Santiago escreveu:ESTADO DE MINAS, 14/06/2010
Caças cassados
O Ministério da Defesa informa que o relatório não está pronto e nem há prazo para Jobim entregá-lo
Paulo Paiva
“Atualmente, poucas nações têm a capacidade de projetar, desenvolver e fabricar um caça supersônico. A Suécia é uma delas. O Brasil poderá ser a outra.
Agora existe uma oportunidade única para que o Brasil se torne um parceiro no programa de desenvolvimento do Gripen NG. Isso assegurará ao país acesso a todos os níveis de tecnologias-chave, proporcionando autonomia nacional para a operação e o desenvolvimento de futuros projetos de caças supersônicos.
“Uma decisão a favor do Gripen NG é uma decisão que envolve parceria e independência para futuras gerações do poder aéreo e para o desenvolvimento industrial aeroespacial, gerando milhares de empregos sustentáveis para o Brasil”.
O anúncio acima vem sendo publicado na mídia pela empresa sueca Saab, fabricante do caça supersônico Gripen NG, que disputa com o Rafale-C, da francesa Dassaul, e o F-18 E/F, da Boeing, uma concorrência de US$ 10 bilhões para aquisição de 36 aviões pela Força aérea Brasileira (FAB). O fato de a Saab estar ocupando a mídia e abordando a ampla transferência de tecnologia dá uma ideia do angu de caroço que o assunto virou.
A compra dos caças, essenciais para a modernização da FAB, vem sendo discutida desde o final do último mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. O abacaxi ficou com Lula que, em setembro passado, manifestou preferência pelo francês Rafale, durante visita do presidente da França, Nicolas Sarkozy, ao Brasil.
Os Rafale são os mais caros, mas estão envolvidos num pacote maior, incluindo submarinos e helicópteros franceses. A Boeing tem limitações para transferir tecnologia, que é o que verdadeiramente interessa ao país. E o Gripen, por enquanto, é apenas um projeto em estado avançado. Nunca foi testado em ação de combate. Mas é o que oferece maior transferência de tecnologia – e a FAB gostou.
Depois do afago ao Rafale e a divulgação de que a FAB prefere o Gripen, Lula adotou uma postura de cautela e pediu um relatório ao ministro da Defesa, Nelson Jobim. O Ministério da Defesa informa que o relatório não está pronto e nem há prazo para Jobim entregá-lo. Ou seja, possivelmente a decisão ficará para o próximo presidente da República.
O mundo mudou
O problema é que, neste intervalo, o mundo mudou – e o Brasil mudou com ele. A posição brasileira de apoio ao Irã na questão nuclear isolou o país dentro da Organização das Nações Unidas (ONU). E este fator poderá ser decisivo na escolha dos caças.
Os EUA lideraram as nações desenvolvidas nas sanções contra o Irã, assumindo posição oposta a do Brasil. Pode ser que isso afaste a Boeing da disputa, por dois motivos: retaliação do Brasil aos americanos; e desconfiança dos próprios americanos em relação ao Brasil. O Congresso dos EUA pode barrar definitivamente a transferência de tecnologia dos caças ao país.
Conselho de Segurança
A França alinhou-se aos EUA na questão iraniana. O afago do Brasil ao Rafale tinha, como contrapartida, a defesa, por parte de Sarkozy, à entrada definitiva do país no Conselho de Segurança da ONU. Ficará quase impossivel para Sarkozy fazer isso agora. Então, parece que o único que passou incólume pelas mudanças foi o sueco Gripen, o mais barato e favorito dos militares brasileiros.
Decisão política
A decisão da compra dos caças é eminentemente política, e não técnica. O fracasso do Brasil na questão iraniana, a desconfiança das grandes potências em relação ao país e o isolamento nacional na ONU certamente influenciarão na escolha, seja neste ou no outro governo. Pelo bem do país, essa novela tem que terminar logo. A Saab parece saber disto.
Minha nossa! Nunca havia lido tanta bobagem de uma só vez. A criatura que escreveu estes absurdos pensa como se estivesse no século XIX. Felizmente as Relações entre as nações não são tratadas nesses termos. Fosse assim as Forças Armadas de países como Índia, Paquistão, Turquia, Arábia Saúdita, Indonésia, Malásia, Líbia, Argélia, etc., estariam completamente incapacitadas de adquirir qualquer coisa no mercado internacional de defesa, pois todos esses países possuem contenciosos em relação aos países co CS.
O Brasil é uma país em franca expansão econômica e consequentemente crescente influência política no mundo (a não ser que por algum motivo abdiquemos dessa condição por vontade própria como já ocorreu em passado próximo), e isso é motivo suficiente para que não falte parceiros internacionais dispostos a ofrerecer aquilo de que precisamos em matéria de defesa (é o caso da França e também parece ser o caso dos americanos, italianos, russos, etc., aliás, estivesse o raciocínio dessa matéria do Estado de Minas correto e empresas como a Elbit Systems já estria de malas prontas para abandonar o Brasil, mas pelo contrário as notícias que temos é que outras empresas israelenses estão de olho no mercado de defesa do brasileiro e prestes a desembarcar no país.
O fato do Brasil ter colocado em prática uma política Externa mais ativa, na verdade não significa nenhuma mudança de rumo nas nossas posições. O caso da política em relação ao Oriente Médio apenas houve a passagem do discurso a ação, pois as posições são as mesmas tal como a defesa da criação de um estado palestino. No caso do Irã, os princípios da não interferência e da solução negociada das controvérsias entre os estados foram colocados na prática através do acordo negociadno entre Irã-Turquia-Brasil, e isso não significou de forma alguma uma derrota na ONU, mas sim a dermacação de uma posição que pode ser analisada de forma diferente, sobretudo daqui para frente quando as conseqüêcias das tais sañções tornarem-se mais evidentes (ou não), pois parece-me que a eficiência desse procedimento já começa a ser questionado pela comunidade internacional, e que a chance perdida de aprofundar as negociações começando pelo marco do acordo mediado pela Turquia e Brasil seja lamentado, prova disso são as palavras da própria secretária de estado norte-americana de que o papel do Brasil e da Turquia na relação com o Irã não estava esgotado muito pelo contrário tornava-se mais importante daqui para frente.
A propósito, sobre a compra dos novos caças para a FAB, mediante os últimos acontecimentos em matéria externas (mesmo aqueles relacionados pelo jornal mineiro), não ficaria espantado com uma decisão do governo brasileiro favorável ao caça norte-americano. Aliás nesse aspecto, seria bom que o autor desse despaupério jornalístico soubesse que em breve a Força Aérea da Turquia esta equipada atualmente com mais de 200 caças F-16 e que em breve deverá adquirir dos Estados Unidos cerca de 150 F-35 Lightning II (com ampla transferência tecnológica incluindo a co-produção a partir de 2013) além disso planeja adquirir também cerca de 60-80 Eurofight Typhoon. Por que que com o Brasil o tratamento seria diferente? Penso que a resposta esta apenas na cabeça dde um setor da nossa sociedade que ainda não conseguiu assimilar as mudanças pelas quais o nosso país tem passado e continua sofrendo do famoso complexo de vira-latas diagnósticado pelo escritor Nelson Rodrigues, algo que só pode ser superado de duas formas ou com tratamento psicanalítico ou passando a enchergar a realidade do país sem o filtro da grande mídia conservadora (e neo-colonialista).
Deve, pois, um príncipe não ter outro objetivo nem outro pensamento, nem tomar qualquer outra coisa por fazer, senão a guerra e a sua organização e disciplina, pois que é essa a única arte que compete a quem comanda. (Machiavelli)