Otimista, Lula vê chances reais para acordo entre Irã e o Ocidente
Publicidade
colaboração para Folha
Com a missão de convencer o Irã a aceitar o acordo proposto por potências do Ocidente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai à Teerã na próxima semana para um encontro cercado de expectativas de todo o mundo. Otimista, ele diz ter 99% de chances de sucesso. Considerado um carismático negociador, Lula conta com o apoio da França, Turquia e da Rússia, ainda que comedido, mas os EUA já advertiram que o Irã não leva o encontro a "sério".
Especialistas ouvidos pela agência France Presse indicam que o Brasil chega ao encontro em Teerã com mais chances de se inserir como um ator de peso nas relações internacionais do que em Jerusalém, quando Lula tentou servir como mediador do conflito entre israelenses e palestinos.
O apoio russo,francês e turco deve ser um diferencial, apesar de os EUA deixarem claro que não acreditam que o encontro resulte em solução alternativa às sanções.
Para Sabrina Medeiros, professora de Relações Internacionais da Escola Naval de Guerra do Rio de Janeiro, o Brasil toma uma iniciativa que é "coerente" com as prioridades estratégicas do país, com mais chances de sucesso do que em outros esforços diplomáticos anteriores.
Ao contrário do que ocorreu com a viagem de Lula a Israel e aos territórios palestinos, neste ano, desta vez o presidente conta com o apoio de líderes importantes, como o presidente francês Nicolas Sarkozy, que já expressou suporte "integral" à iniciativa brasileira.
Às reuniões com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, Lula não deve levar nenhuma solução "nova". Os esforços são de tentar convencer o país a aceitar as propostas que já estão em jogo.
O presidente "não levará ao Irã nenhuma proposta nova. O que Lula deseja é ajudar em um processo de diálogo que possa levar a um acordo", disse o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach.
Na Rússia, Lula afirmou que o Brasil tem um papel importante como mediador, independente do resultado do encontro. "Se não chegarmos a um acordo, volto para casa feliz, porque ao menos não fui negligente", disse o presidente.
A chave para o sucesso seria achar uma fórmula capaz de satisfazer a todas as partes envolvidas e que permita ao Irã enriquecer urânio a 20% fora de suas fronteiras, sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da ONU (Organização das Nações Unidas).
Para o governo norte-americano Teerã tenta ganhar tempo ao aceitar a oferta brasileira de mediação. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, conversou por telefone com o ministro de Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, e argumentou que o Irã não demonstra sinais de estar interrompendo o enriquecimento de urânio, como exigido por várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
O enriquecimento de urânio pode produzir combustível para reatores nucleares ou, se aperfeiçoado, produzir material para bombas atômicas.
O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, P.J. Crowley, disse que se o Irã não mudar seu comportamento após a visita de Lula, o país deverá pagar o preço.
"Neste ponto acreditamos que deverá haver consequências por um fracasso em responder", disse Crowley.
Chances
Durante visita oficial à Rússia, Lula afirmou que numa escala de zero a dez, de um acordo com o Irã durante sua visita ao país, programada para entre os dias 15 e 17, tem 9,9 de sucesso. A declaração foi dada em entrevista ao lado de Medvedev, com quem se reuniu no Kremlin, em Moscou. O russo, por sua vez, afirmou que Lula tem 30% de chances de sucesso em sua visita ao Irã.
Lula conversou mais cedo com Medvedev sobre a crise nuclear com o Irã, país acusado pelo Ocidente de manter um programa nuclear com fins militares. Teerã nega e Lula defende que o país tem direito de manter um programa nuclear pacífico --para insatisfação dos Estados Unidos, que já disseram que o presidente está sendo enganado pelo iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
Lula se ofereceu para mediar o conflito entre Irã e o Ocidente para evitar a imposição de uma quarta rodada de sanções no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). Do outro lado, o brasileiro diz querer persuadir o governo iraniano a cooperar com a comunidade internacional e dar garantias dos fins pacíficos de seu programa nuclear.
O Brasil apresentou uma proposta segundo a qual o Irã trocaria urânio pouco enriquecido por combustível nuclear na Turquia, país que tem estreitos laços tanto com Ocidente como com o Oriente Médio. O Irã enviaria urânio ao exterior e o receberia de volta enriquecido a 20%, nível suficiente para fins pacíficos.
Segundo a imprensa iraniana, Ahmadinejad disse que aceitou "em princípio" a proposta de Lula durante uma conversa telefônica com o líder venezuelano, Hugo Chávez.
No ano passado, o Irã já rejeitou no ano passado uma oferta similar da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em virtude da qual Rússia e França teriam enriquecido urânio com destino às usinas nucleares iranianas.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mund ... 5169.shtml