Talvez a forma de apresentar a demanda pelos navios de escolta não seja a mais adequada, e por isso os programas sempre estão em risco de serem cancelados ou reduzidos. Na minha opinião a MB deveria fazer uma mudançca filosófica com relação especificamente a eles.Lord Nauta escreveu:Realmente as quantidades iniciais são uma grande preocupação. Fico temeroso em ficarmos no primeiro lote e em futuro breve ser preciso voltar as compras de oportunidade. Apesar da END da possibilidade de continuidade administrativa (vitoria da Dilma) nada descarta uma desaceleração dos investimentos em Defesa. A legislação impeditiva a este tipo de processo de fato não existe. Quanto a construção dos navios de superficie em minha opinião e com base as condições objetivas existentes no país (PIB, reservas cambiais, divida externa, capacitação industrial, nova frota mercante, pré-sal...etc) os primeiros lotes poderiam ter um maior numero de unidades.
Os navios de escolta em vez de 5 navios (que de fato vão substituir os classe Pará e a Dodsworth), deveriam ser ao menos 10. Os navios adicionais substituiriam cinco das atuais Fragatas ( as em piores condições operacionais na epóca do lançamento dos novos navios). Considerando que cada um destes navios tenham o custo de U$ 750 milhões,seriam U$ 7,5 bilhões ao longo de varios anos. Totalmente factivel com as condições do Brasil. Entretanto um lote de 10 navios deve abranger um planejamento que contemple modificações do projeto durante a construção, incluindo a possibilidade de atualização dos primeiros navios que serão entregues.
Desde sempre o comando da MB procura identificar as tarefas que os escoltas deveriam cumprir, define o número de meios necessários para isso e apresenta um plano de aquisição de X ou Y navios. O custo total do programa é X ou Y multiplicado pelo custo unitário, o que sempre dará um valor total muito alto. O fato deste valor ser dividido em décadas de investimentos passa a ser secundário na argumentação. Assim a discussão acaba recaindo sobre se o número solicitado de escoltas em si, se ele seria realmente necessário ou se poderia ser um número menor, ou se os navios poderiam ser de algum modelo mais barato (e portanto menos capaz ou de segunda mão), e por aí vai. Sem ameaças visíveis a enfrentar, a Marinha dificilmente encontra argumentos fortes para defender a quantidade e os modelos de navios que deseja, é sempre mais fácil para qualquer político dizer que não precisamos de mais do que um mínimo para manter os marinheiros ocupados e que nem precisariam ser novos, ou equipados com mais do que um ou dois canhões, etc... .
Imaginemos agora uma outra forma. Se supusermos que a marinha deseja 30 escoltas (nem é preciso discutir se são realmente necessários ou não) capazes de operar por 40 anos, isto significa que para manter este número um novo navio teria que ser entregue a cada 1,5 anos. Isto quer dizer um valor entre 500 milhões e 1 bilhão dividido por 1,5 ao ano, o que comparado a outros gastos anuais do governo como o bolsa família ou os juros da dívida pública é um valor pífio. Mas pode-se facilmente defender que se o programa for interrompido arrisca-se perder a capacidade de projeto/construção de navios, e inviabilizar por falta de continuidade uma série de desenvolvimentos locais de sistemas (SICONTA, MAGE, MSS-1, e o que mais pudermos fazer aqui) , prejudicando não só a marinha em si mas a indústria e a tecnologia nacionais. A questão passa a extrapolar a defesa apenas, mas a envolver o desenvolvimento do país, a manutenção de empregos altamente qualificados, etc..., e aí poucos políticos se atreveriam a ficar contra. Poderiam haver discussões sobre os modelos de navios em si, os sistemas a embarcar, etc..., mas se alguém falasse em interromper o programa teria que assumir pessoalmente o risco de prejudicar os diveros setores envolvidos, e aí a argumentação ficaria muito mais difícil. E caso surgisse uma venda para o exterior de algum navio de guerra desenvolvido no Brasil esta posição de construção continuada seria quase imbatível perante os políticos e a sociedade. É mais ou menos o que espera-se ver acontecer no caso dos Sub's.
É claro que isto só funcionaria se o índice de nacionalização dos navios fosse elevado, pois dizer que se vai simplesmente comprar os navios de um país qualquer não seria associado ao desenvolvimento nacional. Mas isto é até bom, pois desqualifica a idéia das compras de oportunidade. E para uma marinha que deseja possuir uma frota de superfície mais numerosa que a de países que são construtores tradicionais de navios de guerra, como Inglaterra e Itália, este não deveria ser nenhum problema.
Leandro G. Card