Frações de Infantaria

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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Re: Frações de Infantaria

#46 Mensagem por Clermont » Qui Jul 08, 2010 8:04 pm

AFEGANISTÃO – ANOS 2000.


DICAS DE UM COMBATENTE DA INFANTARIA MECANIZADA CANADENSE.

O máximo que nosso pelotão foi capaz de desmontar para qualquer contato foi de 17 elementos, incluindo o líder de pelotão e o suboficial de pelotão (platoon warrant-officer, sargento-adjunto no Brasil, sargento de pelotão nos EUA).

Armas coletivas que exigem serventes não funcionam. Nunca funcionaram numa situação de combate de rápida movimentação.

Os M203 eram inestimáveis, como eram as C-9 (versão canadense da “Minimi” 5,56 mm belga). A utilização maciça de granadas-de-mão foi adotada como nossa técnica de limpeza de aposentos.

As coisas andavam muito rápido para bases de fogo e armas coletivas.

A granada-de-mão C-13 (versão canadense da granada M67 americana), apresentava somente uma falhada, entre aproximadamente, cem arremessadas por nosso pelotão, em contato com o inimigo. Dependendo do tamanho do aposento e mobiliário, elas, somente, bagunçavam e irritavam, um pouco, o “timmy” (apelido canadense para os insurgentes afegãos), sendo assim, raramente jogávamos somente uma, e com freqüência, fazíamos com que um LAV III derrubasse a parede, para não termos de abrir a porta. Isto não acontecia o tempo todo, mas um bocado deste negócio de “abrir buraco de rato” com LAV foi feito, em especial, entre grandes instalações.

Tenha em mente que isto é o que o meu pelotão fez, cada pelotão fazia algo, um pouquinho diferente, e rendia resultados variados, todos os quais funcionaram, do seu próprio modo.

Os dias das seções de fuzileiros (GC nos exércitos da Comunidade Britânica) completas, em combate, acabaram. Viaturas precisam de guarnições; junte planos de licenças, e é claro, acrescente-se os feridos. Nós lutamos com filas de quatro homens por seção, na maioria dos nossos contatos com o inimigo (”TIC”, ou Troops In Contact) e isto funcionou muito bem.

Os TICs nestes ambientes se tratam totalmente de flanquear os outros sujeitos, e “timmy” adora flanquear; ele é agressivo e rápido, e irá pegar você pelo flanco, a não ser que você o pegue primeiro.

O TIC mediano tinha uns poucos sujeitos mantendo um terreno bom, enquanto todo mundo mais ia com tudo para os flancos, para envolver “timmy” e se os LAVs estavam próximos (e, normalmente, estavam) nós suprimíamos “timmy” até que o LAV visse nosso “splash” (o M203 era crucial nisto) e, então, ele despejava fogo de canhão 25 mm, até que o inimigo “vazasse” ou morresse lá mesmo, geralmente, meio-a-meio de cada.

As comunicações eram, quase todas, sinais manuais ou gritaria, o líder de pelotão estaria no rádio, pedindo CAS ou fogo de artilharia, por sorte meu líder de pelotão era grande nisto e foi de grande ajuda. O pelotão, na luta moderna, exerce muito pouca direção. Basicamente, mantém um quadro geral do que suas seções estão fazendo, e para onde estão indo, e coordena com o escalão superior. Ao nível de seção, minhas únicas preocupações eram não ficar excessivamente distendido, ou isolado, e isto, normalmente, não é um problema porque, na maior parte do tempo, você estabelece o passo e escolhe seu terreno, lentamente.

Vencer a troca de tiros precisa ser muito repensado. Há combates onde se levou, literalmente, uma hora para ganhar o tiroteio, então, algo acontecia, ou não acontecia e “timmy” estava de volta, com mala e cuia, e o tiroteio precisava ser vencido, de novo. Isto tudo é relevante para qualquer situação, você não não se move ou manda qualquer um se mover, a não ser que você tenha, absolutamente, liquidado “timmy”.

O TIC está acabado quando todos os “timmies” estão mortos ou em fuga, ou quando você tem de recuar para que o material da pesada (bombas da aviação) seja jogado nele. Então, você retorna e garante que estão todos mortos ou foragidos.

Ah, já ia esquecendo: os LAV III precisam de um telefone tipo tanque. Nós usávamos headsets sobressalentes, amarrados na escotilha traseira, mas utilizávamos tanto o LAV, como se fosse um tanque, naquele terreno, que um telefone seria jóia.

Devia ter mencionado antes, O SOCORRISTA (medic). Lembram-se dos velhos dias quando os socorristas do pelotão, basicamente, ficavam com seu pelotão, por um bocado de tempo? Assim, você podia conhecê-los, confiar neles, treinar com eles, etc.

Nós tivemos muita sorte em manter o mesmo socorrista durante sete meses. E ainda mais sortudos por ele ser um socorrista fantástico e lutar tão duro quanto qualquer um de nós. Ele não era “como nós”, ele era um de nós, e foi crucial, várias vezes.

Eu sei que as Forças Armadas estão curtas de pessoal, mas ter os mesmos socorristas, por longos períodos de tempo, para desenvolver um relacionamento funcional, é questão-chave.

No todo, nosso treinamento médico com QuikClot (produto médico, usado para deter hemorragias), torniquetes e bandagens tipo isralense, era grande e salvou vidas.

Vou dizer-lhes uma coisa, primeiro: nosso treinamento era bom o bastante; nosso equipamento era bom o bastante; nossas táticas eram boas o bastante – como foram emitidas/ensinadas... PORÉM...

Sem dúvida, o canhão de 25 mm infligiu a maioria das mortes inimigas. O típico atirador de 25 mm no nosso pelotão tinha mais de vinte, alguns perto de quarenta mortes. Grandes miras, ao par com uma grande arma, eram ideais para aquele ambiente de luta.

Tiros isolados versus rajadas de três tiros – a extensão dos TICs, exigia que os atiradores de 25 mm fossem cuidadosos com o gasto de munição. Naturalmente, o desenrolar da luta ditava o ritmo, e rajadas de 10 a 12 tiros foram utilizadas para supressão, mais do que uma vez.

O apoio aéreo aproximado (CAS), com helicópteros foi impressionante – nos salvou em Sangin (cidade afegã).

Não éramos fãs do CAS de asas fixas. Não era preciso e, em geral, não criava muitos danos... nos lugares certos.

Artilharia - adorávamos ela, sempre na hora certa, precisa e um bocado eficaz. A arrebentação no ar, sobre uma posição era uma coisa maravilhosa. Ocorreram várias missões que foram jóias e bem próximas, como elas precisavam ser.

No meu escalão (eu sou um cabo-mestre, lidero meus sujeitos no terreno) [no Exército canadense, um cabo é, somente, um soldado “sofisticado” e um cabo-mestre é o auxiliar do sargento, líder da seção de fuzileiros] as coisas que eu mudaria são:

1 - O desdobramento da seção em combate em localidades – O LAV III precisa ser utilizado como se fosse um tanque, no lugar destes. A seção precisa repensar sua organização – atacar com esquadras de fuzileiros à 4 homens. Nós desmontávamos com 2 M203; 1 C-9 e um fuzileiro que atuava como granadeiro (6 a 8 granadas) com M72.

O moderno campo de batalha não é condizente com um único par de homens, cobrindo um ao outro, avançando por lanços. O “timmy” precisa ser atingido com um monstruoso volume de fogo, apenas para vencer a troca de tiros, que dirá para avançar por lanços. Equipes de assalto com quatro homens fazem o serviço.

Limpar pelo fogo, então, um pouco mais de fogo, e depois da poeira baixar, limpe de novo e, SÓ DEPOIS, entre no aposento. O “timmy” é durão e resistente (e com a moringa cheia de ópio) e só morre depois de tomar uma boa sova. De nada adianta jogar uma só granada, então, ir correndo atrás. Granadas são baratas, nós não.

Esta é uma luta dos comandantes de seção de fuzileiros, deixem que eles a travem. (Nosso líder de pelotão deixava).

2 - A veste tática (tac vest) – Pelo amor de Deus, a veste tática... é um caso sério.

Eu levei uns esporros, bem no começo de nossa temporada, por ter dito algo sobre nossas vestes táticas conterem, apenas quatro carregadores! E isto NÃO é o bastante para se combater. Em alguns TICs eu só disparei cinco carregadores em cinco horas, em outros eu disparei dez carregadores, em cinco minutos. Eu precisava pegá-los, rapidamente, eis porque todos no meu pelotão usavam nossos próprios correames (rigs).

A veste tática não pode, com eficiência, conter bastante munição para um fuzileiro ou um atirador de C-9, ou um atirador de M203 (ambos os meus atiradores de C-9 usavam o correame webbing do velho estilo para conter quatro caixas)

Ela não contém água o bastante se você tiver de colocar todo o equipamento que precisa.

Há versões modulares, ou quase-modulares/correames fixos, que fazem um serviço muito melhor por um excelente preço. Ou podemos adaptar a idéia dos britânicos de permitir uma opção entre vários correames aprovados, e adaptá-los para o soldado individual. Eu já usei, antes, a analogia com jogadores de hóquei: nem dois sujeitos se trajam, exatamente iguais, mas estão todos com o mesmo uniforme.

Isto precisa funcionar para o indivíduo, a vida dele depende disto.

3 – Coturnos/meias – Nós achamos que o mesmo “gênio” que foi o autor da tragédia do coturno para clima úmido, criou o novo coturno para deserto, eis porque a maioria de nós comprou SWATS.

Imagem

Eles são mais leves e meus dois pares duraram a temporada inteira. Um dos meus sujeitos usou, apenas, os itens de dotação. Todos eles caíram em pedaços, por dentro e por fora.

E, também para estes que acham que este nojo de coturno de dotação é maravilhoso, experimentem um par de swats ou strykers. Juntem-se a nós no século novo do calçado que funciona e não aleija você.

As meias funcionaram, realmente bem, elas fazem aquela coisa “2 em 1”, com um só par de meias, legal, né?

4 - Nós subíamos um bocado de montanhas. Todos usávamos ou as mochilas de escalada estilo “MEC” (60 a 70 litros) ou mochilas “Blackhawk” ou “CamelBak, que tem cerca de 50 litros de estocagem e isto é tudo que você precisa para uns poucos dias fora, usando blindagem corporal. A mochila normal Padrão 64, simplesmente não é confortável. A mochila de uso diário tem aquele material escorregadio nas alças que se movem a cada passo, ughh.

Você só precisa carregar água, munição de reserva, barras energéticas e qualquer equipamento extra que lhe seja designado – geralmente, flares, arame e coisas do tipo. A água, naturalmente, é chave. Na média, para um avanço de dois dias, levávamos 8 a 9 litros d’água, cada um, com um processo de hidratação, no dia anterior, se disponível. Este é todo o peso que um homem pode carregar. Ou você recebe ressuprimento ou planeja para avanços curtos. Lá se atinge 65 graus mais do que umas poucas vezes.


(continua, noite dessas...)




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Re: Frações de Infantaria

#47 Mensagem por jumentodonordeste » Qui Jul 08, 2010 8:29 pm

Nós achamos que o mesmo “gênio” que foi o autor da tragédia do coturno para clima úmido, criou o novo coturno para deserto, eis porque a maioria de nós comprou SWATS.
Pessoal demorou quanto tempo para perceber isso?




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Re: Frações de Infantaria

#48 Mensagem por Moccelin » Sex Jul 09, 2010 7:31 pm

Agora é interessante notar o seguinte nesses textos: NADA de estrelas... Eu, se fosse um oficial general ou superior responsável por escolher equipamentos individuais em um Exército desses que estão em guerra (onde podemos incluir o Brasil e o Haiti, pelo menos em parte) aproveitaria o máximo possível a experiência de graduados como esses.

Tudo bem que existem alguns poréns que NORMALMENTE caras assim acabam não compreendendo, como o problema de a administração estar atada a certas regras na ocasião de aquisição de equipamentos desse tipo em grandes quantidades.

Porém é possível realizar compras respeitando as regras da boa administração, basta os oficiais responsáveis realmente TRABALHAREM em volta das reais necessidades dos usuários finais, e aí mora o problema. É um processo lento até um oficial voltado pro lado administrativo (o tipico cara responsável por licitações) entender o que o pé de poeira quer.

Mas isso pode acontecer! Eu ví acontecendo na AMAN esses tempos pra trás quando pararam de entregar uma boina chechelenta por ano, boina que NINGUÉM usava (chegando ao cúmulo de ocorrerem situações onde era proibido, de forma velada, óbviamente, o uso das mesmas), e passaram a entregar uma decente a cada dois anos, o mesmo pro coturno, que passaram a entregar um modelo com solado mais leve (e não o caixa d'água que ninguém usava), e até um tênis minimamente usável (apesar de que ainda é quase unânime o uso de tênis de melhor qualidade adquirido pelos próprios cadetes).

O próximo passo é coisa semelhante ocorrer com o resto do equipamento individual, como suspensório e cinto NA (substituindo-os por suspensórios mais modernos, ou coletes táticos) além de certos equipamentos que simplesmente nunca existiram nas fileiras do EB como joelheiras (ou apenas uma, que já bastaria), cotoveleiras (menos importante, mas ainda sim interessante), óculos, etc.

Algumas coisas seriam gastos "a mais", outros são simples substituições, e a preços similares se a licitação for muito bem amarrada.




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Re: Frações de Infantaria

#49 Mensagem por prp » Sex Jul 09, 2010 9:18 pm

jumentodonordeste escreveu:
Nós achamos que o mesmo “gênio” que foi o autor da tragédia do coturno para clima úmido, criou o novo coturno para deserto, eis porque a maioria de nós comprou SWATS.
Pessoal demorou quanto tempo para perceber isso?
esses coturnos SWATS é show, quando estava procurando um para comprar pensei seriamente em pegar um desses. Como o preço estava salgado acabei comprando um guartelá que é também é show só que é mais pesado.




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Re: Frações de Infantaria

#50 Mensagem por Clermont » Dom Jul 11, 2010 7:16 pm

AÇÃO EM SANGIN.

Sangin é um povoado grande – vários milhares de pessoas vivendo lá, o grosso delas tendo evacuado antes da luta.

Recebemos ordens para ir a Sangin e executar uma BDA (Battle Damage Assessment ou “Avaliação de Danos de Batalha”) num edifício que havia sido alvo de uma JDAM, no início daquele dia.

Incapazes de levar os LAV por todo o caminho, desmontamos cerca de 17 elementos do pelotão para avançar à pé, com os LAV fornecendo cobertura onde pudessem, também tínhamos helicópteros-canhoneiros no ar.

O # 1 – o ponteiro – com C-8 com M203. Transportando onze carregadores; 12 granadas para M203 e duas granadas-de-mão. (a C-8 é a versão canadense da carabina Colt Commando americana, com cano de 14,5 pol).

O # 2 com C-9, com quatro tambores e duas granadas-de-mão.

O # 3 com C-8/M203 com dez carregadores, doze granadas M203 e quatro granadas-de-mão. (o autor não diz, mas, pelo texto, subentende-se que ele fosse o elemento # 3.)

O # 4 com C-7A2, com dez carregadores; oito granadas-de-mão e um M72 LAW. (o C-7A2 é a versão canadense do fuzil M-16A2, com cano de 20 pol.)

As viaturas estacionaram numa estrada, no povoado, fomos em frente, cerca de 200 m em movimento, tivemos de atravessar um largo fosso, com um muro de 1,20 m no lado afastado. Eu mesmo tinha atravessado, com o # 1 e o # 2, quando olhei para a esquerda e vi oito talibans, movendo-se na direção de nossas viaturas. Nós vimos uns aos outros, ao mesmo tempo. Eu gritei, avisando para o pelotão, para que eles saíssem da zona de matança.

Devia acrescentar, como lembrete, o meu estarrecido “EI, VOCÊ!”, que eu berrei, surpreendido, para um elemento com RPG – ele estava tão chocado quanto eu. Não um bom exemplo de reação imediata, ugghhh.

Começamos a atirar no mesmo instante que eles. Não tínhamos cobertura, portanto, simplesmente caímos no chão e mandamos brasa neles, eles fizeram o mesmo conosco. Esvaziamos três carregadores nos primeiros 20 segundos e, também, três granadas M203. O metralhador de C-9 estava carregando o seu segundo tambor.

Se você assistir o vídeo, olhe por volta do ponto 16 segundos e você verá meu quarto sujeito pular o muro e se juntar à nós na zona de matança e acrescentar seu fogo.



Tentamos romper o contato para a direita e começamos a disparar e nos mover nesta direção, quando fomos atingidos de novo. Mais dois talibans no nosso flanco direito nos atingiram de uns 150 m (a mira “Eotech” valia ouro, ela permitia-me atirar e movimentar, enquanto mantinha um belo enquadramento do alvo.)

Não havia escolha, a não ser nos lançarmos contra a emboscada original. Eu disse para os rapazes para arremessarem granadas-de-mão, disparar o M72 e, então, avançarmos contra eles (no vídeo, você ouve um dos outros caras no pelotão perguntar, “Que porra foi essa?”, e o cara da câmera responde, “É RPG”. Era nosso M72 atingindo os “timmies”)

Portanto, fizemos isto, agora, com o restante do nosso pelotão tendo se movido para terreno alto, e acrescentando o fogo deles. A C-6 no vídeo (versão canadense da MAG belga) estava mantendo aferrados os dois camaradas no nosso flanco, enquando nos movimentávamos para cima do inimigo. Também dois dos nossos caras estavam no meio do terreno alto, movendo-se à frente, na nossa esquerda, separados pelo muro/fosso.

Estávamos limpando o fosso enquando íamos à frente, e colocamos os olhos num taliban, oculto no fosso, com um AK-47, tentando acertar um tiro em nossos sujeitos no meio do terreno. O cara da câmera se livrou dele (com oito cartuchos), então, continuamos nos movendo. Nós limpamos todos eles e começamos a consolidação (coloque um carregador novo) e percebendo o que estava se passando, ao recebermos fogo de todos os lados, exceto do topo, onde nosso pelotão tinha perdido o contato conosco, neste momento.

Estávamos isolados e precisávamos cair fora, rapidamente. O LAV começou a mandar brasa e estávamos martelando o inimigo por toda parte. Eles estavam debaixo de um pesado assalto, os helicópteros estavam disparando “Hellfires”, 100 m à nossa frente, sobre o inimigo que estava tentando fechar o círculo à nossa volta.

Finalmente, lutando muito, rompemos o contato de volta ao nosso pelotão (o cenário de pôr do sol, conosco nos movimentando e atirando), embarcamos e demos no pé.

Nenhuma baixa do nosso lado, várias viaturas atingidas por armas leves e estilhaços de RPG.

Eu e meus camaradas pegamos uns oito talibans. O LAV pegou mais uns dezessete e o restante do pelotão pegou mais seis ou nove.

Os helicópteros pegaram um bocado mais e nos contaram que havia cerca de 50 a 75 mais talibans vindo contra nós, eis porque da “realocação”.

Depois, à noite, estávamos numa FOB (Forward Operating Base, ou “Base de Operações Avançadas”), que estava sob ataque, e conversando sobre o TIC, todo mundo achou que tínhamos sido varridos do mapa na primeira salva. Scott, o sujeito com a câmera, disse estar certo que, da próxima vez que colocasse a câmera acima do muro, ele veria todos nós mortos. O # 4, quando ouviu o RPG cair do outro lado do muro, também achou que estávamos mortos. Então, eu perguntei a ele porque pulou o muro, se achava que estávamos mortos. Sua gélida resposta foi de que não iria ficar no lado seguro do muro, sabendo que seus melhores amigos tinham morrido, uns poucos metros dele, portanto, ele tinha de se juntar a nós. Nem soube o que responder a isto (você pode ver isto em seu rosto, cerca do ponto 16 s do vídeo).

Lembrem que o vídeo sobre a ação em Sangin é de cerca de 2,5 minutos. A versão da vida real foi de cerca de 65 minutos.


LIÇÕES DA AÇÃO EM SANGIN.

1 – Use montes de granadas-de-mão, entre nós quatro, só havia sobrado uma granada no fim da luta.

2 - Geralmente, carregávamos dez carregadores. Regra de ouro para os meus sujeitos era de seis carregadores para começar uma luta e quatro para sair dela. Isto queria dizer que havia um ponto de transição para nós, caso não tivéssemos nenhum ressuprimento imediato. No final desta luta, tínhamos, cada um, dois carregadores e o último tambor de C-9.

3 – O M72 se arma, efetivamente, a uns 25 m, que era o alcance no qual a luta começou, então, ela se tornou mais cerrada. O M72 é o “RPG canadense”, os “timmies” o odeiam, ele penetra um muro com cerca de 30 cm de espessura, e tem um grande cone de efeito no lado oposto.

4 – Todos os adestramentos funcionaram. Pratique um bocado quaisquer adestramentos que esteja utilizando, o Programa Gunfighter é espantoso. (programa de adestramento de tiro de combate do Exército canadense.)



5 – Adestramento de emboscada pode/deve estar pronto para execução, à qualquer momento.

6 – Solo macio é bom. O rojão de RPG mergulha fundo antes de detonar.

7 – Gritar, “Ei, você!” não deve ser utilizado para iniciar o contato...


(continua...)




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Re: Frações de Infantaria

#51 Mensagem por Bolovo » Dom Jul 11, 2010 7:38 pm

Excelente, Clermont. [100]




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Re: Frações de Infantaria

#52 Mensagem por Mateus Furlan » Dom Jul 11, 2010 8:08 pm

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Re: Frações de Infantaria

#53 Mensagem por Hermes » Ter Jul 13, 2010 1:53 pm

Ah, já ia esquecendo: os LAV III precisam de um telefone tipo tanque. Nós usávamos headsets sobressalentes, amarrados na escotilha traseira, mas utilizávamos tanto o LAV, como se fosse um tanque, naquele terreno, que um telefone seria jóia.

Tiha uma discussão sobre o telefone no tópico do Leo1A5 se não me engano, muitos acham que ele não é útil pelo barulho do motor, etc. Tudo bem que o LAV deve ser menos barulhento que um tanque, mas o pedido de um operacional mostra o seu valor. Seria uma boa talvez pensarem isso para o Guarani.




...
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Re: Frações de Infantaria

#54 Mensagem por Clermont » Qua Jul 14, 2010 6:06 pm

AÇÃO EM GARMSER.

Garmzer era um grande povoado, completamente vazio de moradores, devido á tomada do centro do distrito pelo Taliban. A luta dentro e em volta deste povoado durou cerca de 3 a 4 dias, parando e recomeçando. O TIC deste relato foi por volta das 12:00 h da tarde do terceiro dia.

Minha seção de fuzileiros tinha um PO (posto de observação) numa estrada, numa ponta no final do povoado, observando uma passarela atravessando o canal (15-20 metros de extensão, profundo e com correnteza rápida).

Meu líder de pelotão, com elementos da 1ª e da 3ª Sç Fzo e o grupo de comando do pelotão, com uma seção de fuzileiros do Exército Nacional Afegão (ANA, Afghan National Army) e duas equipes incorporadas de treinamento americanas (ETTs, Embedded Training Team, encarregadas de adestrar os afegãos) estavam avançando rumo à passarela para obter uma boa visão da área no lado afastado do canal. Imediatamente após atravessarem a passarela, ocorreu o contato.

Um rude traçado do terreno: no lado afastado do canal está uma estrada, ligeiramente mais elevada do que a margem do canal, e no lado mais distante da estrada está um muro, entre 1 a 2 m e percorrendo toda a extensão da estrada (como em toda a parte) o contato tinha vindo além do campo que este muro formata como uma caixa, aproximadamente 75-100 m (todo campo é encaixotado por um muro).

Agarrei meus três sujeitos e corri para a passarela, enquanto nosso LAV iniciava seu movimento para uma boa posição de cobertura (o LAV não podia atravessar o canal). Cruzei a ponte com meus sujeitos e vimos que a 1ª Sç Fzo estava pressionando, com força, na esquerda, para tomar uma instalação-chave para guardar nosso flanco. O líder de pelotão estava no rádio, chamando a artilharia e tentava assegurar a parte mais próxima do muro com a 3ª Sç Fzo, o Gp Cdo e a seção do ENA, portanto, eu avancei para o flanco direito.

O volume do fogo inimigo, neste ponto, era muito elevado, montes de PKM e RPG estavam vindo, portanto, começamos a alvejar os bunkers deles, com M203 e C-9, o melhor que podíamos. Percebemos uma mudança no fogo para o nosso lado direito, os “timmies” tinham começado a nos flanquear, usando uma junção em forma de “T”, cerca de 125 m subindo a estrada, eles tinham que se mover pouco, sempre cobertos por seu muro, ao longo do final do “T”.

Os “timmies”, então, começaram a nos acertar pra valer, vindo do lado descendo a estrada, com fogo de PKM e RPG. Com meus três sujeitos, mais dois outros, começamos a pressionar subindo a estrada, até a junção, agora, recebendo fogo dos bunkers originais, tanto como dos elementos na junção em “T”.

Meu LAV já tinha começado a fornecer apoio para a 1ª Sç Fzo, portanto eu não tinha nenhum apoio imediato, durante uns poucos minutos. Estávamos fazendo um lento progresso, três camaradas se lançando à frente, atirando e se movendo ao mesmo tempo, fazendo uma pausa e então sendo substituídos pelos três sujeitos, bem atrás de nós. Um tipo de “Saída Australiana” ao reverso (”Aussie Peelback”, uma técnica de retraimento em combate).



Nós cerramos para dentro de uns 50 metros do Taliban e os suprimimos eficazmente, quando o LAV da 1ª Sç Fzo chegou (ele teve de dirigir pelo outro lado do povoado) estava a cerca de 75 m afastado de nós e, naturalmente, no outro lado do canal. Ele, de pronto, deixou os “timmies” saberem que havia chegado.

Agora, neste ponto, eu esperava, completamente, que os “timmies” vazassem. O LAV não sabia, exatamente, onde eles se localizavam, mas estava atingindo tudo em volta deles. Mas eles não vazaram. Agora, mais talibans, de cerca de 300 m começaram a disparar mais RPG e RPK contra o LAV - e os RPG estavam com fuso de tempo -, eles, rapidamente, enquadraram o LAV. Assim, o comandante foi forçado, com freqüência, a diminuir o ritmo - nos retardando mais ainda -, ele agora tinha de lidar com estes inimigos e o Taliban, de quem já tínhamos nos aproximado, disparou outro RPG, errando por pouco o LAV.

Decidimos fazer outro lanço para ficar dentro do alcance de granada, utilizando ambos os M203, enfiamos o fosso e a folhagem no qual o grupo taliban estava se ocultando, então, demos uma arrancada até outro pedaço de cobertura. O LAV percebeu onde nossos M203 estavam atingindo e começou a varrer o fosso com munição HEI-T (High Explosive Incendiary Tracer). Isto acabou com aquele destacamento taliban de três homens. Agora, estávamos no flanco deles, e isto desmascarou seu fogo. Agora, voltamos nossa atenção sobre o inimigo, afastado uns 300 m, e alguns ainda a 75-100 m distantes, nas suas posições originais. Com nossas novas e vantajosas posições no flanco deles, forçamos um monte de talibans a se retirarem, ou se exporem, movendo-se para outras posições, onde nós, ou o LAV, os pegavam.

Foi aí que o LAV começou a trabalhar, com um bom comandante de guarnição, usando bons equipamentos de tiro, ele pode desmontar defesas, com muita rapidez. Os “timmies” ou resistem e morrem, ou vazam e morrem. Ocasionalmente, ele pode escapulir, se a posição for bem-preparada o bastante.

Foi por este momento quando os primeiros obuses da artilharia caíram sobre os bunkers originais, Deus abençoe os canhões. Em todo TIC no qual participei, e onde foram utilizados os canhões, fiquei impressionado pela sua velocidade e precisão. Impactos diretos sobre vários bunkers.

Um mensageiro do pelotão apareceu e disse que estávamos nos retirando através da ponte, de volta para o povoado. Ainda recebendo fogo, de pouco a moderado, de posições distantes, retraímos ao longo do muro. Disparando enquanto procedíamos, com o LAV somando seu fogo, e o 3º Pelotão tendo chegado para nos cobrir. De volta na ponte, começamos a atravessá-la quando meu atirador de M203 parou e começou a praguejar, “Essa merda de trava ambidestra de carregador!” e começou a procurar seu carregador que havia caído da arma. Eu o lembrei de que tínhamos vários de reserva... “será que, por favor, poderíamos continuar nos movendo?”

Rompemos contato – com a artilharia executando fogo de limpeza – de volta para o povoado. Sendo devorados pelas moscas do deserto e tendo recebido ordens para fazer a barba.

Tudo isto levou 90 minutos.


LIÇÕES DA AÇÃO EM GARMSER.

1- Organização ad-hoc – Eu não lembro de ter ocorrido uma luta onde tivéssemos a mesma organização, duas vezes. Todo contato de acaso ocorre quando você não está numa bela formação. Portanto, tínhamos camaradas que não estavam com suas seções etc e tal. Se você acabar com extraviados, bote-os para trabalhar, preocupe-se com o quadro de organização, mais tarde. Durante esta luta em particular, eu tive três auxiliares de seção de fuzileiros e nosso sargento de viaturas anexados, inadvertidamente, à minha seção. Todo mundo simplesmente, acaba fazendo o que pode onde eles são mais adequados. Meu LAV acabou prestando apoio à 1ª Sc Fzo, bem no começo da luta, portanto, fiquei sem apoio da viatura até que o LAV da 1ª Seção entrou em cena. Ele, simplesmente, apresentou-se onde era mais necessário e foi em frente com a luta.

2 – Artilharia. Todos os líderes de pelotão precisam ser safos no pedido de apoio de fogo indireto. Isto salva vidas; é um enorme prejuízo psicológico para os “timmies” e um grande reforço para os rapazes, na linha de frente, vendo um arrebentamento aéreo destroçar o teto de um bunker taliban. Nosso líder de pelotão era muito bom ao “interpretar” o que os canhões precisavam saber, assim, nós conseguíamos o melhor deles. Deus abençoe os canhões.

3 – Quaisquer adestramentos que sejam NGA (Norma Geral de Ação) para você, para determinada situação, devem ser praticados, um bocado. A “Saída Australiana” se destinava a ser utilizada em certas situações de emboscada, com apenas uma estrada como espaço de manobra, parecia ser uma opção viável e mantinha nosso impulso.

4 – Esta é uma luta do comandante de seção, nosso líder de pelotão era grande ao nos deixar desenvolver a luta para ele. Quando via alguma coisa a ser explorada, ENTÃO, ele nos colocava em movimento quando/onde/como ele queria. Até aí, nós tínhamos um bocado de latitude para tomar terreno e nos movimentar como fosse necessário. Você nunca deve ter a sensação de ficar sendo mandado atacar alguma coisa. Seu líder de pelotão precisar estar lá, se for necessário para proteger suas costas, caso você acabe indo longe demais.

5 - O que é o próximo ponto: esta quantidade de latitude pode subir à cabeça e dar-lhe a sensação “eu sou fodão, posso qualquer coisa”. Não se distenda além de seus limites. Com umas poucas lutas nas costas você pode, algumas vezes, se tornar folgado e achar que pode mais do que realmente é capaz. Em Hyderabad eu estava virando um canto, na frente de nossa fileira, achando que já tínhamos limpado montes de recintos, e que este não seria diferente. Onde devia haver um quarto e sala, havia cerca de oito aposentos e fogo vindo de todos eles. Pare, esfrie a cabeça e tenha um instante de reflexão, avaliando as coisas. É uma experiência muito libertadora não ter uma equipe de prevenção de acidentes atrás de você, monitorando cada movimento. Por isto, você começa a pensar MUUUUITO fora do esquema. Somente, mantenhas as coisas simples.

6 – Em mencionei ressuprimento de munição antes, nosso pelotão tinha vários contêineres de “prontidão” no lado de fora dos LAVs. Cada seção tinha 25 carregadores de reserva num contêiner de munição, preso ao LAV, e também um contêiner para C-9 e M203. As granadas-de-mão estavam com os carregadores – desempacotadas com fita isolante em volta da alavanca e corpo. Em algumas lutas usamos, cada um, 15 ou mais carregadores, e granadas, montes de granadas-de-mão, sem contar as granadas de M203.

7 – O morteiro 60 mm do pelotão estava no meu LAV, armazenado com a placa-base e o bipé já anexados ao tubo, todos dobrados e juntos a dois pacotes de munição HE – com uma carga adicional no nosso LAV e munição de reserva em outras viaturas. E ele era desdobrado toda noite – a munição iluminante é demais – e na “fase de entrada” na luta em Garmser, nós desdobramos a peça ao lado do LAV, e pegamos um observador avançado taliban que estava pedindo seu próprio fogo de morteiro 60 mm contra nós (uma JDAM pegou a peça).

8 – Sacos de descarte (drop bags) devem ser incorporados num novo adestramento de mudança de carregadores. A maioria do meu pelotão utilizava sacos de descarte – eles são sacos semi-rígidos similares a sacos de magnésio (chalk bags) que os escaladores usam – ao invés de tentar colocar o carregador usado de volta na cartucheira, você, simplesmente, o joga no saco – isto acelera a mudança de carregador por vários segundos.

Muitas pessoas dizem, “ora, porque, simplesmente, não jogar o carregador usado no chão?” Em primeiro lugar, em vários combates estes carregadores vazios foram recuperados e reutilizados, portanto, eles não são descartáveis. Claro, você perde alguns aqui e acolá (para isto existem os sobressalentes). Em segundo lugar, a principal razão, acreditem ou não, é memória muscular. A maioria de nós era incapaz de, realmente, apenas deixar o carregador vazio cair no chão. Depois de anos colocando aquela porra de volta na cartucheira, o hábito entranhou-se em nós. Medo do sargento pode ter algo a ver com isto, mas, na maior parte é memória muscular.

9 – Eu mencionei, antes, o meu líder de pelotão (sim, “líder de pelotão” e não “comandante de pelotão”, é uma terminologia americana, e ela pegou em alguns pelotões). Eu não quero dar a impressão de que ele, apenas, ficava sentado assistindo a luta ou pedindo missões de apoio de fogo. Ele estava no grosso do combate, como qualquer outro; ele entrava pelas portas; ele brigava feio na frente, como todos os garotos – como fazia, também, o nosso suboficial de pelotão (warrant officer). Este adorava pegar e disparar a metralhadora C-6 do pobre do metralhador, que a transportava (vídeo de Sangin). Você podia ouvi-los se bicando e xingando um ao outro no meio do combate:

Metralhador:

- Não fode! Eu carreguei ela, eu atiro com ela!

Suboficial:

- Dá um tempo! Me deixa dar uns tiros, só um pouquinho!

Metralhador:

- Era você que estava carregando ela?

Suboficial:

- Eu carrego da próxima vez, juro!

Metralhador:

- Você disse isso na última vez!

10 – Os Chimos (apelido dos engenheiros de combate canadenses). Eles também lutaram tão duro quanto qualquer outro. Quando meu LAV enguiçou, coloquei minha seção num LAV-Chimo, com o pessoal deste dirigindo-atirando-comandando. Você não treina para este negócio, isto apenas acontece.

11 – O efeito de lutar ao lado de aliados. Não estou certo se é isto, exatamente, que nos faz (canadenses) querer provar nosso valor quando temos americanos ou britânicos por perto. O maior cumprimento para nós é quando americanos dizem, “graças à Deus, vocês estão por aqui para esta luta”.

12 – Lute mais duro do que o inimigo. Isto soa óbvio, mas se você já jogou futebol com um time inferior, você pode se encontrar jogando pouco, ao nível deles. Isto acontece no combate, algumas vezes também. Quanto mais desesperada a sua situação, mais duro você luta, mas você precisa lutar assim, o tempo todo. Não que todo taliban seja um bom lutador, muitos são, porém, com os mais fracos não se pode lutar com menos espírito de destruição, só porque eles não estão lutando bem (você pode, rapidamente, discernir contra quem você está lutando.)

- Um general de duas estrelas americano visitou-nos antes de uma batalha em Panjawi e resumiu isto dizendo “se acabarem com eles uma vez, realmente, estejam certos de que eles morreram, e nunca mais terão de lutar contra os mesmos sujeitos outra vez.”


(continua...)




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Re: Frações de Infantaria

#55 Mensagem por Clermont » Sáb Jul 17, 2010 2:39 pm

AÇÃO EM PANJAWI.

Neste ponto, a maioria do pessoal já está, razoavelmente, familiarizado com este nome. Ele é um ambiente complexo, onde a maioria dos nossos experimentou seu primeiro combate autêntico. Até o momento em que nosso pelotão e companhia entraram em Panjawi, tínhamos sido atingidos, múltiplas vezes, por IEDs, por VBIEDs, (Vehicle Borne Improvised Explosive Device, forma militarizada de dizer, “carro-bomba”), RPGs, em suma, atacados de diversas formas. Mas não foi até Panjawi que experimentamos combate prolongado com um inimigo que não “batia e corria”.

Entramos nas cercanias da cidade durante o meio da noite, no começo da operação e, dentro de quinze minutos, caímos numa emboscada, enquanto dirigíamos para nossas posições. Lutamos em meio a fogo de RPG e armas leves, com apenas uma antena sendo atingida. Após consolidar o terreno foi decidido utilizar outra rota, e fomos emboscados de novo, mas, desta vez, decidimos conquistar o terreno deles. Enquanto isto se passava, praticamente todos os outros elementos envolvidos estavam lutando em suas várias áreas. O céu parecia algo saído de um filme antigo sobre Bagdá. Traçantes por toda parte, deles e nossas. E o abençoado ribombar dos nossos 25 mm.

Estando na escotilha da sentinela do ar (posição para vigilância antiaérea da viatura) disparávamos nos alvos, descíamos para recarregar, trocando de lugar com o próximo sujeito que havia acabado de fazer o mesmo. Ocasionalmente, a “mangueira de incêndio verde” das traçantes de RPK rumavam contra nós e descíamos rápido, amassando os outros sujeitos, enquanto elas passavam sobre nós. Forçamos os talibans a caírem fora (aqueles ainda vivos) e nos preparamos para entrar no povoado, à pé com as primeiras luzes. Já estávamos lutando por cerca de 2-3 horas, parando e recomeçando.

Os LAVs forneceram cobertura, enquanto localizávamos um caminho viável para entrar no povoado, fazendo a limpeza enquanto nos movimentávamos. Encontramos muitos talibans mortos. Enquanto abríamos caminho por uma estradas exteriores, para fazer ligação com um dos nossos pelotões, fomos atingidos de novo, próximo a retaguarda de nosso pelotão, onde estavam elementos ENA/ETT (soldados governistas afegãos e seus assessores americanos). Estes assumiram posições ao longo de um muro e devolveram o fogo, enquanto nos movíamos de volta para as posições deles. De novo, fogo de RPG, RPK e armas leves, e agora, de morteiro.

Rapidamente, efetuamos ligação com outro comandante de seção, próximo aos soldados afegãos, e pedimos a ele que “sacudisse a poeira dos telhados” com granadas, para suprimir o fogo de armas leves, deste modo, eu poderia levar meus sujeitos até o muro e ajudar os afegãos a saírem. Esta foi a primeira vez que eu tive de tomar decisões como líder em combate. Utilizando o que eu pensei ser um vinhedo seco, minha seção começou a se mover para o muro onde o destacamento do ENA estava. Rapidamente, afundamos até os tornozelos num vinhedo não tão seco e, chafurdando, abrimos nosso caminho à frente, recebendo fogo de armas leves e a ocasional bomba de morteiro (sem precisão, porém barulhenta). O RPG que errou o muro, viajou por sobre nós, mas o terreno mole ajudou a absorver o impacto.

Finalmente, atingimos o muro e começamos a definir alvos e devolver o fogo. Enquanto os garotos estavam atirando, eu passei o tempo indo de um até o outro, perguntando o que ele estava engajando, disparando uns poucos tiros e abrindo caminho até o próximo sujeito. Encontrei os assessores americanos da ETT, fiz ligação com eles e conversamos sobre a situação e alvos. Decidimos intensificar o fogo de ambas as nossas seções para começar a ganhar o tiroteio.

Vencer o combate pelo fogo pode ser um evento sempre em evolução. Ele não é uma “fase” ou uma “caixa de diálogo” avançando para o passo seguinte. Neste ponto, nosso suboficial de pelotão chegou com a metralhadora C-6 e acrescentou o peso de fogo dela. A ETT americana, muito calmamente, mandou seus próprios atiradores de RPG ficarem prontos para devolverem o fogo, e eu fiz meu pessoal aprontar seus M-72.

Santa Barulheira, Batman! O som do combate é, geralmente, mais alto do que você imaginaria que fosse, mas com todo aquele poder de fogo sendo disparado contra o inimigo era de fazer a carcaça tremer. Não que eu não estivesse tremendo de qualquer modo. Um RPG vindo pode ter um efeito e tanto em você, mesmo quando não é um impacto direto. Vários atingiram nosso muro ou, caindo bem em frente e isto é... enervante. Agora, era a nossa vez de enervá-los.

Ou porque obtivemos acertos o bastante, ou chegamos bem perto disto, o caso é que o fogo do inimigo enfraqueceu, dramaticamente. A outra seção tinha assegurado um flanco, enquanto os Chimos, anexados a nós, tinham se movimentado um pouco antes e asseguraram o outro flanco. O comandante do pelotão estava coordenando o material da pesada com o escalão superior, bem sobre a linha de fogo, calmamente descrevendo a situação, pedindo e conseguindo cada meio que desejava. Nenhum árbitro para dizer “não”.

Isto também teve um efeito nos rapazes, um muito positivo. Qualquer momento que nossa artilharia ou CAS intervinha, era um poderoso reforçador do moral. Este é o nosso material, nossos “brinquedos grandes”, nós temos eles, e eles não tem. Você recupera o ânimo quando, um minuto antes, estava exausto, sorrisos aparecem e você sabe que será o vencedor.

Nem sempre você sabe qual será o resultado de uma luta. Estamos vencendo? Ou são eles? Toda luta na qual estive, teve uma “sensação” ou “tom”, dramaticamente diferente. E, durante uma luta em particular, ela pode mudar. Como esta foi nossa primeira luta de verdade no terreno, estávamos anos-luz de sermos experientes ou safos, não sabíamos o que esperar. Todas estas coisas, eventualmente, surgem para você, diferentes sons de balas, sons de RPG, explosões de granadas, gritos do inimigo e seus próprios gritos.

Nós formos ordenados a retrair, e deixar que os “brinquedos grandes” acabassem com o inimigo. Pegar os LAV e voltar para fazer a limpeza. Romper contato, e voltar para a posição de cobertura. Além da desidratação (06:30 h com 45 graus), algumas distensões e perda de audição, tudo estava bem. Todo mundo estava pronto em minutos.

Nós tínhamos sobrevivido, agora, ficaríamos agressivos. Não iríamos mais, só ficar sentados atrás de um muro, iríamos pressionar, atacar, flanquear e cerrar sobre o inimigo tão perto quanto pudéssemos para acabar com ele. Esta evolução acontece com todo mundo. Não só você sobrevive, como não faz xixi nas calças (muito). Seus amigos e parceiros de seção estão com você; juntos derrotaram o inimigo num combate de verdade; isto não foi uma coisa bonita, não foi o que você esperava (algo foi), mas funcionou. Todas aquelas pequenas coisas no adestramento renderam grandes dividendos: adestramento, confiança, trabalho de equipe. E agora, alguma experiência, não muita, mas o bastante para começar a pressionar com força.

Neste nosso primeiro dia em Panjawi, o pelotão teve cinco TICs. Eu não lembro de ter dormido ou comido, ou até precisado disso. Só lembro de estar com meus amigos, fazendo aquilo para o qual eu treinei fazer, durante toda a minha carreira.

Como sempre, estas foram as experiências que eu tive com meu pelotão. Não é doutrina, ou evangelho sobre como travar uma batalha. Eu compreendi, depois de ter escrito que, isto era mais o que estava se passando na minha mente, no momento, do que a forma como a luta foi travada. Talvez isto vá ajudar o próximo sujeito que passar por isto.


PANJAWI – CONTINUAÇÃO.

Mais tarde, naquela mesma manhã, começamos a voltar para o local do nosso contato anterior. Desta vez, levamos os LAVs. Tenham em mente que isto tudo era novo para nós, e ainda estávamos sentindo as coisas. O debate sobre viaturas de combate em luta urbana tem atravessado as eras. Nós conseguimos achar formas de fazer isto funcionar para nós. Ganhar o combate pelo fogo tornou-se um pouco mais fácil

Tendo limpado várias centenas de metros de estradas, instalações e terreno, nosso pelotão assumiu posições ao longo de um muro para respirar. Enquanto descansando e reidratando, um dos metralhadores de C-9, ao meu lado, estava, avidamente, observando alguma coisa em sua mira, prendendo a respiração. Eu perguntei-lhe o que estava errado. “Acho que vi um taliban.”

ONDE? Imediatamente, o pelotão inteiro estava de pé, vasculhando a área indicada, afastada cerca de 125 m. Ele divisou um taliban com uma RPK, movendo-se para uma posição de tiro, ao longo de um muro destroçado. Confirmado: “Abram fogo, rapazes.” O pelotão, inteiro, disparou, quase que ao mesmo tempo, o mesmo fazendo o taliban, e seus amigos ocultos. O metralhador de RPK foi abatido, mas sua arma foi agarrada por outro taliban, movida e posicionada, de novo. Ela começou a disparar contra o muro, entre mim e o nosso metralhador de C-6. Hora para uma nova posição. Num dos vídeos de Panjawi você pode ouvir nosso suboficial gritando para que olhássemos nosso flanco, e movendo os rapazes para este flanco, enquanto o pelotão e os soldados afegãos do ENA sustentavam o fogo.

Aí era onde o LAV começava a trabalhar. De forma calma, sistemática, destruindo as posições inimigas. Eu mantinha o flanco esquerdo com meus rapazes e o suboficial posicionou a C-6 numa posição de vantagem. Estávamos recebendo fogo de vários telhados, afastados cerca de 125 m, como também do muro. Após fazer ligação com ele, decidimos que poderíamos tentar flanquear a posição deles. Os assessores americanos da ETT tinham, anteriormente, nos prevenido que vários dos seus amigos tinham sido mortos e feridos, a menos de 150 m de nossa posição, meses antes, numa emboscada. Com isto em mente, começamos nosso movimento, efetuando a limpeza enquanto seguíamos. Nosso comandante de pelotão já estava fazendo a coordenação com a artilharia; os americanos estavam indo, de afegão em afegão, corrigindo a postura de tiro deles, como disse Scott Kesterson, “como um professor de escola”. Imagine controlar sua seção num tiroteio, com um intérprete.

Nós avançamos cerca de 30 m, pelo flanco, quando uma RPK abriu fogo contra nossa posição. Eles nos enquadraram rápido e nossa cobertura estava sendo feita em pedaços. Eles conheciam a área e estavam preparados. Ao contrário do treinamento, nem sempre você atinge o objetivo na primeira vez.

Quase neste instante, nosso outro pelotão, no nosso flanco, interceptou e eliminou vários talibans tentando nos pegar pelo flanco. Eles também evoluíam.

Abrimos caminho, junto com o suboficial, colocamos os garotos em posições de tiro e, então, fomos até o LAV mais próximo. Uma vez, informado sobre a exata área do alvo, ele a destruiu, efetivamente. Já estava perto do meio-dia e o calor era brutal. Você encontra um cantil na mão, sem nem perceber que o pegou. Os chefes de viatura estavam arremessando caixas d’água para nós, no meio do combate. Já estávamos lutando perto de uma hora desta vez e chegou a notícia, “impacto em quinze segundos!”

Nós ficamos abaixados, mas ainda curiosos demais sobre os efeitos no alvo, para não observar os obuses chegando. No alvo. No alvo de novo e de novo. Alvo destruído, Deus abençoe os canhões! Esta foi uma daquelas lutas que, realmente, terminavam com um “KABOOONG!", algumas vezes, elas apenas murchavam.

Após assegurar a área, nosso outro pelotão revistou as posições inimigas, vários mortos e várias trilhas de sangue mais. Num dos telhados uma posição de morteiro destruída é localizada, aquela que antes mais tinha nos feito perder a audição. Um dos vídeos de Panjawi nos mostra caminhando por entre as posições deles, no dia seguinte e, a partir delas, apontando as nossas.



Nossa sensação de dever cumprido é, rapidamente, destroçada quando um soldado de outra companhia é morto, 400 m de nós. Um de nossos amigos de nossa companhia é ferido na mão, por uma granada, ao tentar limpar a resistência. Ele era um comandante de seção e ia de porta em porta, em primeiro lugar, não para ser um herói, mas porque não queria que nenhum mal acontecesse para seus rapazes. Isto é, amplamente, comum, ninguém quer perder um de seus homens, e você se vê tomando um bocado de “pontos difíceis”, em pessoa, sem nem perceber isto. As mais agonizantes decisões que tomei em combate, eram de ter de enviar meus garotos num ponto se eu não estivesse em posição para fazer isto, eu mesmo. Você precisa fazer isto, você não pode fazer tudo por si mesmo. E seus rapazes não querem que você faça.

Mas, nosso comandante de pelotão fazia isso.

Nosso suboficial fazia isso.

As guarnições dos LAVs rumavam para a sua frente e absorviam danos quando sabiam que você estava sendo martelado.

O Exército afegão também provou, para nós, sua valentia debaixo de fogo, mais de uma vez, como fizeram seus assessores americanos da ETT.

O mais básico praça também fez isto, indo para os “pontos difíceis” por sua própria conta, para que ninguém mais tivesse de ir.

Como um apreciador de história, com freqüência, tenho lido sobre os soldados da Guerra Civil americana, se escondendo atrás de uma única árvore, dez numa fila. Isto pode ter menos a ver com cobertura e mais com senso de segurança que você obtém ao estar próximo de um companheiro. Eu vi sujeitos deixaram sua própria e ampla cobertura e correrem, em meio ao fogo, para alcançarem um amigo, por nenhuma outra razão do que compartilhar os riscos dele. O pessoal, instintivamente, irá virar a cabeça em busca, um do outro, sob fogo pesado.

Como sempre, isto não é o Santo Graal do combate, táticas ou doutrina. Apenas, algumas experiências que, esperançosamente, ajudarão alguém, no futuro.


(continua...)




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Re: Frações de Infantaria

#56 Mensagem por Clermont » Ter Jul 20, 2010 9:02 pm

(Parte final:)

AÇÃO EM HYDERABAD.

Se você leu os relatos de Scott Kesterson sobre Hyderabad, ou assistiu ao vídeo, você tem uma boa idéia do que se passou. Eu preencherei algumas lacunas.



Nosso pelotão recebeu uma tarefa em coordenação com a tropa de Reconhecimento para examinar algumas instalações nas cercanias de Hyderabad. O Reconhecimento avançou durante a noite, à pé, para “ficar de olho”. Só então, deveríamos nos pôr em movimento e examinar as coisas; uma seção de Chimos foi anexada como normal. Enquanto rumávamos para nossa área de concentração, descemos as rampas para uma ultima e nervosa mijadinha e um rápido lanche, com algum tipo esquisito de soda. Era aquela hora da manhã quando ainda está escuro, mas você já pode ver longe, quando as traçantes começaram a voar.

Estávamos a cerca de 500 m e podíamos ver as traçantes verdes (do mal) e as traçantes vermelhas (do bem) entrecruzando-se, tanto como o distinto crepitar de armas leves e RPG. O Reconhecimento já estava dentro. No intercomunicador ouvimos nosso comandante de pelotão prestar uma SITREP (Situational Report, ou Avaliação de Situação), muito tranqüilamente, mas amplificando o ruído de fundo da batalha. Subimos a rampa e olhamos para o LAV do Cmt Pel. Outro SITREP do Reconhecimento: as coisas não estavam boas, fortemente superados em número, precisavam de ajuda agora. Nosso Cmt Pel apontou para a cidade e nosso LAV ponteiro começou o movimento.

Um bocado de gente do nosso pelotão conhecia os caras do Reconhecimento há cinco, dez, quinze anos, e saber que eles estavam com problemas deu um real sentido de emergência para uma situação já ruim. Recebemos fogo de armas leves durante nossa aproximação, mas fizemos um “avanço relâmpago” para a cidade e irrompemos na área cercada do Reconhecimento. Eles tinham cerca de doze elementos desmontados e estavam lutando contra cerca de quarenta inimigos. Talibans agressivos. Esta foi a primeira coisa que percebi quando a rampa desceu. Eles estavam avançando contra nós. Agora, já tínhamos vários TICs nas costas; tínhamos confiança, alguma experiência, moral elevado e uma sensação de que ninguém podia nos derrotar. Mas, muito rapidamente nesta luta, compreendemos que estes talibans eram muito durões, agressivos e bem-armados.

Eu sabia que meu Cmt Pel estava na torreta, portanto, estava procurando pelo suboficial quando um sujeito do Reconhecimento correu, em meio ao fogo, para se ligar conosco. No vídeo você pode ouvi-lo berrar “Instalação! 75 m!, e lá fomos nós. As instalações e posições talibans estavam no outro lado e uma berma elevada, ao longo das margens de um íngreme e fundo riacho. Atingimos o topo da berma e começamos a disparar contra grupos de talibans, afastados cerca de 50 m. Tínhamos a vantagem da altura e podíamos olhar para baixo para suas instalações, em alguns pontos. Uns dois minutos aí, alguns dos nossos LAVs, incluindo o LAV-Chimo avançaram, cuidadosamente, já que os campos eram, fortemente, irrigados. Uma vez em posição, eles, também, começaram a martelar o inimigo. Neste lado do campo, os “timmies” ou estavam morrendo, ou estavam fugindo.

Eu desejava entrar nas instalações para limpá-las, mas não tinha jeito de atravessar a água, portanto, agarrei os rapazes e rumamos para a única ponte, cerca de 100 m distante. Neste instante, percebi que a peça de metralhadora C-6 e alguns outros membros do pelotão estavam indo conosco. Isto acontece, estava escuro, barulhento e confuso, apenas, tenha certeza de que sabe quem está anexado com você. Então, em algum ponto você os ultrapassa e tudo acaba se acertando.

Um dos nossos LAV estava na ponte, prosseguindo, cautelosamente, enquanto martelava uma instalação que estava nos dando trabalho. Um par de granadas foi arremessado contra nós e todos nos jogamos ao chão. Aconteceu de eu fazer isto numa estrada nua, percebi minha estupidez e comecei a praguejar, também, capturado no vídeo, para posteridade. Elementos do Reconhecimento ainda estavam distantes e lutamos para abrir caminho até eles. Juntos, redobramos o fogo e começamos a levar a luta ao inimigo, com vigor. Este não fugiu. Eu gritei para o LAV mais próximo avançar, assim, poderíamos ficar atrás dele, (como se fosse um tanque), e assaltar a instalação que estava disparando contra nós. Então, o canhão do LAV enjambrou.

Enquanto o atirador estava arrumando o canhão, mantivemos um alto volume de fogo, avançando o tanto que podíamos. BUUM-BUUM-BUUM, o canhão voltou à ação, e fomos em frente. Um dos meus rapazes lançou uma granada-de-mão na janela de onde estávamos sendo alvejados. BUUM. Eu varri de tiros o aposento. Limpo. Precisávamos dar a volta pelo lado da instalação para entrar nela, e era daí vinha o fogo pesado do inimigo. Tudo está em chamas, a fumaça queima nossos olhos, mas fornece alguma cobertura. Em volta do canto, estou pronto para entrar no que achei ser uma porta, mas há cerca de três portas imediatas, e fogo pesado vindo de uma delas. Apoio! Apoio! Aposentos demais!

Meu granadeiro favorito estava sem granadas, portanto, eu o mandei disparar contra as portas, enquanto armava minhas granadas. BUUM! BUUM!, ficar de pé, varrer o aposento, aposento limpo. Também usamos o LAV para derrubar algumas paredes quando parecia prudente. O Exército afegão e o ETT americano também estavam combatendo com vigor e avançando rápido, debaixo de pesado fogo inimigo. Este começou a amainar agora. Eles estavam usando fossos ao longo dos campos, como cobertura, e pareciam estar retraindo, quando nos foi determinado retrair, para abrir espaço para a artilharia. Agora, rompemos contato, o Reconhecimento saiu primeiro, então, o restante de nós, amontoados em nosso LAV. Bom trabalho, garotos.

Movemo-nos cerca de 200 m, ainda na cidade e começou o bombardeio. Dez minutos mais tarde, recebemos instruções para recuar à pé, com as viaturas em apoio cerrado. Novamente, caímos debaixo de fogo, nosso LAV ponteiro avistou uma equipe de RPG tentando tomar posição e a destruiu. A resistência dissolveu-se, rapidamente, depois disso, e limpamos o remanescente da área sem muito mais luta.

Agora, os Chimos passaram a desempenhar sua função primordial, enquanto ajudávamos onde fosse possível, e assegurávamos a área.

Montes de corpos, trilhas de sangue e armas, e um monte de heroína. Não admira que lutassem tão duro. Durante o combate, um dos sujeitos do Reconhecimento foi atingido na blindagem corporal, e isto salvou sua vida.

Tínhamos combatido por mais de uma hora; em alguns momentos, o inimigo demonstrou grande vontade e determinação de nos rechaçar. Estes caras, em particular, eram muito durões, se movimentavam agressivamente e lutavam com tudo.

Mais tarde, de volta ao nosso campo, percebíamos que nossos elos com os caras do Reconhecimento eram ainda mais sólidos. Nós teríamos mais lutas à nossa frente, Sangin, Gorak e outras, mas estes elos com o Reconhecimento se provariam inestimáveis, quando voltássemos para Panjawi, em 3 de agosto.

Repetindo, estas são experiências que tivemos, não são TTPs (Tácticas, Técnicas e Procedimentos) ou NGAs (Normas Gerais de Ação) sobre como conduzir um combate.


LIÇÕES GERAIS DOS COMBATES.

- após alguns momentos do contato, você obtém uma impressão da qualidade e quantidade do inimigo. Diferentes regiões tem diferentes combatentes. Sem entrar em detalhes, há casos confirmados de vários “jihadistas” de muitos locais diferentes.

Em Hyderabad, estes combatentes, em particular, estavam na ponta mais elevada dos talibans que enfrentamos. Naturalmente, eles estavam defendendo UM MONTE de heroína marrom (Black Tar Heroin) recém-colhida. O que, à propósito, nós já tínhamos uma idéia, antes da luta. Se eu fosse um taliban e estivesse para perder uma porrada de dinheiro em drogas para os canadenses, saberia que ia acabar na merda. Eis porque eles lutaram tão duramente. E estavam bem-armados.

Idade e liderança também desempenham um papel. Os caras mais velhos, alguns combatentes da era Mujahedeen, eram muito agressivos. Toda a vida adulta deles tinha sido passada em combate, de um jeito ou de outro. Enquanto os caras mais jovens, ficariam parados, de pé, no meio do campo ou estrada, atirando do quadril, um cara mais velho adotaria táticas e posições de tiro muito mais avançadas.

Nos praticamos adestramento contra alvos estacionários não-ativos. Talibans experimentados buscavam, ativamente, nossos flancos ou outros pontos fracos e se movimentavam para explorá-los. Eles não ficam sentados, ociosos, esperando para você desentocá-los. Quando limpamos trincheiras em Wainwright (centro de adestramento do Exército canadense) as “Figuras 11”, convenientemente, ficam em seus buracos, os “timmies” não. Isto era difícil de se acostumar, porém, quanto mais experientes ficávamos, mais rápido dominávamos o campo de batalha, fazendo-o trabalhar em nosso proveito e não no deles.

Negue ao inimigo as suas opções; obrigue-o a fazer o que você quer, então, mate-o. Ele é muito ativo em buscar fazer tudo isto com você.

- Uma das primeiras coisas que percebemos foi que estávamos “brigando no nível deles”. Com isto que quero dizer, se o inimigo diminuísse sua cadência de fogo de 30 cartuchos por minuto contra nós, também diminuíamos nosso fogo. Se ele parasse de disparar RPGs, nós parávamos de disparar M72s. Se ele aumentasse seu fogo, nós também. Cancele isto. Desse jeito, você não ganhará nenhum combate. É VOCÊ que estabelece o ritmo do combate. Nós corrigimos isto com a experiência.

Pois, através de cada luta que passamos, ganhamos conhecimento e experiência. O mesmo acontece com eles. Quando lutam conosco e sobrevivem, eles agora terão conhecimento e experiência. Eis porque um general americano que encontramos, nos disse:

Matem eles direito, logo na primeira vez e, então, vocês não terão de lutar com o mesmo sujeito, de novo.


- A maior parte do combate foi travado em alcances mais aproximados do que, penso eu, qualquer um de nós antecipou. Em geral, nos alcances mais elevados, a 200-300 m, tratava-se mais de supressão e “fixar” o inimigo. O calibre 5,56 mm foi mais do que o suficiente e nós tínhamos outras armas para reforçar isto, é claro.

O cartucho 5,56 mm era grande para o combate cerrado, entre edificações, e em limpeza de aposentos saiu-se muito bem. O velho e ancestral argumento sobre um projétil mais pesado comparado com outro mais leve, vai continuar. Para mim, o 5,56 mm fez bem o serviço.

- O metralhador de C-9 nem sempre vai precisar levar quatro tambores, a situação é quem vai ditar. Quando o seu “sentido de aranha” lhe disser que o número correto é “quatro”, normalmente, ele estará certo. Você poderá obter a bolsa para patrulhamento americana, para guardar sua munição; ela contém 100 cartuchos e funciona melhor que as nossas. Ela é rígida e mais compacta, portanto sua munição não fica emaranhada.

Meu principal metralhador de C-9 portava várias destas, mais aquela na sua arma, os tambores plásticos eram sua munição de “última cartada”. O grosso de seus tiros era, ou de pé, ou ajoelhado, apoiado e não-apoiado. Acostume-se a disparar em movimento, rajadas curtas, caminhando e não correndo.Você saberá quando for para se deitar. Examine os elos da munição, com freqüência. Faça testes de disparo, diariamente, mantenha o queixo erguido e a cabeça baixa.

- Nós efetuamos um monte de PBs mecanizadas (Patrol Base) desmontando nas colinas. Distância deve ser sua única preocupação. Sempre domine o terreno alto.

Em operações desmontadas não se preocupe se não usar o “círculo” ou o “triângulo”. Enquanto estávamos desmontados, nós nunca usamos a formação-padrão. Apenas se preocupe em ficar no alto, tanto quanto possível; mantenha os olhos abertos em 360º e instale as “Claymores”. Sempre fizemos isto, não importando quem ou o que estivesse conosco. Lembre-se que você precisa ser flexível e não se preocupar com “eu fazia assim no adestramento”. Esse tipo de atitude vai arrebentar você.

- Nota sobre a munição. Tudo era dividido entre o pelotão. Quando os rapazes colocarem a munição extra nas mochilas, garanta que seja nas bolsas externas. Não os deixe colocar munição extra (7,62 mm, “Claymores”) no interior dos kits. Quando você entrar num chafurdo, eles não vão poder desenterrar a munição do interior do kit. Sempre do lado externo, como NGA.

- Comunicações. Eu não posso enfatizar o bastante as comunicações. Todo mundo deve ser capaz de efetuar a programação básica na “CI Box”, tanto como no próprio rádio-transmissor. Não é tão árduo como parece, contanto que todo mundo fique atualizado, mas irá ajudar você quando suas comunicações forem para o ralo e você precisar quebrar um galho com pressa.

Designe um sinaleiro da seção de fuzileiros, (soldado de comunicações) e garanta que ele seja safo em tudo e que mantenha constante ligação com o sinaleiro do pelotão (rádio-operador para os planos de comunicações. Meu sujeito nem mesmo tinha o curso, mas, depois de um mês por lá, ele era tão bom quanto o sinaleiro de pelotão, quando se tratava de resolver criptografia e defeitos. Identifique-o bem cedo, no adestramento e o ponha para trabalhar, com tanta freqüência quanto possível.

Em cada “CI Box” que tivesse um “headset”, nós colocávamos uma lista de canais com os quais precisaríamos fazer contato.

- Granadeiros de M203: durante o pré-treinamento, faça com que eles atirem com tanta freqüência quanto for possível. Uma vez que você esteja aqui, deve aproveitar a oportunidade para fazer cada um disparar um par de caixas de granadas M203. Faça seus sujeitos ficarem bons com o M203. No fim da temporada, a maioria deles podia atingir uma porta a 300 m. Eu observei um dos meus granadeiros de M203 atingir um alvo designado no topo de uma colina, a partir da escotilha de sentinela do ar do LAV, enquanto a viatura estava em movimento. O M203 é uma ferramenta poderosa, usada corretamente para suprimir e matar o inimigo.

- Fuzis e raias de tiro: Já foi salientado que o Programa Gunfighter é crucial e salva vidas quando se está no ultramar. Garanta que seus sujeitos estejam, extremamente, confortáveis com o ajuste de suas próprias PAQ 4/2 para luta noturna. Para não mencionar acostumá-los com os OVN. Acostume-os a ver, somente, parte do alvo e atingi-lo. É muito raro conseguir um corpo inteiro para atirar. Improvise uma raia de tiro que tenha alvos inimigos ocultos ou cobertos por vários objetos. E trabalhe nela. Nós fizemos isto numa raia convencional, colocando-os para se mexer, esquerda para a direita e vice versa, voltar-se para o inimigo, encontrar uma parte exposta e abrir fogo. Faça isto, de dia e de noite.

- Viaturas e sistemas de armas embarcadas: Todos os soldados precisam ser capazes de ligar e dirigir, numa emergência, todas as viaturas que nosso pelotão está operando aqui. Da mesma forma, eles devem ser capazes de utilizar e disparar todas os sistemas de armas, tanto como serem capazes de resolver quaisquer enguiços com os G-Wagon (C-6) e RG-31 “Nyala” (.50). O canhão 25 mm já é um pouquinho diferente, mas, independente disto, todos os soldados da seção deveriam saber como operar a torreta e disparar o canhão, se preciso for. Isto, também, para que eles possam conduzir ações de vigilância a partir da torreta, fazendo uso das miras térmicas e noturnas do canhão.

- M72, durante seu trabalho de adestramento, bote as mãos neles, dispare-os contra edificações, não contra alvos simulando tanques. E faça com que os rapazes fiquem acostumados a enfiá-los através de portas. O “RPG canadense” é um animal temido no campo de batalha daqui, eu amo eles.

- Armadura Balística. Ela é um salva-vidas. Você não pode usá-la, o tempo todo, numa situação de “hiper-vigilância”, ou os soldados ficarão exauridos. Há locais onde você a utiliza, o tempo todo, e há lugares que você a põe ao alcance da mão, de forma a poder relaxar. Escolha com sabedoria. Nós a usávamos, subindo montanhas; em contato com o inimigo, sob um calor de 65 graus. Acostume-se a isto no adestramento, salvará sua vida.

- Plugues de ouvido. A única vez que eu, realmente, usei protetores de ouvido foi em movimento de estrada no compartimento do LAV. Eu usava protetores auditivos, óculos de proteção e um protetor bucal (quando atravessávamos áreas de emboscadas e IEDs). A razão era que, ao assistirmos vídeos e ler relatos de ataques de IED no Iraque e Afeganistão, um das coisas que ficam salientadas é que os soldados que ficaram relativamente ilesos numa explosão de IED ou ficaram desorientados ou postos fora de ação pela concussão. Alguns dos ferimentos menores relatados incluíam tímpanos estourados, ferimentos oculares por fragmentos e dentes arrancados. Por menor que possa parecer a perda de um só dente, isto pode ser o suficiente para mandar você para casa ou torná-lo ineficaz em combate, por algum tempo.

- Uso de PPE (Personal Protective Equipment, coisas do tipo, joelheira, cotoveleira, protetores auriculares, oculares e escrotais). De fato, eu creio que se preocupar com isto é muito importante para os soldados perto de serem desdobrados; cuide do seu corpo. No final, nenhum valor da pensão que você ganhar compensará sua perda de audição, visão OU os dentes. Cuide-se, porque não haverá partes sobressalentes para seu corpo.

Isto deve ser um fator enorme na decisão de qual kit você deverá empregar. O meu sargento-mor regimental (que, atualmente, está desdobrado) fez uma boa observação concernente ao kit: você escolhe ficar desconfortável. Isto poderia ser dito de outra forma: você escolhe se colocar em risco de ferimento. Quando selecionar o kit que você acredita melhor se adaptar a sua função no teatro de operações, eu creio que é essencial considerar sua segurança pessoal... mesmo se perder a audição pareça insignificante.

A mentalidade “agüentar o rojão” (suck it up) pode ir longe demais em operações. O PPE deve ser considerado como essencial para a missão individual do soldado, da mesma forma que seus sistemas de armas. Por quê? Porque o PPE assegura que ferimentos menores não impeçam o soldado de cumprir sua função dentro do quadro mais amplo da missão. Fracassar em completar a missão porque o praça Zé Mane não pôde atirar devido à uma partícula de poeira ter entrado no seu olho, ou porque o cabo Lixão não conseguiu ouvir a voz de comando, devido à surdez parcial, de tanto disparar M72, é uma razão muito boa, no meu manual, para usar PPE.

Parte desta lógica é selecionar o PPE que protegerá você enquanto lhe permite fazer seu serviço. Nós não temos escolha quando se trata da Armadura Balística (e, depois de alguma pesquisa, a nossa não é assim, tão ruim) ou capacete. E, algumas temporadas tem sido meticulosas quanto à óculos de proteção, mas ninguém tem falado muito sobre proteção auricular, tanto quanto eu saiba. Já que isto é opcional, talvez seja uma boa idéia tentar alguns tipos diferentes, durante o adestramento e ver qual trabalha melhor para você.

Se você achar que a proteção auricular é um obstáculo, então, com certeza, faça o que for mais adequado para você cumprir seu trabalho/tarefa... Apenas, não arrisque a missão ou as vidas de seus pares, por causa de algo menor como proteção auricular.

À propósito, vejam o que acontece com um soldado que não usa nenhum PPE...

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COMENTÁRIOS DE UM SARGENTO CANADENSE, COMANDANTE DE SEÇÃO DE FUZILEIROS.

- Quando você parar numa aldeia para uma Sura (encontro tribal) tenha certeza de a ter isolado com os LAV-zulus, etc. (No Exército canadense, um LAV-zulu é uma viatura de transporte atuando sozinha, sem o seu complemento de fuzileiros que estarão desmontados. Desta forma, ela assume seu papel de apoio de fogo direto para os fuzileiros.) Em Shinkay, usamos elementos do Exército Nacional Afegão para fazer o isolamento no outro lado. As viaturas de proteção aproximada eram dois G-Wagon GSKs (viatura 4x4).

- Tente manter a Sura tão próximo das viaturas quanto possível, ou pelo menos, mantenha os olhos nela e com cobertura. Quando a merda atingiu o ventilador, com o capitão Greene, o LAV foi capaz de abrir fogo contra elementos no topo das colinas, e também os GSK avançaram, rapidamente e nos deram cobertura com suas C-6.

- Mantenha o encontro em área aberta e com alguma cobertura. De novo, com o incidente do capitão Greene, tínhamos uma boa distância para a aldeia, cerca de 200 m e estávamos na parte plana da margem do waddi (riacho), assim, quando estabelecemos contato, meus metralhadores de C-9 jogaram-se ao chão e devolveram o fogo com a margem como cobertura.

- quando os locais aparecerem, tenha certeza de ter, apenas, o cabeça da aldeia e, talvez, uma ou duas outras pessoas na Sura. Todos espectadores serão mantidos para trás, pelo menos 50 m. Reviste todo mundo! Mesmo passando a mão naquelas pernas magrelas, subindo até mexer você sabe onde! Foi assim que uma machadinha passou. Qualquer um que se aproxime depois, deve ser revistado e mandado para trás, 50 m.

- Uma vez que todo mundo esteja lá (isto é, o Cmt Pel, o CIMIC [oficial de Cooperação Civil-Militar] e os chefes da aldeia), haverá dois soldados como proteção aproximada para o encontro, cerca de 5 m deste grupo. O restante da seção de fuzileiros ou estará meio abrigada com a viatura, com as costas para ela, ou estará ao redor com o comandante da seção circulando. Isto funcionou perfeitamente quando estávamos em Helmand, participando de Suras.

- Uma vez que a Sura tenha acabado, o Cmt Pel e seu grupo volta e o restante da seção entra na viatura.

- Tenha certeza de ter instruído seus soldados sobre onde estar e o que fazer em caso de contato com o inimigo. Eu penso que foi isto que nos ajudou, após sermos emboscados. Meus sujeitos sabiam aonde irem e o que fazerem, antes de tudo começar.

- Oh, quase ia esquecendo... sem querer ser babaca, mas mantenham seus capacetes na cabeça. E eu não estou me referindo ao que aconteceu com o capitão Greene...

(nota do Clermont: o capitão Greene, um CIMIC canadense, ao participar de uma Sura, retirou seu capacete, como demonstração de confiança e respeito. Um taliban infiltrado, aproveitou e lhe cravou uma machadinha na cabeça, no melhor estilo “Daniel Boone”, sendo morto na escaramuça que se seguiu. O capitão se recuperou do ferimento quase fatal.)

... mas com outra história deste dia. Quando o contato irrompeu, o socorrista foi chamado e estava atendendo o capitão, debaixo de fogo – eu devo acrescentar, muito bom socorrista – eu estava correndo pra cima e pra baixo, controlando minha seção, para devolver o fogo, e sem meu capacete, e as balas caindo por toda parte. Um dos meus soldados gritou para mim: “Ei, sargento, pegue seu capacete” e eu me voltei para ele, dizendo, “Foda-se, estou ocupado agora”. Logo depois de dizer isto e virar a cabeça, uma rajada de RPK acertou uma árvore, cerca de 1 m na minha frente. Adivinhe o que eu fiz? Eu me voltei para aquele soldado e disse: “Joga pra mim a porra do meu capacete!”




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Re: Frações de Infantaria

#57 Mensagem por Bolovo » Qua Jul 21, 2010 4:56 pm

Valeu Clermont. Excelente relato do canadense! Queria que tivessem mais relatos como esse para ler!




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Re: Frações de Infantaria

#58 Mensagem por crubens » Dom Ago 08, 2010 2:14 pm

Foi lançado o livro "Haiti: uma lição de vida" do capitão Nelson Dias Leoni, ferido em combate no Haiti. Esse link mostra um pouco do livro.
http://www.editorabarauna.com.br/pdf/Ha ... icao15.pdf




"Tudo que é necessário para que o mal triunfe, é que os homens de bem nada façam". Edmund Burke

'O que me preocupa não é o grito dos maus, é o silêncio dos bons.' Martin Luther King

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Re: Frações de Infantaria

#59 Mensagem por Clermont » Qua Jun 08, 2011 10:08 pm

ATAQUE DE SEÇÃO DE FUZILEIROS - O DUPLO ENVOLVIMENTO.

Major B. P. Beardsly - Exército canadense.

PANO DE FUNDO.

No outono de 1994, eu tive ocasião de cursar o Seminário de Táticas do Centro de Treinamento de Combate realizado na Base das Forças Canadenses de Gagetown (CFB Gagetown). O foco do seminário era a guerra de manobras. Como esta era a minha primeira exposição ao estudo deste assunto, escutei atentamente enquanto os princípios, fundamentos e natureza desta doutrina eram apresentados. No começo das apresentações, dei-me conta de que já tinha presenciado a aplicação desta teoria numa manhã em abril de 1994, em Kigali, Ruanda, durante aquela trágica guerra civil. O ataque de uma seção de fuzileiros rebelde (GC nos exércitos da Comunidade Britânica) contra uma seção FGR (Forças Governamentais Ruandesas) utilizou técnicas e táticas que eu achei diferentes e estranhas. Agora, com o benefício de leituras e estudo, eu concluí que os rebeldes foram bem sucedidos empregando guerra de manobras. Enquanto o Exército canadense embarca numa revisão de sua doutrina de guerra rumo à guerra de manobras, este artigo é apresentado para meus irmãos infantes como exemplo de como esta nova doutrina pode impactar a tática, mesmo num escalão tão básico quanto o do ataque de seção de fuzileiros.

O duplo envolvimento.

A chave das táticas do EPR (Exército Patriótico Ruandês) era o duplo envolvimento; uma tática que abarca os fundamentos da guerra de manobras. O duplo envolvimento raramente é utilizado na guerra, mas quando bem executado, a força inimiga é, no fim, aniquilada. A utilização da manobra, velocidade, surpresa e a aplicação e concentração do poder de fogo permitem a uma força:

- Cercar um oponente;

- Atacar simultaneamente de todos os lados;

- Cortar quaisquer rotas de fuga;

- Impedir reforços e

- Desmoralizar o inimigo.

A história oferece vários exemplos de duplos envolvimentos bem sucedidos como o dos cartagineses sobre os romanos em Cannae, os zulus sobre os britânicos em Isandlawana e os russos sobre os alemães em Stalingrado. Uma característica-chave destas batalhas foi que, na maioria dos casos, o vitorioso atacou com força ou equipamento igual e algumas vezes inferior e, no fim, destruiu asforças defensoras inimigas. O duplo envolvimento, apropriadamente executado, pode ter sucesso sem o benefício da tradicional superioriade 3 para 1, considerada essencial para o mais convencional ataque de atrito ao qual nós aderimos em nossa doutrina no passado recente.

Objetivo.

O objetivo deste artigo é descrever o ataque de duplo envolvimento da seção de fuzileiros que eu presenciei, incluindo como ele, mais tarde, foi-me explicado por oficiais do EPR. Além disso, eu espero que as lições aprendidas apóiem o estudo e discussão na infantaria canadense enquanto mudamos nossoa doutrina de guerra para a guerra de manobras.



RUANDA - 1994.

Em 6 de abril de 1994, o presidente de Ruanda foi morto sob circunstâncias misteriosas e dentro de 48 horas a guerra civil (que a Missão de Assistência Para Ruanda das Nações Unidas, UNAMIR, tinha sido desdobrada para impedir) foi reiniciada com horrível ferocidade. Em 9 de abril, da janela de meu escritório no Quartel-General das Forças UNAMIR, em Kigali, eu observei uma seção EPR conduzir com sucesso uma ataque contra uma seção FGR. Mais tarde, no mesmo dia, nossos oficiais de ligação do EPR retornaram ao QG, e entusiasmados com seus sucessos iniciais em Kigali e alhures em Ruanda, eu pude engajá-los em discussões táticas onde eles, livremente, descreveram suas táticas e mais especificamente sua ênfase na utilização do duplo envolvimento em operações ofensivas indo da seção de fuzileiros até o nível de brigada.

O Novo EPR.

O major Kagame retirou suas combalidas forças de Ruanda para campos de treinamento em Uganda e reforçou o moral e a eficiência de seus homens com:

- Disciplina;

- Intensa doutrinação política;

- Duro adestramento militar;

- O desenvolvimento de comprovadas liderança e táticas durante as operações de guerrilha em Ruanda.

Começando em 1990, o major Kagame organizou o EPR de baixo para cima, começando com o escalão seção. Seções de 8-12 homens foram adestradas e disciplinadas juntas sob líderes testados em batalha em unidades coesas.

Líderes no EPR para manter ou subir de posto tinham de exceder em três áreas, Os Três Fatores de Avaliação:

(1) Eles tinham de ter sucesso em cumprir suas missões designadas (fracasso era indesculpável e não tolerado) sob mínima ou nenhuma supervisão (controle direto).

(2) Eles tinham de utilizar recursos mínimos para cumprir suas missões designadas (isto é, homens, armas e munições). Esta exigência levou ao interessante ato de líderes subordinados que recusavam ou devolviam armas de apoio anexadas, pessoal adicional, e por aí vai, de forma a economizar os poucos preciosos recursos de seu exército guerrilheiro para o bem maior.

(3) Eles tinham de mostrar poucas baixas. O EPR era recrutado, em grande parte, no exílio e portanto era um exército pequeno. Além do mais, os tutsis em Ruanda compreendiam apenas 15 % da população e mesmo com recrutas deste possível fundo de potencial humano, o tamanho do EPR não poderia sustentar uma guerra de atrito. Em comparação, as FGR podiam recrutar dos outros 85 % da população para aumentar as forças governamentais, em grande parte hutus.

Estes três fatores de avalição eram críticos na determinação se um líder mantinha seu posto. Líderes que não podiam satisfazer um ou todos estes critérios tinham sorte se fossem rebaixados para um escalão de comando que pudessem lidar, ou serem transferidos para as armas de apoio e serviço, tais como comunicações, unidades de apoio de fogo direto ou indireto, logística, unidades de estado-maior e por aí vai. Se não tivessem sorte, especialmente se um fator de avaliação fosse seriamente violado, eram sancionados por seus fracassos com punições, até mesmo com a morte.

Em acréscimo, não havia nenhum comissionamento direto de oficiais no EPR. Líderes começavam como "combatentes", e avançavam para o nível de seção, pelotão, companhia e mais altos, através da virtude de seu desempenho em batalha, baseados nos três fatores de avaliação. Oficiais do EPR primeiro serviam como soldados e então cumpriam aprendizado como adjuntos sob um líder comprovado. Por exemplo, o comandante de seção adestrava seu adjunto nas habilidades táticas e de liderança necessárias para eventualmente comandar a seção. Em batalha, o adjunto comprovaria sua habilidade antes de assumir o comando de uma seção. O comandante de seção (um líder comprovado) por sua vez avançaria para tornar-se adjunto de pelotão sob a tutela do comandante de pelotão. Com efeito, isto era "treinamento no emprego" (OJT, On the Job Training). Se um líder fosse promovido, morto ou demitido, sempre havia um substituto. O processo OJT era repetido por toda a cadeia de comando, e assegurava que os líderes fossem competentes, bem sucedidos e testados na batalha.

Comandantes bem sucedidos permaneciam na infantaria. Comandantes que tivessem apresentado sintomas do "Princípio de Peter"
("todos são promovidos até o nível máximo de sua incompetência") eram transferidos para as armas de apoio, os serviços ou o estado-maior. Parecia que não havia nenhuma vergonha em ser demitido e enviado para uma organização fora da infantaria. Era bem comum no EPR encontrar dois oficiais, tais como um comandante de batalhão de 28 anos e o outro um tenente de comunicações de 28 anos, que haviam ingressado e servido juntos até que o oficial de comunicações apresentasse sintomas do "Princípio de Peter" no escalão de comandante de pelotão e fosse, por conseqüencia, transferido para uma unidade de comunicações. Parece nunca ter havido animosidade entre os oficiais. Como grupo e como indivíduos, eles subordinavam suas próprias carreiras e desejos de promoção à "causa", e honestamente acreditavam que o sistema deles era justo. Eles acreditavam que ainda estavam contribuindo para o sucesso final em sua guerra.

A Segunda Ofensiva.

O desenvolvimento do EPR pelo major Kagame começou em 1990. Primeiro, ele lançou seções por toda a fronteira de Ruanda para efetuar incursões, reconhecimentos e emboscadas contra as forças militares governamentais. Quando as operações ao nível de seção eram dominadas e os líderes testados, as operações, subseqüentemente, eram incrementadas para pelotão, então companhia, então batalhão e, por fim, para o nível de grupamentos móveis (brigadas). Pela época em que o EPR estava conduzindo operações de batalhão e grupamento móvel, eles não mais retornavam para Uganda para descanso e recompletamento. Ao invés, eles permaneciam no que chamavam de "áreas liberadas" de Ruanda. O exército, durante este processso de adestramento e expansão tinha crescido de uma turba de quatro mil homens para uma força endurecida pela batalha de vinte mil homens, organizada em três grupamentos móveis e sete batalhões de infantaria (com apoio de outras unidades de serviço e de apoio ao combate). Sua crescente força, competência e eficácia foram comprovadas em sua altamente bem sucedida ofensiva de fevereiro de 1993, que resultou num cessar-fogo e num acordo de paz após eles destroçarem as FGR. Estas utilizaram o cessar-fogo para rejuvenescer suas forças e então decidiram combater novamente em 6 de abril de 1994. O EPR facilmente derrotou as forças governamentais e tomou o país inteiro por volta de julho de 1994.

Táticas do EPR.

É interessante perceber que o EPR empregou basicamente as mesmas táticas ao nível de seção que empregou ao nível de brigada. Como salientado anteriormente, o EPR não podia sustentar uma guerra de atrito, especialmente contra as maiores, melhor equipadas forças governamentais que também tinham a vantagem da superioridade aérea. O EPR baseava-se na guerra de manobras como multiplicador de forças. A utilização da guerra de manobras com sua inerente mobilidade superior, foco no inimigo, rápidos adestramentos táticos e concentração contra uma fraqueza do oponente, no final levaram à derrota das Forças Governamentais Ruandesas.

O EPR constantemente treinou e conduziu movimentos de longa distância à pé, transportando cargas pesadas, por sobre os mais íngremes terrenos de floresta e montanha, de dia e de noite, em todos as condições climáticas, especialmente durante as temporadas chuvosas.

O EPR também concentrava a precisa e correta aplicação de seu limitado poder de fogo para golpear o inimigo em suas mais vulneráveis localizações (normalmente, os flancos e a retaguarda). Em cada escalão (de seção até brigada), o método de ataque favorito do EPR era fixar o inimigo numa posição por meio da utização de uma base de fogo. Somente depois que o inimigo estivesse fixado e suprimido, um duplo ennvolvimento por elementos de assalto em volta de ambos os flancos seria conduzido. Os elementos de assalto evitariam lutar através do objetivo, mas ocupariam posições de tiro mutuamente apoiadas, sobre o flancos e a retaguarda do inimigo. Estas posições de tiro e a ameaça psicológica de ser flanqueado e cercado (deslocado), levava o inimigo a tentar escapar de sua segura e preparada posição defensiva, expondo-se ao fogo concentrado do atacante. Se o inimigo permanecesse no local, a posição não era assaltada prematuramente, mas era sujeitada ao fogo concentrado e bem visado de todos os lados, excepto a retaguarda, resultando na atrição e estrangulamento da posição das FGR. Sempre se fazia parecer que a retaguarda não estava cercada, para que o inimigo, desmoralizado e depauperado, fosse atraído para uma retirada ou fuga através de sua rota de escape. Se o inimigo fugia, acabava descobrindo que sua rota de escape era uma zona de abate onde ele seria emboscado. Apenas quando o inimigo fugia, sendo abatido, e pouco perigo existia na aproximação das posições das FGR, o objetivo seria assaltado e limpo. A força EPR consolidaria antes de retomar a ofensiva. É interessante notar que o EPR considerava ser o ideal, uma proporção de 1 para 1 nesta forma de ataque (seção contra seção, e por aí vai).

Notavelmente, o EPR não estava fixado em capturar terreno, nem em assaltar, precipitadamente, e lutar através de um objetivo. Seus adestramentos de batalha eram conduzidos com incrível velocidade para fixar e envolver o inimigo, mas se deter antes de atacar, impulsivamente através de uma posição onde eles acreditavam que podia ocorrer muitas baixas amigas. O EPR acreditava firmemente na velocidade de manobra e desdobramento de modo a entrar no ciclo de tomada de decisões do inimigo e tornar qualquer reação das FGR irrelevante e atrasada. Pelo momento em que as FGR normalmente reagiam à ameaça na sua frente, elas, invariavelmente já estavam flanqueadas e isolados. Além disso, o EPR reconhecia, muito corretamente, que uma posição inimiga, isolada, suprimida e desmoralizada, sobre um certo pedaço de terreno, nada mais era do que um alvo a ser alvejado e não um objetivo a ser, fisicamente, tomado. O foco estava em destruir a capacidade do inimigo de causar danos ao EPR e não na captura de terreno que as FGR estivessem defendendo. O EPR também acreditava que se as forças defensoras fossem derrotadas imediatamente, ou numa hora, ou num dia mais tarde, não era importante. Entretanto, era importante deixar o inimigo impotente por meio do isolamento e supressão. O EPR era excelente na utilização do tempo e poder de fogo para desmoralizar e atritar as FGR. Com freqüencia, as FGR iriam fazer a vontade do EPR e tentar fugir/irromper, tornando muito mais fácil para o atacante destruir o inimigo em emboscadas bem preparadas.



9 DE ABRIL DE 1994 - O ATAQUE DA SEÇÃO EPR.

Dado o pano de fundo acima, a seguinte descrição é de um ataque de seção que eu presenciei em 9 de abril. Como estava impossibilitado de observar ou compreender tudo que havia ocorrido, subseqüentes conversas com o oficial de ligação do EPR (OLig EPR) no Quarte-General da Força UNAMIR, preencheram os detalhes ausentes. O ataque será descrito em seqüencia de acordo com os Adestramentos de Batalha de Seção de Fuzileiros do Exército canadense, para propósitos de clareza.

Preparação para a batalha - A seção EPR era organizada com uma força máxima de 12 homens. Os soldados lutavam em ordem de combate que incluía rações, água e munição. Não havia nenhum rádio de seção ou outros equipamentos. Os líderes de seção do EPR eram, com freqüencia, vistos inspecionanhdo seus soldados e (pelas minhas observações) estes e seu equipamento de combate estavam sempre bem cuidados. As fardas eram camufladas. Excelentes adestramentos, enfatizando a velocidade para o avanço e ataque, eram bem conhecidos e utilizados.

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Aproximação e Assalto. A seção EPR dividiu-se numa base de fogo e dois grupos de quatro homens armados com fuzis de assalto (variantes do AK). Apesar de intensa observação não pude identificar, em momento algum, o líder ou o seu adjunto. Eles estavam fardados e atuavam identicamente aos outros soldados. Em discussões posteriores com o OLig EPR, ele salientou que eles não tem nenhuma regra fixa sobre a localização dos líderes, mas um normalmente lideraria o grupo de assalto do flanco esquerdo e o outro o grupo de assalto do flanco direito. A base de fogo controlava a si própria, já que era guarnecida pelos soldados mais antigos e comprovados da seção. O grupo de assalto do flanco esquerdo cruzou a estrada na figura e rastejou até um fosso diretamente paralelo ao autor. Neste ponto, o grupo de assalto do flanco direito podia ser visto movendo-se para a direita, mas eu os perdi de vista. Depois deste ponto, eles apenas podiam ser ouvidos gritando ou atirando de tempos em tempos do flanco direito.

O grupo do flanco esquerdo dividiu-se em duas turmas quando chegaram a um ponto onde eficaz fogo de flanco podia ser desfechado. Uma turma permaneceu nesta localização no flanco esquerdo e abriu fogo visado sobre o objetivo enquanto a segunda turma moveu-se mais acima seguindo o fosso e voltaram a atravessar a estrada rumo à retaguarda do inimigo. Esta segunda turma não atirou e desapareceu entre as edificações. A mesma ação estava tendo lugar no flanco direito.

Durante todo este período, fogo de cobertura, na forma de rajadas curtas visadas e um rojão foram disparados da base de fogo. Parecia-me que o EPR estava correndo o risco de atirar sobre seus próprios homens de cada flanco. Este ponto levou a uma exaustiva discussão com o OLig EPR segundo o qual somente tiros únicos visados eram disparados das turmas de flanqueio e que o risco de ser atingido por fogo amigo era remoto numa posição de tiro coberta. Ele também salientou que a vantagem de desmoralizar o inimigo atirando nele da frente e de ambos os flancos de longe compensava o risco de fogo cruzado amigo. O objetivo deles era fazer os defensores saírem em pânico de sua posição preparada, onde o defensor tinha a vantagem, e provocá-lo a se expor ao retirar-se para a retaguarda ou tentar uma ruptura. Uma tal ação pelo defensor passaria a vantagem para o atacante, que, de uma posição de tiro escolhida podia facilmente lidar com um inimigo desmoralizado, confuso e exposto. O assalto do EPR era, portanto, um assalto pelo fogo e manobra, não um assalto direto ou o que nós, canadenses, chamamos de lutar através do objetivo.

O EPR contemplava lutar através do objetivo como engajar o defensor inimigo no terreno que este escolheu e pressupunha que isto resultaria em desnecessárias baixas amigas. Na opinião deles, era muito melhor manipular, obrigar ou atrair o inimigo para se movimentar na direção de uma área onde o EPR mantinha a vantagem. O OLig EPR insistia que o inimigo precisa ser deixado com o que parece ser uma rota de escape mas que precisa ser uma zona de abate coberta. Em discussão com o OLig EPR ele usou o paralelo de um rato encurralado que atacará ferozmente se não tiver nenhuma rota de escape percebida. O EPR deixava uma rota de escape mas assegurava que ela estava coberta pelo fogo.

Consolidação. Após trinta minutos de fogo, muita gritaria e trocas de sacanagens verbais nas suas línguas nativas, um soldado FGR sobrevivente correu da casa, descendo uma viela, para a retaguarda da casa que parecia ser uma rota de escape, mas estava coberta pelas turmas de fuzileiros do EPR nos flancos esquerdo e direito (posições C e E). Estes fuzileiros atiraram e mataram o soldado fujão.

O ataque não estava terminado até que a turma do flanco esquerdo (posição B) utilizasse fogo e movimento para avançar para a casa. A base de fogo cessou de atirar e começou a avançar. A turma do flanco esquerdo arremessou uma granada de mão, entrou e abriu fogo dentro do edifício, matando quaisquer sobreviventes. A seção rapidamente consolidou ao redor da casa, posicionou segurança com suas armas de apoio e passou a saquear os soldados FGR em busca de suas armas e bens pessoais. Para o vencedor, os espólios da guerra. Em pouco tempo, a seção continuou seu avanço.

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CONCLUSÃO.

Neste ataque, uma seção de fuzileiros do EPR atacou com sucesso e destruiu uma seção das FGR sem sofrer uma única baixa. A seção EPR eficazmente utilizou manobra e assalto pelo fogo e para efetuar um duplo envolvimento de seu inimigo. A força inimiga foi isolada, atritada, deslocada e finalmente aniquilada.

Enquanto o Exército canadense começa a adotar a guerra de manobras como nossa doutrina de guerra, eu acredito que há algumas lições valiosas para serem aprendidas estudando-se o EPR e suas táticas ao nível de seção e outros. Nós devemos considerar as vantagens para o atacante, e o impacto do duplo envolvimento sobre um inimigo, e o uso da manobra e do assalto pelo fogo em contraponto ao nosso mais estereotipado flanqueamento pela esquerda ou pela direita e nossa obsessão em lutar fisicamente através do objetivo com seus resultados atricionais. Embora o duplo envolvimento seja uma parte de nossa doutrina ele é utilizado raramente (se alguma vez) em treinamentos e exercícios. Nós não seremos capazes de empregá-lo eficazemte na guerra se não o praticarmos ou compreendermos como fazê-lo em treinamentos na paz. A intenção deste artigo é provocar réplicas, discussão e discurso profissional e evitar o que eu temo estar tendo lugar com nossa doutrina; nomeadamente uma mera mudança em terminologia. Eu acredito que a guerra de manobras tem implicações para todos os níveis da guerra e em todos os escalões de comando. Esperançosamente, este documento provocará um olhar crítico sobre nossas táticas tradicionais e ajudará no desenvolvimento de nossa nova doutrina de guerra.




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Re: Frações de Infantaria

#60 Mensagem por Moccelin » Sex Jun 10, 2011 4:55 pm

Só tenho uma coisa a comentar sobre o texto acima: Necessidade, a mãe de todas as invenções.




The cake is a lie...
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