GEOPOLÍTICA

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GustavoB
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Re: GEOPOLÍTICA

#1846 Mensagem por GustavoB » Sáb Mai 01, 2010 5:46 pm

Loki escreveu:Gente, desde a fordlândia na Amazônia às grande fazendas da johnson & johnson no Maranhão, todos deram com os burros nágua.

Deixa eles comprarem o que quiserem, seguindo a legislação do pais, não faz a menor diferença.
Diferente de alguns paises africanos, o grosso da mão de obra aqui não pode ser estrangeira, exite limitação na quantidade máxima de hectáres e a empresa tem que ser nacional.

Veja o exemplo da mineradora Indo-Paquistanesa no sul da Bahia. Já começou a se dar mal.
http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=28813

Essa empreitada da china terá o mesmo destino e se não tiver, melhor, vai trazer emprego, tecnologia, infraestrutura etc e tal para país, como é o caso de todas as multinacionais que atuam aqui e deram certo.

Pelo menos essa é minha opinião.
Quem lembra do Projeto Jari?
http://pt.wikipedia.org/wiki/Projeto_Jari

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Booz
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Re: GEOPOLÍTICA

#1847 Mensagem por Booz » Sáb Mai 01, 2010 7:32 pm

Eu tava lendo aquele post da notícia da Newsweek e do posto do Marcelo e... sei lá!
Temos que ser mais prudentes nas avaliações que somos levados a deduzir sobre o "Brasil potência" e ssas coisas. Menos, menos...
Inegavelmente estamos temos uns 200 anos de defasagem tecnológica e/ou de métodos frente aos caras de hamburgueres.
Mas, como a dinâmica da história nos mostra, não foi a abertura do compasso tecnológico pelos bárbaros que fez ruir o império romano. Houve inúemeras causas e, dentre estas, a fadiga do gigante em manter-se gigante.
Daí, que os EUA imprescindem de aliados para suas diatribes bélicas. Eles não comportam mais manter o que foi dominado (quando dominam). Não há, ainda, tecnologia satisfatória que bata ao mesmo tempo no cravo e na ferradura. Ou seja, destrua o inimigo e ocupe terreno sem a necessidade de soldados.
Os caras tão surtando no Iraque e no Afeganistão. Precisam administrar qual será a prioridade, e se irão (sem trocadilhos) guerrearao Irão, Coréia do Norte ou atirar em escorpioões das montanhas afegãs.
No entanto é pueril supor que o poderio bélico e econômico americano está tisnado pelas guerrinhas do dia-a-dia. Nada, são elas que impulsionam a economia deles. O que lhes está saindo caro é manter a quem ocupam e manter o status quo de sua classe média. Tênis Nike já anda custando uma baba por lá
Então, mesmo que a princípio eles ainda nos vejam como pulgas insolentes, vão costurando o que (para nós) é uma aliança e para eles pacto maracujá. Mas tudo bem. Seus pensadores, e como e quanto eles os tem, vislumbram um irreversível crescimento do Brasil e sua conseqüênte ampliação da força militar e da nossa influência regional. E eles vão precisar disto. Ao menos já acham que cooptar é melhor que peitar, sinal dos tempos.

Contudo, os caras são ducas mesmo. Vem há tempos costeando o alambrado aqui na AL, ora com a desculpa do tráfico, ora pelas "evidências" de terroristas na tríplice fronteira (justificar bases no Paraguai e Colômbia com isto é sodas!). Nada me tira da cabeça que ela aquela fantástica operação de "assalto" ao Haiti não foi, principalmente, uma demonstração de músculos. Claro, houve a "boa intenção de ajudar o pobre povo haitiano etc". O Brasil também o fez (yes! Nós também somos hipócritas!). O que ficou na mente porém foi que eles desembarcaram praticamente uma divisão equipada, em pouco mais de 10 dias (mais navio hospital, Nae e coisas), enquanto nós suávamos para mandar mais 800 soldados em 20 dias.

Levamos mais de 40 anos para começar a agir - de novo - para o norte do país. niciou-se com a tranzamazônica, criticada por alguns manés como uma megalomania dos governo militares (creio mesmo que tirando o Médice nenhum quis mais saber dela), ela foi o grande salto e ao mesmo tempo a grande prova do abandono de uma estratégia. Agora, pena-se para levar unidades para o norte. Obstáculos logísticos e outros de cunho ranheta se erguem diante da necessidade em termos pessoal por lá. E não é só militares. É obrigatório a presença de todo o aparato do estado.
O Brasil sul/sudeste, sozinho, não porá à mesa as dificuldades dissuasórias às pretensões de um estado de atitudes imperiais contumazes.




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Marino
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Re: GEOPOLÍTICA

#1848 Mensagem por Marino » Sáb Mai 01, 2010 7:35 pm

A política de desarmamento do governo Obama

Ao contrário das aparências, em plena crise econômica, o presidente Obama decidiu mudar o foco e dedicar-se à consolidação do poder militar dos EUA em todo mundo, demonstrando plena consciência de que este poder militar é indispensável à reconstrução da economia norteamericana e da própria liderança mundial do dólar. Deste ponto de vista, o que Obama está propondo, de fato, é uma espécie de congelamento da atual hierarquia do poder militar mundial, com a manutenção do direito e da obrigação americana de aumentar continuamente os seus próprios arsenais. O artigo é de José Luis Fiori.

José Luis Fiori

“America´s interests and role in the world require armed forces with unmatched capabilities and a willingness on the part of the nation to employ them in defense of our interests and the common good. The United States remains the only nation able to protect and sustain large-scale operations over extended distances. This unique position generates an obligation to be responsible stewards of the power and the influence that history, determination and circumstance have provided”
(Department of Defense, USA, Quadrennial Defense Review Report, February 2010)

Depois de quinze meses de discursos e indecisões, o presidente Barak Obama conseguiu transformar em fatos, o que deseja ser a marca de sua política externa, voltada para o desarmamento e o controle nuclear. No inicio do mês de abril, Obama redefiniu a estratégia nuclear dos Estados Unidos, prometendo não utilizar mais armas atômicas contra países que não as possuam, e que assinem e cumpram com o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Logo em seguida, no dia 8 de abril, Barak Obama, assinou - em Praga - um acordo com o presidente russo Dmitry Mevedev, com o objetivo de reduzir o arsenal nuclear duas maiores potências atômicas do mundo. E quatro dias depois, Barak Obama liderou a reunião da Cúpula de Segurança Nuclear, reunindo em Washington, 47 chefes de Estado, para discutir a sua própria proposta de controle da proliferação nuclear, ao redor do mundo. Com vistas à reunião qüinqüenal de reexame do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que se realizará no próximo mês de maio, na cidade de New York, com a participação dos 189 estados assinantes do TNP.

Até aqui, a retórica e a encenação foram perfeitas, mas os limites e contradições desta nova proposta de desarmamento do presidente Obama, são muito visíveis. Em primeiro lugar, o que ele chamou de “nova estratégia nuclear americana”, não passa de uma decisão e de um compromisso verbal que pode ser revertido e abandonado em qualquer momento, dependendo das circunstâncias e de uma decisão arbitrária dos próprios EUA. Em segundo lugar, o acordo entre os presidentes Obama e Mevedev, envolve uma redução insignificante e quase só simbólica, dos seus arsenais atômicos, permitindo ao mesmo tempo, a substituição e modernização das cabeças nucleares dos vetores já existentes.

Além disto, o novo acordo de desarmamento não incluiu nenhuma discussão a respeito do aumento exponencial dos gastos militares norte-americanos nos últimos anos, nem a respeito do aperfeiçoamento dos novos vetores X 51 da Boeing, com capacidade nuclear e que entrarão em ação em 30 meses, sendo capazes de alcançar qualquer pais do mundo, em menos de uma hora. Nem tampouco se falou dos novos submarinos russos Yassen, que tem capacidade de transportar 24 mísseis a bordo, cada um com seis bombas atômicas. Em terceiro lugar, em nenhum momento e em nenhuma destas reuniões se mencionou o armamento atômico da OTAN, localizado secretamente, na Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Turquia. Nem muito menos se incluiu na discussão os arsenais atômicos de Israel e Paquistão, que estão hoje sob o controle de governos com forte presença de forças fundamentalistas e belicistas, e que atuam sob a batuta dos próprios norte-americanos.

Por fim, é lógico que não aparece, em nenhum momento, nesta agenda pacifista de Barak Obama, o aprofundamento recente da Guerra do Afeganistão, e os preparativos dos Estados Unidos e de Israel, para um ataque arrasador contra o Irã, que é um país que não possui armamento atômico, e que assinou o Tratado de Não Proliferação, ao contrário de Israel.

Estas contradições não são novas nem surpreendentes, fazem parte da política externa dos Estados Unidos, desde o fim da Guerra Fria. O importante, neste caso, é que os demais países envolvidos entendam e assimilem a lição, e saibam se posicionar em função dos seus próprios interesses. Os Estados Unidos são um “poder global”, e os “interesses nacionais” de um poder global envolvem posições a defender em todo mundo, o que diminuiu muito sua capacidade de sustentar princípios e valores universais. Por isto, depois do fracasso do fundamentalismo quase religioso do governo Bush, o presidente Obama vem surpreendendo alguns analistas com o realismo pragmático e relativista de sua política externa. Mas o seu objetivo central segue sendo o mesmo, ou seja, a primazia mundial dos Estados Unidos. Além disto, ao contrário das aparências, em plena crise econômica, Barak Obama decidiu mudar o foco e dedicar-se à consolidação do poder militar americano em todo mundo, sem grandes preocupações com diretos humanos ou com a difusão da democracia, e demonstrando plena consciência de que este poder militar é indispensável à reconstrução da economia americana e da própria liderança mundial do dólar. Deste ponto de vista, o que o presidente Obama está propondo, de fato, é uma espécie de congelamento da atual hierarquia do poder militar mundial, com a manutenção do direito e da obrigação americana de aumentar continuamente os seus próprios arsenais.

Os reveses econômicos e militares dos Estados Unidos, na primeira década do século XXI, atingiram o projeto de poder global dos EUA, mas ele não foi abandonado. Hoje, está em curso um realinhamento interno de forças dentro do establishment americano - como ocorreu na década de 70 - e desta luta interna poderá surgir uma nova estratégia internacional, como aconteceu nos anos 80, com o governo Reagan. Mas estes processos de realinhamento costumam ser lentos e seus resultados dependerão da própria luta interna, e dos desdobramentos dos conflitos externos em que os Estados Unidos estão envolvidos.

De qualquer maneira, o que é importante compreender é que seja qual for o resultado desta disputa interna, os EUA não abdicarão voluntariamente do poder global que já conquistaram e não renunciarão à sua expansão futura. A política externa das potências globais tem uma lógica própria, e por isto mesmo, com ou sem política de desarmamento, os EUA deverão seguir aumentando sua capacidade militar de forma contínua, e numa velocidade que deverá crescer nos próximos anos, na medida em que se aproxime a hora da ultrapassagem da economia americana, pela economia chinesa.




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Re: GEOPOLÍTICA

#1849 Mensagem por Rock n Roll » Sáb Mai 01, 2010 8:57 pm

Prezado Cmdte Marino. Meus parabéns por mais esta pérola.
Faz tempo que não tenho oportunidade de cavar uma matéria tão sucinta e direta sobre o "transe" dos "primos" do norte.
Vamos às miudezas:
- Ainda será necessário regulamentar muita coisa sobre a frouxidão que foi a fiscalização dos mercados de capitais e a ciranda financeira por lá.
- A preocupação econômica dos "primos" com negociações cotadas em Euro e não em dólar no mercado internacional.
- A insustentabilidade dos argumentos que os levaram ao Iraque e às praxis aplicadas por lá.
- O vazamento de que o SAS teve Osama na mira e o governo Bush não desferiu o golpe certeiro, pelo fato de não terem sido eles a acharem e marcarem O ALVO. Quantos argumentos sobre a "Guerra ao terror" sobreviveriam ou se desdobrariam partindo deste fato ?
- O fracasso da interrupção do tráfego e tráfico de ópio, sem ter sido transformado em heroína, desde o Afeganistão atravessando impunemente os territórios de "aliados" na Ásia central. Destinados aos maiores mercados consumidores, os EUA e a zona do Euro. Ambos com tropas por lá.
- Nenhuma palavra da secretíssima informação sobre a quantidade das bombas atômicas táticas tipo "maleta", item orgânico das FEs deles, dependendo do perfil da missão.
- Nennhuma palavra sobre os arsenais químicos e biológicos dos EUA e Rússia.

Ainda ficaríamos todo o final de semana assinalando miudezas. O discurso de Eisenhower sobre o complexo militar-industrial ainda assombra. Talvez seja necessária toda uma década para baixar (?) a poeira do Iraque e Afeganistão; Se tudo correr bem para Obama.
Um governo de perfil conservador e de dissimulado cunho religioso como o de Bush e sua gangue assumindo na próxima eleição...
Bem...
Ao tempo todo o tempo que o tempo necessita...

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Re: GEOPOLÍTICA

#1850 Mensagem por Paisano » Sáb Mai 01, 2010 9:17 pm

“O mundo gosta dos brasileiros e do que eles representam”

Fonte: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve ... entam.html
Um Ministério do Sol

da revista britânica Monocle, no artigo “A Ascensão de Brasília” -> http://www.viomundo.com.br/voce-escreve ... entam.html

Tradução da leitora Marina Veiga

Uma rede de embaixadas crescendo rapidamente e um uso inteligente de sua cultura significam que o Brasil está fazendo amigos em todo o mundo. É só uma forma de conseguir um assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas ou uma nação emergente tentando mudar a ordem mundial?

Repórter
AndrewTuck, de Brasília

Fotógrafo
André Vieira


Em março, o presidente do Brasil, Luiz Inacio “Lula” da Silva e Celso Amorim, seu ministro de Relações Exteriores há seis anos, embarcaram em um vôo em Brasília destinado a Israel, territórios palestinos e Jordânia. Era a primeira vez que um líder brasileiro visitava a região desde que o imperador do país, Dom Pedro II, viajara até lá em 1876. Em maio, a dupla somará mais milhagens ao visitar o presidente Mahmoud Ahmadinejad do Irã.

Enquanto isso, em Brasília, eles tem demonstrado hospitalidade diante de uma porta giratória de agentes globais como a Secretária de Estado americana Hillary Clinton que, em uma visita de março, falhou na sua tentativa de conseguir o apoio do Brasil para novas sanções contra o Irã e seu programa nuclear. E Ahmadinejad também esteve aqui – sua visita foi vista pela mídia iraniana como “uma derrota séria para os sionistas”.

Está claro que o Brasil se tornou um intrigante agente no palco diplomático mundial, flexionando seus jovens músculos e usando seus cotovelos para gentilmente abrir espaço entre as velhas potências, especialmente os Estados Unidos, quando nescessário. E essa nova confiança é amparada em um boom de novas embaixadas e na expansão do corpo diplomático. Mas o que o Brasil quer de tudo isso?

Para alguns comentaristas ocidentais (e a classe média brasileira), o país está se colocando um pouco perto demais do Irã, Venezuela e China e negligenciando parceiros comerciais importantes (leia-se Estados Unidos e Israel) para, por razões políticas, tenta rearranjar seus canais diplomáticos com as capitais de nações emergentes. Outros pensam que o Brasil está simplesmente buscando o respeito que esta Nação florescente e rica em recursos merece e a promoção de novas alianças como contrapeso ao poder americano. Do que todos estão certos é que o Brasil quer ser ouvido e sua ambição-chave é conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Um diplomata europeu em Brasília disse à Monocle que tudo o que o Brasil faz deve ser visto a partir dessa ótica.

O pessoal que mapeia os novos caminhos diplomáticos tem sua base no Ministério das Relações Exteriores ou Palácio do Itamaraty, como é chamado – ele leva esse nome por causa da sua antiga sede no Rio de Janeiro, quando a cidade ainda era a capital. Desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, agora com 102 anos de idade, o “novo” palácio é maior que qualquer dos ministérios vizinhos em Brasília, assim como seu poder — todos os outros se curvam aos seus desejos. Os ministérios das Minas e Energia e do Comércio muitas vezes fazem sua política apenas em nível nacional; assim, quando o Brasil mandou sua comitiva à Conferência sobre Mudanças Climáticas, ela respondeu ao Itamaraty.

O Ministério também tem certa liberdade em relação à máquina política, seus empregados são diplomatas civis de carreira, inclusive Amorim (no entanto, todos acreditam que, por sua proximidade de Lula, Amorim vai embora quando terminar o mandato do presidente em janeiro).

O jovial embaixador Gilberto Fonseca Guimarães de Moura (um embaixador continua com o título mesmo quando retorna à base em Brasília) é o diretor de Mecanismos Interregionais, o que o coloca na liderança das relações em tudo, de Ciência a Assuntos Sociais, com uma longa lista de siglas e abreviaturas. Talvez as mais importantes sejam as ligações entre o Brasil e a parte RIC dos BRICs (Rússia, Índia e China), IBAS (Índia, Brasil, África do Sul) e ASPA (países Sulamericanos e Árabes).

Em seu organizado escritório no ministério, ele fala com orgulho de seu trabalho e dos numerosos eventos, conferências e grupos de trabalho em que está envolvido. “É um novo mundo e estamos construindo uma coisa nova. Não estamos mudando relações bilaterais importantes, mas criando uma nova diplomacia interregional”, diz Moura.

Seu departamento também está envolvido em promover a herança árabe brasileira – o país conta com 12 milhões de pessoas com raízes árabes: 10 milhões do Libano, 2 milhões da Síria. (Gilberto também diz que o país tem 150 mil judeus e que os dois grupos se dão bem). O departamento ajudou a montar recentemente a comemoração pelos 130 anos da chegada dos árabes ao Brasil. “Os portugueses e espanhóis não poderiam ter chegado aqui sem a tecnologia árabe de navegação”, ele me diz.

Essa atitude deve agradar aos amigos do Brasil no Oriente Médio (no seu tour por lá, Lula falou que era hora de conversar com o Hamas, que o programa de assentamentos de Israel estava apagando “a chama da esperança” e que procuraria um tratado de livre comércio com a Autoridade Nacional Palestina). Mas Moura parece mais entusiasmado com assuntos mais práticos, de projetos ambientais a maneiras de conseguir usinas de dessalinização. “Nos sentimos muito à vontade no mundo”, ele diz.

Também fica claro que novos laços estão sendo forjados quando eu me espremo dentro do escritório forrado de livros de Antonio Augusto Martins César, o cabeça da divisão África I, e aproveito bem os cafés adocicados que ele me serviu. Em um mapa atrás de sua mesa, César aponta para sua área de interesse, que começa no Congo-Brazzaville e vai até o norte ao Marrocos, tomando toda a África ocidental. Antes um deserto para as missões brasileiras, sob Lula esta região viu seu número de embaixadas ter um boom – Bamako, Malabo e Lomé sao agora o lar de diplomatas brasileiros (em Brasília, ajuda ter um atlas ao alcance das mãos quando você é informado sobre os detalhes de seu novo posto diplomático). Serra Leoa pode ser o próximo.

César fala que os novos laços diplomáticos foram primeiramente estreitados com aquelas nações com as quais o Brasil tinha laços culturais (incluindo os paises lusófonos como Angola, que abriga 30 mil brasileiros), mas que o Brasil é recebido de braços abertos em todo o mundo pois “as pessoas olham para nós como um país que passou por situações e problemas semelhantes, mas que conseguiu superá-los”. Mas os céticos acreditam que essas novas embaixadas são apenas uma forma de angariar novos votos para se um dia aquele assento na ONU ficar disponível (muitos países ocidentais também dariam apoio para que o Brasil, junto com outros membros do G4 – Alemanha, Índia e Japão – se tornassem membros permanentes do Conselho de Seguranca). Mas, como a grande maioria das pessoas que conhecemos no ministério, Cesar parece simplesmente interessado em fazer novas conexões, não política cotidiana (apesar de dizer que essas conexões melhorariam se as companhias aéreas estabelecessem alguns outros vôos entre o Brasil e a África).

A chique Mariana Moscardo de Souza está ocupada com ligações do chefe quando vamos descobrir como a Nação está usando seu poder suave. “Só diplomatas são movidos a acordos comerciais”, brinca Souza, que dirige a divisão de promoção da cultura brasileira. Ela tem razão. Ao contrário do que acontece com debates econômicos, fazer o público se engajar com a cultura brasileira não é uma tarefa difícil – da música ao futebol, o mundo está aberto a esse lado do Brasil. Colocando simplesmente, o mundo gosta dos brasileiros e do que eles representam. “Eu comecei trabalhando no setor cultural no momento em que isso se tornou um assunto importante para o ministério, começou a ter peso e agora ocupa uma parte especial da agenda política”, disse ela.

Souza trabalha com embaixadas e consulados brasileiros, ajudando-os a formar os seus calendários culturais em tudo, de música a arquitetura. Uma das jogadas de maior sucesso do ministério foi a Amrik, uma exposição de fotografias celebrando a cultura árabe na América do Sul, que já visitou a Argélia,o Egito, a Jordânia, a Síria e o Líbano. O Brasil se tornou hábil em usar sua cultura rica para fazer amigos.

Alguns dias mais tarde, no Rio de Janeiro, eu encontrei Raul Juste Lores na Livraria da Travessa em Ipanema. Fica na cidade por alguns dias antes de começar seu novo trabalho como editor de economia e negócios do jornal mais importante do Brasil, Folha de S. Paulo. Foi correspondente por dois anos em Pequim, vivendo realmente o laço com o briC. Mas está tão intrigado quanto cético com essas novas ligações, especialmente com o BRIC, termo cunhado pelo economista da Goldman Sachs Jim O’Neill, mas que tem agora vida própria.

“O BRIC se tornou realidade mesmo sendo um conceito muito raso. Mas foi ajudado pela crise global, que empurrou para adiante esses países, enquanto o poder dos Estados Unidos, Europa e Japão encolheu. Eu vi isso acontecer quando estava na China. No começo, ninguém do alto escalão do Partido Comunista queria ser entrevistado por mim – eu poderia muito bem estar a serviço de um jornal boliviano – mas dois anos depois, eles me ofereciam toda a sorte de entrevistas, pois queriam acesso ao Brasil”, disse ele.

Sobre o papel que o Brasil tem, Lores fala que Lula empurrou a economia para a direita e a política externa para a esquerda. Ele nota um desejo real de “redesenhar o mundo” e vê um sentimento antiamericano em jogo. E, insiste Lores, isto mostra-se eficiente num país em que muita gente tem uma duradoura e profunda desconfiança em relação aos Estados Unidos. “Na Segunda Guerra Mundial, o Brasil mandou milhares de tropas, mas no pós-guerra foi totalmente negligenciado pelos Estados Unidos, enquanto os outros aliados foram ajudados economicamente. Depois, os Estados Unidos apoiaram a ditadura militar. O povo se lembra disso”.

Porém, mesmo que o Itamaraty tenha jogado suas cartas com finesse, Lores acredita que Lula deu vexames, como quando sugeriu que os confrontos nas ruas de Teerã depois da contestada eleição presidencial pareciam uma briga de torcidas, quando comparou os dissidentes cubanos a criminosos comuns e disse que a greve de fome não deveria servir de pretexto para sair da prisão (um diplomata no ministério diz que as pessoas, especialmente fora do Brasil, esquecem que Fidel Castro foi um verdadeiro herói para muitos brasileiros durante os anos da ditadura milirar, e mesmo que saibam que ele agora não é bom, nunca o atacariam).

“Lula não é nem de longe um especialista em assuntos internacionais. Ele é apenas incrivelmente carismático e inteligente. Às vezes acaba dizendo a coisa errada – o que disse sobre Cuba foi pornográfico – mas as pessoas perdoam seus erros”, diz Lores. Pós-Lula, nos perguntamos se alguém conseguiria escapar ileso com tais declarações.

Por telefone, de Washington, Michael Shifter, o presidente do Programa Andino do Diálogo Interamericano e um comentarista sobre assuntos da América Latina, nos dá a sua impressão sobre a nova diplomacia brasileira. “É a expressão de uma busca mais profunda por um papel maior no palco mundial. Um assento no Conselho de Segurança é um objetivo muito claro, mas há também uma intenção de se estabelecer como uma potência global. Para mostrar que chegaram lá”.

Mas ele vê obstáculos à frente. O que pode acontecer depois que Lula sair do poder, o fato de que o Itamaraty só pode brigar apoiado em uma economia forte e, interessante, o alerta de diversos países latinoamericanos em relação ao Brasil. “Eles tem medo que os Estados Unidos se retirem e deixem o Brasil comandar a política externa. Eles querem multiplicar suas opções, não querem ficar sob a vontade do Brasil”.

Alethea Pennati Migita lida com um lado divertido do novo lugar do Brasil no mundo. É secretária de Protocolo no Itamaraty, outro papel que teve um repaginamento total sob Lula. O presidente não gosta de jantares à francesa, prefere almoços à americana. Isso está dentro do escopo de Migita, pois o Itamaraty é o anfitrião em todas as visitas de chefes de Estado – o presidente vem de seu palácio. E como Brasília vem se tornando uma capital cada vez mais importante para os líderes mundiais, os eventos são cada vez mais frequentes.

“Teremos dez chefes de Estado por aqui no próximo mês”, diz Migita. E, aparentemente, presidentes e monarcas se viram muito bem ao receber um prato e a informação de que devem se servir sozinhos ( pelo menos uma vez podem comer o que quiserem). E, como Migita nos diz, “casa muito bem com o jeito do presidente”. Cabe também como metáfora para a nova diplomacia do palácio: talvez um pouco problemática para os tradicionalistas, estranhamente nova para outros, certamente quebrando algumas regras. Mas tudo feito com charme brasileiro, o que no final das contas deveria deixar poucos se sentindo ameaçados.




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Re: GEOPOLÍTICA

#1851 Mensagem por Sterrius » Sáb Mai 01, 2010 9:57 pm

Bom texto. Apesar do objetivo ser praticamente um só. Os meios para a obtenção desses objetivos são tantos e tão grandes que fica dificil acompanhar tudo.

E torço, mas torço MUITO para que o proximo presidente continue este trabalho. Que independente do partido ou opinião polica ao entrar veja a logica e que esta dando certo.

Ver algo assim ser jogado de lado por ideologia ou revanchismo partidario seria um afronta ao país.




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Re: GEOPOLÍTICA

#1852 Mensagem por Francoorp » Dom Mai 02, 2010 12:57 am

Gostei do texto.... acho que deveria era ter uma churrascaria brasileira, com uns 100-200 pratos tipicos nacionais à escolha, com Carne Gaùcha nos rodízios, com frutas do Nordeste, com docinhos de Minas Gerais etc... e licorzinho de jenipapo à base de cachaça no final do "Rancho", nestes "protocolos" do Itamaraty com os chefes de estado estrangeiros !

Ai sim seria o fim das formalidades diplomáticas !!

Valeu !!




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Re: GEOPOLÍTICA

#1853 Mensagem por alcmartin » Dom Mai 02, 2010 2:19 am

Bender escreveu:alcmartin,não sei voce já teve a oportunidade ler,mas se não teve,leia:

"Crônicas de uma guerra secreta" do embaixador Sergio Correia da costa.

Abraços!


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Muito bem lembrado, Bender! Tenho esse livro sim, muito bom! E ele explica muito do nosso "pé atrás" com los hermanos até poucas décadas! :mrgreen:

Abs!!




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Re: GEOPOLÍTICA

#1854 Mensagem por Rock n Roll » Dom Mai 02, 2010 11:39 am

alcmartin escreveu:
Bender escreveu:alcmartin,não sei voce já teve a oportunidade ler,mas se não teve,leia:

"Crônicas de uma guerra secreta" do embaixador Sergio Correia da costa.

Abraços!


[009] [009]

Muito bem lembrado, Bender! Tenho esse livro sim, muito bom! E ele explica muito do nosso "pé atrás" com los hermanos até poucas décadas! :mrgreen:

Abs!!

Prezados;
Já tinha ouvido falar sobre esse livro. Desta vez não me escapa.
Valeu !!




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Re: GEOPOLÍTICA

#1855 Mensagem por Rock n Roll » Dom Mai 02, 2010 11:45 am

Sterrius escreveu:Bom texto. Apesar do objetivo ser praticamente um só. Os meios para a obtenção desses objetivos são tantos e tão grandes que fica dificil acompanhar tudo.

E torço, mas torço MUITO para que o proximo presidente continue este trabalho. Que independente do partido ou opinião polica ao entrar veja a logica e que esta dando certo.

Ver algo assim ser jogado de lado por ideologia ou revanchismo partidario seria um afronta ao país.

Para endossar companheiro. Nas atividades offshore há uma demanda grande por profissionais... Brasileiros !!!
Nas mais diversas partes do globo! Já passei por isso na África. Basta que saibam que vc é brasileiro para que as atitudes sejam completamente diferentes. Se vc for visto como americano, inglês, ou de determinada parte da europa, bem... Sobreviver é uma arte...
É uma reação espontânea que realmente impressiona. O causo é como não misturar a histórica incompetência ignorante chapa branca, com nossas reais capacidades e oportunidades geradas por estas mesmas qualidades.

Debater é preciso !

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Re: GEOPOLÍTICA

#1856 Mensagem por Luiz Bastos » Dom Mai 02, 2010 2:58 pm

Muito bem lembrado, Bender! Tenho esse livro sim, muito bom! E ele explica muito do nosso "pé atrás" com los hermanos até poucas décadas! :mrgreen:

Eu continuo com o pé atras, especialmente com argentinos. Não os acho confiáveis. Na primeira oportunidade enfiam a faca nas tuas costas. Vide Cristina K na reunião do TNP nos USA. Fui :wink:




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suntsé
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Re: GEOPOLÍTICA

#1857 Mensagem por suntsé » Dom Mai 02, 2010 3:20 pm

Luiz Bastos escreveu:
Muito bem lembrado, Bender! Tenho esse livro sim, muito bom! E ele explica muito do nosso "pé atrás" com los hermanos até poucas décadas! :mrgreen:

Eu continuo com o pé atras, especialmente com argentinos. Não os acho confiáveis. Na primeira oportunidade enfiam a faca nas tuas costas. Vide Cristina K na reunião do TNP nos USA. Fui :wink:
Gostaria que nossos lideres tivessem a sua lucides.




Quiron
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Re: GEOPOLÍTICA

#1858 Mensagem por Quiron » Seg Mai 03, 2010 8:05 am

Não sei se é o local adequado para postar, mas vale a informação:
India restricting Chinese telecom purchases: operator

by Staff Writers

New Delhi (AFP) April 30, 2010
India has blocked its fast-growing telecom sector from buying some Chinese-made equipment, an Indian mobile operator said Friday, in a move set to stoke trade tensions between the emerging giants.
An executive of a Indian mobile operator said his company had received a letter from the Indian government saying it could not buy equipment from UTStarcom, a US-based company that manufactures in China.

"We were told we could not buy equipment from UTStarcom. I believe most operators have received such letters," the executive of one of India's larger mobile operators, who asked not to be identified, told AFP.

A manager at UTStarcom, the leading provider of hardware for Internet television services in Asia, said he could not immediately comment.

Earlier Friday, a Chinese trade body complained telecom equipment makers in the country were being prevented from selling to Indian telecom companies on security grounds.

Last December, India said it was probing whether the use of Chinese-made telecom equipment in sensitive border and insurgency-hit areas could hurt national security.

A spokeswoman for the China Chamber of Commerce for Import and Export of Machinery and Electronic Products Chinese industry group declined to identify the companies affected by New Delhi's restrictions.

But India's Business Line newspaper reported earlier in the week New Delhi had also told mobile operators not to import any equipment made by such Chinese vendors as Huawei Technologies and ZTE Corp.

Huawei on Friday expressed concern over the reports and called for "a fair and non-discriminatory policy" to address the issue of security clearance for its products.

The company, present in India for a decade 10 years, said it had received no official communication from the government and said it was "seeking clarifications from the concerned authorities".

Trade relations are already tense between the neighbours, with Indian firms complaining the country's market is being flooded with cheaper Chinese-made products.

India's mobile sector, the fastest-growing in the world with 15-20 million new subscribers each month, has become an important source of revenue for Chinese companies.

An Indian government official said there was no blanket ban on purchases of telecommunications equipment from suppliers in China or elsewhere, but added all companies must meet security regulations.

India's intelligence agencies have warned Chinese products could have embedded elements enabling China to launch a cyber attack or shut down equipment, according to Indian media reports.

"There is no ban on procurement of any equipment from any company or any country," Indian telecom ministry spokesman Satyendra Prakash told AFP.

But telecom operators must get security clearance from the home ministry before placing orders for equipment with vendors, he added.

He said he could not comment on individual cases but India was not alone in taking security precautions.

"Every government has been taking precautions to ensure equipment is not misused," he said.

The Chinese trade group called on New Delhi to "create a fair and transparent environment for Chinese telecom companies concerning the state security check issue" and avoid discriminatory measures.

In March, the telecommunications ministry updated its sourcing regulations, saying dependence on foreign engineers "should be minimal or almost nil" within two years of purchase.

Last year India threatened to block 25 million low-end mobile phones without a unique International Mobile Equipment Identity (IMEI) used for tracing calls in a step affecting many imported Chinese handsets.

But later users of handsets without an IMEI number were told they had to pay a small fee to their mobile phone operator to register.
http://www.terradaily.com/reports/India ... r_999.html




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Marino
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Re: GEOPOLÍTICA

#1859 Mensagem por Marino » Seg Mai 03, 2010 11:05 am

Países turbinam suas embaixadas no Brasil

Mercado aquecido e projetos de infraestrutura fazem com que o país vire alvo da diplomacia das principais economias

Feiras de negócios, visitas de ministros e contratação de especialistas estão entre os exemplos do entusiasmo com o Brasil no pós-crise

ÁLVARO FAGUNDES

VERENA FORNETTI

DA REDAÇÃO

JOHANNA NUBLAT

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA



Com grandes projetos de infraestrutura e estimativas favoráveis de crescimento, o Brasil se tornou alvo da atenção de algumas das principais economias do mundo.

O interesse em elevar as exportações para o país, estimular associações com empresas brasileiras, fazer e também atrair investimentos motivam países do G7 (grupo dos sete mais ricos) e emergentes a ampliar o número de diplomatas e de especialistas em comércio nas embaixadas brasileiras.

Exemplos desse entusiasmo com o Brasil são recorrentes no pós-crise. O Reino Unido, por exemplo, criou um setor de ciência e inovação em São Paulo e um de mudanças climáticas em Brasília. A Alemanha planeja instalar uma Casa da Ciência e Inovação na capital paulista.

O ministro de economia alemão acaba de vir ao país com executivos de 50 empresas. E os compromissos no país da ministra da economia francesa ficaram mais frequentes.

EUA, Alemanha e França (que juntos representam 35% do PIB global) recentemente divulgaram comunicados manifestando o desejo de aumentar o comércio com o Brasil.

O governo Obama informou, em fevereiro, que elevará o número de especialistas em comércio no Brasil, na China e na Índia para que "defendam e encontrem consumidores para as companhias dos EUA".

Segundo Abina Dann, cônsul-geral do Canadá em São Paulo, o Brasil ganha espaço nas relações comerciais. "Até agora, tínhamos mais experiência com China e Índia, mas o Brasil está esquentando." O Canadá abriu escritórios no Nordeste e no Sul para facilitar parcerias nessas regiões.

E o país deve quase dobrar, em relação a 2004, o número de especialistas e diplomatas até o ano que vem. Segundo Dann, a meta é não só incrementar importações e exportações, mas estimular joint ventures e fomentar investimentos.

Em 2008 (último dado disponível), especialmente por conta da brasileira Vale, os investimentos do país no Canadá já eram maiores que os canadenses no Brasil -US$ 12 bilhões ante US$ 9,2 bilhões.

O embaixador da Itália, Gherardo La Francesca, afirma que o país europeu está "redescobrindo" o Brasil. "O Brasil ganhou importância econômica e política. Passou a ser um interlocutor muito interessante."

Segundo ele, um novo especialista em economia foi recrutado -sinal de prestígio do Brasil, diz. "A Itália está seguindo uma redução de gastos rigorosa. Aqui, ao contrário de outras embaixadas, os funcionários não estão sendo reduzidos."

Em abril, o presidente Lula assinou acordo com a Itália para incrementar as parcerias em áreas como defesa e energia.

A embaixada francesa no Brasil também foi poupada da redução mundial de postos, afirmou Dominique Mauppin, chefe da missão econômica em São Paulo. Ele destaca que o investimento no Brasil ganha relevância na comparação com outros emergente. "Há um número maior de empresas francesas trabalhando na China, mas os investimentos franceses no Brasil estão maiores."

Especialistas dizem que a estabilidade macroeconômica do país dá segurança ao investidor.

Para o secretário-adjunto de Comércio dos Estados Unidos, Suresh Kumar, que veio ao Brasil semana passada com cem empresas para promover negócios, a função do Estado seria como a de uma parteira, que auxilia o casal (no caso, as empresas dos dois países) a gerar frutos -ou seja, negócios.

Como outros dirigentes, Kumar destaca a importância da Olimpíada e da Copa. Alemanha, Coreia do Sul e Reino Unido dizem que suas empresas usarão a experiência em Mundiais para fazer negócios.

A Coreia do Sul mira projetos envolvendo o setor naval, o petrolífero e o de transporte. O país deve disputar o leilão do trem de alta velocidade.

O Japão também está interessado na área de infraestrutura. Segundo o consulado do Japão em São Paulo, o número de empresas japonesas no Brasil está crescendo rapidamente.




"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
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Re: GEOPOLÍTICA

#1860 Mensagem por Marino » Seg Mai 03, 2010 12:26 pm

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/05/10
Representante dos EUA vem reenergizar relação com Brasil



O subsecretário do Departamento de Comércio dos EUA, Francisco Sanchez, que inicia hoje uma visita ao Brasil, participará de evento em Brasília para tentar ""reenergizar" o Diálogo Comercial - mecanismo de negociação e fomento que foi formalizado em 2006, mas que, segundo ele, não tem sido usado.
À Folha, Sanchez afirmou que os focos serão investimento em inovação, investimento em importações de pequenas e médias empresas do Brasil e dos Estados Unidos e formas de promover o aumento das trocas bilaterais.
"Estou há quatro semanas no cargo e, na primeira delas, tive dois encontros com o secretário [de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior] Welber Barral. Isso mostra o peso do Brasil em nossa estratégia comercial", disse o representante dos EUA.
Ele negou que vá discutir com os brasileiros a disputa corrente devido aos subsídios americanos ao algodão.
O tema fica a cargo do escritório do governo americano para Comércio (USTrade), mas, em visitas anteriores de funcionários do Departamento de Comércio, o assunto foi abordado.
"Temos um acordo interino [até junho] e não vejo no que poderíamos agir imediatamente. Claro que o melhor seria não ter nenhuma disputa, mas realmente não vejo grande impacto na relação comercial devido à questão do algodão. Não queremos perder oportunidades valiosas, e creio que ambos os países reconhecem isso."




"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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