Campanha contra a indústria bélica nacional
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- Marino
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Campanha contra a indústria bélica nacional
Correio Brasiliense
DIREITOS HUMANOS
Destruição made in Brasil
País fabricou bombas que o governo do Sri Lanka usou em massacre condenado pela ONU. Munição nacional abastece quase metade das nações com conflitos étnicos e religiosos
Solano Nascimento
Especial para o Correio
No fim de 2008 e no primeiro semestre do ano passado, as Forças Armadas do Sri Lanka realizaram a ofensiva final e mais sangrenta contra os separatistas tâmeis do Norte do país, produzindo o que organizações internacionais consideraram uma das maiores crises humanitárias de 2009. Por conta do ataque, o governo do Sri Lanka foi acusado pela Organização das Nações Unidas (ONU) de cometer crime de guerra e violar direitos humanos. “Os aviões chegavam jogando bombas, e nós corríamos para os abrigos”, conta Karmenkam Thaviththra, uma adolescente franzina e tímida, de 14 anos, que morava em Kilinochchi, cidade semidestruída pelos bombardeios, e hoje vive em um acampamento para refugiados. “A gente caminhava entre os corpos, alguns sem mãos, outros sem cabeça.” O Brasil contribuiu para a tragédia.
Em janeiro do ano passado, 116 toneladas de bombas brasileiras foram vendidas para a Força Aérea do Sri Lanka. Feitas em aço forjado, carregadas de explosivos e com peso variando de pouco mais de 100kg até uma tonelada, essas bombas têm o poder de destruição ampliado pela presença de duas espoletas, o que garante duas explosões. Cruzamento feito pelo Correio entre dados oficiais das exportações e mapas mundiais de conflitos étnicos e religiosos mostra que a venda não foi uma exceção. Nos últimos 10 anos, o Brasil exportou, por U$ 17,8 milhões, um total de 777 toneladas de bombas, foguetes, mísseis e outros tipos de munição para países nos quais esses embates armados já mataram 1,3 milhão de pessoas.
Das 18 nações que no ano passado registraram os conflitos, sete são abastecidas por empresas brasileiras, que precisam de autorização do governo para fazer essas exportações. Questionado pela reportagem sobre o destino das bombas compradas do Brasil — no seu escritório num quartel de Colombo, capital do país —, o porta-voz das Forças Armadas do Sri Lanka é claro. “Não foi somente do Brasil, mas também de outros países que nos proveram com equipamentos, bombas”, diz o brigadeiro Udaya Nanayakkara. “Nós usamos contra os terroristas.”
Lados sanguinários
O conflito no Sri Lanka opôs o governo, representante dos interesses da maioria cingalesa — que equivale a 74% da população, majoritariamente budista —, e o grupo Tigres de Libertação do Tâmil Eelan (LTTE, na sigla em inglês), que defendia a criação de um estado autônomo no Norte do país para abrigar os 18% de tâmeis, quase todos hinduístas. A violência entre os dois grupos se agravou a partir de 1983, quando o LTTE emboscou e massacrou 13 soldados cingaleses, em Jaffna, no Norte. Como resposta, cingaleses do Sul saíram às ruas incendiando casas e assassinando centenas de tâmeis.
Os anos que se seguiram foram marcados por breves temporadas de cessar-fogo e longos períodos de enfrentamentos. Os dois lados usaram sequestros, torturas, execuções, desaparecimentos e perseguições como táticas de guerra. Corpos eram incinerados, jogados ao mar ou esquartejados em praça pública, para servirem como exemplo. Estima-se que entre 80 e 100 mil pessoas morreram por causa do embate. No livro Bandeiras Pálidas (Companhia das Letras), um romance baseado em fatos reais, o escritor Michael Ondaatje, nascido no Sri Lanka, escreveu: “A única esperança era que as partes em conflito terminassem por se destruir mutuamente”.
Não foi o que ocorreu. No fim de 2008, as Forças Armadas avançaram sobre cidades e vilarejos que eram total ou parcialmente controlados pelos separatistas. O governo ignorou apelos de países da Europa e de organismos internacionais por um cessar-fogo e no final de maio de 2009 anunciou a derrota do LTTE. Nesse momento, 250 mil pessoas estavam confinadas em campos de refugiados. O número equivale a 1,2% da população. É como se, no Brasil, todos os moradores do Acre, de Rondônia e de Roraima virassem refugiados. O porta-voz dos militares afirma que o governo fez questão de não causar vítimas civis na ofensiva. “Quando sabíamos que em alguma área havia civis, suspendíamos o fogo para eles saírem”, diz Nanayakkara. Não é o que indica uma incursão pelo Norte do país, mesmo meses depois do fim do conflito.
A cidade de Vavuniya, uma espécie de portal da região, permanece intocada, mas seus acessos são vigiados por centenas de soldados, a maioria deles protegidos por trincheiras. Ao seguir pela rodovia A-9, que corta o Norte do país, chega-se primeiro a uma barreira militar que exige autorização escrita de passagem, fornecida pelas Forças Armadas em Colombo. Cerca de 40km depois da barreira, começam a ser vistos os sinais dos bombardeios. Uma das raras igrejas cristãs da região perdeu o teto, casas tiveram aberturas e paredes destruídas nos ataques, muros foram derrubados.
Hospitais atingidos
É, no entanto, em Kilinochchi que aparecem as grandes marcas da ofensiva do governo. A cidade fica no meio do caminho entre Vavuniya e Jaffna, que no auge do movimento separatista chegou a funcionar como capital do estado autônomo. Cerca de 80% de todas as edificações de Kilinochchi mostram algum sinal dos bombardeios, e metade das moradias atingidas foi danificada a ponto de não poder mais ser habitada. Pequenos edifícios de dois andares ficaram sem a parte superior, e a caixa d’água da cidade foi derrubada e inutilizada. A cidade segue sob ocupação de militares, que tentam impedir visitantes de fotografarem os prédios destruídos.
O Hospital Geral de Kilinochchi improvisou instalações em uma escola de Ydayarkaddu para tratar dos feridos no confronto. As instalações foram bombardeadas no começo do ano passado. “Não deu tempo de tirar os doentes, e uns 50 morreram”, conta um morador da região, implorando, quase chorando, para não ser identificado, pois viu conhecidos sofrerem represálias por dar informações incômodas ao governo. O bombardeio matou também uma enfermeira e dois auxiliares. Pelo menos outros dois hospitais foram atacados na região, com dezenas de vítimas.
O nordeste do país, onde, como no norte, há predominância de tâmeis, também foi alvo da ofensiva. Nadrasa Sajithan, 14 anos, morador de Mullaithivu, aprendeu com traumas que tinha de se esconder durante os bombardeios. “Dois tios meus saíram do abrigo para ver a casa e a plantação de coco, e as bombas caíram sobre eles”, relata o adolescente.
A exemplo do governo, criticado por matar inocentes que não pertenciam ao grupo separatista, o LTTE também foi acusado pela Anistia Internacional, Human Rights Watch e ONU de crimes de guerra por usar moradores como escudos humanos. A ONU estima que mais de 7 mil civis tâmeis foram mortos na investida das Forças Armadas do Sri Lanka. Em um acampamento de refugiados nos arredores de Vavuniya, as irmãs Thamapalm Pushparani, Basaran Selvarani e Geeva Vijayarani contam que perderam os maridos e uma cunhada nos bombardeios. “A vida está difícil”, diz Pushparani. As três vendem farinha para alimentar os sete órfãos que as bombas produziram na família.
DIREITOS HUMANOS
Destruição made in Brasil
País fabricou bombas que o governo do Sri Lanka usou em massacre condenado pela ONU. Munição nacional abastece quase metade das nações com conflitos étnicos e religiosos
Solano Nascimento
Especial para o Correio
No fim de 2008 e no primeiro semestre do ano passado, as Forças Armadas do Sri Lanka realizaram a ofensiva final e mais sangrenta contra os separatistas tâmeis do Norte do país, produzindo o que organizações internacionais consideraram uma das maiores crises humanitárias de 2009. Por conta do ataque, o governo do Sri Lanka foi acusado pela Organização das Nações Unidas (ONU) de cometer crime de guerra e violar direitos humanos. “Os aviões chegavam jogando bombas, e nós corríamos para os abrigos”, conta Karmenkam Thaviththra, uma adolescente franzina e tímida, de 14 anos, que morava em Kilinochchi, cidade semidestruída pelos bombardeios, e hoje vive em um acampamento para refugiados. “A gente caminhava entre os corpos, alguns sem mãos, outros sem cabeça.” O Brasil contribuiu para a tragédia.
Em janeiro do ano passado, 116 toneladas de bombas brasileiras foram vendidas para a Força Aérea do Sri Lanka. Feitas em aço forjado, carregadas de explosivos e com peso variando de pouco mais de 100kg até uma tonelada, essas bombas têm o poder de destruição ampliado pela presença de duas espoletas, o que garante duas explosões. Cruzamento feito pelo Correio entre dados oficiais das exportações e mapas mundiais de conflitos étnicos e religiosos mostra que a venda não foi uma exceção. Nos últimos 10 anos, o Brasil exportou, por U$ 17,8 milhões, um total de 777 toneladas de bombas, foguetes, mísseis e outros tipos de munição para países nos quais esses embates armados já mataram 1,3 milhão de pessoas.
Das 18 nações que no ano passado registraram os conflitos, sete são abastecidas por empresas brasileiras, que precisam de autorização do governo para fazer essas exportações. Questionado pela reportagem sobre o destino das bombas compradas do Brasil — no seu escritório num quartel de Colombo, capital do país —, o porta-voz das Forças Armadas do Sri Lanka é claro. “Não foi somente do Brasil, mas também de outros países que nos proveram com equipamentos, bombas”, diz o brigadeiro Udaya Nanayakkara. “Nós usamos contra os terroristas.”
Lados sanguinários
O conflito no Sri Lanka opôs o governo, representante dos interesses da maioria cingalesa — que equivale a 74% da população, majoritariamente budista —, e o grupo Tigres de Libertação do Tâmil Eelan (LTTE, na sigla em inglês), que defendia a criação de um estado autônomo no Norte do país para abrigar os 18% de tâmeis, quase todos hinduístas. A violência entre os dois grupos se agravou a partir de 1983, quando o LTTE emboscou e massacrou 13 soldados cingaleses, em Jaffna, no Norte. Como resposta, cingaleses do Sul saíram às ruas incendiando casas e assassinando centenas de tâmeis.
Os anos que se seguiram foram marcados por breves temporadas de cessar-fogo e longos períodos de enfrentamentos. Os dois lados usaram sequestros, torturas, execuções, desaparecimentos e perseguições como táticas de guerra. Corpos eram incinerados, jogados ao mar ou esquartejados em praça pública, para servirem como exemplo. Estima-se que entre 80 e 100 mil pessoas morreram por causa do embate. No livro Bandeiras Pálidas (Companhia das Letras), um romance baseado em fatos reais, o escritor Michael Ondaatje, nascido no Sri Lanka, escreveu: “A única esperança era que as partes em conflito terminassem por se destruir mutuamente”.
Não foi o que ocorreu. No fim de 2008, as Forças Armadas avançaram sobre cidades e vilarejos que eram total ou parcialmente controlados pelos separatistas. O governo ignorou apelos de países da Europa e de organismos internacionais por um cessar-fogo e no final de maio de 2009 anunciou a derrota do LTTE. Nesse momento, 250 mil pessoas estavam confinadas em campos de refugiados. O número equivale a 1,2% da população. É como se, no Brasil, todos os moradores do Acre, de Rondônia e de Roraima virassem refugiados. O porta-voz dos militares afirma que o governo fez questão de não causar vítimas civis na ofensiva. “Quando sabíamos que em alguma área havia civis, suspendíamos o fogo para eles saírem”, diz Nanayakkara. Não é o que indica uma incursão pelo Norte do país, mesmo meses depois do fim do conflito.
A cidade de Vavuniya, uma espécie de portal da região, permanece intocada, mas seus acessos são vigiados por centenas de soldados, a maioria deles protegidos por trincheiras. Ao seguir pela rodovia A-9, que corta o Norte do país, chega-se primeiro a uma barreira militar que exige autorização escrita de passagem, fornecida pelas Forças Armadas em Colombo. Cerca de 40km depois da barreira, começam a ser vistos os sinais dos bombardeios. Uma das raras igrejas cristãs da região perdeu o teto, casas tiveram aberturas e paredes destruídas nos ataques, muros foram derrubados.
Hospitais atingidos
É, no entanto, em Kilinochchi que aparecem as grandes marcas da ofensiva do governo. A cidade fica no meio do caminho entre Vavuniya e Jaffna, que no auge do movimento separatista chegou a funcionar como capital do estado autônomo. Cerca de 80% de todas as edificações de Kilinochchi mostram algum sinal dos bombardeios, e metade das moradias atingidas foi danificada a ponto de não poder mais ser habitada. Pequenos edifícios de dois andares ficaram sem a parte superior, e a caixa d’água da cidade foi derrubada e inutilizada. A cidade segue sob ocupação de militares, que tentam impedir visitantes de fotografarem os prédios destruídos.
O Hospital Geral de Kilinochchi improvisou instalações em uma escola de Ydayarkaddu para tratar dos feridos no confronto. As instalações foram bombardeadas no começo do ano passado. “Não deu tempo de tirar os doentes, e uns 50 morreram”, conta um morador da região, implorando, quase chorando, para não ser identificado, pois viu conhecidos sofrerem represálias por dar informações incômodas ao governo. O bombardeio matou também uma enfermeira e dois auxiliares. Pelo menos outros dois hospitais foram atacados na região, com dezenas de vítimas.
O nordeste do país, onde, como no norte, há predominância de tâmeis, também foi alvo da ofensiva. Nadrasa Sajithan, 14 anos, morador de Mullaithivu, aprendeu com traumas que tinha de se esconder durante os bombardeios. “Dois tios meus saíram do abrigo para ver a casa e a plantação de coco, e as bombas caíram sobre eles”, relata o adolescente.
A exemplo do governo, criticado por matar inocentes que não pertenciam ao grupo separatista, o LTTE também foi acusado pela Anistia Internacional, Human Rights Watch e ONU de crimes de guerra por usar moradores como escudos humanos. A ONU estima que mais de 7 mil civis tâmeis foram mortos na investida das Forças Armadas do Sri Lanka. Em um acampamento de refugiados nos arredores de Vavuniya, as irmãs Thamapalm Pushparani, Basaran Selvarani e Geeva Vijayarani contam que perderam os maridos e uma cunhada nos bombardeios. “A vida está difícil”, diz Pushparani. As três vendem farinha para alimentar os sete órfãos que as bombas produziram na família.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
Barão do Rio Branco
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Correio Brasiliense
DIREITOS HUMANOS
Indústria releva conflitos
Lista de países importadores com embates armados quintuplicou no governo Lula. Se o Brasil não vender, outros venderão, diz o Itamaraty
Solano Nascimento
Especial para o Correio
Para as dimensões do setor bélico, a ETR Indústria Mecânica Aeroespacial é uma empresa pequena. Instalada em São José dos Campos (SP), tem três dezenas de funcionários e menos de meia dúzia de clientes fixos no exterior. Mesmo assim, exporta cerca de 70% do que produz, e só em uma venda de bombas para a Força Aérea do Sri Lanka, no ano passado, faturou de U$ 1,1 milhão. Rubens Jacintho, presidente da empresa, não procurou saber o destino que o governo cingalês deu às bombas. “Entregamos o produto conforme o especificado”, diz o empresário. “Não posso julgar o que um país vai fazer com ele.”
É o pensamento-padrão no setor. Ainda que hoje seja comum empresas de diversas áreas selecionarem fornecedores para evitar a compra de matéria-prima resultante de devastação florestal ou trabalho infantil, por exemplo, os exportadores de munição brasileira não cogitam filtrar o outro extremo da cadeia, os compradores. O superintendente Comercial da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) é claro ao dizer que a existência ou não de embates no país importador não é analisada. “Efetivamente nós não vemos esta questão de conflito interno ou externo”, afirma o coronel Haroldo Leite Ribeiro.
A empresa é a única estatal da lista de exportadores para países em conflito. Subordinada ao Ministério da Defesa e com sede em Brasília, vendeu em 2003 e 2005 munição de grosso calibre, destinada a destruir tanques, para a Indonésia. Naquela época, o governo indonésio enfrentava o Movimento Aceh Livre em um embate que produziu 12 mil mortos.
Também instalada em São José dos Campos e conhecida pela produção de foguetes para uso militar, a Avibras Indústria Aeroespacial exportou no começo da década para Angola — onde enfrentamentos com raízes econômicas, étnicas e religiosas mataram 1 milhão — e agora foi autorizada a negociar munições com a Índia. Por e-mail, Sami Hassuani, presidente da empresa, ressalta que o objetivo dos clientes internacionais é “dar segurança aos seus cidadãos para que possam desempenhar suas funções, manter a ordem e o progresso da nação.” A União comprou no começo do ano passado cerca de 25% das ações da Avibras para tentar evitar o fechamento da empresa, que passava por uma grave crise.
A Mectron Engenharia, Indústria e Comércio, também de São José dos Campos, abastece Israel e o Paquistão, um de seus grandes compradores de mísseis. Por meio de sua assessoria de comunicação, a empresa informa que não se pronuncia sobre o assunto.
Regras da ditadura
Com sede em Ribeirão Pires (SP), a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) é a maior exportadora de munição e vende para cerca de 40 países, entre os quais há seis com conflitos étnicos e religiosos. É o caso das Filipinas, país no qual enfrentamentos de conotação religiosa já produziram 97 mil mortes. “A gente segue a regra do governo, cem por cento”, afirma Andreas Kripzak, diretor de Exportações da CBC.
A regra do governo é a Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar (Pnemem), foi definida em 1974, durante o regime militar, e alterada em 1990, no governo de Fernando Collor de Mello. Em 2002, o Ministério da Defesa criou um grupo de trabalho para atualizar a política, o que não foi feito até hoje. O texto da política é claro sobre a intenção do Executivo de estimular as exportações e afirma que diplomatas e adidos militares brasileiros devem se esforçar para isso.
Na análise para liberação de exportações, o Ministério da Defesa é encarregado da avaliação técnica. O papel do Itamaraty está descrito no item 12: “Ao Ministério das Relações Exteriores compete pronunciar-se quanto à conveniência de cada operação de exportação de material de emprego militar do ponto de vista das relações exteriores do Brasil”. Essa avaliação leva em conta embargos da ONU, a situação interna e externa dos compradores e, no ano passado, gerou o veto a exportações para países como Sudão, Ruanda, Geórgia e República Democrática do Congo.
A existência de conflito armado, de natureza étnica e religiosa, não é um empecilho para a venda, confirma Norton Rapesta, diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty. “Isso é analisado caso a caso”, afirma. “Vamos deixar de ser vestais, se o Brasil não vender, outro vai vender”. No caso do Sri Lanka, Rapesta lembra que a condenação da ONU foi posterior à ofensiva do importador das bombas brasileiras: “No momento em que você autoriza a venda, você não tem a informação ‘nós vamos comprar armas para dizimar civis’”.
Mandato petista
Ainda que a lista de países com enfrentamentos étnicos e religiosos não tenha variado muito, o total de clientes desse tipo abastecidos pelo Brasil cresceu na década. De 2000 a 2002, no final do governo de Fernando Henrique Cardoso, em média um país com esses conflitos comprou munição brasileira a cada ano. No primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2006, a média anual subiu para três países. Neste segundo mandato, já são cinco nações com embates abastecidas por ano. Em parte, isso reflete o crescimento nas exportações de munições de uma maneira geral, cuja média do último triênio equivale ao triplo da registrada ao final do governo de Fernando Henrique.
Apesar de terem crescido e serem importantes para algumas empresas, as vendas a países com conflitos étnicos e religiosos são ínfimas se analisadas dentro da balança comercial brasileira. No ano passado, do total de U$ 147,3 milhões de munições exportadas, apenas 2% saíram de nações com esses embates. E toda a munição brasileira vendida para outros países, pacificados ou não, equivale a menos de 0,1% das exportações nacionais.
Entregamos o produto conforme o especificado. Não posso julgar o que um país vai fazer com ele”
Rubens Jacintho, presidente da ETR Indústria Mecânica Aeroespacial, que exporta bombas para o Sri Lanka
Ocultação de dados
Os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores não divulgam grande parte das informações relacionadas à exportação de munições. A pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), além de também sonegar dados, registra em tabelas disponíveis em seu portal a venda de bombas, mísseis, foguetes e outras munições como sendo de “cartuchos” para espingardas e carabinas de cano liso, armas com frequência associadas à caça e a clubes de tiros.
Procurado pela reportagem, o deputado Edson Duarte (PV-BA) fez quatro requerimentos de informações ao Mdic sobre exportação de munições. O ministério informou valores, países de destino e peso do material vendido — grande parte dos dados usados nesta reportagem —, mas não forneceu nomes de exportadores, de importadores nem o tipo de munição comercializada. Alegando sigilo de contratos, exportadores também se negam a dar informações sobre vendas de munição para outros países.
A assessoria de Comunicação do Mdic explicou que usa no portal a denominação “cartucho” para não revelar o tipo de munição exportada. A Defesa informou em nota que dados sobre vendas ao exterior de bombas, mísseis e foguetes “constituem informações de caráter reservado”, e o Itamaraty reiterou, por meio da assessoria de Imprensa, que detalhes dessas exportações não são públicos.
“Pode ser que não interesse ao comprador que se saiba de quem ele está comprando”, afirma Norton Rapesta, diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty. As 19 páginas da Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar não têm nenhuma referência à necessidade de sigilo. (SN)
Negociação com o Irã
Em comunicado de 19 de outubro do ano passado, o Itamaraty autorizou a CBC a negociar a venda de munições para o Irã, presidido por Mahmoud Ahmadinejad, suspeito de tentar produzir ogivas atômicas. O Brasil é um dos maiores opositores à ideia de sanções comerciais ao Irã. A solicitação tinha sido feita pela CBC um mês antes, mas a venda é questionada até dentro da empresa. “Eu, particularmente, não exportaria um grama de nada para o Irã”, diz Gilberto Salm, consultor de Exportações da CBC. Ele ressalta estar dando sua opinião pessoal. Andreas Kripzak, diretor de Exportações, se limita a informar, por e-mail, que os pedidos de autorização da CBC “seguem estritamente” as regras do governo.
“Uma coisa é exportar munição de canhão, e outra, munição de emprego policial-militar”, justifica Norton Rapesta, diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty. Ele garante que o Brasil só exporta para países “legitimamente e democraticamente constituídos”. Confrontado com a autorização dada também em 2009 para a CBC negociar munições com a Líbia, do ditador homicida Muammar Gaddafi, Rapesta reflete por alguns segundos. “O governo da Líbia é reconhecido internacionalmente”, diz. “Você acha que é só o Brasil que tem negócios com a Líbia?” (SN)
DIREITOS HUMANOS
Indústria releva conflitos
Lista de países importadores com embates armados quintuplicou no governo Lula. Se o Brasil não vender, outros venderão, diz o Itamaraty
Solano Nascimento
Especial para o Correio
Para as dimensões do setor bélico, a ETR Indústria Mecânica Aeroespacial é uma empresa pequena. Instalada em São José dos Campos (SP), tem três dezenas de funcionários e menos de meia dúzia de clientes fixos no exterior. Mesmo assim, exporta cerca de 70% do que produz, e só em uma venda de bombas para a Força Aérea do Sri Lanka, no ano passado, faturou de U$ 1,1 milhão. Rubens Jacintho, presidente da empresa, não procurou saber o destino que o governo cingalês deu às bombas. “Entregamos o produto conforme o especificado”, diz o empresário. “Não posso julgar o que um país vai fazer com ele.”
É o pensamento-padrão no setor. Ainda que hoje seja comum empresas de diversas áreas selecionarem fornecedores para evitar a compra de matéria-prima resultante de devastação florestal ou trabalho infantil, por exemplo, os exportadores de munição brasileira não cogitam filtrar o outro extremo da cadeia, os compradores. O superintendente Comercial da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) é claro ao dizer que a existência ou não de embates no país importador não é analisada. “Efetivamente nós não vemos esta questão de conflito interno ou externo”, afirma o coronel Haroldo Leite Ribeiro.
A empresa é a única estatal da lista de exportadores para países em conflito. Subordinada ao Ministério da Defesa e com sede em Brasília, vendeu em 2003 e 2005 munição de grosso calibre, destinada a destruir tanques, para a Indonésia. Naquela época, o governo indonésio enfrentava o Movimento Aceh Livre em um embate que produziu 12 mil mortos.
Também instalada em São José dos Campos e conhecida pela produção de foguetes para uso militar, a Avibras Indústria Aeroespacial exportou no começo da década para Angola — onde enfrentamentos com raízes econômicas, étnicas e religiosas mataram 1 milhão — e agora foi autorizada a negociar munições com a Índia. Por e-mail, Sami Hassuani, presidente da empresa, ressalta que o objetivo dos clientes internacionais é “dar segurança aos seus cidadãos para que possam desempenhar suas funções, manter a ordem e o progresso da nação.” A União comprou no começo do ano passado cerca de 25% das ações da Avibras para tentar evitar o fechamento da empresa, que passava por uma grave crise.
A Mectron Engenharia, Indústria e Comércio, também de São José dos Campos, abastece Israel e o Paquistão, um de seus grandes compradores de mísseis. Por meio de sua assessoria de comunicação, a empresa informa que não se pronuncia sobre o assunto.
Regras da ditadura
Com sede em Ribeirão Pires (SP), a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) é a maior exportadora de munição e vende para cerca de 40 países, entre os quais há seis com conflitos étnicos e religiosos. É o caso das Filipinas, país no qual enfrentamentos de conotação religiosa já produziram 97 mil mortes. “A gente segue a regra do governo, cem por cento”, afirma Andreas Kripzak, diretor de Exportações da CBC.
A regra do governo é a Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar (Pnemem), foi definida em 1974, durante o regime militar, e alterada em 1990, no governo de Fernando Collor de Mello. Em 2002, o Ministério da Defesa criou um grupo de trabalho para atualizar a política, o que não foi feito até hoje. O texto da política é claro sobre a intenção do Executivo de estimular as exportações e afirma que diplomatas e adidos militares brasileiros devem se esforçar para isso.
Na análise para liberação de exportações, o Ministério da Defesa é encarregado da avaliação técnica. O papel do Itamaraty está descrito no item 12: “Ao Ministério das Relações Exteriores compete pronunciar-se quanto à conveniência de cada operação de exportação de material de emprego militar do ponto de vista das relações exteriores do Brasil”. Essa avaliação leva em conta embargos da ONU, a situação interna e externa dos compradores e, no ano passado, gerou o veto a exportações para países como Sudão, Ruanda, Geórgia e República Democrática do Congo.
A existência de conflito armado, de natureza étnica e religiosa, não é um empecilho para a venda, confirma Norton Rapesta, diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty. “Isso é analisado caso a caso”, afirma. “Vamos deixar de ser vestais, se o Brasil não vender, outro vai vender”. No caso do Sri Lanka, Rapesta lembra que a condenação da ONU foi posterior à ofensiva do importador das bombas brasileiras: “No momento em que você autoriza a venda, você não tem a informação ‘nós vamos comprar armas para dizimar civis’”.
Mandato petista
Ainda que a lista de países com enfrentamentos étnicos e religiosos não tenha variado muito, o total de clientes desse tipo abastecidos pelo Brasil cresceu na década. De 2000 a 2002, no final do governo de Fernando Henrique Cardoso, em média um país com esses conflitos comprou munição brasileira a cada ano. No primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2006, a média anual subiu para três países. Neste segundo mandato, já são cinco nações com embates abastecidas por ano. Em parte, isso reflete o crescimento nas exportações de munições de uma maneira geral, cuja média do último triênio equivale ao triplo da registrada ao final do governo de Fernando Henrique.
Apesar de terem crescido e serem importantes para algumas empresas, as vendas a países com conflitos étnicos e religiosos são ínfimas se analisadas dentro da balança comercial brasileira. No ano passado, do total de U$ 147,3 milhões de munições exportadas, apenas 2% saíram de nações com esses embates. E toda a munição brasileira vendida para outros países, pacificados ou não, equivale a menos de 0,1% das exportações nacionais.
Entregamos o produto conforme o especificado. Não posso julgar o que um país vai fazer com ele”
Rubens Jacintho, presidente da ETR Indústria Mecânica Aeroespacial, que exporta bombas para o Sri Lanka
Ocultação de dados
Os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores não divulgam grande parte das informações relacionadas à exportação de munições. A pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), além de também sonegar dados, registra em tabelas disponíveis em seu portal a venda de bombas, mísseis, foguetes e outras munições como sendo de “cartuchos” para espingardas e carabinas de cano liso, armas com frequência associadas à caça e a clubes de tiros.
Procurado pela reportagem, o deputado Edson Duarte (PV-BA) fez quatro requerimentos de informações ao Mdic sobre exportação de munições. O ministério informou valores, países de destino e peso do material vendido — grande parte dos dados usados nesta reportagem —, mas não forneceu nomes de exportadores, de importadores nem o tipo de munição comercializada. Alegando sigilo de contratos, exportadores também se negam a dar informações sobre vendas de munição para outros países.
A assessoria de Comunicação do Mdic explicou que usa no portal a denominação “cartucho” para não revelar o tipo de munição exportada. A Defesa informou em nota que dados sobre vendas ao exterior de bombas, mísseis e foguetes “constituem informações de caráter reservado”, e o Itamaraty reiterou, por meio da assessoria de Imprensa, que detalhes dessas exportações não são públicos.
“Pode ser que não interesse ao comprador que se saiba de quem ele está comprando”, afirma Norton Rapesta, diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty. As 19 páginas da Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar não têm nenhuma referência à necessidade de sigilo. (SN)
Negociação com o Irã
Em comunicado de 19 de outubro do ano passado, o Itamaraty autorizou a CBC a negociar a venda de munições para o Irã, presidido por Mahmoud Ahmadinejad, suspeito de tentar produzir ogivas atômicas. O Brasil é um dos maiores opositores à ideia de sanções comerciais ao Irã. A solicitação tinha sido feita pela CBC um mês antes, mas a venda é questionada até dentro da empresa. “Eu, particularmente, não exportaria um grama de nada para o Irã”, diz Gilberto Salm, consultor de Exportações da CBC. Ele ressalta estar dando sua opinião pessoal. Andreas Kripzak, diretor de Exportações, se limita a informar, por e-mail, que os pedidos de autorização da CBC “seguem estritamente” as regras do governo.
“Uma coisa é exportar munição de canhão, e outra, munição de emprego policial-militar”, justifica Norton Rapesta, diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty. Ele garante que o Brasil só exporta para países “legitimamente e democraticamente constituídos”. Confrontado com a autorização dada também em 2009 para a CBC negociar munições com a Líbia, do ditador homicida Muammar Gaddafi, Rapesta reflete por alguns segundos. “O governo da Líbia é reconhecido internacionalmente”, diz. “Você acha que é só o Brasil que tem negócios com a Líbia?” (SN)
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Estado de Minas
Crescimento quintuplica na era Lula
Ainda que a lista de países com enfrentamentos étnicos e religiosos não tenha variado muito, o total de clientes desse tipo abastecidos pelo Brasil cresceu na década. De 2000 a 2002, no final do governo de Fernando Henrique Cardoso, em média um país com esses conflitos comprou munição brasileira a cada ano. No primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2006, a média anual subiu para três países. Neste segundo mandato, já são cinco nações com embates abastecidas por ano. Em parte, isso reflete o crescimento nas exportações de munições de uma maneira geral, cuja média do último triênio equivale ao triplo da registrada ao final do governo de Fernando Henrique.
Apesar de terem crescido e serem importantes para algumas empresas, as vendas a países em conflitos são ínfimas se analisadas dentro da balança comercial brasileira. No ano passado, do total de U$ 147,3 milhões de munições exportadas, apenas 2% saíram de nações com esses embates. E toda a munição brasileira vendida, pacificados ou não, equivale a menos de 0,1% das exportações nacionais.
A regra do governo é a Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar (PNEMEM), foi definida em 1974, durante o regime militar, e alterada em 1990, no governo de Fernando Collor de Mello. Em 2002, o Ministério da Defesa criou um grupo de trabalho para atualizar a política, o que não foi feito até hoje. O texto da política é claro sobre a intenção do Executivo de estimular as exportações.
Crescimento quintuplica na era Lula
Ainda que a lista de países com enfrentamentos étnicos e religiosos não tenha variado muito, o total de clientes desse tipo abastecidos pelo Brasil cresceu na década. De 2000 a 2002, no final do governo de Fernando Henrique Cardoso, em média um país com esses conflitos comprou munição brasileira a cada ano. No primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2006, a média anual subiu para três países. Neste segundo mandato, já são cinco nações com embates abastecidas por ano. Em parte, isso reflete o crescimento nas exportações de munições de uma maneira geral, cuja média do último triênio equivale ao triplo da registrada ao final do governo de Fernando Henrique.
Apesar de terem crescido e serem importantes para algumas empresas, as vendas a países em conflitos são ínfimas se analisadas dentro da balança comercial brasileira. No ano passado, do total de U$ 147,3 milhões de munições exportadas, apenas 2% saíram de nações com esses embates. E toda a munição brasileira vendida, pacificados ou não, equivale a menos de 0,1% das exportações nacionais.
A regra do governo é a Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar (PNEMEM), foi definida em 1974, durante o regime militar, e alterada em 1990, no governo de Fernando Collor de Mello. Em 2002, o Ministério da Defesa criou um grupo de trabalho para atualizar a política, o que não foi feito até hoje. O texto da política é claro sobre a intenção do Executivo de estimular as exportações.
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Estado de Minas
No cumprimento da lei
Indústria afirma que cumpre normas determinas pelo governo para a venda de bombas e diz que entrega o produtor especificado pelo comprador, sem julgar a finalidade dele
Solano Nascimento
Para as dimensões do setor bélico, a ETR Indústria Mecânica Aeroespacial é uma empresa pequena. Instalada em São José dos Campos (SP), tem três dezenas de funcionários e menos de meia dúzia de clientes fixos no exterior. Mesmo assim, exporta cerca de 70% do que produz, e só em uma venda de bombas para a Força Aérea do Sri Lanka, no ano passado, faturou de U$ 1,1 milhão. Rubens Jacintho, presidente da empresa, não procurou saber o destino que o governo cingalês deu às bombas. “Entregamos o produto conforme o especificado”, diz o empresário. “Não posso julgar o que um país vai fazer com ele.”
É o pensamento padrão no setor. Ainda que hoje seja comum empresas de diversas áreas selecionarem fornecedores para evitar a compra de matéria-prima resultante de devastação florestal ou trabalho infantil, por exemplo, os exportadores de munição brasileira não cogitam filtrar o outro extremo da cadeia, os compradores. O superintendente Comercial da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) é claro ao dizer que a existência ou não de embates no país importador não é analisada. “Efetivamente nós não vemos esta questão de conflito interno ou externo”, afirma o coronel Haroldo Leite Ribeiro.
A empresa é a única estatal da lista de exportadores para países em conflito. Subordinada ao Ministério da Defesa e com sede em Brasília, vendeu em 2003 e 2005 munição de grosso calibre, destinada a destruir tanques, para a Indonésia. Naquela época, o governo indonésio enfrentava o Movimento Aceh Livre em um embate que produziu 12 mil mortos.
Também instalada em São José dos Campos e conhecida pela produção de foguetes para uso militar, a Avibras Indústria Aeroespacial exportou no começo da década para Angola — onde enfrentamentos com raízes econômicas, étnicas e religiosas mataram 1 milhão — e agora foi autorizada a negociar munições com a Índia. Por e-mail, Sami Hassuani, presidente da empresa, ressalta que o objetivo dos clientes internacionais é “dar segurança aos seus cidadãos para que possam desempenhar suas funções, manter a ordem e o progresso da nação.” A União comprou no começo do ano passado cerca de 25% das ações da Avibras para tentar evitar o fechamento da empresa, que passava por uma grave crise.
A Mectron Engenharia, Indústria e Comércio, também de São José dos Campos, abastece Israel e o Paquistão, um de seus grandes compradores de mísseis. Por meio de sua assessoria de Comunicação, a empresa informa que não se pronuncia sobre o assunto.
Com sede em Ribeirão Pires (SP), a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) é a maior exportadora de munição e vende para cerca de 40 países, entre os quais há seis com conflitos étnicos e religiosos. É o caso das Filipinas, país no qual enfrentamentos de conotação religiosa já produziram 97 mil mortes. “A gente segue a regra do governo, cem por cento”, afirma Andreas Kripzak, diretor de Exportações da CBC.
No cumprimento da lei
Indústria afirma que cumpre normas determinas pelo governo para a venda de bombas e diz que entrega o produtor especificado pelo comprador, sem julgar a finalidade dele
Solano Nascimento
Para as dimensões do setor bélico, a ETR Indústria Mecânica Aeroespacial é uma empresa pequena. Instalada em São José dos Campos (SP), tem três dezenas de funcionários e menos de meia dúzia de clientes fixos no exterior. Mesmo assim, exporta cerca de 70% do que produz, e só em uma venda de bombas para a Força Aérea do Sri Lanka, no ano passado, faturou de U$ 1,1 milhão. Rubens Jacintho, presidente da empresa, não procurou saber o destino que o governo cingalês deu às bombas. “Entregamos o produto conforme o especificado”, diz o empresário. “Não posso julgar o que um país vai fazer com ele.”
É o pensamento padrão no setor. Ainda que hoje seja comum empresas de diversas áreas selecionarem fornecedores para evitar a compra de matéria-prima resultante de devastação florestal ou trabalho infantil, por exemplo, os exportadores de munição brasileira não cogitam filtrar o outro extremo da cadeia, os compradores. O superintendente Comercial da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) é claro ao dizer que a existência ou não de embates no país importador não é analisada. “Efetivamente nós não vemos esta questão de conflito interno ou externo”, afirma o coronel Haroldo Leite Ribeiro.
A empresa é a única estatal da lista de exportadores para países em conflito. Subordinada ao Ministério da Defesa e com sede em Brasília, vendeu em 2003 e 2005 munição de grosso calibre, destinada a destruir tanques, para a Indonésia. Naquela época, o governo indonésio enfrentava o Movimento Aceh Livre em um embate que produziu 12 mil mortos.
Também instalada em São José dos Campos e conhecida pela produção de foguetes para uso militar, a Avibras Indústria Aeroespacial exportou no começo da década para Angola — onde enfrentamentos com raízes econômicas, étnicas e religiosas mataram 1 milhão — e agora foi autorizada a negociar munições com a Índia. Por e-mail, Sami Hassuani, presidente da empresa, ressalta que o objetivo dos clientes internacionais é “dar segurança aos seus cidadãos para que possam desempenhar suas funções, manter a ordem e o progresso da nação.” A União comprou no começo do ano passado cerca de 25% das ações da Avibras para tentar evitar o fechamento da empresa, que passava por uma grave crise.
A Mectron Engenharia, Indústria e Comércio, também de São José dos Campos, abastece Israel e o Paquistão, um de seus grandes compradores de mísseis. Por meio de sua assessoria de Comunicação, a empresa informa que não se pronuncia sobre o assunto.
Com sede em Ribeirão Pires (SP), a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) é a maior exportadora de munição e vende para cerca de 40 países, entre os quais há seis com conflitos étnicos e religiosos. É o caso das Filipinas, país no qual enfrentamentos de conotação religiosa já produziram 97 mil mortes. “A gente segue a regra do governo, cem por cento”, afirma Andreas Kripzak, diretor de Exportações da CBC.
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Quanta bobagem, o Brasil vende suas armas para vários países, quem adquire escolhe a forma como vai usar e se vai usá-las, isso é coisa de ONG plantada aqui no Brasil com o único objetivo de desmoralizar as nossas indústrias e nos retirar do lucrativo mercado de armas.
Por que não se ouve essas bobagens contra as empresas Norte Americanas que abastecem os Sionistas e esses usam as armas para massacrar os povos da região?
Está na hora de endurecer o jogo com essas ONGs.
Por que não se ouve essas bobagens contra as empresas Norte Americanas que abastecem os Sionistas e esses usam as armas para massacrar os povos da região?
Está na hora de endurecer o jogo com essas ONGs.
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Então vamos processar tbm todas as montadoras de carros esportivos que chegam a andar a mais de 200 Km/h...
Quem compra tem que saber se vai passar ou não dessa velocidade, ele é o unico responsavel pela suas atitudes.
Quem compra tem que saber se vai passar ou não dessa velocidade, ele é o unico responsavel pela suas atitudes.
Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Foxtrot,
Acho que você não foi justo. Esse tipo de bobagem e critica existe no mundo todo, não só no Brasil, e não só contra a indústria brasileira. É um viés político/ideológico/religioso/ecológico, aonde fazer armas para matar é um crime, e alimentar guerras étnicas ou religiosas, uma monstruosidade. Mas também é chover no molhado: A maioria dos países não fornece armamentos para países com guerras civís, e evita alimentar conflitos religiosos. Mas é mais difícil negar armas à um governo que está lutando contra o terrorismo, ou contra um movimento separatista. Digamos que ninguém vendesse bombas para o SriLanka. Como o governo de lá teria enfrentado o movimento Tamil separatista? Na base do homem à homem? Sem a vantagem do suporte aéreo? Lutando como se lutava na primeira guerra mundial, mas com a desvantagem dos tamis poderem comprar armas no mercado negro, enquanto o governo oficial sofreria de embargos dos "civilizados" em prol da paz???? É uma situação esdrúxula, e por isso mesmo, não se deve simplismente negar a venda de armas. Claro que, como foi dito, tudo muda a partir do momento que há indícios de crimes de guerra cometidos pelo governo, mas só pode ser assim. Não se pode sufocar uma força militar legítima com embargos pelo mero risco de armas serem usadas, talvez, para matar civís. É o mesmo discurso de quem não quer que tenhamos tecnologia para enriquecer urânio de forma eficiente, porque a mesma também pode ser usada para fins militares... Só se pode condenar alguém pelas atitudes tomadas, nunca porque atitudes erradas podem ser possíveis, no futuro...
Allan
Acho que você não foi justo. Esse tipo de bobagem e critica existe no mundo todo, não só no Brasil, e não só contra a indústria brasileira. É um viés político/ideológico/religioso/ecológico, aonde fazer armas para matar é um crime, e alimentar guerras étnicas ou religiosas, uma monstruosidade. Mas também é chover no molhado: A maioria dos países não fornece armamentos para países com guerras civís, e evita alimentar conflitos religiosos. Mas é mais difícil negar armas à um governo que está lutando contra o terrorismo, ou contra um movimento separatista. Digamos que ninguém vendesse bombas para o SriLanka. Como o governo de lá teria enfrentado o movimento Tamil separatista? Na base do homem à homem? Sem a vantagem do suporte aéreo? Lutando como se lutava na primeira guerra mundial, mas com a desvantagem dos tamis poderem comprar armas no mercado negro, enquanto o governo oficial sofreria de embargos dos "civilizados" em prol da paz???? É uma situação esdrúxula, e por isso mesmo, não se deve simplismente negar a venda de armas. Claro que, como foi dito, tudo muda a partir do momento que há indícios de crimes de guerra cometidos pelo governo, mas só pode ser assim. Não se pode sufocar uma força militar legítima com embargos pelo mero risco de armas serem usadas, talvez, para matar civís. É o mesmo discurso de quem não quer que tenhamos tecnologia para enriquecer urânio de forma eficiente, porque a mesma também pode ser usada para fins militares... Só se pode condenar alguém pelas atitudes tomadas, nunca porque atitudes erradas podem ser possíveis, no futuro...
Allan
- tflash
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Existe a ONU para fazer embargos de venda de armas. Tudo o resto é pressão politica para favorecer um lado do conflito.
Kids - there is no Santa. Those gifts were from your parents. Happy New Year from Wikileaks
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Tenho impressão q essa campanha "Campanha contra a indústria bélica nacional" na imprensa é na verdade mais um motivo para baterem no GF, um governo de "contradições" em um mundo de imaculada oposição e ordem mundial... "Operação Cerrado" em franco andamento...
- lobo_guara
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Essas matérias são daquelas onde a nossa grande empresa procura unir o útil ao agradável. Primeiro por que busca desgastar o atual governo mostrando supostas contradições entre o seu discurso "pacifista" e as vendas de armas e munições, muito embora muitas dessas vendas corresponda a material de segurança pública onde empresas como CBC, Taurus, Imbel, Condor, IMBRA, são marcas reconhecidas internacionalmente. Por outro lado esse tipo de materia provavelmente busca agradar a setores no Brasil e no Exterior aos quais os interesses dessas empresas de comunicação estejam subordinados. O teor dessas materias, sem dúvida carregadas de demagogia, além dos erros e omissões a cerca do assunto (propositais ou não) revelam um pouco do pensamento daqueles que se opõem ao atual governo, qual seja, a de implantação de um governo submisso aos interesses extrangeiros dos países centrais do ocidente (Europa e Estados Unidos) aos quais caberia o papel de decidir para quem podemos ou não vender nossos produtos, com quais governos podemos ou não nos relacionar, e principalmente o que podemos ou não produzir em termos de material de emprego militar. Bem não é necessário dizer a quais interesses e quais preferencias políticas dos editores do Estado de Minas, Estadão, Correio Braziliense e Folha de São Paulo.
Deve, pois, um príncipe não ter outro objetivo nem outro pensamento, nem tomar qualquer outra coisa por fazer, senão a guerra e a sua organização e disciplina, pois que é essa a única arte que compete a quem comanda. (Machiavelli)
- FCarvalho
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
O problema no Brasil é querer misturar pacifismo (posição ideológica pessoal) com politica de Estado (ação/planejamento coletivo).
Uma coisa não tem ada a ver com a outra. O Estado possui a hegemonia do uso e aplicação da força, tá lá escrito bonitinho na CF,é lei. E para a própria proteção desses cidadãos que escrevem desplicentemente artigos pouco imparciais como estes.
Coisa de imprensa politicamente correta.
Ainda temos que crescer muito... haja educação para tanta falta de alfabeização.
Uma coisa não tem ada a ver com a outra. O Estado possui a hegemonia do uso e aplicação da força, tá lá escrito bonitinho na CF,é lei. E para a própria proteção desses cidadãos que escrevem desplicentemente artigos pouco imparciais como estes.
Coisa de imprensa politicamente correta.
Ainda temos que crescer muito... haja educação para tanta falta de alfabeização.
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- Ilya Ehrenburg
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Solta o Azulão, Solta o Azulão! Solta o Azulão Paixão... Solta o Azulão.
Pra que prender o azulão
Ele tem que viver solto
Pra cantar sua canção
O Azulão preso na gaiola
Quem ouvir o seu lamento
Sendo fraco chora
Olha mãe Maria que o Azulão
Se dentro da gaiola
Não deixa ele preso não
Pra ser bem conhecido
Pelo povo do sertão
E cantar com alegria
A canção do azulão
Pra que prender o azulão
Ele tem que viver solto
Pra cantar sua canção
O Azulão preso na gaiola
Quem ouvir o seu lamento
Sendo fraco chora
Olha mãe Maria que o Azulão
Se dentro da gaiola
Não deixa ele preso não
Pra ser bem conhecido
Pelo povo do sertão
E cantar com alegria
A canção do azulão
Não se tem razão quando se diz que o tempo cura tudo: de repente, as velhas dores tornam-se lancinantes e só morrem com o homem.
Ilya Ehrenburg
Uma pena incansável e combatente, contra as hordas imperialistas, sanguinárias e assassinas!
Ilya Ehrenburg
Uma pena incansável e combatente, contra as hordas imperialistas, sanguinárias e assassinas!
- Marino
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Direitos Humanos
Guerra blindada
Fábricas nacionais de armamentos usados em conflitos bélicos no exterior trabalham em regime de silêncio e com segurança reforçada
Ullisses Campbell
São José dos Campos (SP) — Quem entra pela estrada de asfalto no quilômetro 14 da Rodovia dos Tamoios, no município de São José dos Campos, nem imagina o que a paisagem bucólica esconde. No meio da tranquilidade do campo está instalada uma das maiores fábricas de explosivos e munições do Brasil, a Avibras. A empresa de engenharia fabrica foguetes de longo alcance para abate de aviões, unidades de controle de fogo para derrubar helicópteros que voam em baixa altitude e mísseis que alcançam embarcações a 300km.
O povo que mora ao redor nem sonha com o material que é produzido por trás da muralha de 6m de altura protegida por cerca elétrica farpada e enrolada. A Avibras é uma das empresas brasileiras que alimenta um mercado milionário e polêmico. Na edição de ontem, o Correio mostrou que, na última década, o Brasil exportou, por US$ 17,8 milhões, um total de 777 toneladas de bombas, foguetes, mísseis e todo tipo de munição para países nos quais os embates armados mataram 1,3 milhão de pessoas.
A camponesa Maria de Paula Sodré, 45 anos, saiu do interior da Bahia em 1988 em busca de prosperidade em São José dos Campos. Conseguiu emprego na fazenda Porto Velho, de propriedade de um político da região. Todos os dias caminha por estradas vicinais da Rodovia dos Tamoios. Conhece a Avibras “de ouvir o povo falar”, mas nem sonhava que se tratava de uma fábrica de explosivos. “Já vi a carretas carregando caixas de ferros enormes, mas pensava que tinha naves espaciais lá dentro”, conta.
A unidade da Avibras que fabrica foguetes aeroespaciais também fica em São José dos Campos, mas a 30 quilômetros do local onde se desenvolvem explosivos de guerra. O terreno que a empresa escolheu para pesquisar tecnologia espacial fica atrás da Embraer, longe da área residencial. Nas duas fábricas, não se passa da portaria sem ser convidado. “Você não pode se aproximar porque a empresa está desenvolvendo um projeto secreto. Se quer fazer matéria sobre a fábrica de explosivo, tem que ir para outra unidade”, explica o sentinela na portaria da unidade aeroespacial.
Se no local onde se fabrica sondas espaciais não se passa da portaria, na unidade em que se montam foguetes para abate de aviões não se chega à primeira entrada. A presença de jornalistas com máquinas fotográficas mobiliza a segurança. Eles sequer deixam bater foto da fachada, alegando que se trata de local de segurança máxima. “Vocês não podem ficar nem na calçada da frente”, avisa o guarda particular.
Batas
São José dos Campos é o reduto das fábricas de bombas, mísseis e outros artefatos de guerra. A Mectron, localizada em área urbana, fabrica mísseis para abate de curta e longa distância e armas anticarro. O prédio é modesto para quem desenvolve tecnologia para armas de defesa. Assim como ocorre com a vizinhança da Avibras, os moradores da Mectron não sabem o que é construído do lado de dentro dos muros. “Moro aqui há 20 anos e não sei até hoje com o que esse pessoal mexe. Meu filho mais velho já foi lá pedir emprego, mas disseram que não tinha nada para ele”, conta Benedito Marciano, 52 anos. Ele mora ao lado da Mectron. “A vizinha me falou que eles fabricam bombas, mas não acredito porque já vi mulheres vestidas com bata de enfermeira entrando na empresa depois do almoço”, relata a dona de casa Maria Aparecida Marciano, 56, mulher de Benedito.
Guerra blindada
Fábricas nacionais de armamentos usados em conflitos bélicos no exterior trabalham em regime de silêncio e com segurança reforçada
Ullisses Campbell
São José dos Campos (SP) — Quem entra pela estrada de asfalto no quilômetro 14 da Rodovia dos Tamoios, no município de São José dos Campos, nem imagina o que a paisagem bucólica esconde. No meio da tranquilidade do campo está instalada uma das maiores fábricas de explosivos e munições do Brasil, a Avibras. A empresa de engenharia fabrica foguetes de longo alcance para abate de aviões, unidades de controle de fogo para derrubar helicópteros que voam em baixa altitude e mísseis que alcançam embarcações a 300km.
O povo que mora ao redor nem sonha com o material que é produzido por trás da muralha de 6m de altura protegida por cerca elétrica farpada e enrolada. A Avibras é uma das empresas brasileiras que alimenta um mercado milionário e polêmico. Na edição de ontem, o Correio mostrou que, na última década, o Brasil exportou, por US$ 17,8 milhões, um total de 777 toneladas de bombas, foguetes, mísseis e todo tipo de munição para países nos quais os embates armados mataram 1,3 milhão de pessoas.
A camponesa Maria de Paula Sodré, 45 anos, saiu do interior da Bahia em 1988 em busca de prosperidade em São José dos Campos. Conseguiu emprego na fazenda Porto Velho, de propriedade de um político da região. Todos os dias caminha por estradas vicinais da Rodovia dos Tamoios. Conhece a Avibras “de ouvir o povo falar”, mas nem sonhava que se tratava de uma fábrica de explosivos. “Já vi a carretas carregando caixas de ferros enormes, mas pensava que tinha naves espaciais lá dentro”, conta.
A unidade da Avibras que fabrica foguetes aeroespaciais também fica em São José dos Campos, mas a 30 quilômetros do local onde se desenvolvem explosivos de guerra. O terreno que a empresa escolheu para pesquisar tecnologia espacial fica atrás da Embraer, longe da área residencial. Nas duas fábricas, não se passa da portaria sem ser convidado. “Você não pode se aproximar porque a empresa está desenvolvendo um projeto secreto. Se quer fazer matéria sobre a fábrica de explosivo, tem que ir para outra unidade”, explica o sentinela na portaria da unidade aeroespacial.
Se no local onde se fabrica sondas espaciais não se passa da portaria, na unidade em que se montam foguetes para abate de aviões não se chega à primeira entrada. A presença de jornalistas com máquinas fotográficas mobiliza a segurança. Eles sequer deixam bater foto da fachada, alegando que se trata de local de segurança máxima. “Vocês não podem ficar nem na calçada da frente”, avisa o guarda particular.
Batas
São José dos Campos é o reduto das fábricas de bombas, mísseis e outros artefatos de guerra. A Mectron, localizada em área urbana, fabrica mísseis para abate de curta e longa distância e armas anticarro. O prédio é modesto para quem desenvolve tecnologia para armas de defesa. Assim como ocorre com a vizinhança da Avibras, os moradores da Mectron não sabem o que é construído do lado de dentro dos muros. “Moro aqui há 20 anos e não sei até hoje com o que esse pessoal mexe. Meu filho mais velho já foi lá pedir emprego, mas disseram que não tinha nada para ele”, conta Benedito Marciano, 52 anos. Ele mora ao lado da Mectron. “A vizinha me falou que eles fabricam bombas, mas não acredito porque já vi mulheres vestidas com bata de enfermeira entrando na empresa depois do almoço”, relata a dona de casa Maria Aparecida Marciano, 56, mulher de Benedito.
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Direitos Humanos
Sigilo, a regra do negócio
Diretor-presidente de uma das empresas armamentistas brasileiras afirma que a aura de mistério é exigência dos estrangeiros
Ullisses Campbell
Olhando rapidamente, o prédio parece abandonado. O mato precisa ser aparado, as paredes externas não são pintadas há anos e estão descascando. No pátio, há apenas um Fiat Uno velho. Mas o diretor-presidente da ETR Indústria Mecânica Aeroespacial, Rubens Carlos Jacintho, garante que ali se fabrica motor para foguetes, bombas incendiárias e aéreas, lança-granadas e uma série de artefatos bélicos. “Entre os nossos clientes estão o Ministério da Defesa, os comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, além de governos latino-americanos”, ressalta Jacintho.
A ETR está localizada na periferia de São José dos Campos. Aparentemente, a fábrica está parada. Na Mectron, por exemplo, observa-se um entra e sai de funcionários a todo momento. Na ETR, depois de meia hora batendo palma no portão surge um segurança. O Correio pede para visitar a empresa, mas o funcionário dá a mesma desculpa que todas as empresas deram. “Aqui se desenvolve tecnologia e armas sob o mais absoluto sigilo.”
O diretor-presidente da ETR explica que nenhuma empresa que fabrica armas e munições de guerra permite que pessoas estranhas entrem na área de produção porque os clientes que as contratam exigem sigilo na hora da encomenda. “Aqui você pode entrar só para ver os laboratórios, isso se não estiverem sendo realizados ensaios. Desculpe, mas a empresa trata com clientes estrangeiros e eles são muito exigentes”, conta o relações públicas Regis Borges, da Mectron.
Acrílico
Na condição de anonimato, dois funcionários contaram como funciona a linha de produção da Companhia Brasileira de Cartuchos, a CBC. Boa parte dos 1,2 mil funcionários atua na linha de produção, dividida em seis turnos. A indústria funciona 24 horas por dia. Só para se uma das máquinas quebrar. Um operador III ganha R$ 5,3 mil por mês e trabalha operando as máquinas que enchem os cartuchos de pólvora.
Na linha de produção, segundo os funcionários, há uma série de medidas de segurança. Para evitar acidentes, os funcionários são protegidos por uma tela de acrílico que suporta até disparo à queima-roupa de calibre .38. Cada turno de 8h produz 680 mil cartuchos do mais variados calibres só no setor de armas curtas.
O número
1,2 mil
Número de funcionários da CBC, maior fábrica de munição do país
Sigilo, a regra do negócio
Diretor-presidente de uma das empresas armamentistas brasileiras afirma que a aura de mistério é exigência dos estrangeiros
Ullisses Campbell
Olhando rapidamente, o prédio parece abandonado. O mato precisa ser aparado, as paredes externas não são pintadas há anos e estão descascando. No pátio, há apenas um Fiat Uno velho. Mas o diretor-presidente da ETR Indústria Mecânica Aeroespacial, Rubens Carlos Jacintho, garante que ali se fabrica motor para foguetes, bombas incendiárias e aéreas, lança-granadas e uma série de artefatos bélicos. “Entre os nossos clientes estão o Ministério da Defesa, os comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, além de governos latino-americanos”, ressalta Jacintho.
A ETR está localizada na periferia de São José dos Campos. Aparentemente, a fábrica está parada. Na Mectron, por exemplo, observa-se um entra e sai de funcionários a todo momento. Na ETR, depois de meia hora batendo palma no portão surge um segurança. O Correio pede para visitar a empresa, mas o funcionário dá a mesma desculpa que todas as empresas deram. “Aqui se desenvolve tecnologia e armas sob o mais absoluto sigilo.”
O diretor-presidente da ETR explica que nenhuma empresa que fabrica armas e munições de guerra permite que pessoas estranhas entrem na área de produção porque os clientes que as contratam exigem sigilo na hora da encomenda. “Aqui você pode entrar só para ver os laboratórios, isso se não estiverem sendo realizados ensaios. Desculpe, mas a empresa trata com clientes estrangeiros e eles são muito exigentes”, conta o relações públicas Regis Borges, da Mectron.
Acrílico
Na condição de anonimato, dois funcionários contaram como funciona a linha de produção da Companhia Brasileira de Cartuchos, a CBC. Boa parte dos 1,2 mil funcionários atua na linha de produção, dividida em seis turnos. A indústria funciona 24 horas por dia. Só para se uma das máquinas quebrar. Um operador III ganha R$ 5,3 mil por mês e trabalha operando as máquinas que enchem os cartuchos de pólvora.
Na linha de produção, segundo os funcionários, há uma série de medidas de segurança. Para evitar acidentes, os funcionários são protegidos por uma tela de acrílico que suporta até disparo à queima-roupa de calibre .38. Cada turno de 8h produz 680 mil cartuchos do mais variados calibres só no setor de armas curtas.
O número
1,2 mil
Número de funcionários da CBC, maior fábrica de munição do país
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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Re: Campanha contra a indústria bélica nacional
Câmara atenta
Alana Rizzo
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados pretende discutir amanhã a exportação brasileira de armas para países com conflitos étnicos e religiosos, como o Sri Lanka, onde até 100 mil pessoas foram mortas em conflitos étnicos, como mostrou ontem reportagem do Correio. Atualmente, o país fornece munição para sete nações em guerra. Segundo a presidente da comissão, deputada Iriny Lopes (PT-ES), o assunto ainda não foi tratado até pela falta de informações.
“A pauta de exportações brasileiras deve ser de conhecimento público. Não só o parlamento deve ter acesso, mas toda a população. Segundo ela, o país — que faz campanha pelo desarmamento — deveria centrar as atividades econômicas em outras frentes, como alimentos. “Sabemos o que significam essas armas e como aumentam o sofrimento de um povo”, afirmou a deputada, citando dados estatísticos de mortos por armas de fogo no Brasil.
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil também deve colocar o assunto em pauta. Para o presidente da OAB, Ophir Cavalcanti, a complexidade do assunto e a repercussão da venda de armas para países em guerra e para o Irã exigem compreensão do tema. “É preciso esclarecer melhor à população essas questões.” O Congresso Nacional, segundo ele, tem papel fundamental nesse debate.
Sabemos o que significam essas armas e como aumentam o sofrimento de um povo”
Iriny Lopes (PT-ES)
Alana Rizzo
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados pretende discutir amanhã a exportação brasileira de armas para países com conflitos étnicos e religiosos, como o Sri Lanka, onde até 100 mil pessoas foram mortas em conflitos étnicos, como mostrou ontem reportagem do Correio. Atualmente, o país fornece munição para sete nações em guerra. Segundo a presidente da comissão, deputada Iriny Lopes (PT-ES), o assunto ainda não foi tratado até pela falta de informações.
“A pauta de exportações brasileiras deve ser de conhecimento público. Não só o parlamento deve ter acesso, mas toda a população. Segundo ela, o país — que faz campanha pelo desarmamento — deveria centrar as atividades econômicas em outras frentes, como alimentos. “Sabemos o que significam essas armas e como aumentam o sofrimento de um povo”, afirmou a deputada, citando dados estatísticos de mortos por armas de fogo no Brasil.
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil também deve colocar o assunto em pauta. Para o presidente da OAB, Ophir Cavalcanti, a complexidade do assunto e a repercussão da venda de armas para países em guerra e para o Irã exigem compreensão do tema. “É preciso esclarecer melhor à população essas questões.” O Congresso Nacional, segundo ele, tem papel fundamental nesse debate.
Sabemos o que significam essas armas e como aumentam o sofrimento de um povo”
Iriny Lopes (PT-ES)
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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