Coreanos na Disputa da Marinha
Estaleiro coreano DSME apresenta proposta de participação na concorrência da Marinha do Brasil para a construção de 11 navios
O estaleiro coreano Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering Co., Ltd (DSME), entrou no páreo para participar do Programa de Reaparelhamento da Marinha. O objetivo é a construção de cinco fragatas, cinco navios-patrulha oceânicos de 1,8 mil toneladas e um navio de suporte. Os coreanos, representados no Brasil pela Gehr International, entregaram proposta à Diretoria de Engenharia Naval. O estaleiro italiano Fincatieri Navali Italiani já havia apresentado sua oferta.
O DSME lançou suas fichas na defesa de seu projeto no dia 10 de setembro, com a presença dos diretores Ricardo S.M., Deog-Soo Kim e o engenheiro sênior In-Sang Yoon. Atualmente, o estaleiro ocupa o segundo lugar do mundo em construção de navios, perdendo apenas para o estaleiro da Hyundai.
Em construção naval militar, a DSME ocupa a segunda posição na Ásia, mas em proporção quase equivalente ao principal concorrente, a Hyundai. Hoje, a DSME aparece como o único estaleiro da Coreia que exporta navios de combate e produz um faturamento que chega a US$ 12 bilhões ao ano. Constrói a cada ano uma média de 60 a 70 navios, gerando 12 mil empregos diretos e empregando 30.000 trabalhadores, entre os empregados diretos e indiretos, dentre os quais três mil são engenheiros. “Estamos no topo da construção naval militar. A tecnologia da Coreia é mais avançada que a dos europeus, pois já entramos no mercado agregando tecnologia de ponta, de 30 anos para cá”, defende o diretor de negócios da empresa Deog Soo-Kim.
Kim acena com transferência de tecnologia e a promoção de intercâmbio entre brasileiros e coreanos. As belonaves seriam construídas em estaleiro parceiro no Brasil. Segundo Kim, a DSME já participou com sucesso de certames anteriores e cita a transferência de tecnologia para a Romênia. Caso vençam a concorrência, os coreanos da DSME propõem visitas de inspeção, cursos de qualificação e cursos de operação, além do intercâmbio de pessoal. “O número de brasileiros (civis e militares) que seriam levados à Coreia para um intercâmbio tecnológico caberia a Marinha e ao estaleiro associado decidirem. Isso envolve não apenas cursos diretos, mas o afastamento temporário do país e das atividades profissionais de rotina. É uma questão de administração interna de cada parte envolvida”, ressalta Yoon.
“O Programa de Reaparelhamento da Marinha de Guerra deve chegar a 30 navios, por isso a DSME entende que não deve haver apenas um fornecedor e se coloca à disposição do governo brasileiro, para que, mesmo que não vença esta licitação, possa fornecer nos próximos projetos”, declara Kim. Segundo o diretor do DSME, o custo envolvido nesta licitação é de 3 a 4 bilhões de euros variando de acordo com as condições que ainda serão determinadas pela Marinha como, por exemplo, em que estaleiro serão construídos esses 11 navios.
O DSME defende sua adequação aos pré-requisitos do Estado-Maior, argumentando que desde 2006 já cumpre a nova orientação do Ministério da Defesa brasileira. A autoridade brasileira determina que o processo para a construção dos navios deve se basear, antes de tudo, em um contrato militar de governo a governo, para colaboração estratégica na área de defesa. O estaleiro afirma que seus navios são aptos a atender ao pacote divulgado pela Marinha do Brasil.
Os executivos do DSME visitaram vários estaleiros brasileiros e afirmam que a construção dos navios-patrulha oceânicos não encontrarão dificuldades relacionadas a instalações. Por outro lado, o salto tecnológico será bastante considerável: “As áreas visitadas são adequadas e poderíamos produzir os NPOs de 1,8 mil toneladas até mesmo no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), caso a Marinha Brasileira ache conveniente. Mas queremos, com isso, transferir tecnologia de navios militares para outros estaleiros, além do AMRJ”, diz o engenheiro sênior da DSME, In-Sang Yoon.
Segundo os representantes da empresa, a DSME tem excelentes relações com alguns laboratórios da área de Engenharia Naval e Oceânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o que também facilitaria as parcerias para transferir tecnologia aos brasileiros. “Este pode ser o ponto de partida para um eventual intercâmbio acadêmico e científico”, apontou Yoon.
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Navio Escolta Classe KDX II da DSME similar a que está sendo oferecido à Marinha do Brasil. Uma nova classe a KDXIII com sistema AEGIS está em produção para a Marinha da Coréia
Para o diretor de negócios da empresa Deog Soo-Kim, o mais imprescindível no momento é garantir que a fabricação no Brasil se compare ao padrão de qualidade da DSME, na Coreia do Sul.
O DSME apresenta como um dos argumentos a favor de seu projeto o preparo conquistado no contexto histórico-geográfico em que vive a Coreia do Sul, face a face com a inimiga Coreia do Norte. O diretor de negócios, Deog-Soo Kim, acredita que “por ter começado a construção de navios de guerra a partir dos anos 80, a empresa utiliza tecnologia mais nova que a dos europeus.
A francesa DCNS, responsável pela construção do estaleiro da Marinha onde serão construídos submarinos, também pretende participar da concorrência para a construção das fragatas. A empresa francesa tem contratos com a Marinha do Brasil para a construção dos submarinos, os quais também envolvem a Odebrecht. Já houve, inclusive, adiantamentos financeiros por parte da Marinha para execução dos contratos.
O programa dos submarinos totaliza investimentos de € 6,7 bilhões para um período de 15 anos, sendo que grande parte conta com financiamento francês
Em 24 de junho, o Brasil e a Itália firmaram acordo que resultará no desenvolvimento de projetos para a construção de navios. Assinado pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, e pelo subsecretário de Defesa da Itália, Guido Crosetto, o acordo inclui também transferências de tecnologia e desenvolvimento de sistemas de combate, navegação, armamento e radares.