09/04/2010 - ENTREVISTA
Marinho critica parcialidade de Jobim
Por: Karen Marchetti (
karen@abcdmaior.com.br)
Marinho entre na briga pelos novos caças da FAB.
Prefeito de S. Bernardo diz que ministro foi voar no caça Rafale e nem sequer conheceu o Gripen
O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), entrou no debate que até agora era reservado ao alto escalão dos responsáveis pela Segurança Nacional: o da escolha dos novos caças supersônicos que vão reequipar a FAB (Força Aérea Brasileira).
Marinho estranha a atenção demasiada que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, estaria dando para o avião francês, o Rafale, em detrimento da proposta da Sueca, com o caça Gripen NG, e da aeronave americana, o F-18 Super Hornet.
O prefeito de São Bernardo defende o caça sueco Gripen e assume que está de olho nos investimentos que a produção do avião pode trazer para a cidade e a Região. No debate, estão em jogo, além dos investimentos e da geração de empregos, o favorecimento à implantação do tão sonhado Polo Tecnológico da Região.
ABCD MAIOR- O senhor já falou com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva sobre sua preferência e dos estudos a favor do caça sueco?
LUIZ MARINHO - Não tive a oportunidade, ainda, de falar com o presidente sobre visita à Suécia e da minha opinião a respeito. Estive com Lula na atividade do Sindicato dos Metalúrgicos (25/03), mas não deu para apresentar a minha visão sobre isso. Imagino que ele tenha acompanhado pela imprensa, mas não falamos sobre isso. Estou pleiteando na presidência uma agenda com Lula. Mas o que estamos expressando é dentro de um processo de avaliação e não é somente pelo que pude ver lá, mas em especial, pelo que nós sabemos é que, pelo relatório da FAB (Força Aérea Brasileira), na classificação técnica, preço, e transferência de tecnologia, o Gripen é o vencedor.
ABCD MAIOR- O senhor não falou com o Lula, mas tem falado com outros membros do governo federal?
MARINHO - Não tenho conversado com eles sobre isso e também não sei a opinião dos ministros e da Dilma Rousseff. O que eu sei é a opinião do ministro Jobim (ministro da Defesa, Nelson Jobim) e o que sai na imprensa. Escutei hoje (pela imprensa) que o Jobim declarou que a FAB vai fazer um novo relatório. Achei muito estranho, pois o caça sueco é o que tem a preferência da FAB e, pelo que escutei, neste novo estudo a preferência seria mudada para o caça francês. Isso é muito estranho.
ABCD MAIOR- E qual o real motivo para o senhor e o movimento sindical apoiarem o caça Gripen?
MARINHO - O ministro Jobim não deixa claro para mim e para o movimento sindical se o caça Rafale (da empresa francesa, Dassault) tem o melhor pacote tecnológico. Tenho que concordar com a tese de que a compra de 36 aeronaves envolve, em especial, o pacote tecnológico e relação de Estado. E pensando nisso não tenho como avaliar e comprar a proposta do Rafale e dos outros concorrentes, porque não tenho acesso às informações. Mas o que me faz sustentar a opinião favorável ao Gripen é pelo que ele oferece. Tem de ter transparência neste debate. O ministro diz que tem 100% de transferência tecnológica do Rafale. Eu tenho de acreditar, piamente, na palavra dele, pois como já disse, não tenho acesso aos dados. Eu também não sei qual empresa brasileira que já está envolvida no desenvolvimento do Rafale. A princípio, nenhuma. Querem vender para o Brasil o produto pronto com a promessa de envolver as empresas brasileiras no processo. Diferente do Gripen, pois não tem promessa, é fato. O Gripen, efetivamente, tem empresas brasileiras participando da fase de desenvolvimento da nova versão do caça. A Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) é a principal delas e o Grupo Inbrafiltro. Essa é uma das diferenças. No caça sueco tem indústrias brasileiras participando do processo de desenvolvimento. Portanto, essa é a garantia de transferência de tecnologia.
ABCD MAIOR- Então quando o senhor se reunir com o presidente Lula, a sua defesa a favor da escolha do Gripen terá este argumento?
MARINHO - Será de forma transparente como sempre fiz, mas para mim este é o ponto de interrogação que deve estar colocado. Eu não entro nem no mérito do preço dos caças. Não estou nem discutindo preço e sim se o pacto tecnológico interessa ou não. No que eu pude avaliar e conhecer o Gripen, a empresa sueca tem o pacto tecnológico e a garantia efetiva da tecnologia na medida em que os engenheiros brasileiros estão participando do desenvolvimento. Seria um projeto partilhado entre Suécia e Brasil, onde o nosso país seria responsável em desenvolver uma quantidade do produto.
ABCD MAIOR - A família real da Suécia, quando veio ao Brasil, apresentou essas propostas ao governo?
MARINHO - Eu creio que essas diferenças foram apresentadas ao governo. Tanto o governo sueco como a FAB disseram que tudo isso foi proposto. E eu parto do princípio da boa fé e acredito que sim. Escutei hoje também o ministro falando (pela imprensa) que o outro caça (o Gripen) tem de ter a aprovação do governo americano porque tem uma peça que é fabricada por eles. De novo acreditando na boa fé das empresas é que a Saab (empresa sueca responsável pela fabricação do Gripen) garante que no processo entregue ao governo brasileiro, a FAB tem autorização do Congresso Nacional dos Estados Unidos para transferência da tecnologia do Gripen. De acordo com algumas informações, o Rafale também tem algumas peças americanas e também precisa dessa aprovação, mas eu não sei se tem.
ABCD MAIOR- Na sua avaliação, por qual motivo o senhor, prefeito de São Bernardo, foi envolvido na discussão da escolha dos 36 caças para o Brasil?
MARINHO - Eu não sei. De fato a Saab me procurou há um bom tempo e discutimos superficialmente o assunto até que decidi aceitar o convite para visitar a empresa. Na viagem, pude compreender as dificuldades da Saab. Há um sentimento que não está tendo o tratamento igual. O que disseram é que o ministro Jobim foi cinco vezes à França para tratar da negociação e não foi nenhuma vez para a Suécia. O Jobim foi voar no Rafale e não foi sequer conhecer o Gripen. Então me parece que aí tem falta de transparência por parte de quem está conduzindo este processo.
ABCD MAIOR- Mas o investimento em São Bernardo também não foi importante para o senhor entrar nesta discussão?
MARINHO - Ao ser procurado pela Saab, perguntei qual a contrapartida que a cidade tem para eu adentrar neste debate. Por que eu iria trabalhar a favor de um modelo se a rigor eu não sou autoridade para discutir o assunto? Não estou no governo, pois estou como prefeito de uma cidade que tem opinião relacionada a isso e acha que deve ter transparência neste debate. Quero saber se este produto de fato está adequado para as necessidades do país e, acima de tudo, estou sim motivado pelo investimento na cidade. Não vou negar. O meu interesse é nacional e local. Jogo franco e aberto. Transparência total. Tem um bom tempo que falei com autoridades da FAB que me garantiram que o Gripen é o melhor projeto tecnológico. Do ponto de vista custo/benefício, e não somente pela compra, mas também na questão manutenção. Foi isso que me fez entrar de cabeça neste debate. O que me motiva localmente está ancorado a um conjunto de informações da qualidade do produto sob análise da FAB. Se fosse prejudicial ao País, não defenderia. Se fosse o Rafale oferecido para mim nesta situação, não teria entrado neste debate.
ABCD MAIOR- O senhor levou este debate e do montante que será investido na Região para discutir no Consórcio Intermunicipal, entre os sete prefeitos e no Polo tecnológico?
MARINHO - Não cheguei a debater isso com os prefeitos e no Polo. Eu partilhei como informação com os prefeitos, mas é uma decisão da cidade e minha como prefeito de São Bernardo.
ABCD MAIOR- O documento elaborado pelo movimento sindical que deve ser entregue ao Lula poderá interferir na escolha dos caças?
MARINHO - O movimento sindical poderia até pedir audiência com Jobim, com o presidente Lula e com a FAB para expressar a opinião, junto com a indústria. Poderia incluir a Fiesp e outras entidades. Eles enxergam no Gripen, efetivamente, a oportunidade de desenvolvimento de um produto feito no Brasil e vai beneficiar diversas cidades do País.