou a servir com a Divisão-SS Reich nos estágios iniciais da Operação BARBAROSSA, embora ele ainda estivesse, primordialmente, envolvido com a supervisão do reparo de viaturas. Ele foi condecorado com a Cruz de Ferro de 2ª Classe, em 26 de agosto de 1941, pela recuperação de viaturas durante a luta na cabeça de ponte de Yelnya. Algum tempo depois, após o fracasso da Operação TYPHOON, em dezembro de 1941, Skorzeny adoeceu com cólica estomacal - uma ocorrência comum para soldados alemães, durante o primeiro inverno na Frente Russa - e foi evacuado para a Alemanha, em janeiro de 1942. Embora alguns relatos, pobres em pesquisas, sugiram que Skorzeny foi gravemente ferido por fogo de artilharia soviético, seus registros das SS não indicam quaisquer condecorações por ferimentos nesta época e, até mesmo ele, cita cólicas em suas memórias.
Após se recuperar, Skorzeny foi designado para o Batalhão de Recompletamento de Viaturas SS, em Weimar-Buchenwald, onde ele passou os próximos oito meses como instrutor de reparo de viaturas. Normalmente, oficiais feridos ou doentes, retornam para suas divisões enquadrantes e o fato de que Skorzeny não retornou, indica que sua falta não era sentida. Na verdade, ele já tinha adquirido uma reputação de soldado de pobre disciplina e boquirroto. Ele, realmente, nunca perdeu seus maneirismos de mesa de bar que o haviam tornado caro aos camaradas do partido nazista austríaco, mas que pegavam mal para um oficial profissional. Em novembro de 1942, Skorzeny foi transferido para o recém-formado regimento Panzer da Divisão SS-Totenkopf, onde passou os quatro meses seguintes aprontando suas viaturas, mas, então, foi enviado de volta para sua velha vaga de instrutor.
Enquanto a Wehrmacht estava lutando, desesperadamente, na Rússia, em 1942-43, Skorzenty passou muito deste tempo nos cafés de Berlim, associando-se com outros nazistas. Seus esforços renderam dividendos quando seu velho amigo, Ernst Kaltenbrunner (o antigo cabeça do partido nazista austríaco) foi promovido a chefe do SS-Reichssicherheitshauptamt (RSHA, ou Departamento Central de Segurança do Estado), no início de 1943. Kaltenbrunner arranjou para que fosse oferecido a Skorzeny um comando no Amt VI do SD. Em 28 de abril de 1943, Skorzeny foi promovido a SS-Hauptsturmführer (capitão) e transferido para assumir o comando da Unidade de Treinamento Especial SS-Oranienburg. Ele passou por um curso básico do Abwehr sobre espionagem, mas não recebeu adestramento pára-quedista ou qualquer outro treinamento de combate. Embora Skorzeny, mais tarde, afirmasse ter estudado "intensamente" os métodos dos comandos britânicos, durante o verão de 1943, ele, realmente, passou mais tempo em confraternizações. Na verdade, seu estado-maior teve dificuldades para rastreá-lo quando veio o chamado durante o horário de serviço, em 26 de julho de 1943, para que ele se apresentasse, diretamente, no quartel-general do Führer - de fato, Skorzeny estava em roupas civis, bebericando com alguns comparsas nazistas na Kurfürstendamm.
Skorzeny foi selecionado devido a suas conexões partidárias, apesar de sua experiência de combate muito limitada. Ele via o comando de Friedenthal como chance para obter promoção, ganhar algum reconhecimento de seus superiores e ser seu próprio chefe, não para conduzir missões de alto-risco, suicidas. Depois da incursão do Gran Sasso, a reputação de Skorzeny como o "comando extraordinário" foi criada pelos propagandistas das SS, para ajudar a reforçar a posição de Himmler na hierarquia nazista. Uma vez que os Brandenburgers (tropa de operações especiais das Forças Armadas alemãs, que serviam sob ordens diretas do serviço de inteligência militar alemão) foram reduzidos a uma função convencional, em 1944, Skorzeny herdou, de suas fileiras, um certo número de habilidosos soldados de forças especiais, tais como o barão Adrian von Fölkersam, a quem Skorzeny tornou seu ajudante e oficial de operações de fato, aliviando-se do ônus de, realmente, controlar uma unidade militar.
Entretanto, o registro de Skorzeny após o Gran Sasso, foi, principalmente, de fracassos, não de sucessos. Complôs para seqüestrar o general De Gaulle ou para assassinar os Três Grandes, na Conferência de Teerã, deram em nada, e o esforço para capturar ou matar Tito, resultou na virtual destruição do 500º Batalhão de Pára-quedistas SS. Na verdade, o único sucesso de Skorzeny, depois da Itália, foi a Operação PANZERFAUST, em 15-16 de outubro de 1944, na qual ele seqüestrou o filho do regente húngaro e com uma coluna blindada alemã, abriu, blefando, o seu caminho até a cidadela de Budapeste. O golpe de Skorzeny, embora ousado, foi taticamente amadorístico e rude, e, apesar de mínima resistência húngara, exigiu a crucial assistência de outras unidades da Wehrmacht - com as quais ele não compartilhou o crédito. Por este golpe em Budapeste, Skorzeny foi condecorado com a Deutsches Kreuz em ouro (DkiG) e promovido a SS-Obersturmbannführer (tenente-coronel).
Após Budapeste, tudo foi ladeira abaixo para Skorzeny e suas forças especiais SS. O papel não-convencional de sua unidade na ofensiva das Ardenas de dezembro de 1944, Operação GREIF, brevemente, provocou confusão por trás das linhas americanas, mas falhou em obter seus objetivos e a maioria das equipes de reconhecimento foram capturadas. O restante do Kampfgruppe de valor-regimento reforçado de Skorzeny, apelidado 150ª Brigada Panzer, foi, então, empenhado como unidade convencional, no setor de Malmedy. Skorzeny não tinha a mínima idéia de como montar um ataque de valor-brigada e sua unidade foi rechaçada pela 30ª Divisão de Infantaria americana, com pesadas baixas. Quando ele foi, ligeiramente, ferido por estilhaços do fogo de artilharia americano, Skorzeny afirmou que Hitler tinha dado ordens para que ele não arriscasse a ser capturado, e entregou o comando da brigada para seus subordinados, retornando para Berlim.
Pelo início de 1945, a Alemanha não tinha mais os meios para conduzr operações especiais e quando Himmler assumiu o comando do Grupo de Exércitos do Vístula, em janeiro de 1945, ele ordenou que Skorzeny pegasse suas tropas remanescentes e estabelecesse uma cabeça de ponte na vila de Schwedt sobre o Oder. Skorzeny, agora um SS-Standartenführer (coronel), ajuntou um Kampfgruppe improvisado de valor-divisão, composto por remanescentes SS, Volksgrenadier e da Luftwaffe, para manter a localidade. Não foi feita nenhuma grande tentativa para tomar a vila e Skorzeny alienou Himmler (que nunca gostou dele), sendo exonerado do comando em 28 de fevereiro de 1945. Retornando para Berlim, Skorzeny recebeu ordens, em meados de março, para organizar ataques de homens-rãs, sobre a recém-capturada Ponte Ludendorff, em Remagen, que não deram em nada. Apesar deste registro de fracassos, Hitler admirava Skorzeny por sua lealdade à causa nazista e o condecorou com as Folhas de Carvalho para sua Cruz de Cavaleiro (Ritterkreuz) em 9 de abril de 1945, por seu papel em Schwedt. Apesar disso, Skorzeny não era tão leal que desejasse permanecer com Hitler, em Berlim, até o fim, e afirmou ter sido enviado para a Bavária para ajudar a organizar as operações partisan dos Werwolf (Lobisomens de Hitler), apesar do fato de que o Reichsführer-SS já tinha decidido cancelar este programa. Skorzeny teve sucesso em abrir caminho para fora da condenada Berlim, e rumou para o sul com seu velho confrade, Karl Radl. Abandonando seus homens, Skorzeny e Radl passaram o último mês da guerra, num aconchegante chalé de montanha na Bavária, e, então, renderam-se, calmamente, aos americanos.
Skorzeny foi uma pobreza como soldado, mas foi um ardoroso nazista e esta lealdade política contou muito mais do que capacidade profissional. Ele também era um consumado e desavergonhado mentiroso, confortável em se apropriar dos feitos de outros ou jogar neles a culpa pelo fracasso. Também é significativo que os únicos sucessos operacionais de Skorzeny foram obtidos contra antigos aliados que ofereceram pouca ou nenhuma resistência, antes do que contra inimigos bem-armados. Após a guerra, Skorzeny continuou a divulgar os mesmos exageros e falsidades, que irritavam seus pares do tempo da guerra mas que, freqüentemente, foram aceitos por jornalistas estrangeiros como fatos.
O GRUPO SS-FRIEDENTHAL.
Na política bizantina do Terceiro Reich, as SS - que já controlavam a inteligência interna, por meio da Gestapo (Polícia Secreta do Estado alemão) e do SD (Serviço de Segurança das SS e do Partido Nazista) - de há muito procuravam por um meio de assumir a função de inteligência externa do Abwehr (Serviço de Inteligência das Forças Armadas alemãs), controlado pelo almirante Wilhelm Canaris. Um dos poucos golpes do Abwehr tinha sido a criação do Regimento Brandenburg, em 1939. Após presenciar os Brandenburgers conquistarem renome, durante 1940-42, Himmler estava ansioso para desenvolver uma unidade similar para suas SS.
No início de 1942, o chefe de estado-maior de Himmler, SS-Gruppenführer Hans Jüttner, ordenou o estabelecimento de um "curso especial de treinamento" nos quartéis das SS de Oranienburg (que eram adjacentes ao campo de concentração de Sachsenhausen), cerca de 30 quilômetros ao norte de Berlim. A unidade, originariamente consistindo de 100 homens das SS, era administrada pelo Departamento VI do RSHA (Inteligência Externa). Um oficial holandês, o SS-Hauptsturmführer Pieter van Vessem, foi selecionado para comandar a unidade, que era inicialmente chamada Sonder Lehrgang Oranienburg. O "treinamento especial" consistia de espionagem, sabotagem, e limitado treino de pára-quedismo (para indivíduos, não para tropas). Esforços para inserir agentes SS treinados na Irlanda e Pérsia, falharam.
Depois de nada conseguir, em seu primeiro ano, a unidade foi transferida para uma velha hospedaria de caça, em Friedenthal, próximo a Oranienburg, e foi redesignada SS-Sonder Lehrgang zbv Friedenthal. Pelo início de 1943, a unidade expandiu-se, enquanto mais voluntários vieram de grupos SS holandeses e Volksdeutch (alemães raciais) de outros países. Certo número de voluntários, também vieram do SD, entediados guardas de campo de concentração e homens dos SS-Einsatzgruppen na Europa Oriental (dos quais se exigia que completassem uma temporada de combate e que preferiam uma unidade estacionada próximo a Berlim, a uma divisão SS na Frente Russa). Frustrados pelo desengonçado início das "forças especiais" SS, Walther Schellenberg procurou uma nova liderança, e decidiu substituir Vessem com Otto Skorzeny. Embora designado no final de abril de 1943, Skorzeny não chegou, realmente, para assumir o comando da unidade, até junho de 1943, que foi, então, redesignado 502º Batalhão de Caçadores SS (SS-Jäger-Batailon 502). Skorzeny trouxe certo número de comparsas nazistas austríacos com ele, tais como o SS-Obersturmführer Karl Radl, tanto como seus associados de seu batalhão de manutenção de viaturas, tais como o SS-Untersturmführer Ulrich Menzel.
Schellenberg autorizou Skorzeny a recrutar soldados da Wehrmacht, tanto como das SS e pela época da derrubada de Mussolini, a unidade tinha cerca de 350 elementos. Entretanto, a unidade só era um batalhão no nome, já que não era treinada para lutar como grupo coeso, mas para operar como pequenas equipes clandestinas dispersas, freqüentemente, em roupas civis. A ênfase do treinamento estava em táticas de assassínio, sabotagem, reconhecimento clandestino, não de infantaria. Apesar das posteriores descrições de "Comandos-SS", as tropas Friedenthal nunca foram treinadas ou equipadas como unidade combatente de assalto. O próprio Skorzeny tinha muito pouca experiência de combate e a maioria dos oficiais que ele escolheu para a unidade não eram melhores: Radl tinha sido um carimbador de papéis na seção de inteligência política do SD; o SS-Untersturmführer Robert Warger (outro nazista austríaco) tinha, somente, servido no SD; e Menzel tinha visto alguma ação com a Divisão SS-Reich, em 1941, mas como líder de um pelotão de saúde. Warger era tão baixo e franzino de corpo que havia sido rejeitado para serviço de linha de frente. Na verdade, em meados de 1943, os alemães estavam começando a passar o pente-fino em suas unidades de retaguarda, em busca de recompletamentos de infantaria; o melhor material foi para as unidades de linha de frente das Waffen-SS, na Rússia, enquanto Skorzeny teve de se virar com o que sobrou. Ele, até mesmo, recebeu recompletamentos da Kriegsmarine, tais como o SS-Untersturmführer Hans Mändel, que foi transferido para o grupo Friedenthal de uma unidade antiaérea da Marinha. Dos oficiais que Skorzeny levou com ele para a Itália, apenas o SS-Untersturmführer Otto Schwerdt e o SS-Untersturmführer Andreas Friedrich tinham qualquer real experiência prévia de combate. Schwerdt tinha lutado como sargento no batalhão de pioneiros da Divisão SS-Totenkopf durante 1940-41, e recebeu ambas, a Cruz de Ferro de 1ª e a de 2ª Classe. Friedrich, também tinha lutado na Divisão SS-Reich, na cabeça de ponte de Yelnya, em agosto de 1941, onde foi ferido e condecorado com a Cruz de Ferro de 1ª Classe. Entretanto, a falta geral de experiência e de treinamento de combate ficaram demonstrados na incursão do Gran Sasso, onde a maioria dos homens de Skorzeny foram, praticamente, inúteis, no assalto ao hotel.
Em suas memórias, Skorzeny descreve os sargentos que levou para a Itália, como "tirados do depósito", mas, julgando pelos registros do seus graduados, isto não queria dizer muito. O SS-Unterscharführer Hans Holzer era um dos poucos com considerável experiência de combate, tendo servido como metralhador com a Divisão SS-Totenkopf nas campanhas do Ocidente e da Rússia e sendo condecorado com ambas, a Cruz de Ferro de 1ª e de 2ª Classe. Apesar disto, Holzer estava longe de ser o típico graduado de Skorzeny que levou com ele numerosos homens que tinham acabado de se transferir para a unidade vindos de deveres de área de retaguarda. Por exemplo, o SS-Unterscharführer Bernhard Cieslewitz tinha ingressado nas SS, somente cinco meses antes da incursão e foi treinado como mecânico.
Mesmo após a incursão do Gran Sasso, o grupo Friedenthal não se tornou uma unidade tipo comando, mas permaneceu focada em guerra não-convencional. Logo após o Gran Sasso, Skorzeny enviou Schwerdt, Holzer e vários novos recrutas para a Dinamarca, para conduzir operações contra-resistência, numa força que foi, eventualmente, apelidada de "Grupo Peters". Em dezesseis meses, o grupo de Schwerdt foi responsável pelo assassínio de 102 dinamarqueses, suspeitos de envolvimento com a resistência, tanto como numerosos atos de incêndio criminoso e sabotagem, que resultaram em mortes civis. Depois da guerra, Schwerdt foi condenado à morte, em Copenhagen, mas libertado da prisão, em 1953. Longe de terem sido comandos, o grupo Friedenthal era mais adequado para missões terroristas e de sabotagem, contra as populações civis sob ocupação, do que para efetuar assaltos contra soldados de verdade.
O BATALHÃO-ESCOLA DE PÁRA-QUEDISTAS E O MAJOR OTTO HARALD MORS.
Após as perdas em Creta, em maio de 1941, a Luftwaffe decidiu formar uma unidade especial aeroterrestre que pudesse testar novos métodos e equipamentos para a condução de envolvimentos verticais. Um Fallschirmjäger-Lehr Bataillon foi formado em agosto de 1942, utilizando veteranos que haviam servido em Creta. Em 1942, um segundo batalhão-escola foi formado. Infortunadamente, ambos os batalhões foram enviados para a África do Norte, onde foram perdidos na Tunísia, em maio de 1943.
Uma terceira unidade Lehr, apenas de valor-companhia, foi enviada para se juntar à recém-formada 2. Fallschirmjäger-Division, na França, em maio de 1943, sendo redesignada I Batalhão do 7º Regimento de Pára-quedistas (I/FJR 7, ou I Bataillon, Fallschirmjäger-Regiment 7). Entretanto, devido ao seu continuado papel como unidade experimental, o batalhão, freqüentemente, ainda era referido como o Batalhão-Escola de Pára-quedistas. No verão de 1943, o batalhão conduziu extenso treinamento aeroterrestre e de planadores, incluindo o uso dos planadores DFS-230.
Seguindo-se a derrubada de Mussolini, o batalhão foi aerotransportado da França para a base aérea de Pratica di Mare, ao sul de Roma, então, moveu-se para um acampamento próximo ao quartel-general de Kesselring, em Frascati. Impressionado pela capacidade do batalhão em conduzir saltos em massa e desembarques especializados em planadores na França, Student designou o batalhão como sua força de reação rápida, no caso de Mussolini ser encontrado. A unidade foi aquartelada próximo a Frascati, o que tornava mais fácil para Student emitir uma ordem de aviso, tão logo Mussolini fosse descoberto. O major Otto Harald Mors, temporariamente, assumiu o batalhão, em 1º de agosto, já que o comandante estava doente, mas ele não era estranho à força aeroterrestre. Mors tinha nascido em Alexandria, Egito, em 1910, e sua família retornou à Alemanha no começo da Segunda Guerra Mundial. Em 1935, ele ingressou na Luftwaffe. Três anos depois, Mors foi ouvido fazendo declarações anti-Hitler, e a Gestapo abriu um dossiê contra ele. Uma vez que a guerra começou, ele serviu no estado-maior de Student, em 1941 e, então foi lutar na Frente Russa, em 1942. Por volta de 1943, Mors era um oficial profissional aeroterrestre, com riqueza de experiência de combate e de estado-maior, que lhe forneceu os meios para planejar e executar uma missão como a Operação OAK. O Batalhão-Escola de Pára-quedistas era, virtualmente, a única unidade disponível que poderia ter planejado e conduzido, com sucesso, um assalto planadorista por sobre o topo de uma montanha; sem a habilidade e experiência de líderes como o major Mors e o Oberleutnant von Berlepsch, o resgate de Mussolini teria sido impossível.
Mors foi capturado no Bolsão do Rühr, em 1945, mas, devido ao seu dossiê na Gestapo e suas percebidas inclinações anti-nazistas, os americanos o libertaram, após somente um breve período de cativeiro. Em 1956, ele ingressou na recém-formada Bundeswehr e, eventualmente, ascendeu ao posto de Oberst (coronel), antes de se reformar em 1969. Embora crítico de Skorzeny, em particular, Mors não fez nenhum real esforço para contestar a versão das SS da incursão do Gran Sasso e, por esta razão, não foi até a reunião do 50º aniversário no Campo Imperatore, em 1993, que a versão aceita começou a ser desmontada. Não há dúvidas de que o crédito e recompensas concedidas a Skorzeny e seus "Comandos-SS", irritavam Mors e seus camaradas Fallschirmjäger que sabiam a verdade sobre a incursão, porém, o comportamento de Mors parece, de algum modo, hipócrita. Por um lado, ele criticava o regime, mas, por outro, se lamentava por este mesmo regime não reconhecer e recompensar, suficientemente, sua habilidade profissional. Ao invés, o regime escolheu inflar o papel de um homem que melhor representava as virtudes nazistas - Otto Skorzeny. Mors não ganhou a Ritterkreuz ou reconhecimento público pela incursão, mas pôde viver em sua terra natal, e servir com honra nas Forças Armadas do pós-guerra, enquanto Skorzeny teve de fugir e ser forçado a passar o resto de sua via, no exílio, na Espanha.
OS ITALIANOS NO GRAN SASSO.
O destacamento de segurança italiano guardando Mussolini no Hotel Campo Imperatore era um balaio de gatos. Devido à natureza da conspiração que derrubou Mussolini e a incerteza sobre lealdades, Badiglio não queria entregar o antigo Duce para uma única força ou comandante. Ao invés, o descamento de segurança era composto pela polícia militar carabinieri e a polizia civil. O inspetor-geral Giuseppe Gueli estava encarregado de uma unidade de polícia civil de 30 homens no Gran Sasso, que incluía uma equipe de cães-de-guarda, mas sua capacidade de combate contra tropas regulares era desprezível. Na verdade, Gueli disse que a maioria de seus policiais agia como se estivesse de férias. Gueli tinha ganhado fama na área de Triest, suprimindo as atividades dos sindicatos socialistas e agitação civil, mas ele era, essencialmente, um bandido com distintivo. Ele juntou-se ao destacamento de segurança guardando Mussolini depois que o Generale di Brigata Polito foi ferido num acidente de carro, em meados de agosto.
O destacamento carabinieri de 43 homens estava sob o comando do tenente Alberto Faiola e seu subcomandante, tenente Osvaldo Antichi. Faiola tinha servido sob Badoglio na Etiópia e tinha sido, pessoalmente, encarregado de que Mussolini não caísse nas mãos dos alemães. Badoglio informou Faiola em 9 de agosto e determinou que Mussolini não devia escapar vivo de seu cativeiro. Os carabinieri estavam armados com duas metralhadoras leves M1930 Breda de 6,5 mm, carabinas 7,35 mm e cerca de trinta granadas-de-mão.
Após o rompimento de hostilidades entre alemães e italianos, em Roma, Gueli pediu por reforços e recebeu outros 40-50 homens de várias fontes, incluindo alguns soldados da PAI (Polizia dell'Africa Italiana) que escaparam de Roma. Estes últimos trouxeram quatro submetralhadoras M1938 Beretta 9 mm. Faiola posicionou as duas metralhadoras leves Breda fora da entrada principal, que estava barricada por dentro, com mobília do hotel. Em acréscimo, as janelas do andar térreo do hotel estavam obstruídas. Entretanto, a maior parte da munição estava armazenada num quarto do terceiro piso. Gueli ordenou que os cães policiais fossem acorrentados para proteger os "espaços mortos" em volta do hotel, significando que estavam posicionados em volta dos fundos. No dia do ataque, cerca de dois terços da força de segurança de 120 homens estava dentro ou próxima do hotel, enquanto cerca de um terço estava guardando a estação do bondinho aéreo da parte alta.
Muitos dos soldados estavam, aparentemente, no interior e dormindo, a exemplo de Gueli, quando a incursão teve início. Haviam, apenas, cerca de dez guardas postados no perímetro de segurança, ao redor do edifício, e, aparentemente, ninguém estava no telhado (que teria sido uma excelente posição para um tocaieiro). Nenhum dos guardas tinha sido, adequadamente, instruído sobre como responder a um ataque inimigo.
Antes do anúncio do armistício, Badoglio instruíra Faiola de que devia executar Mussolini na eventualidade de uma tentativa de resgate alemã. Entretanto, uma vez que o regime Badoglio estava fugindo de Roma para salvar a vida, Gueli ficou menos inclinado a seguir suas instruções e mais procupado em salvar seu próprio pescoço. Ele discutiu a possibilidade de um ataque alemão com Faiola e recomendou que a guarda não resistisse a um grande ataque. Gueli estava ciente, devido ao seu contato contínuo com o chefe de polícia, Carmine Senise, em Roma, que Hitler tinha ordenado a execução de qualquer oficial italiano que resistisse aos alemães e acreditava que, salvando Mussolini da execução, poderia cair nas graças dos alemães. Quando a incursão ocorreu, Gueli estava resolvido a se render, mas Faiola estava indeciso. Está claro que os italianos no Gran Sasso estavam cientes de que um ataque alemão era possível, mas eles não foram tão imaginativos em preparar suas defesas e não esperavam um assalto aeroterrestre ou planadorista.
A exata interação entre os italianos e os alemães, nos momentos iniciais da incurão não está clara, e os relatos existentes são contraditórios. Está claro que os italianos não dispararam um só tiro e que, pelo menos alguns, foram permitidos a reterem suas armas, após o hotel ser ocupado. Não apenas os italianos ajudaram a limpar o caminho para o avião de Gerlach, mas ajudaram a levar os feridos do planador nº 8. Também houve uma boa dose de bebidas - dentro e fora das câmeras - entre italianos e alemães, Na verdade, não parece que os italianos, realmente, tenham se rendido, antes do que terem optado por "trocar de lados". Depois de tudo, Gueli, Faiola e numerosos carabinieri juntaram-se a causa de Mussolini e o seguiram na República Social Italiana de Saló, após o resgate. Tendo sido abandonados pelo regime Badoglio em fuga, a força de guardas no Gran Sasso, aparentemente, decidiu que "se você não pode derrotá-los, junte-se a eles."
DEPOIS DA INCURSÃO...
O major Mors passou a noite de 12 para 13 de setembro discutindo a incursão com o tenente Berlepsch e, embora estivesse deleitado por terem resgatado Mussolini sem qualquer fatalidade alemã, estava perturbado pelo papel desempenhado por Skorzeny. Parecia que este havia, deliberadamente, ignorado todo o plano tático de Mors para a incursão, somente para poder ser o primeiro a alcançar Mussolini. Embora quieto no topo da montanha, Berlepsch, agora, ventilava sua raiva com a arrogância de Skorzeny e o pobre desempenho dos homens das SS. Ambos resolveram levar a questão, imediatamente, para o general Student.
Na Alemanha, Himmler usou a incursão para demonstrar a eficiência de suas SS (e, portanto, desacreditando, mais ainda, o almirante Canaris e seu Abwehr) e o ministro da propaganda Josef Goebbels viu no feito de Skorzeny, um raro brilho de sol na, de outro forma, sombria temporada de reveses alemães. Hitler, ansiosamente, endossou o engrandecimento de Skorzeny e permitiu a Goebbels transformá-lo num super-herói do nazismo. O papel desempenhado pelos Fallschirmjäger de Göring foi, convenientemente, rebaixado.
As transmissões radiofônicas de Goebbels, na manhã de 14 de setembro, identificaram, publicamente, Skorzeny como o organizador da incursão e o homem responsável pelo resgate de Mussolini. Skorzeny, entrevistado pelo rádio, confirmou estas afirmações e mencionou que muitos dos pára-quedistas tinham sido mortos em acidentes com os planadores. Ele, até mesmo, embelezou a história com um relato de uma feroz batalha contra os italianos, na qual emergiu como o vitorioso. Outros relatos radiofônicos se seguiram, referindo-se aos "Comandos-SS" de Skorzeny.
Em Frascati, Mors ficou enfurecido ao ouvir estes relatos e, imediatamente, protestou com Student, que, agora, se lamentava por ter permitido que as SS tivessem participado da incursão. Student ficou afrontado pela falta de crédito concedido aos seus Fallschirmjäger e as invencionices arrotadas por Skorzeny e Goebbels, mas estava relutante em enfrentar Himmler e as SS. Ao invés, Student tentou agir por intermédio do Reichsmarshall Göring, mas este tinha perdido muito de sua estatura na hierarquia nazista, após o fracasso da ponte aérea de Stalingrado e suas reclamações foram, simplesmente, ignoradas.
Quatro meses após a incursão do Gran Sasso, Berlepsch foi morto em Anzio e a 1ª Companhia do I/FJR 7 sofreu numerosas baixas. Mors, não mais comandando o I/7º, foi enviado para a Frente Russa, de forma a silenciar suas persistentes críticas do papel de Skorzeny na incursão. No verão de 1944, o I/FJR 7 foi enviado para a Normandia e vários dos Fallschirmjäger que participaram na incursão do Gran Sasso foram mortos, lá. Por volta de setembro, os remanescentes do batalhão tinham se retirado para a Bélgica, porém, muitos foram capturados no bolsão de Mons.
Pelo início de 1945, virtualmente, não restava ninguém para contradizer a versão oficial nazista sobre a incursão do Gran Sasso e o papel de Skorzeny na Operação GREIF, durante a ofensiva das Ardenas - incluindo uma falsa afirmação de que ele pretendia assassinar o general Eisenhower - que ajudou, ainda mais, a cimentar a inflada reputação de Skorzeny. Quando este escreveu suas memórias de pós-guerra, declarou que havia planejado e liderado a incursão, enquanto, virtualmente, ignorou o papel dos pára-quedistas da Luftwaffe. Entretanto, os Fallschirmjäger que tinham sobrevivido - incluindo Mors - começaram a contestar a versão aceita da incursão. Mors e vários outros pára-quedistas descreveram as memórias de pós-guerra de Skorzeny como "um conto de fadas" e até mesmo salientaram que "não existiram heróis no Gran Sasso." Student e Kesselring, também, tentaram endireitar as coisas, depois da guerra. Entretanto, as mais populares históiras de guerra - até mesmo The Day of Battle (2007) de Rick Atkinson, ganhador do Prêmio Pulitzer - continuaram a aceitar a versão distorcida de Skorzeny sobre a incursão - sem questionamentos.
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Extraído de FORCZYK, Robert - Rescuing Mussolini - Gran Sasso, 1943, Osprey Publishing, 2010, Oxford.
(* ou como uma cara de mau; uma roupinha sinistra, amigos nos lugares certos e uma boa máquina de propaganda, transformam qualquer um em super-soldado by Clermont).
A VERDADEIRA FÉ-DE-OFÍCIO DO "COMANDO EXTRAORDINÁRIO" DAS SS.
O papel de Otto Skorzeny na Operação OAK (o resgate de Mussolini) tem sido distorcido pelos duradouros restos da propaganda nazista e pelas memórias do própio Skorzeny, que ele utilizou para reforçar sua imagem como "o homem mais perigoso da Europa". De fato, antes da Operação OAK, Skorzeny era um obscuro oficial SS que, durante a maior parte da guerra, ficou sentado "na retaguarda com a carga", como dizem.
Nascido em Viena, em 1908, sua família era, suficientemente bem-colocada para que ele cursasse a Universidade de Viena, de onde se graduou em engenharia, em 1931. Enquanto na universidade, ele se tornou ativo na política de direita e ingressou no partido nazista austríaco. Ele casou após a graduação e, mais tarde, afirmou ter passado sua lua-de-mel na região de Abruzzi, na Itália, próximo ao Gran Sasso. Após seis anos em pequenos negócios de engenharia, em Viena, Skorzeny se envolveu no Anschluss austríaco de 1938 e, em suas memórias, deu declarações bombásticas sobre seu suposto papel-chave. No começo da Segunda Guerra Mundial, Skorzeny, imediatamente, voluntariou-se para serviço na Luftwaffe, irrealisticamente, esperando ser comissionado como piloto, mas, ao invés, servindo como um Flieger (praça) comum, no Regimento de Recompletamento de Comunicações da Luftwaffe, em Viena, até 31 de janeiro de 1940.
Desapontado com a Luftwaffe, Skorzeny utilizou algumas de suas conexões com o partido nazista para obter transferência para as Waffen-SS, em fevereiro de 1940, onde serviu três meses como um SS-Schütze (praça) no 2º Batalhão de Recompletamento de Reserva do SS-Leibstandarte, em Berlim-Lichterfelde. Em 1º de maio de 1940, Skorzeny foi promovido à SS-Unterscharführer (sargento) e transferido para o regimento de artilharia na Divisão SS-Reich.
Skorzeny continou a trabalhar com seus contados no partido nazista e, em 30 de janeiro de 1941, ele foi, finalmente, promovido a SS-Untersturmführer (tenente) da Reserva-SS e designado como oficial-técnico para o II Batalhão do regimento de artilharia da Divisão Reich. Ele serviu durante a invasão da Iugoslávia, em abril de 1941, e declarou ter capturado, sozinho, certo número de soldados iugoslavos (o que não é corroborado em seus registros das SS). Logo após, Skorzeny foi promovido a SS-Obersturmführer e continuou a servir com a Divisão-SS Reich nos estágios iniciais da Operação BARBAROSSA, embora ele ainda estivesse, primordialmente, envolvido com a supervisão do reparo de viaturas. Ele foi condecorado com a Cruz de Ferro de 2ª Classe, em 26 de agosto de 1941, pela recuperação de viaturas durante a luta na cabeça de ponte de Yelnya. Algum tempo depois, após o fracasso da Operação TYPHOON, em dezembro de 1941, Skorzeny adoeceu com cólica estomacal - uma ocorrência comum para soldados alemães, durante o primeiro inverno na Frente Russa - e foi evacuado para a Alemanha, em janeiro de 1942. Embora alguns relatos, pobres em pesquisas, sugiram que Skorzeny foi gravemente ferido por fogo de artilharia soviético, seus registros das SS não indicam quaisquer condecorações por ferimentos nesta época e, até mesmo ele, cita cólicas em suas memórias.
Após se recuperar, Skorzeny foi designado para o Batalhão de Recompletamento de Viaturas SS, em Weimar-Buchenwald, onde ele passou os próximos oito meses como instrutor de reparo de viaturas. Normalmente, oficiais feridos ou doentes, retornam para suas divisões enquadrantes e o fato de que Skorzeny não retornou, indica que sua falta não era sentida. Na verdade, ele já tinha adquirido uma reputação de soldado de pobre disciplina e boquirroto. Ele, realmente, nunca perdeu seus maneirismos de mesa de bar que o haviam tornado caro aos camaradas do partido nazista austríaco, mas que pegavam mal para um oficial profissional. Em novembro de 1942, Skorzeny foi transferido para o recém-formado regimento Panzer da Divisão SS-Totenkopf, onde passou os quatro meses seguintes aprontando suas viaturas, mas, então, foi enviado de volta para sua velha vaga de instrutor.
Enquanto a Wehrmacht estava lutando, desesperadamente, na Rússia, em 1942-43, Skorzenty passou muito deste tempo nos cafés de Berlim, associando-se com outros nazistas. Seus esforços renderam dividendos quando seu velho amigo, Ernst Kaltenbrunner (o antigo cabeça do partido nazista austríaco) foi promovido a chefe do SS-Reichssicherheitshauptamt (RSHA, ou Departamento Central de Segurança do Estado), no início de 1943. Kaltenbrunner arranjou para que fosse oferecido a Skorzeny um comando no Amt VI do SD. Em 28 de abril de 1943, Skorzeny foi promovido a SS-Hauptsturmführer (capitão) e transferido para assumir o comando da Unidade de Treinamento Especial SS-Oranienburg. Ele passou por um curso básico do Abwehr sobre espionagem, mas não recebeu adestramento pára-quedista ou qualquer outro treinamento de combate. Embora Skorzeny, mais tarde, afirmasse ter estudado "intensamente" os métodos dos comandos britânicos, durante o verão de 1943, ele, realmente, passou mais tempo em confraternizações. Na verdade, seu estado-maior teve dificuldades para rastreá-lo quando veio o chamado durante o horário de serviço, em 26 de julho de 1943, para que ele se apresentasse, diretamente, no quartel-general do Führer - de fato, Skorzeny estava em roupas civis, bebericando com alguns comparsas nazistas na Kurfürstendamm.
Skorzeny foi selecionado devido a suas conexões partidárias, apesar de sua experiência de combate muito limitada. Ele via o comando de Friedenthal como chance para obter promoção, ganhar algum reconhecimento de seus superiores e ser seu próprio chefe, não para conduzir missões de alto-risco, suicidas. Depois da incursão do Gran Sasso, a reputação de Skorzeny como o "comando extraordinário" foi criada pelos propagandistas das SS, para ajudar a reforçar a posição de Himmler na hierarquia nazista. Uma vez que os Brandenburgers (tropa de operações especiais das Forças Armadas alemãs, que serviam sob ordens diretas do serviço de inteligência militar alemão) foram reduzidos a uma função convencional, em 1944, Skorzeny herdou, de suas fileiras, um certo número de habilidosos soldados de forças especiais, tais como o barão Adrian von Fölkersam, a quem Skorzeny tornou seu ajudante e oficial de operações de fato, aliviando-se do ônus de, realmente, controlar uma unidade militar.
Entretanto, o registro de Skorzeny após o Gran Sasso, foi, principalmente, de fracassos, não de sucessos. Complôs para seqüestrar o general De Gaulle ou para assassinar os Três Grandes, na Conferência de Teerã, deram em nada, e o esforço para capturar ou matar Tito, resultou na virtual destruição do 500º Batalhão de Pára-quedistas SS. Na verdade, o único sucesso de Skorzeny, depois da Itália, foi a Operação PANZERFAUST, em 15-16 de outubro de 1944, na qual ele seqüestrou o filho do regente húngaro e com uma coluna blindada alemã, abriu, blefando, o seu caminho até a cidadela de Budapeste. O golpe de Skorzeny, embora ousado, foi taticamente amadorístico e rude, e, apesar de mínima resistência húngara, exigiu a crucial assistência de outras unidades da Wehrmacht - com as quais ele não compartilhou o crédito. Por este golpe em Budapeste, Skorzeny foi condecorado com a Deutsches Kreuz em ouro (DkiG) e promovido a SS-Obersturmbannführer (tenente-coronel).
Após Budapeste, tudo foi ladeira abaixo para Skorzeny e suas forças especiais SS. O papel não-convencional de sua unidade na ofensiva das Ardenas de dezembro de 1944, Operação GREIF, brevemente, provocou confusão por trás das linhas americanas, mas falhou em obter seus objetivos e a maioria das equipes de reconhecimento foram capturadas. O restante do Kampfgruppe de valor-regimento reforçado de Skorzeny, apelidado 150ª Brigada Panzer, foi, então, empenhado como unidade convencional, no setor de Malmedy. Skorzeny não tinha a mínima idéia de como montar um ataque de valor-brigada e sua unidade foi rechaçada pela 30ª Divisão de Infantaria americana, com pesadas baixas. Quando ele foi, ligeiramente, ferido por estilhaços do fogo de artilharia americano, Skorzeny afirmou que Hitler tinha dado ordens para que ele não arriscasse a ser capturado, e entregou o comando da brigada para seus subordinados, retornando para Berlim.
Pelo início de 1945, a Alemanha não tinha mais os meios para conduzr operações especiais e quando Himmler assumiu o comando do Grupo de Exércitos do Vístula, em janeiro de 1945, ele ordenou que Skorzeny pegasse suas tropas remanescentes e estabelecesse uma cabeça de ponte na vila de Schwedt sobre o Oder. Skorzeny, agora um SS-Standartenführer (coronel), ajuntou um Kampfgruppe improvisado de valor-divisão, composto por remanescentes SS, Volksgrenadier e da Luftwaffe, para manter a localidade. Não foi feita nenhuma grande tentativa para tomar a vila e Skorzeny alienou Himmler (que nunca gostou dele), sendo exonerado do comando em 28 de fevereiro de 1945. Retornando para Berlim, Skorzeny recebeu ordens, em meados de março, para organizar ataques de homens-rãs, sobre a recém-capturada Ponte Ludendorff, em Remagen, que não deram em nada. Apesar deste registro de fracassos, Hitler admirava Skorzeny por sua lealdade à causa nazista e o condecorou com as Folhas de Carvalho para sua Cruz de Cavaleiro (Ritterkreuz) em 9 de abril de 1945, por seu papel em Schwedt. Apesar disso, Skorzeny não era tão leal que desejasse permanecer com Hitler, em Berlim, até o fim, e afirmou ter sido enviado para a Bavária para ajudar a organizar as operações partisan dos Werwolf (Lobisomens de Hitler), apesar do fato de que o Reichsführer-SS já tinha decidido cancelar este programa. Skorzeny teve sucesso em abrir caminho para fora da condenada Berlim, e rumou para o sul com seu velho confrade, Karl Radl. Abandonando seus homens, Skorzeny e Radl passaram o último mês da guerra, num aconchegante chalé de montanha na Bavária, e, então, renderam-se, calmamente, aos americanos.
Skorzeny foi uma pobreza como soldado, mas foi um ardoroso nazista e esta lealdade política contou muito mais do que capacidade profissional. Ele também era um consumado e desavergonhado mentiroso, confortável em se apropriar dos feitos de outros ou jogar neles a culpa pelo fracasso. Também é significativo que os únicos sucessos operacionais de Skorzeny foram obtidos contra antigos aliados que ofereceram pouca ou nenhuma resistência, antes do que contra inimigos bem-armados. Após a guerra, Skorzeny continuou a divulgar os mesmos exageros e falsidades, que irritavam seus pares do tempo da guerra mas que, freqüentemente, foram aceitos por jornalistas estrangeiros como fatos.
O GRUPO SS-FRIEDENTHAL.
Na política bizantina do Terceiro Reich, as SS - que já controlavam a inteligência interna, por meio da Gestapo (Polícia Secreta do Estado alemão) e do SD (Serviço de Segurança das SS e do Partido Nazista) - de há muito procuravam por um meio de assumir a função de inteligência externa do Abwehr (Serviço de Inteligência das Forças Armadas alemãs), controlado pelo almirante Wilhelm Canaris. Um dos poucos golpes do Abwehr tinha sido a criação do Regimento Brandenburg, em 1939. Após presenciar os Brandenburgers conquistarem renome, durante 1940-42, Himmler estava ansioso para desenvolver uma unidade similar para suas SS.
No início de 1942, o chefe de estado-maior de Himmler, SS-Gruppenführer Hans Jüttner, ordenou o estabelecimento de um "curso especial de treinamento" nos quartéis das SS de Oranienburg (que eram adjacentes ao campo de concentração de Sachsenhausen), cerca de 30 quilômetros ao norte de Berlim. A unidade, originariamente consistindo de 100 homens das SS, era administrada pelo Departamento VI do RSHA (Inteligência Externa). Um oficial holandês, o SS-Hauptsturmführer Pieter van Vessem, foi selecionado para comandar a unidade, que era inicialmente chamada Sonder Lehrgang Oranienburg. O "treinamento especial" consistia de espionagem, sabotagem, e limitado treino de pára-quedismo (para indivíduos, não para tropas). Esforços para inserir agentes SS treinados na Irlanda e Pérsia, falharam.
Depois de nada conseguir, em seu primeiro ano, a unidade foi transferida para uma velha hospedaria de caça, em Friedenthal, próximo a Oranienburg, e foi redesignada SS-Sonder Lehrgang zbv Friedenthal. Pelo início de 1943, a unidade expandiu-se, enquanto mais voluntários vieram de grupos SS holandeses e Volksdeutch (alemães raciais) de outros países. Certo número de voluntários, também vieram do SD, entediados guardas de campo de concentração e homens dos SS-Einsatzgruppen na Europa Oriental (dos quais se exigia que completassem uma temporada de combate e que preferiam uma unidade estacionada próximo a Berlim, a uma divisão SS na Frente Russa). Frustrados pelo desengonçado início das "forças especiais" SS, Walther Schellenberg procurou uma nova liderança, e decidiu substituir Vessem com Otto Skorzeny. Embora designado no final de abril de 1943, Skorzeny não chegou, realmente, para assumir o comando da unidade, até junho de 1943, que foi, então, redesignado 502º Batalhão de Caçadores SS (SS-Jäger-Batailon 502). Skorzeny trouxe certo número de comparsas nazistas austríacos com ele, tais como o SS-Obersturmführer Karl Radl, tanto como seus associados de seu batalhão de manutenção de viaturas, tais como o SS-Untersturmführer Ulrich Menzel.
Schellenberg autorizou Skorzeny a recrutar soldados da Wehrmacht, tanto como das SS e pela época da derrubada de Mussolini, a unidade tinha cerca de 350 elementos. Entretanto, a unidade só era um batalhão no nome, já que não era treinada para lutar como grupo coeso, mas para operar como pequenas equipes clandestinas dispersas, freqüentemente, em roupas civis. A ênfase do treinamento estava em táticas de assassínio, sabotagem, reconhecimento clandestino, não de infantaria. Apesar das posteriores descrições de "Comandos-SS", as tropas Friedenthal nunca foram treinadas ou equipadas como unidade combatente de assalto. O próprio Skorzeny tinha muito pouca experiência de combate e a maioria dos oficiais que ele escolheu para a unidade não eram melhores: Radl tinha sido um carimbador de papéis na seção de inteligência política do SD; o SS-Untersturmführer Robert Warger (outro nazista austríaco) tinha, somente, servido no SD; e Menzel tinha visto alguma ação com a Divisão SS-Reich, em 1941, mas como líder de um pelotão de saúde. Warger era tão baixo e franzino de corpo que havia sido rejeitado para serviço de linha de frente. Na verdade, em meados de 1943, os alemães estavam começando a passar o pente-fino em suas unidades de retaguarda, em busca de recompletamentos de infantaria; o melhor material foi para as unidades de linha de frente das Waffen-SS, na Rússia, enquanto Skorzeny teve de se virar com o que sobrou. Ele, até mesmo, recebeu recompletamentos da Kriegsmarine, tais como o SS-Untersturmführer Hans Mändel, que foi transferido para o grupo Friedenthal de uma unidade antiaérea da Marinha. Dos oficiais que Skorzeny levou com ele para a Itália, apenas o SS-Untersturmführer Otto Schwerdt e o SS-Untersturmführer Andreas Friedrich tinham qualquer real experiência prévia de combate. Schwerdt tinha lutado como sargento no batalhão de pioneiros da Divisão SS-Totenkopf durante 1940-41, e recebeu ambas, a Cruz de Ferro de 1ª e a de 2ª Classe. Friedrich, também tinha lutado na Divisão SS-Reich, na cabeça de ponte de Yelnya, em agosto de 1941, onde foi ferido e condecorado com a Cruz de Ferro de 1ª Classe. Entretanto, a falta geral de experiência e de treinamento de combate ficaram demonstrados na incursão do Gran Sasso, onde a maioria dos homens de Skorzeny foram, praticamente, inúteis, no assalto ao hotel.
Em suas memórias, Skorzeny descreve os sargentos que levou para a Itália, como "tirados do depósito", mas, julgando pelos registros do seus graduados, isto não queria dizer muito. O SS-Unterscharführer Hans Holzer era um dos poucos com considerável experiência de combate, tendo servido como metralhador com a Divisão SS-Totenkopf nas campanhas do Ocidente e da Rússia e sendo condecorado com ambas, a Cruz de Ferro de 1ª e de 2ª Classe. Apesar disto, Holzer estava longe de ser o típico graduado de Skorzeny que levou com ele numerosos homens que tinham acabado de se transferir para a unidade vindos de deveres de área de retaguarda. Por exemplo, o SS-Unterscharführer Bernhard Cieslewitz tinha ingressado nas SS, somente cinco meses antes da incursão e foi treinado como mecânico.
Mesmo após a incursão do Gran Sasso, o grupo Friedenthal não se tornou uma unidade tipo comando, mas permaneceu focada em guerra não-convencional. Logo após o Gran Sasso, Skorzeny enviou Schwerdt, Holzer e vários novos recrutas para a Dinamarca, para conduzir operações contra-resistência, numa força que foi, eventualmente, apelidada de "Grupo Peters". Em dezesseis meses, o grupo de Schwerdt foi responsável pelo assassínio de 102 dinamarqueses, suspeitos de envolvimento com a resistência, tanto como numerosos atos de incêndio criminoso e sabotagem, que resultaram em mortes civis. Depois da guerra, Schwerdt foi condenado à morte, em Copenhagen, mas libertado da prisão, em 1953. Longe de terem sido comandos, o grupo Friedenthal era mais adequado para missões terroristas e de sabotagem, contra as populações civis sob ocupação, do que para efetuar assaltos contra soldados de verdade.
O BATALHÃO-ESCOLA DE PÁRA-QUEDISTAS E O MAJOR OTTO HARALD MORS.
Após as perdas em Creta, em maio de 1941, a Luftwaffe decidiu formar uma unidade especial aeroterrestre que pudesse testar novos métodos e equipamentos para a condução de envolvimentos verticais. Um Fallschirmjäger-Lehr Bataillon foi formado em agosto de 1942, utilizando veteranos que haviam servido em Creta. Em 1942, um segundo batalhão-escola foi formado. Infortunadamente, ambos os batalhões foram enviados para a África do Norte, onde foram perdidos na Tunísia, em maio de 1943.
Uma terceira unidade Lehr, apenas de valor-companhia, foi enviada para se juntar à recém-formada 2. Fallschirmjäger-Division, na França, em maio de 1943, sendo redesignada I Batalhão do 7º Regimento de Pára-quedistas (I/FJR 7, ou I Bataillon, Fallschirmjäger-Regiment 7). Entretanto, devido ao seu continuado papel como unidade experimental, o batalhão, freqüentemente, ainda era referido como o Batalhão-Escola de Pára-quedistas. No verão de 1943, o batalhão conduziu extenso treinamento aeroterrestre e de planadores, incluindo o uso dos planadores DFS-230.
Seguindo-se a derrubada de Mussolini, o batalhão foi aerotransportado da França para a base aérea de Pratica di Mare, ao sul de Roma, então, moveu-se para um acampamento próximo ao quartel-general de Kesselring, em Frascati. Impressionado pela capacidade do batalhão em conduzir saltos em massa e desembarques especializados em planadores na França, Student designou o batalhão como sua força de reação rápida, no caso de Mussolini ser encontrado. A unidade foi aquartelada próximo a Frascati, o que tornava mais fácil para Student emitir uma ordem de aviso, tão logo Mussolini fosse descoberto. O major Otto Harald Mors, temporariamente, assumiu o batalhão, em 1º de agosto, já que o comandante estava doente, mas ele não era estranho à força aeroterrestre. Mors tinha nascido em Alexandria, Egito, em 1910, e sua família retornou à Alemanha no começo da Segunda Guerra Mundial. Em 1935, ele ingressou na Luftwaffe. Três anos depois, Mors foi ouvido fazendo declarações anti-Hitler, e a Gestapo abriu um dossiê contra ele. Uma vez que a guerra começou, ele serviu no estado-maior de Student, em 1941 e, então foi lutar na Frente Russa, em 1942. Por volta de 1943, Mors era um oficial profissional aeroterrestre, com riqueza de experiência de combate e de estado-maior, que lhe forneceu os meios para planejar e executar uma missão como a Operação OAK. O Batalhão-Escola de Pára-quedistas era, virtualmente, a única unidade disponível que poderia ter planejado e conduzido, com sucesso, um assalto planadorista por sobre o topo de uma montanha; sem a habilidade e experiência de líderes como o major Mors e o Oberleutnant von Berlepsch, o resgate de Mussolini teria sido impossível.
Mors foi capturado no Bolsão do Rühr, em 1945, mas, devido ao seu dossiê na Gestapo e suas percebidas inclinações anti-nazistas, os americanos o libertaram, após somente um breve período de cativeiro. Em 1956, ele ingressou na recém-formada Bundeswehr e, eventualmente, ascendeu ao posto de Oberst (coronel), antes de se reformar em 1969. Embora crítico de Skorzeny, em particular, Mors não fez nenhum real esforço para contestar a versão das SS da incursão do Gran Sasso e, por esta razão, não foi até a reunião do 50º aniversário no Campo Imperatore, em 1993, que a versão aceita começou a ser desmontada. Não há dúvidas de que o crédito e recompensas concedidas a Skorzeny e seus "Comandos-SS", irritavam Mors e seus camaradas Fallschirmjäger que sabiam a verdade sobre a incursão, porém, o comportamento de Mors parece, de algum modo, hipócrita. Por um lado, ele criticava o regime, mas, por outro, se lamentava por este mesmo regime não reconhecer e recompensar, suficientemente, sua habilidade profissional. Ao invés, o regime escolheu inflar o papel de um homem que melhor representava as virtudes nazistas - Otto Skorzeny. Mors não ganhou a Ritterkreuz ou reconhecimento público pela incursão, mas pôde viver em sua terra natal, e servir com honra nas Forças Armadas do pós-guerra, enquanto Skorzeny teve de fugir e ser forçado a passar o resto de sua via, no exílio, na Espanha.
OS ITALIANOS NO GRAN SASSO.
O destacamento de segurança italiano guardando Mussolini no Hotel Campo Imperatore era um balaio de gatos. Devido à natureza da conspiração que derrubou Mussolini e a incerteza sobre lealdades, Badiglio não queria entregar o antigo Duce para uma única força ou comandante. Ao invés, o descamento de segurança era composto pela polícia militar carabinieri e a polizia civil. O inspetor-geral Giuseppe Gueli estava encarregado de uma unidade de polícia civil de 30 homens no Gran Sasso, que incluía uma equipe de cães-de-guarda, mas sua capacidade de combate contra tropas regulares era desprezível. Na verdade, Gueli disse que a maioria de seus policiais agia como se estivesse de férias. Gueli tinha ganhado fama na área de Triest, suprimindo as atividades dos sindicatos socialistas e agitação civil, mas ele era, essencialmente, um bandido com distintivo. Ele juntou-se ao destacamento de segurança guardando Mussolini depois que o Generale di Brigata Polito foi ferido num acidente de carro, em meados de agosto.
O destacamento carabinieri de 43 homens estava sob o comando do tenente Alberto Faiola e seu subcomandante, tenente Osvaldo Antichi. Faiola tinha servido sob Badoglio na Etiópia e tinha sido, pessoalmente, encarregado de que Mussolini não caísse nas mãos dos alemães. Badoglio informou Faiola em 9 de agosto e determinou que Mussolini não devia escapar vivo de seu cativeiro. Os carabinieri estavam armados com duas metralhadoras leves M1930 Breda de 6,5 mm, carabinas 7,35 mm e cerca de trinta granadas-de-mão.
Após o rompimento de hostilidades entre alemães e italianos, em Roma, Gueli pediu por reforços e recebeu outros 40-50 homens de várias fontes, incluindo alguns soldados da PAI (Polizia dell'Africa Italiana) que escaparam de Roma. Estes últimos trouxeram quatro submetralhadoras M1938 Beretta 9 mm. Faiola posicionou as duas metralhadoras leves Breda fora da entrada principal, que estava barricada por dentro, com mobília do hotel. Em acréscimo, as janelas do andar térreo do hotel estavam obstruídas. Entretanto, a maior parte da munição estava armazenada num quarto do terceiro piso. Gueli ordenou que os cães policiais fossem acorrentados para proteger os "espaços mortos" em volta do hotel, significando que estavam posicionados em volta dos fundos. No dia do ataque, cerca de dois terços da força de segurança de 120 homens estava dentro ou próxima do hotel, enquanto cerca de um terço estava guardando a estação do bondinho aéreo da parte alta.
Muitos dos soldados estavam, aparentemente, no interior e dormindo, a exemplo de Gueli, quando a incursão teve início. Haviam, apenas, cerca de dez guardas postados no perímetro de segurança, ao redor do edifício, e, aparentemente, ninguém estava no telhado (que teria sido uma excelente posição para um tocaieiro). Nenhum dos guardas tinha sido, adequadamente, instruído sobre como responder a um ataque inimigo.
Antes do anúncio do armistício, Badoglio instruíra Faiola de que devia executar Mussolini na eventualidade de uma tentativa de resgate alemã. Entretanto, uma vez que o regime Badoglio estava fugindo de Roma para salvar a vida, Gueli ficou menos inclinado a seguir suas instruções e mais procupado em salvar seu próprio pescoço. Ele discutiu a possibilidade de um ataque alemão com Faiola e recomendou que a guarda não resistisse a um grande ataque. Gueli estava ciente, devido ao seu contato contínuo com o chefe de polícia, Carmine Senise, em Roma, que Hitler tinha ordenado a execução de qualquer oficial italiano que resistisse aos alemães e acreditava que, salvando Mussolini da execução, poderia cair nas graças dos alemães. Quando a incursão ocorreu, Gueli estava resolvido a se render, mas Faiola estava indeciso. Está claro que os italianos no Gran Sasso estavam cientes de que um ataque alemão era possível, mas eles não foram tão imaginativos em preparar suas defesas e não esperavam um assalto aeroterrestre ou planadorista.
A exata interação entre os italianos e os alemães, nos momentos iniciais da incurão não está clara, e os relatos existentes são contraditórios. Está claro que os italianos não dispararam um só tiro e que, pelo menos alguns, foram permitidos a reterem suas armas, após o hotel ser ocupado. Não apenas os italianos ajudaram a limpar o caminho para o avião de Gerlach, mas ajudaram a levar os feridos do planador nº 8. Também houve uma boa dose de bebidas - dentro e fora das câmeras - entre italianos e alemães, Na verdade, não parece que os italianos, realmente, tenham se rendido, antes do que terem optado por "trocar de lados". Depois de tudo, Gueli, Faiola e numerosos carabinieri juntaram-se a causa de Mussolini e o seguiram na República Social Italiana de Saló, após o resgate. Tendo sido abandonados pelo regime Badoglio em fuga, a força de guardas no Gran Sasso, aparentemente, decidiu que "se você não pode derrotá-los, junte-se a eles."
DEPOIS DA INCURSÃO...
O major Mors passou a noite de 12 para 13 de setembro discutindo a incursão com o tenente Berlepsch e, embora estivesse deleitado por terem resgatado Mussolini sem qualquer fatalidade alemã, estava perturbado pelo papel desempenhado por Skorzeny. Parecia que este havia, deliberadamente, ignorado todo o plano tático de Mors para a incursão, somente para poder ser o primeiro a alcançar Mussolini. Embora quieto no topo da montanha, Berlepsch, agora, ventilava sua raiva com a arrogância de Skorzeny e o pobre desempenho dos homens das SS. Ambos resolveram levar a questão, imediatamente, para o general Student.
Na Alemanha, Himmler usou a incursão para demonstrar a eficiência de suas SS (e, portanto, desacreditando, mais ainda, o almirante Canaris e seu Abwehr) e o ministro da propaganda Josef Goebbels viu no feito de Skorzeny, um raro brilho de sol na, de outro forma, sombria temporada de reveses alemães. Hitler, ansiosamente, endossou o engrandecimento de Skorzeny e permitiu a Goebbels transformá-lo num super-herói do nazismo. O papel desempenhado pelos Fallschirmjäger de Göring foi, convenientemente, rebaixado.
As transmissões radiofônicas de Goebbels, na manhã de 14 de setembro, identificaram, publicamente, Skorzeny como o organizador da incursão e o homem responsável pelo resgate de Mussolini. Skorzeny, entrevistado pelo rádio, confirmou estas afirmações e mencionou que muitos dos pára-quedistas tinham sido mortos em acidentes com os planadores. Ele, até mesmo, embelezou a história com um relato de uma feroz batalha contra os italianos, na qual emergiu como o vitorioso. Outros relatos radiofônicos se seguiram, referindo-se aos "Comandos-SS" de Skorzeny.
Em Frascati, Mors ficou enfurecido ao ouvir estes relatos e, imediatamente, protestou com Student, que, agora, se lamentava por ter permitido que as SS tivessem participado da incursão. Student ficou afrontado pela falta de crédito concedido aos seus Fallschirmjäger e as invencionices arrotadas por Skorzeny e Goebbels, mas estava relutante em enfrentar Himmler e as SS. Ao invés, Student tentou agir por intermédio do Reichsmarshall Göring, mas este tinha perdido muito de sua estatura na hierarquia nazista, após o fracasso da ponte aérea de Stalingrado e suas reclamações foram, simplesmente, ignoradas.
Quatro meses após a incursão do Gran Sasso, Berlepsch foi morto em Anzio e a 1ª Companhia do I/FJR 7 sofreu numerosas baixas. Mors, não mais comandando o I/7º, foi enviado para a Frente Russa, de forma a silenciar suas persistentes críticas do papel de Skorzeny na incursão. No verão de 1944, o I/FJR 7 foi enviado para a Normandia e vários dos Fallschirmjäger que participaram na incursão do Gran Sasso foram mortos, lá. Por volta de setembro, os remanescentes do batalhão tinham se retirado para a Bélgica, porém, muitos foram capturados no bolsão de Mons.
Pelo início de 1945, virtualmente, não restava ninguém para contradizer a versão oficial nazista sobre a incursão do Gran Sasso e o papel de Skorzeny na Operação GREIF, durante a ofensiva das Ardenas - incluindo uma falsa afirmação de que ele pretendia assassinar o general Eisenhower - que ajudou, ainda mais, a cimentar a inflada reputação de Skorzeny. Quando este escreveu suas memórias de pós-guerra, declarou que havia planejado e liderado a incursão, enquanto, virtualmente, ignorou o papel dos pára-quedistas da Luftwaffe. Entretanto, os Fallschirmjäger que tinham sobrevivido - incluindo Mors - começaram a contestar a versão aceita da incursão. Mors e vários outros pára-quedistas descreveram as memórias de pós-guerra de Skorzeny como "um conto de fadas" e até mesmo salientaram que "não existiram heróis no Gran Sasso." Student e Kesselring, também, tentaram endireitar as coisas, depois da guerra. Entretanto, as mais populares históiras de guerra - até mesmo The Day of Battle (2007) de Rick Atkinson, ganhador do Prêmio Pulitzer - continuaram a aceitar a versão distorcida de Skorzeny sobre a incursão - sem questionamentos.
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Extraído de FORCZYK, Robert - Rescuing Mussolini - Gran Sasso, 1943, Osprey Publishing, 2010, Oxford.
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Re:
Não entendo a necessidade. Todo mundo sabe que a Polônia foi tão vítima da Máquina de Extermínio Nazista quanto Judeus, Eslavos-Soviéticos e outras minorias.Clermont escreveu:POLÔNIA QUER MUDANÇA NO NOME DE AUSCHWITZ.
Polônia quer a mudança do nome de Auschwitz-Birkenau para lembrar ao mundo que o campo de extermínio foi construído e administrado pela Alemanha nazista, não pelos poloneses.
O campo de Auschwitz, construído perto da cidade polonesa de Oswiecim durante a ocupação alemã, é catalogado como patrimônio mundial da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
O governo polonês quer que a Unesco mude o nome oficial do local para “Antigo Campo de Concentração Nazista Alemão de Auschwitz-Birkenau” para deixar claro que ele não tinha nenhuma relação com a Polônia ou com os poloneses.
Mais de 1 milhão de pessoas, em sua maioria judeus, morreram em Auschwitz entre 1940 e 1945. O regime nazista matou cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Insatisfação
O governo polonês vem há tempos indicando insatisfação com referências a Auschwitz na imprensa como “o campo de concentração polonês”.
A polêmica ganhou corpo nesta semana, após o jornal alemão Der Spiegel ter se referido ao campo como “polonês”.
“Nos anos após a guerra, o antigo campo de concentração de Auschwitz-Birkenau era definitivamente associado com as atividades criminosas do regime nazista da Alemanha”, disse o porta-voz do governo polonês, Jan Kasprzyk, à agência de notícias estatal.
“Porém para as gerações contemporâneas, mais jovens, especialmente no exterior, esta associação não é universal”, disse o porta-voz.
A descrição atual de Auschwitz pela Unesco diz que suas instalações, incluindo câmaras de gás e fornos crematórios, “mostram as condições nas quais o genocídio nazista ocorreu no antigo campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau, o maior do Terceiro Reich”.
Kasprzyk diz, porém, que “a mudança proposta no nome não deixaria dúvidas sobre o que o campo de Auschwitz-Birkenau era”. O governo polonês diz esperar uma resposta da Unesco até o fim deste ano.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Qualquer proposta de debate que não parta da premissa do reconhecimento da morte de 6 milhões de judeus, é inadmissível
O que mais me chamou a atenção no 1º texto, foi que o autor se diz imparcial
Saudações
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
FOXTROT, recomendo q assista Shoah (1985), de Claude Lanzmann.
Uma coisa é WWII amigo, outra, bem diferente, é a política de Estado de Israel, apoiada pelas potências ocidentais, no Oriente Médio.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Enlil escreveu:FOXTROT, recomendo q assista Shoah (1985), de Claude Lanzmann.
Uma coisa é WWII amigo, outra, bem diferente, é a política de Estado de Israel, apoiada pelas potências ocidentais, no Oriente Médio.
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Obrigado pela sugestão amigo vou procurar assisti-lo, porém, não é crime rever os números da WWII, como alguns querem fazer parecer.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Os números sempre serão um problema. De fato a vítimas da WWII são estimativas aproximadas, é muito difícil apontar números exatos. De qualquer forma 1 milhão ou 2 para mais ou para menos não amenizará o fato de os campos de extermínio nazistas terem sido um dos exemplos mais atrozes de crime contra a Humanidade. Os "meios" e fins são mais importantes do q os "números". Infelizmente, o sionismo "holocaustizou" a WWII, pouco é lembrado na mídia ocidental sobre os homossexuais, ciganos e prisioneiros soviéticos exterminados nos campos de concentração e extermínio nazistas na Polônia. Muito menos dos mais de 20 milhões de soviéticos mortos durante a guerra. Faz parte da "Guerra Fria" travada pelo "imaginário" ocidental.
O documentário é facilmente encontrado em torrent; creio q haja legendas no legendas.tv, no momento não pude acessá-lo para conferir.
Obs.: são cerca de 9 horas e meia de doc . É um clássico da tématica, muito interessante pelo fato do diretor fazer entrevistas com sobreviventes, ex-nazistas e testemunhas, sem fazer uso das imagens arquivos da guerra.
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O documentário é facilmente encontrado em torrent; creio q haja legendas no legendas.tv, no momento não pude acessá-lo para conferir.
Obs.: são cerca de 9 horas e meia de doc . É um clássico da tématica, muito interessante pelo fato do diretor fazer entrevistas com sobreviventes, ex-nazistas e testemunhas, sem fazer uso das imagens arquivos da guerra.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
1 : Pessoal estudioso do assunto, diz que isto não corresponde a verdade. Se houvesse um só piloto alemão negro, nem que fosse de teco-teco, na Segunda Guerra, isso seria amplamente conhecido. Alguns dizem que o autor ouviu a designação, “os negros da Luftwaffe” (em alemão, é claro) e não tomou ciência de que isto se refere aos mecânicos de terra da força aérea. Uma referência ao trabalho duro desse pessoal, tipo “trabalho escravo”.
Isso é o que se diz...[/quote]
Os mecânicos da Luftwaffe eram chamados de negos pois esta era a cor dos seus uniformes de serviço.
Isso é o que se diz...[/quote]
Os mecânicos da Luftwaffe eram chamados de negos pois esta era a cor dos seus uniformes de serviço.
Não se queixe, não se explique, não se desculpe. Aja ou saia. Faça ou vá embora.
B. Disraeli
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Re: LAGER, o horror do nazismo.
Valeu, esse detalhe eu não sabia.Jorge Freire escreveu:Os mecânicos da Luftwaffe eram chamados de negos pois esta era a cor dos seus uniformes de serviço
Mas, pensando bem, essa deve ser uma boa para mecânicos. Disfarça melhor as manchas de graxa, óleo e coisa e tal.