#2441
Mensagem
por Marino » Dom Jul 11, 2010 11:21 am
Noticiárionaval:
O Mar do Futuro
Armando Dias Correia
«O futuro – o nosso futuro – está sempre além horizonte e a incerteza
que encerra nunca nos demoveu de o demandarmos, cientes das
condicionantes, mas confiantes no saber, na motivação, na tenacidade e
na imaginação criativa, que são marcas de carácter que nos unem e
identificam!» (Almirante Fernando José Ribeiro de Melo Gomes, 20 de
Maio de 2007).
O futuro é desconhecido e por isso há cenários genéricos para todos os
gostos. Thomas Friedman, no seu livro «The World is Flat», tem uma
ideia optimista do desempenho futuro do mundo globalizado. Os críticos
da globalização comungam da previsão de David Korten e de John
Cavanaugh, segundo a qual, os EUA irão liderar a criação de economias
locais e regionais mais fechadas e assim mais capazes de lidar com a
reciclagem e a reutilização, com o ambiente e com a geração de energia
limpa. Um terceiro cenário, defendido por Robert Kaplan e Chris Lewis,
conduz-nos para uma visão de colapso político, económico, cultural e
ambiental que já se começou a espalhar em África, a partir dos anos
noventa do século passado, e se poderá espalhar pelo resto do mundo.
Esta abordagem direcciona-nos para um cenário de degradação dos
padrões de vida do «primeiro mundo».
Também Michael T Klare, com a sua nova geografia dos conflitos
globais, ou James Howard Kunstler, com a sua previsão catastrófica do
«Fim do Petróleo», nos apresentam uma antevisão de grande angústia em
relação ao futuro. Este cenário tem no seu fundamento a ideia do
crescimento do consumo de combustíveis fósseis, da escassez de água,
de alterações climáticas, de doenças, dentre outros. Alerta mesmo para
a possibilidade das elites governantes terem de se proteger do povo
que governam, em virtude de uma crescente revolta motivada pela
diminuição da sua qualidade de vida, enquanto assistem à tomada do
poder por grandes corporações globais. Uma outra antevisão
interessante é a apresentada no livro «Os próximos 100 anos», de
George Friedman (Fundador e CEO da STRATFOR), que nos apresenta, entre
outras previsões, a fragmentação da China em 2020 e uma guerra global
em meados do século.
O Mundo em 2025
O relatório «As tendências globais em 2025: um mundo transformado»
publicado, em Novembro de 2008, pelo National Intelligence Council, e
o «O novo relatório da CIA – Como será o mundo em 2025?» permitiram-me
identificar, da seguinte forma, os contornos do sistema internacional
por volta de 2025:
Em 2025 seremos cerca de 8 mil milhões e em 2050 aproximadamente 9 mil
milhões de pessoas. No entanto, iremos assistir ao envelhecimento da
população do mundo industrializado, com especial significado no Japão,
na Europa e na Rússia.
Não haverá muitas dúvidas em relação à afirmação da Índia, em 2030,
como país mais populoso do mundo com 1505 milhões de pessoas (Mp), a
China terá cerca de 1458 Mp, os EUA na ordem dos 366 Mp, a Indonésia
por volta dos 279 Mp e o Paquistão 240 Mp. A Índia ultrapassará a
China por volta de 2025.
A emergência de um sistema multipolar, marcado simultaneamente pela
crescente afirmação do eixo do Pacífico (China, Índia, Coreia, Japão,
EUA) e pelo aumento do poder relativo das redes de actores não
estatais (multinacionais, ONG’s, organizações religiosas).
Significativa deslocação geopolítica do poder económico e da riqueza
relativa do Ocidente para o Oriente. O comércio no Oceano Pacífico é
superior ao do Oceano Atlântico desde a década de 80 do século
passado.
Manutenção dos EUA como potência mundial, embora cada vez menos
dominante e cada vez mais focalizada no Médio Oriente (para assegurar
o acesso ao petróleo) e no Oceano Pacífico (para garantir uma posição
competitiva no comércio).
A energia é o elemento vital da economia mundial. Apesar dos esforços
para aumentar a eficiência energética e dos investimentos no
desenvolvimento de novas tecnologias energéticas, o petróleo e o gás
natural continuarão decisivos por muitos anos. O desenvolvimento
económico mundial requer cada vez mais petróleo e gás. Alguns
analistas estimam que, nos próximos anos, a China sozinha poderá ser
responsável por um terço do aumento marginal mundial da procura de
petróleo.
O ritmo de inovação tecnológica será a chave para os resultados no
futuro próximo. No entanto, as tecnologias actuais são inadequadas
para substituir a matriz energética tradicional, na escala necessária,
numa época em que se sabe que o sector energético leva, em média, 25
anos para que uma nova tecnologia de produção seja amplamente
instalada.
A produção de hidrocarbonetos, petróleo bruto, gás natural e produtos
não convencionais, fora do cartel da OPEP, não crescerá
proporcionalmente à procura. A produção de petróleo e gás em muitos
países produtores tradicionais está a diminuir. Por exemplo, na China,
na Índia e no México a produção estagnou. Os países onde actualmente
se situam as grandes reservas também acabarão por sofrer uma retracção
da produção e continuarão a ser áreas de instabilidade geopolítica.
Como resultado de tudo isto e de outros factores, o mundo irá
enfrentar uma mudança de fontes de energia, do petróleo para o gás
natural, para o carvão e para outras alternativas. No entanto, a curva
de depleção do gás natural é igual à do petróleo biótico com um atraso
de poucos anos. O carvão, que existe em abundância, por exemplo nos
Estados Unidos, é muito poluente e arrasador para os habitats onde é
extraído.
O mundo precisa de descobrir e desenvolver fontes fiáveis de petróleo
e gás, a preços que permitam sustentar o crescimento investimentos
económico. Aqui há uma enorme incerteza. Não há dúvidas que têm sido
poucas as novas descobertas de petróleo e que estas são, normalmente,
encontradas em países com regimes políticos controversos ou em locais
com geografia física muito difícil.
O que baralha toda esta previsão preocupante são as notícias que têm
vindo a ser divulgadas pelos petrogeólogos de que existem reservas de
origem abiótica no interior do nosso planeta, em enormes quantidades
no denominado «manto terrestre», a profundidades superiores aos 15 km.
O especialista José Caleia Rodrigues, com quem tive oportunidade de
trocar ideias, considera que o petróleo é muitíssimo abundante e que
já há tecnologia capaz de atingir tais profundidades e extrair o
petróleo jazente no manto. É mesmo possível que devido à elevada
pressão deste petróleo abiótico possa haver migração do manto para
bolsas mais próximas da superfície e portanto mais acessíveis,
sobretudo em campos muito explorados, quase esgotados, em que a
pressão interna é muito baixa. Se se confirmar esta hipótese será
necessário estudar o seu impacto futuro.
Se não houver petróleo de origem abiótica teremos inevitavelmente
gigantescas consequências económicas e sociais para o mundo, já que a
civilização moderna depende dos combustíveis fósseis baratos e
abundantes, especialmente para os transportes, produção de alimentos,
processos químicos industriais, tratamento de água, aquecimento
doméstico e geração de electricidade. É difícil imaginar o mundo sem
gasóleo para os tractores e ceifeiras, sem pesticidas, sem plásticos e
sem combustível para os aviões e navios.
Os grandes temas estratégicos nos Espaços Marítimos
Com estes vectores orientadores que desafios se podem identificar nos
espaços marítimos? Os grandes temas estratégicos deverão ser:
Competição pelo fornecimento de energia
Alterações climáticas
Globalização
Aumento da complexidade no litoral
Crescimento da competição e diminuição da cooperação internacional no
âmbito do uso e da exploração dos oceanos e dos mares.
Competição pelo fornecimento de energia
Segundo o Development, Concepts and Doctrine Centre (DCDC) do
Ministério da Defesa do Reino Unido, num documento que procura
identificar os desafios estratégicos de 2007 a 2036, a competição por
fornecimento de energia dominará a paisagem económica nos próximos 30
anos. O ritmo de crescimento da procura deverá oscilar entre 1,5 e
3,1%. A procura, por parte das economias emergentes da China e da
Índia, irá aumentar significativamente, enquanto os habituais grandes
consumidores irão procurar manter os níveis de consumo compatíveis com
o seu crescimento económico.
Esta evolução resultará em preços altamente competitivos e na
continuação do enriquecimento e progresso económico dos países
produtores, incluindo a Rússia e o Irão. Haverá ainda, em resultado de
um nível de competição cada vez maior, desentendimentos entre países
que poderão conduzir a situações de crise, ou mesmo de conflito.
Este é o tema mais controverso, já que há muitas pessoas que não
acreditam que o petróleo vai faltar. As reservas provadas de petróleo
de origem biótica conhecidas, se se mantivesse a produção e o ritmo de
consumo, seriam suficientes para cerca de 45 anos (cálculos efectuados
pelo signatário com base no relatório «BP Statistical Review of World
Energy»). No entanto, como sabemos, o ritmo de consumo vai aumentar e
actualmente apenas se descobre um novo barril de petróleo por cada 4
que se produz, com tendência para se agravar, cada vez mais, a
diferença entre a descoberta e a produção. Naturalmente que o preço do
petróleo vai subir, já que é cada vez mais requerido pelas economias
em crescimento. Caso exista petróleo de origem abiótica também será
caro, porque a tecnologia para a sua extracção será complexa. Em
termos de petróleo biótico prevê-se que as novas descobertas se façam
quase exclusivamente no fundo do mar e nas regiões polares.
Alterações climáticas
As alterações climáticas terão mais impacto no futuro do que se pode
pensar, à primeira vista, e o mar tem uma enorme influência. A água,
dos oceanos e dos mares, é reguladora do clima na Terra, basta pensar
que os litorais sofrem menores amplitudes térmicas dos que os
interiores continentais, ou que os países do norte da Europa têm um
clima mais ameno devido à corrente do Golfo. Esta corrente está a
enfraquecer, o que é um sinal claro de que a seguir a este aquecimento
do planeta se vai entrar numa nova era de glaciação, que tem sido
cíclica ao longo da História da Terra.
O último período interglacial quente com mais semelhanças com o
presente Holocénico terá sido o Eemiano, que terá ocorrido entre 130
000 anos e 110 000 anos atrás. A transição completa do período Eemiano
para a era glacial que se seguiu não levou mais de 400 anos. Ora,
actualmente a emissão dos gases de efeito de estufa está,
potencialmente, a acelerar todo este processo, pelo que devemos
esperar grandes alterações climáticas nos próximos anos.
Prevê-se que as alterações climáticas venham a amplificar o sofrimento
humano através de tempestades catastróficas, diminuição da área de
terra arável e da pesca costeira, o que pode conduzir à perda de
vidas, à migração involuntária, à instabilidade social e a crises
regionais. Actualmente há 21 países com 600 milhões de pessoas a
sofrer de escassez de água e terra arável. Em 2025 serão cerca de 36
países e aproximadamente 1400 milhões de pessoas.
Nesta perspectiva, os países arquipelágicos como Portugal já
identificaram a necessidade genética de ser edificada a capacidade que
permite apoiar rapidamente as suas populações, designadamente através
de um navio polivalente logístico satisfazendo requisitos para emprego
em missões de natureza militar e não militar.
As alterações climáticas estão também a abrir novas rotas potenciais e
a criar a expectativa do acesso às riquezas do Oceano Árctico e do
Oceano Antárctico. A ligação do Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico,
através do Oceano Árctico, é possível através da Passagem Noroeste, a
norte do Canadá. É uma rota extensa, muito difícil e bloqueada por
gelos em longos períodos do ano. Há sessenta anos o navio «St Roch» da
Royal Canadian Mounted Police efectuou a primeira viagem de oeste para
leste através da Passagem Noroeste. O navio levou 27 meses para o
conseguir. Devido às alterações climáticas, em 2000, o navio «St Roch
II» (com o nome a honrar o seu antecedente) efectuou a mesma viagem do
Pacífico até à Baía Baffin, a oeste da Gronelândia, em apenas um mês.
Este feito abriu novas perspectivas em relação a rotas comerciais,
permitindo encurtar uma viagem da Ásia para a Europa em 5000 milhas
náuticas, ou seja metade do trânsito via Suez do Japão para a Holanda
e, para já, sem riscos de ataques de pirataria. A empresa russa
Sovcomflot, de transporte de petróleo, já vai ensaiar o transporte por
esta via desde o nordeste da Rússia até à Ásia.
Globalização
A própria globalização está a formatar novas formas de migração
humana, a ter impacto na saúde e na doença, na educação e na cultura.
Teme-se que a globalização abra um fosso, ainda maior, entre o mundo
civilizacional ocidental e o mundo civilizacional oriental, que tem
cada vez maior expressão demográfica.
Os meios de comunicação irão realçar o drama do sofrimento humano e as
populações menos afortunadas estarão, progressivamente, mais
conscientes da sua situação, ficando menos tolerantes e mais radicais,
permitindo o crescimento de comportamentos extremistas. O crime
organizado e o radicalismo irão explorar esta instabilidade social.
A conjugação da globalização com a inevitável pressão em direcção aos
países do Golfo, onde se localizam as grandes reservas mundiais de
petróleo, irá gerar maior instabilidade na região. A situação será
mais grave à medida que os actores regionais forem conseguindo obter
armas nucleares ou armas de destruição maciça ou de efeitos de massa.
Aumento da complexidade no litoral
Prevê-se o aumento da complexidade do litoral em resultado do facto da
maioria da população mundial viver a pouca distância da orla costeira,
37% vive a menos de 100 km, onde a actividade humana deverá
desenvolver os mais variados projectos que, em muitos casos, se
prolongarão pelo mar e onde irão produzir um elevado impacto.
As regiões costeiras desenvolvem-se mais política, económica e
demograficamente do que as interiores, porque beneficiam directamente
das vantagens associadas às comunicações marítimas. No futuro nenhuma
alternativa se vislumbra capaz de substituir a capacidade de
transporte dos navios e por isso esta tendência tenderá a aprofundar-
se.
A desertificação de terras, a escassez de água e de recursos, ou
simplesmente a procura de melhores condições de vida, também levarão a
uma concentração ainda maior no litoral. Nas regiões litorais
sobrepovoadas com governos fracos e corruptos haverá cada vez mais
tensões devidas ao aumento do número de jovens sem perspectivas de
futuro, ao agravamento da insatisfação dos excluídos, ao extremismo
religioso, ao nacionalismo étnico e às alterações climáticas, que
deverão originar ambientes propícios a crises e conflitos. Este
ambiente de instabilidade social irá ser explorado pelo crime
organizado e pelo radicalismo. Além disso, o homem continuará a
despejar nos oceanos produtos extremamente nocivos para os
ecossistemas marinhos, como são os hidrocarbonetos, os pesticidas e os
metais pesados.
Crescimento de competição nos oceanos
A desmaterialização do espaço e a compactação do tempo levam a que o
mar, através das suas vias marítimas, continue a ser, cada vez mais,
determinante na vida internacional, num mundo globalizado onde as
economias são sensíveis a alterações no fluxo do comércio, tão
habituadas que estão ao just-in-time. Os navios no mar são os
verdadeiros armazéns da economia moderna e transportam 90% do comércio
mundial. Em paralelo com esta evolução espera-se o incremento da
poluição marítima e a utilização dos espaços marítimos pelo crime
organizado e por organizações terroristas. Há assim um novo paradigma
para os Estados-nação que é a protecção dos espaços marítimos e das
linhas vitais para comunicação.
Como vimos, o transporte marítimo entre a Ásia e a Europa, poderá
passar a circular, na sua vasta maioria, através de vias marítimas
situadas no Oceano Árctico.
Noutra perspectiva de competição internacional a ter lugar nos
oceanos, pode antecipar-se que o alto mar, o fundo do mar e as regiões
polares irão ser palco de disputas à medida que a tecnologia permitir
o acesso aos seus recursos e a necessidade desses recursos encorajar a
sua exploração. A competição irá centrar-se na pesca, cada vez mais
escassa, na mineração do fundo oceânico, na extracção de petróleo e
gás, mas também se pode estender aos direitos de passagem e de negação
de passagem.
A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982 abriu a
possibilidade dos países mais pobres usufruírem das riquezas dos
fundos dos oceanos que ficam para além das plataformas continentais
dos Estados, ou seja na «Área». No entanto, a dinâmica a que estamos a
assistir é apenas a da extensão dos limites das plataformas dos
Estados ribeirinhos.
Desde 1982, data de referência da Convenção, muitas evoluções houve na
capacidade técnica para explorar petróleo e gás do fundo do mar. No
início dos anos 80 explorava-se o petróleo, no mar, a menos de 300 m
de profundidade. Actualmente, exploram-se estes recursos sob uma
coluna de água de 3000 m. Se tivermos em conta que o Oceano Atlântico
tem uma profundidade média de 3350 m podemos antever que haverá
iniciativas futuras dos Estados ribeirinhos para ampliarem os limites
das suas plataformas, em especial se descobrirem indícios de grandes
riquezas submersas. Há áreas do Oceano Pacífico e do Índico que já
estão concessionadas pela Autoridade Internacional dos Fundos
Marinhos. Os exploradores são os países tecnologicamente mais
evoluídos.
Os recursos naturais motivam muitas acções subtis dos Estados. Recorda-
se, por exemplo, que em 2007, foi notícia a colocação de uma bandeira
russa no fundo oceânico Árctico. A Dinamarca respondeu com uma
expedição científica e o Canadá com uma «operação de soberania», ou
seja, manobras militares. No Oceano Atlântico também há áreas de
conflitualidade, um exemplo é a reclamação, unilateral, do Reino Unido
sobre parte da bacia Hatton-Rockall que também é disputada pela
Irlanda, Dinamarca (para as Ilhas Faroe) e Islândia. No Oceano
Atlântico Sul também já há ecos de algum desentendimento entre o Reino
Unido, a Argentina e o Chile relativamente à delimitação da plataforma
continental.
Portugal e os desafios marítimos
A dimensão do mar português, um dos maiores no espaço europeu, reúne
condições para se expandir ainda mais quando for reconhecida a
pretensão de expansão dos limites da plataforma continental.
Passaremos de 1,7 milhões de quilómetros quadrados para 3,6. Este
alargamento geopolítico oceânico dos limites da plataforma continental
representa um grande desafio nacional e uma oportunidade para as
gerações futuras. No entanto, requer um esforço acrescido do País no
seu estudo, aproveitamento, segurança e defesa.
Segundo a SaeR no estudo o Hypercluster da economia do mar,
apresentado em 17 de Fevereiro de 2009, o efeito total no Produto
Interno Bruto (PIB) português das actividades ligadas ao mar, no ano
de 2005, terá sido da ordem dos 5% a 6% do PIB nacional. Nestes
valores não são considerados os resultados obtidos pelo turismo
marítimo (balnear) e pela imobiliária turística costeira, que são
muito significativos.
Em termos futuros, as oportunidades que se vislumbram são muitas,
vejamos algumas:
Se houver segurança em terra e no mar poderemos cativar turistas,
balneares e náuticos, que deixarão de ir para outras paragens, que se
vão tornar inseguras.
Os portos nacionais vão ser importantes para o hypercluster do mar e
mais importantes ainda à medida que o preço dos combustíveis aumentar
ou o petróleo escassear e começar a fazer sentido ao transporte da
América, de África e do Médio Oriente entrar em Portugal e ser depois
transportado por comboios eléctricos. Tal será viável se a Europa
desenvolver a ferrovia e se conseguir gerar energia barata a partir de
fontes renováveis.
A Energia tem um potencial enorme, já que a União Europeia tem a
ambição de gerar entre 14 a 17% da sua energia em 2020 a partir de
geradores eólicos offshore. Prevê-se que em 2030 esse número passe
para um valor entre 26 a 35%. Assim, por exemplo, até 2030 vai ser
necessário instalar 10 000 novas turbinas no mar.
A Pesca é cada vez mais escassa e, por isso, é preciso valorizar o que
existe, uma das possibilidades é através da certificação do pescado. A
aquicultura deverá compensar a diminuição das capturas no mar e como
tal deverá passar dos actuais 3% em Portugal e 19% na média europeia
para 50% em 2030. As algas também têm muitas aplicações entre as quais
os biocombustíveis, a alimentação ou a retenção de carbono.
Em Portugal, no Arquipélago dos Açores, temos uma situação única à
escala mundial, em especial na junção das três placas litosféricas
(placa Americana, Africana e Euroasiática), trata-se de uma região de
ascensão de material a partir de regiões profundas do manto originando
muitas fontes hidrotermais. As estranhas formas de vida que aí vivem
são a matéria-prima para a biotecnologia azul.
Na nossa plataforma sabe-se que há nódulos, crostas e sulfuretos
polimetáticos. Podemos obter do mar manganês, que é importante para
fazer aço super-duro, níquel, para o aço inoxidável e cobalto para
sistemas que funcionam a elevadas temperaturas. Os hidratos de metano
são a energia conhecida mais disponível no planeta. O Japão tem testes
de produção previstos para este ano e prevê a comercialização em 2016.
Portugal também já descobriu a sul do Algarve a presença de hidratos
de metano. No fundo do mar é possível depositar dióxido de carbono que
fica sob o aspecto de gel. Pode ser uma potencialidade pois podemos
vir obter compensações financeiras por conta de quotas de carbono.
Se arrancar todo este potencial por certo que se começarão a
desenvolver, em Portugal, novos equipamentos que poderão ser
exportados.
Considerações finais
Só mesmo a existência de petróleo abiótico nos pode suavizar as
dificuldades que nos esperam. Portugal importa a totalidade do
petróleo e 2/3 do gás natural que consome por via marítima. Isto
significa que a segurança energética, que é muito mais do que a
garantia do acesso às fontes e a protecção do seu transporte, também
vai ser um tema estratégico para Portugal. A análise prospectiva que
apresentei revela, com clareza, que este século será de corrida aos
oceanos na busca dos recursos que guardam.
O interesse pelos oceanos é tão grande que países como o Brasil vivem
em grande euforia com as descobertas de petróleo que têm feito no
fundo do mar. A ideia da riqueza é tão animadora que o Brasil chama à
sua plataforma continental a «Amazónia Azul».
Deixo aqui umas ideias dispersas que se podem considerar no âmbito da
elaboração de uma estratégia como fazendo parte da análise de
ambiente. No entanto, quando se entra num período de incerteza e
quando as alterações nas condições de acção exigem a adaptação de
actividades e de comportamentos para se conseguir manter a viabilidade
e a sustentabilidade, o que é necessário é pensamento estratégico e é
da sua qualidade que dependerá a diferença entre o sucesso e o
fracasso, entre a autonomia e a subordinação, entre o crescimento e a
estagnação, entre o progresso e a decadência. O pensamento estratégico
e a respectiva operacionalização é o que nos deve mover como Nação se
queremos enfrentar com serenidade o futuro. Só teremos as capacidades
necessárias para usar, explorar e proteger o nosso mar e as nossas
linhas para comunicação se soubermos desenvolver e concretizar ideias
que consigam integrar de forma eficaz e eficiente os elementos do
Poder Nacional de que o País dispõe
O mar assegura-nos, de novo, uma oportunidade de grandeza, uma janela
de liberdade e de esperança, mas os complexos desafios que se
avizinham requerem uma liderança política com visão, sabedoria,
antecipação, determinação, agilidade e imaginação, pois só assim
poderemos continuar a ser uma Nação «valente e imortal».
[1] Artigo publicado na Revista da Armada n.º 443, edição de Julho de
2010. Este artigo surge na sequência de um outro sobre “o mar actual”
publicado na Revista da Armada de Maio de 2010.
[2] Capitão de Fragata de Marinha.
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