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Mensagem
por Clermont » Qui Set 16, 2010 10:36 am
A GUERRA IRÃ-ISRAEL NÃO É INEVITÁVEL.
Por Rex Wingerter - 16 de setembro de 2010.
Um coro de especialistas, ultimamente, tem argumentado que um ataque israelense contra as instalações nucleares do Irã é, ou inevitável ou recomendável. Recentemente, Jeffery Goldberg previu no The Atlantic que Israel atacaria em julho. Reuel Marc Gerecht, um editor para o Weekly Standard proclama que a estabilidade regional exige que Israel não gaste mais tempo para desfechar um ataque preventivo. Estes argumentos, previsivelmente, se originam da turba neoconservadora que exigiu que os Estados Unidos derrubassem Saddam Hussein como um caminho rumo à mudança de regime no Irã.
Mas, vozes similares tem sido ouvidas fora da coorte usual. Quase um terço dos republicanos da Casa dos Representantes assinou uma resolução endossando um ataque israelense preventivo contra o Irã. Um relatório do denominado Centro de Política Bipartidária, de coautoria de dois ex-senadores americanos, prevê um ataque israelense. O Joint Forces Quarterly, uma publicação da Universidade Nacional de Defesa, recentemente, aconselhou que os Estados Unidos precisam "se preparar para as inevitáveis conseqüências" de um ataque israelense contra o Irã.
Comum a estas visões de videntes e conselheiros é imagem de um ataque nuclear iraniano contra Israel. Inexplicavelmente ausente do argumento está qualquer consideração de por quê o Irã desfecharia um primeiro ataque contra Israel. O discurso vitriólico, anti-sionista e negacionista do Holocausto do presidente Ahmadinejad é inescrupuloso, mas não se traduz numa intenção clara de lançar um míssil nuclear contra Israel.
Os cálculos racionais do Irã.
As exortações agressivas de Ahmadinejad visam a agrupar a "rua árabe" e mostrar que um líder persa se importa mais com os palestinos do que os líderes árabes. Mas, até mesmo esta retórica pró-palestina tem se mostrado, em grande medida, vazia. Durante o assalto israelense de três semanas contra Gaza, o Irã não ofereceu nenhuma ameaça crível contra Israel e nem pressionou os estados árabes vizinhos para intervirem contra a carnificina. O Irã, de forma similar, deixou os aliados do Hezbollah ao seu destino, durante a guerra de 2006 no sul do Líbano. E, antes do que colocar em risco seus intereresses maiores econômicos e políticos, o Irã permaneceu, relativamente silencioso, quando a Rússia e a China, violentamente, reprimiram ativistas islâmicos, na Chechênia e entre os uigures étnicos na região do Sinkiang.
Este comportamento é ilustrativo de um regime que calcula, racionalmente, seus interesses nacionais de estado. Israel é um estado nuclear, com sistemas de lançamento terrestres, aéreos e marítimos, e o estado judaico retaliaria, maciçamente, se o Irã atacasse. A liderança do Irã não mostra, predileção alguma, para cometer suicídio. A repressão política, no Irã, seguindo-se as eleições fraudulentas de junho de 2009, sublinham a intenção do Líder Supremo, Khamenei e de Ahmadinejad, de manterem o poder político, a qualquer custo. Eles não vão jogar fora esta posição, com um fútil ataque contra Israel. Os substanciais investimentos pessoais dos, ideologicamente apaixonados, líderes da Guarda Revolucionária, em todos os setores da economia iraniana, ilustrados num estudo da Rand Corporation, de 2009, deverão moderar sua ânsia por uma guerra desnecessária. Até mesmo zelotas querem preservar seu poder e influência.
Finalmente, um ataque nuclear contra Israel, provavelmente, destruirá Jerusalém, um reverenciado lugar santo muçulmano. Ele mataria uma substancial parcela dos mais de um milhão e meio de muçulmanos árabe-israelenses (23 porcento da população de Israel) e talvez, uma fatia dos quatro milhões de muçulmanos que moram na Margem Ocidental e em Gaza. Tal morte e destruição, com certeza, não seriam vistos como vitória no Irã ou no mundo muçulmano.
Diversas respostas israelenses.
A beligerância de Ahmadinejad é razão para muitos israelenses temerem um Irã nuclear. Mas nem todos os líderes israelenses acreditam que o Irã é uma ameaça mortal imbatível. "O Irã compreende, muito bem," raciocinou o Ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, "que um ataque desta espécie o faria recuar milhares de anos na história." O antigo chefe do Mossad, Ephraim Halevi, de forma similar, acredita que a capacidade do Irã e a vulnerabilidade de Israel são exageradas. Como ele expôs, numa entrevista em 2009, "O Irã não é uma ameaça existencial. Não está ao alcance do Irã, o poder para destruir o estado de Israel - no máximo, ele pode provocar graves danos. Israel é indestrutível."
A afirmação de que o Irã está à beira de adquirir uma arma nuclear é, de modo similar, equivocado. O tenente-general do Exército, James Cartwright, o Vice-Presidente da Junta de Chefes de Estado-Maior, oferece uma avaliação mais precisa. Testemunhando, em abril de 2010, diante do Comitê das Forças Armadas do Senado, ele estimou que o Irã está há três ou cinco anos distante da construção de uma arma nuclear. E mais, esta avaliação pode ter superestimado a capacidade tecnológica do Irã: o julgamento de Cartwright inclui a obtenção simultânea, pelo Irã, de uma suficiente quantidade de urânio, altamente enriquecido, montar uma bomba funcional e construir um míssil de precisão. Mas, até isto pressupõe que o regime iraniano decidiu construir uma bomba, um veredido carecendo de apoio em evidências. Muitos observadores acreditam que o Irã, no final, adotará a "opção Japão": possuir a capacidade de construir, rapidamente, uma arma nuclear, se suficientemente ameaçado.
Um ataque israelense, apenas, faria recuar, mas não destruiria a indústria nuclear do Irã. Um documento do Oxford Research Group, previu que, após um ataque, o Irã abandonaria o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (por quê permanecer, quando um estado não-signatário bombardeia, impunemente, um estado signatário?) e não teria mais razões para deixar de iniciar um programa de armas nucleares. Israel sentiria-se compelido a atacar, de novo, detonando uma série de contra-ataques em escalada. O Oriente Médio, inteiro, rapidamente, mergulharia numa onda de violência.
Jogos de Guerra.
Num jogo de guerra, executado em dezembro de 2009, na Brookings Institution, um ataque israelense ao Irã desencadeou uma conflagração regional. De acordo com o cenário, a luta escalaria para incluir Líbano e Gaza, ataques terroristas em Israel e Europa, ataques de mísseis contra os campos petrolíferos sauditas, ataques ao navios petroleiros, minagem do Estreito de Ormuz e, por fim, uma maciça intervenção militar dos Estados Unidos na região do Golfo. Um ataque complicaria, enormemente, os atuais esforços americanos para estabilizar o Iraque, Afeganistão e Paquistão. Um relatório do International Crisis Group, recentemente, descreveu, com arrepiantes detalhes, como Israel, Hezbollah, Síria e Irã, atualmente estão posicionados um precário equilíbrio do terror. A menor provocação ou erro de cálculo, podem detonar uma carnificina, até hoje, nunca vista no moderno Oriente Médio. Uma catástrofe, que um ataque contra o Irã, certamente, provocará.
Um ataque israelense reforçaria a propaganda da al-Qaeda de que os Estados Unidos estão em guerra com o Islã. Washington, atualmente, combate em cinco países muçulmanos (Iraque, Afeganistão, Paquistão, Iêmen e Somália). O mundo árabe outros países, majoritariamente muçulmanos, veriam os Estados Unidos como completos cúmplices em qualquer ataque israelense, um estado cristão apoiando um estado judeu para fazer guerra contra um sexto estado muçulmano. A posição do presidente Obama no mundo árabe, que uma nova pesquisa de opinião da Pew Research, mostra ter caído, enormemente, no último ano, mergulharia em queda livre, cancelando sua promessa de alcançar o mundo muçulmano.
Entre as muitas lições tiradas da invasão americana do Iraque, está que conseqüências imprevistas, invariavelmente, decorrem de uma guerra, mesmo uma de sua própria escolha. As atuais garantias de que um ataque israelense contra o Irã, protegeria os aliados dos Estados Unidos e reforçaria a paz e a estabilidade regional, devem ser tratadas com o mesmo respeito que agora concedemos as garantias da administração Bush de que o Iraque de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa.
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Rex Wingerter é editor de MiddleEastReads.com e um contribuidor para o Foreign Policy in Focus.