Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
"Adieu Vieille Europe, que le diable t’emporte …" (Adeus velha europa, que o diabo te leve...)
Foi no refrao deste cantico legionario que eu pensei quando o meu aviao levantou voo rumo a Africa, o continente dos meus sonhos, desde sempre.
Eu ja tinha estado em Africa antes de ir para Djibouti. Logo depois de acabar o meu serviço militar em Portugal e antes de começar a trabalhar, fiz uma subscriçao junto dos meus pais, e parti para a Guiné-Bissau, atravessando Marrocos, a Mauritania, o Senegal e a Gambia, viajando por terra e parando algum tempo em cada um destes paises. Uma pequena aventura que durou 6 meses e que foi muito rica em peripécias. Este nao é o tema da minha historia, mas serve para dizer que eu ja tinha uma pequena noçao do que é a Africa, nao so as matas densas e pantanosas da ex-Guiné portuguesa (por onde andei como «turista » ), como o deserto do Sahara que eu atravessei, mas sempre junto ao litoral onde se fazia sentir a brisa do oceano Atlântico.
Djibouti é diferente.
Djibouti, que tambem se chamou no passado « Somalia francesa« , e depois « Territorio francês dos Afars e dos Issas » era a terra por onde andou o poeta e aventureiro francês Arthur Rimbaud, e posteriormente, Henri de Manfred, cuja obra « Os Segredos do Mar Vermelho » tanto me fascinou na minha adolescencia .
Muita gente teria apreciado as paisagens francesas por onde andei na recruta, quando estive em França…mas eu daqui nao trago recordaçoes quase nenhumas, nem me sinto inspirado para as descrever, nem de França nem da fria Jugoslavia por onde tambem andei. Africa, no que tem de bom e no que tem de mau, esta gravada em mim. Quem sabe se estas coisas nao sao transmitidas geneticamente…de que outra maneira poderia ser, pois a minha infancia e adolescencia sao europeias , e so conheci Africa depois de adulto ?
Foi no refrao deste cantico legionario que eu pensei quando o meu aviao levantou voo rumo a Africa, o continente dos meus sonhos, desde sempre.
Eu ja tinha estado em Africa antes de ir para Djibouti. Logo depois de acabar o meu serviço militar em Portugal e antes de começar a trabalhar, fiz uma subscriçao junto dos meus pais, e parti para a Guiné-Bissau, atravessando Marrocos, a Mauritania, o Senegal e a Gambia, viajando por terra e parando algum tempo em cada um destes paises. Uma pequena aventura que durou 6 meses e que foi muito rica em peripécias. Este nao é o tema da minha historia, mas serve para dizer que eu ja tinha uma pequena noçao do que é a Africa, nao so as matas densas e pantanosas da ex-Guiné portuguesa (por onde andei como «turista » ), como o deserto do Sahara que eu atravessei, mas sempre junto ao litoral onde se fazia sentir a brisa do oceano Atlântico.
Djibouti é diferente.
Djibouti, que tambem se chamou no passado « Somalia francesa« , e depois « Territorio francês dos Afars e dos Issas » era a terra por onde andou o poeta e aventureiro francês Arthur Rimbaud, e posteriormente, Henri de Manfred, cuja obra « Os Segredos do Mar Vermelho » tanto me fascinou na minha adolescencia .
Muita gente teria apreciado as paisagens francesas por onde andei na recruta, quando estive em França…mas eu daqui nao trago recordaçoes quase nenhumas, nem me sinto inspirado para as descrever, nem de França nem da fria Jugoslavia por onde tambem andei. Africa, no que tem de bom e no que tem de mau, esta gravada em mim. Quem sabe se estas coisas nao sao transmitidas geneticamente…de que outra maneira poderia ser, pois a minha infancia e adolescencia sao europeias , e so conheci Africa depois de adulto ?
Editado pela última vez por legionario em Sáb Set 18, 2010 5:03 pm, em um total de 2 vezes.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Um pedido, quando chegares à parte do Curso Commandos faz um uma descrição detalhada, é que a fase A do Curso de Precursores tem muitas influências nesse curso ( o que é feito pelos Páras Franceses em França e não nesse que é feito em África).
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Logo ao desembarcar no aeroporto de Djibouti, senti a opressao do ar quente , pesado e fétido que passava com dificuldade pelas narinas e nos envadia os pulmoes e tambem da humidade que quase imediatamente nos colou as roupas ao corpo. Esta era outra Africa, a Africa do mar Vermelho e do deserto que para além de ser um dos mais quentes do mundo, é ainda atravessado por uma tribo nomada semi-selvagem, os Afar (tambem conhecidos por Danakil) que frequentemente guerreia com os Issas, uma tribo de origem somali que é a dominante em Djibouti e que controla a vida politica deste pequeno pais de 800 000 habitantes, encravado entre a Etiopia, a Eritreia e a Somalia.
Nesta altura, em 1989/1990, começava a guerra que ainda hoje perdura na Somalia e que desagregou completamente este pais, e ainda a guerra da independencia da Eritreia que haveria de se separar da Etiopia em 1993 ao fim de um terrivel conflito que provocou centenas de milhar de mortos.
A presença de forças francesas nesta sua antiga colonia, assegura nao so um trampolim para estas regioes de conflito como assegura a segurança da mais importante via maritima para o Ocidente que é o canal do Suez, por onde transita parte importante do petroleo com destino à europa.
A presença francesa nao é pacificamente aceite por parte da populaçao e quando as nossas colunas atravessavam alguns bairros da periferia da capital (que tambem se chama Djibouti), eramos frequentemente apredejados, sobretudo por elementos da etnia Issa. Estes bairros estavam-nos tambem proibidos quando saiamos de folga, pelos muitos casos de agressoes , de assassinatos e até de atentados bombistas de que eram alvo as forças francesas.
Foi pois este clima que fui encontrar quando fui afectado à 13ème DBLE.
Nesta altura, em 1989/1990, começava a guerra que ainda hoje perdura na Somalia e que desagregou completamente este pais, e ainda a guerra da independencia da Eritreia que haveria de se separar da Etiopia em 1993 ao fim de um terrivel conflito que provocou centenas de milhar de mortos.
A presença de forças francesas nesta sua antiga colonia, assegura nao so um trampolim para estas regioes de conflito como assegura a segurança da mais importante via maritima para o Ocidente que é o canal do Suez, por onde transita parte importante do petroleo com destino à europa.
A presença francesa nao é pacificamente aceite por parte da populaçao e quando as nossas colunas atravessavam alguns bairros da periferia da capital (que tambem se chama Djibouti), eramos frequentemente apredejados, sobretudo por elementos da etnia Issa. Estes bairros estavam-nos tambem proibidos quando saiamos de folga, pelos muitos casos de agressoes , de assassinatos e até de atentados bombistas de que eram alvo as forças francesas.
Foi pois este clima que fui encontrar quando fui afectado à 13ème DBLE.
Editado pela última vez por legionario em Sáb Set 18, 2010 5:08 pm, em um total de 1 vez.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Recem chegado ao meu novo regimento, seguiram-se os procedimentos habituais : apresentaçao ao capitao comandante da 3a companhia , afectaçao à minha nova secçao, apresentaçao ao chefe desta, um sargento-chefe mexicano de nome Perez, e ao sargento meu chefe de grupo e igualmente aos cabos do enquadramento, um dos quais, o cabo Withe, um irlandês que viria a morrer uns meses mais tarde,, seria o meu chefe de equipa.
Foi-me distribuido o fardamento tropical que era diferente do usado na metropole como ja repararam nas fotos, e foram-me explicadas as novas regras.
O ambiente que reinava nesta companhia operacional era muito diferente daquele que eu tinha conhecido na instruçao .
Durante as 5 semanas de « férias » que tive em Aubagne enquanto esperava o embarque para Djibouti, tivemos oportunidade de descomprimir um bocado do stress acumulado em Castelnaudary, pois podiamos sair à rua e frequentemente eu e os meus camaradas iamos para Marselha onde corremos os melhores bares do Vieux Port e onde gastamos uma boa parte do nosso dinheiro em boas companhias. Tivemos tambem direito a uma estadia no centro de Malmousque, um verdadeiro hotel que a legiao possui, perto do Vieux Port, mesmo junto ao mar, e onde estivemos gratuitamente.
Estas 5 semanas em Aubagne e Marselha amoleceram-nos um bocado, sem contudo nos terem feito esquecer os rigores do regimento de instruçao e foi uma agradavel surpresa constatar que a vida numa unidade operacional era algo diferente. O mesmo rigor durante o serviço mas um certo à vontade durante as horas de repouso.
Foi-me distribuido o fardamento tropical que era diferente do usado na metropole como ja repararam nas fotos, e foram-me explicadas as novas regras.
O ambiente que reinava nesta companhia operacional era muito diferente daquele que eu tinha conhecido na instruçao .
Durante as 5 semanas de « férias » que tive em Aubagne enquanto esperava o embarque para Djibouti, tivemos oportunidade de descomprimir um bocado do stress acumulado em Castelnaudary, pois podiamos sair à rua e frequentemente eu e os meus camaradas iamos para Marselha onde corremos os melhores bares do Vieux Port e onde gastamos uma boa parte do nosso dinheiro em boas companhias. Tivemos tambem direito a uma estadia no centro de Malmousque, um verdadeiro hotel que a legiao possui, perto do Vieux Port, mesmo junto ao mar, e onde estivemos gratuitamente.
Estas 5 semanas em Aubagne e Marselha amoleceram-nos um bocado, sem contudo nos terem feito esquecer os rigores do regimento de instruçao e foi uma agradavel surpresa constatar que a vida numa unidade operacional era algo diferente. O mesmo rigor durante o serviço mas um certo à vontade durante as horas de repouso.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Logo ao entrar no meu novo quarto, que eu partilhava com mais 6 legionarios constatei as diferenças. A sesta era obrigatoria nas horas de maior calor, entre o meio-dia e as 15h30, os quartos eram climatizados, e duas grandes ventoinhas no tecto batiam o ar com o seu barulho caracteristico . Os légionarios mais antigos tinham aparelhagens de som e todo o tipo de equipamentos pessoais como cameras de filmar, maquinas fotograficas ou roupas civis, apesar de ser obrigatorio sair fardado durante as folgas e os fins de semana.
O ambiente no quarto quando la entrei pela primeira vez era quase surrealista, com uma aparelhagem a debitar Jean Michel Jarre em altos berros, as portas dos armarios abertas revelavam na sua parte interior, grandes posters de mulheres nuas. Dois legionarios estavam deitados, um deles completamente nu, lado a lado na mesma cama ; um outro cuja unica peça de vestuario eram os chinelos de plastico que tinha nos pés e uns auscultadores na cabeça , dançava em movimentos desordenados que nada tinham a vêr com o ritmo da musica, … e o cabo, chefe do quarto, completamente indiferente quando me pus em sentido diante dele para me apresentar, tal e qual como tinha aprendido na instruçao.
A partir de agora, a apresentaçao aos cabos era feita com um simples : « legionario De Sousa Ferreira às vossas ordens caporal » e todo aquele bla bla bla que lhes era devido durante a instruçao, era agora reservado somente aos sargentos e aos officiais, explicou-me ele.
Os meus colegas de quarto, o cabo inclusivé, eram todos tipos descontraidos , meio-lunaticos, mas simpaticos que me puseram logo à vontade. Apesar de alguns deles serem ja legionarios de 1a classe, ja com uma certa antiguidade, nenhum se mostrou arrogante ou procurou abusar, como aconteceu nos quartos vizinhos com outros camaradas que tinham chegado ao mesmo tempo que eu, e que tiveram que gramar com as faxinas todas.
O ambiente no quarto quando la entrei pela primeira vez era quase surrealista, com uma aparelhagem a debitar Jean Michel Jarre em altos berros, as portas dos armarios abertas revelavam na sua parte interior, grandes posters de mulheres nuas. Dois legionarios estavam deitados, um deles completamente nu, lado a lado na mesma cama ; um outro cuja unica peça de vestuario eram os chinelos de plastico que tinha nos pés e uns auscultadores na cabeça , dançava em movimentos desordenados que nada tinham a vêr com o ritmo da musica, … e o cabo, chefe do quarto, completamente indiferente quando me pus em sentido diante dele para me apresentar, tal e qual como tinha aprendido na instruçao.
A partir de agora, a apresentaçao aos cabos era feita com um simples : « legionario De Sousa Ferreira às vossas ordens caporal » e todo aquele bla bla bla que lhes era devido durante a instruçao, era agora reservado somente aos sargentos e aos officiais, explicou-me ele.
Os meus colegas de quarto, o cabo inclusivé, eram todos tipos descontraidos , meio-lunaticos, mas simpaticos que me puseram logo à vontade. Apesar de alguns deles serem ja legionarios de 1a classe, ja com uma certa antiguidade, nenhum se mostrou arrogante ou procurou abusar, como aconteceu nos quartos vizinhos com outros camaradas que tinham chegado ao mesmo tempo que eu, e que tiveram que gramar com as faxinas todas.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Os primeiros dias foram até simpaticos, pois os recem-chegados tinham direito a um periodo de aclimataçao de duas semanas, durante as quais nao faziamos grandes esforços fisicos. Para além disso, podiamos sair à rua depois das horas des serviço, salvo erro, a partir das 19h00.
As instalaçoes do quartel estavam a uns poucos quilometros do centro da cidade e diante da porta de armas, desenas de velhos taxis aguardavam os légionarios para os conduzir aos bares e restaurantes da cidade.
Como em todas as cidades africanas onde estacionam tropas europeias, a vida nocturna era muito movimentada, e centenas de mulheres oriundas dos paises vizinhos, sobretudo da Etiopia e da Somalia, lançavam as suas redes na esperança de captar as atençoes dum soldado europeu, que elas sabiam, tinham muito dinheiro para gastar.
Em todos os lados do mundo existe miseria e esta leva frequentemente à prostituiçao ; aqui em Djibouti era particularmente verdade, e os legionarios, no meio deste ambiente, privados completamente do afecto da sua familia eram nao so predadores como vitimas. Muitos legionarios tinham uma namorada local, a quem pagavam a casa ou o quarto e as suas necessidades basicas ; em troca recebiam afecto e amor. Isto nunca durava muito tempo, pois uma comissao dura dois anos ao fim dos quais o légionarios se vai embora…obrigando a sua « senhora » a lançar novamente as redes.
Neste regimento havia um dos ultimos bordeis militares ainda em serviço no exército francês e a que nos chamavamos o Bataclan ou o Puf.
O bordel militar, que em tempos mais antigos era coisa frequente nas unidades militares francesas , consistia num verdadeiro clube no interior da caserna. Este clube era gerido por um cabo-chefe antigo, que nao so contratava as meninas, como geria o bar de uma mao de ferro,. Estas tinham uma caderneta de saude e eram controladas pelo médico regularmente. Antes de entrarmos, um enfermeiro inspecionava-nos o pénis … pagava-mos uma quantia qualquer para estar com a rapariga num dos quartos disponiveis no clube e tudo funcionava como num bar civil, com musica, bebidas, etc.
Pouco tempo depois da minha chegada, mudou o comandante do regimento. O coronel Le Flem, era um catolico praticante e acabou com este bordel dentro do regimento, para desgosto de muitos legionarios.
As instalaçoes do quartel estavam a uns poucos quilometros do centro da cidade e diante da porta de armas, desenas de velhos taxis aguardavam os légionarios para os conduzir aos bares e restaurantes da cidade.
Como em todas as cidades africanas onde estacionam tropas europeias, a vida nocturna era muito movimentada, e centenas de mulheres oriundas dos paises vizinhos, sobretudo da Etiopia e da Somalia, lançavam as suas redes na esperança de captar as atençoes dum soldado europeu, que elas sabiam, tinham muito dinheiro para gastar.
Em todos os lados do mundo existe miseria e esta leva frequentemente à prostituiçao ; aqui em Djibouti era particularmente verdade, e os legionarios, no meio deste ambiente, privados completamente do afecto da sua familia eram nao so predadores como vitimas. Muitos legionarios tinham uma namorada local, a quem pagavam a casa ou o quarto e as suas necessidades basicas ; em troca recebiam afecto e amor. Isto nunca durava muito tempo, pois uma comissao dura dois anos ao fim dos quais o légionarios se vai embora…obrigando a sua « senhora » a lançar novamente as redes.
Neste regimento havia um dos ultimos bordeis militares ainda em serviço no exército francês e a que nos chamavamos o Bataclan ou o Puf.
O bordel militar, que em tempos mais antigos era coisa frequente nas unidades militares francesas , consistia num verdadeiro clube no interior da caserna. Este clube era gerido por um cabo-chefe antigo, que nao so contratava as meninas, como geria o bar de uma mao de ferro,. Estas tinham uma caderneta de saude e eram controladas pelo médico regularmente. Antes de entrarmos, um enfermeiro inspecionava-nos o pénis … pagava-mos uma quantia qualquer para estar com a rapariga num dos quartos disponiveis no clube e tudo funcionava como num bar civil, com musica, bebidas, etc.
Pouco tempo depois da minha chegada, mudou o comandante do regimento. O coronel Le Flem, era um catolico praticante e acabou com este bordel dentro do regimento, para desgosto de muitos legionarios.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
A Legiao nao é so deveres e restriçoes, tambem é viagens, aventura e divertimento.
Desculpem os mais pudicos, mas esta é a realidade da vida de um legionario. E é so a verdade que eu vos relato, seja ela boa ou ma, moral ou imoral.
Nas ilhas Maskalis, Mar Vermelho, ao largo de Djibouti. A Legiao tem aqui um centro de lazeres. Reparem na transparencia das aguas... e com uma excelente temperatura, eu passava horas de "molho"
Com o meu amigo Silva, um paraquedista legionario em comissao de dois anos em Djibouti.
Desculpem os mais pudicos, mas esta é a realidade da vida de um legionario. E é so a verdade que eu vos relato, seja ela boa ou ma, moral ou imoral.
Nas ilhas Maskalis, Mar Vermelho, ao largo de Djibouti. A Legiao tem aqui um centro de lazeres. Reparem na transparencia das aguas... e com uma excelente temperatura, eu passava horas de "molho"
Com o meu amigo Silva, um paraquedista legionario em comissao de dois anos em Djibouti.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
A primeira vez que a secçao montou nos veiculos para sair em patrulha de reconhecimento foi para mim um momento de grande excitaçao…mas tambem de algumas decepçoes.
Os nosso camioes atravessaram os suburbios da capital para alcançar o deserto. Fiquei muito surpreendido com a chuva de pedras que alguns miudos nos arremessaram ao passar perto dum bairro onde habitavam pessoas de etnia Issa. Porque razao faziam eles aquilo ? Que mal lhes fazia a França para que os seus soldados fossem assim apedrejados ?
Eram coisas da politica a que eu so muito mais tarde daria importancia e compreenderia.
Entretanto eu estava completamente absorto pelas paisagens semi-deserticas que começavamos a atravessar, os rebanhos de camelos e de cabras que conseguiam descobrir pasto no meio dos calhaus, as mulheres vestidas da cabeça aos pés com trajos coloridos, os homens da tribo Afar, montados em camelos ou em cavalos e com o seu sabre à cintura, Todos estes detalhes me maravilhavam.
Ja no interior do pais passamos perto dum pequeno acampamento da tribo nomada Afar, que era mais amigavel com os franceses e fizemos um alto. Muitos miudos vieram a correr ter connosco para nos pedir comida. Nos tinhamos todos algumas embalagens de raçoes de combate a mais. Eu abri algumas para distribuir o seu conteudo pelos miudos. Alguns dos meus colegas ingleses, chamaram os miudos, pretendendo que lhes iam dar latas de conserva, e quando estes se aproximaram dos carros todos contentes, aqueles em vez de lhes darem a comida, abriram as latas e despejaram o seu conteudo na areia do deserto ! Eu e alguns outros camaradas ficamos indignados e fizemo-lo sentir àqueles animais. Estes, como eram mais antigos, nao aceitaram muito bem a nossa intervençao e gerou-se ali uma situaçao de tensao entre nos que haveria de perdurar no tempo. Foi o primeiro dos muitos conflitos que tive com esses anormais de ingleses bebedos, arrogantes e insuportavelmente racistas.
Num outro alto que fizemos perto duma pequena aldeia, os miudos vieram, como sempre, ter connosco para nos pedir comida. Como ja tinhamos acabado o nosso stock de bebidas, pedimos que nos fossem buscar à venda da aldeia algumas coca-colas e fantas. Entregamos-lhes o dinheiro, e eles la foram… trazendo religiosamente o troco das notas que lhes tinhamos passado para as maos. Se fosse na Europa, os garotos teriam logo fugido com o dinheiro…
Um outro miudo de 12 ou 13 anos, que encontramos mais adiante a pastar o seu rebanho pediu-me que lhe desse fosforos, o que para eles, ali no meio do deserto, era coisa de luxo. Dei-lhe imediatamente todos os que tinha. O miudo foi buscar um cordeiro com semanas de vida e …ofereceu-mo !! Claro que recusei o bicho, agradecendo-lhe na mesma o seu gesto de reconhecimento. Na nossa sociedade ocidental e consumista os comportamentos sao bem diferentes !
Os nosso camioes atravessaram os suburbios da capital para alcançar o deserto. Fiquei muito surpreendido com a chuva de pedras que alguns miudos nos arremessaram ao passar perto dum bairro onde habitavam pessoas de etnia Issa. Porque razao faziam eles aquilo ? Que mal lhes fazia a França para que os seus soldados fossem assim apedrejados ?
Eram coisas da politica a que eu so muito mais tarde daria importancia e compreenderia.
Entretanto eu estava completamente absorto pelas paisagens semi-deserticas que começavamos a atravessar, os rebanhos de camelos e de cabras que conseguiam descobrir pasto no meio dos calhaus, as mulheres vestidas da cabeça aos pés com trajos coloridos, os homens da tribo Afar, montados em camelos ou em cavalos e com o seu sabre à cintura, Todos estes detalhes me maravilhavam.
Ja no interior do pais passamos perto dum pequeno acampamento da tribo nomada Afar, que era mais amigavel com os franceses e fizemos um alto. Muitos miudos vieram a correr ter connosco para nos pedir comida. Nos tinhamos todos algumas embalagens de raçoes de combate a mais. Eu abri algumas para distribuir o seu conteudo pelos miudos. Alguns dos meus colegas ingleses, chamaram os miudos, pretendendo que lhes iam dar latas de conserva, e quando estes se aproximaram dos carros todos contentes, aqueles em vez de lhes darem a comida, abriram as latas e despejaram o seu conteudo na areia do deserto ! Eu e alguns outros camaradas ficamos indignados e fizemo-lo sentir àqueles animais. Estes, como eram mais antigos, nao aceitaram muito bem a nossa intervençao e gerou-se ali uma situaçao de tensao entre nos que haveria de perdurar no tempo. Foi o primeiro dos muitos conflitos que tive com esses anormais de ingleses bebedos, arrogantes e insuportavelmente racistas.
Num outro alto que fizemos perto duma pequena aldeia, os miudos vieram, como sempre, ter connosco para nos pedir comida. Como ja tinhamos acabado o nosso stock de bebidas, pedimos que nos fossem buscar à venda da aldeia algumas coca-colas e fantas. Entregamos-lhes o dinheiro, e eles la foram… trazendo religiosamente o troco das notas que lhes tinhamos passado para as maos. Se fosse na Europa, os garotos teriam logo fugido com o dinheiro…
Um outro miudo de 12 ou 13 anos, que encontramos mais adiante a pastar o seu rebanho pediu-me que lhe desse fosforos, o que para eles, ali no meio do deserto, era coisa de luxo. Dei-lhe imediatamente todos os que tinha. O miudo foi buscar um cordeiro com semanas de vida e …ofereceu-mo !! Claro que recusei o bicho, agradecendo-lhe na mesma o seu gesto de reconhecimento. Na nossa sociedade ocidental e consumista os comportamentos sao bem diferentes !
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Habitaçoes dos nomadas "Afar"
Caravana Afar : transporte do sal a partir do Lago Assal, uma das regioes mais quentes do globo. Frequentemente mais de 50°
Homem da tribo Afar com o seu sabre caracteristico. Este curso de agua que vêm é ocasionado pelas raras mas violentas chuvadas, secando pouco tempo depois.
O nosso VLRA -veiculo ligeiro de reconhecimento armado
A pequena "cidade" OBOCK, que atravessamos durante uma patrulha
Caravana Afar : transporte do sal a partir do Lago Assal, uma das regioes mais quentes do globo. Frequentemente mais de 50°
Homem da tribo Afar com o seu sabre caracteristico. Este curso de agua que vêm é ocasionado pelas raras mas violentas chuvadas, secando pouco tempo depois.
O nosso VLRA -veiculo ligeiro de reconhecimento armado
A pequena "cidade" OBOCK, que atravessamos durante uma patrulha
Editado pela última vez por legionario em Dom Set 19, 2010 7:52 am, em um total de 1 vez.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Muito bacana mesmo......
que tal fazermos uma hq ou livro ilustrado disso? Topas?
que tal fazermos uma hq ou livro ilustrado disso? Topas?
- Naval
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Grande tópico Legionário!
O melhor dos últimos tempos sem dúvida.
Abraços.
O melhor dos últimos tempos sem dúvida.
Abraços.
"A aplicação das leis é mais importante que a sua elaboração." (Thomas Jefferson)
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Topo simgribel escreveu:Muito bacana mesmo......
que tal fazermos uma hq ou livro ilustrado disso? Topas?
Um destes dias podemos pensar nisso
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
Muito obrigado !Naval escreveu:Grande tópico Legionário!
O melhor dos últimos tempos sem dúvida.
Abraços.
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Re: Legião Estrangeira, a minha experiência pessoal.
O bom ambiente que reinava no meu quarto mudou radicalmente com a chegada do legionario Amir, um libanês que tinha sido membro de uma das milicias libanesas durante a guerra civil no Libano. Eu ja o tinha conhecido antes em Aubagne e haveria de o tornar a vêr, cerca de 2 anos mais tarde, num tribunal em Paris, desta vez ele ia algemado e no meio de dois gendarmes . A razao de eu comparecer em tribunal explico mais adiante e a razao dele comparecer tem a vêr com uma navalha que ele cravou na cabeça dum cabo, pondo-o em coma e entre a vida e a morte, durante semanas.
Este Amir, logo desde a sua chegada provocou pelos motivos mais ridiculos, violentas disputas com varios legionarios e revoltava-se facilmente contra os cabos a tal ponto que alguns destes nao escondiam o receio que tinham dele. Como ele foi para o meu quarto, as brigas aqui eram quase diarias … e se nao havia razao para tal, o Amir inventava.
Durante algumas poucas semanas tivemos um ambiente terrivel, e no quarto começamos a conspirar entre nos e a imaginar uma maneira de pôr cobro àquela situaçao de uma maneira radical . Nao foi preciso, pois tudo acabou no dia em que ele quase matou o cabo da forma que descrevi e foi parar à prisao onde ficou alguns anos.
Este Amir, logo desde a sua chegada provocou pelos motivos mais ridiculos, violentas disputas com varios legionarios e revoltava-se facilmente contra os cabos a tal ponto que alguns destes nao escondiam o receio que tinham dele. Como ele foi para o meu quarto, as brigas aqui eram quase diarias … e se nao havia razao para tal, o Amir inventava.
Durante algumas poucas semanas tivemos um ambiente terrivel, e no quarto começamos a conspirar entre nos e a imaginar uma maneira de pôr cobro àquela situaçao de uma maneira radical . Nao foi preciso, pois tudo acabou no dia em que ele quase matou o cabo da forma que descrevi e foi parar à prisao onde ficou alguns anos.
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